Itaú projeta déficits externos no Brasil acima de US$ 100 bilhões


Otimista, banco vê investimento e crescimento em alta, mas com conta corrente negativa em mais de 4,5% do PIB

Por Fernando Dantas

O Brasil está ingressando em uma fase de megassuperávits em conta corrente que chegarão ao nível de US$ 107 bilhões, ou 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segundo recente projeções do Itaú-Unibanco. De acordo com as previsões, publicadas num relatório do banco de cenários até 2020, o superávit em conta corrente ficará acima de 4,5% do PIB durante seis anos, de 2012 a 2017, quando atingirá o pico em termos de valores absolutos, registrando US$ 136 bilhões. Para 2010 e 2011, o Itaú-Unibanco projeta déficits de respectivamente US$ 60 bilhões e US$ 83 bilhões, ou 3,1% e 4% do PIB.O déficit em conta corrente é a combinação do saldo comercial e dos gastos líquidos externos com juros, dividendos, serviços e remessas unilaterais. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), a previsão de déficits não deve ser motivo de alarme. Pelo contrário, ele vê o Brasil ingressando numa etapa dourada da sua história econômica, na qual a taxa de investimentos vai subir para 22% do PIB, ou até mais, dando suporte a um crescimento sustentável e equilibrado de 5% ao ano. Além da alta dos investimentos, o PIB será embalado pelo crescimento da produtividade e pelo aumento da parcela da população em idade de trabalhar."Tem gente que acha que o déficit em conta corrente vai acabar quebrando a gente", diz Goldfajn. Ele frisa, porém, que "o dinheiro entra para financiar o investimento, o que acaba gerando mais na frente os recursos para pagar o que entrou". ELEIÇÕESO que não vão faltar, acrescenta o economista, são investimentos: ele cita o pré-sal (com estimativa de US$ 55 bilhões em dez anos), a Copa do Mundo, a Olimpíada (com projeção de aumento médio de 0,7 ponto porcentual no PIB nos quatro anos que antecedem o evento) e todas as inúmeras oportunidades de negócios no Brasil, que fazem do País hoje um dos principais polos de atração de capital no mundo emergente.Segundo o relatório do Itaú-Unibanco, "o contexto global favorece o investimento em economias emergentes com grande potencial de expandir o consumo doméstico". Além disso, o mercado brasileiro está sendo impulsionado pelo crescimento da classe média, com grande propensão a consumir, e os juros reais continuam caindo, favorecendo os investimentos, especialmente imobiliários.Goldfajn acha que o vencedor das eleições presidenciais de 2010 provavelmente não vai jogar fora a política econômica de câmbio flutuante, meta de inflação e consistência fiscal que está rendendo frutos tão espetaculares. Mas ele sabe que a combinação de grandes déficits externos com câmbio valorizado (a projeção do Itaú-Unibanco é de uma leve e gradual desvalorização de 15% nos próximos dez anos) é bastante incômoda para uma corrente de economistas que aumentou sua influência no governo nos últimos anos (ver matéria abaixo). Assim, ele atribui uma probabilidade de 25% a alterações drásticas do atual arranjo macroeconômico, como tentativas de forçar uma desvalorização, que poderiam afugentar o investidor externo e provocar inflação, botando a perder o futuro róseo que permanece como cenário mais provável para o Itaú-Unibanco.De fato há economistas que assistem com intensa preocupação à volta aos déficits externos. O déficit em conta corrente significa que o País gasta - isto é, consome e investe - mais do que a sua renda, que é equivalente ao PIB, ou tudo que ele produz. Em outras palavras, o resto do mundo tem de financiar o excesso de gastos em relação à renda - o que os economistas chamam de importar poupança. A poupança doméstica reduz o consumo e ajuda o gasto a se aproximar da renda. O Brasil, porém, poupa muito pouco, razão pela qual a poupança externa é tão importante.CRISES DO PASSADOEssa importação de poupança aumenta o chamado "passivo externo líquido", que é a dívida externa mais a posição líquida dos investimentos estrangeiros no País (isto é, deduzida dos investimentos brasileiros no exterior). Para aqueles economistas, o aumento do passivo externo cria uma situação de vulnerabilidade, já que o dinheiro que entrou para financiar o excesso de gastos pode sair num momento subsequente. Se essa reversão for abrupta, o dólar pode disparar, a inflação explodir e o País ser forçado a cortar a ferro e fogo o consumo e os investimentos, mergulhando na recessão.A história econômica do Brasil dá suporte a esse tipo de preocupação. Nos últimos 40 anos, sempre que o déficit em conta corrente ficou acima de 4% do PIB o Brasil viveu sérios problemas externos: de 1979 a 1982, com a crise da dívida externa; em 1998 e 1999, com a desvalorização do real; e em 2001, quando o apagão e a moratória argentina levaram a uma nova rodada de desvalorização."Nós conhecemos a história dos problemas de se endividar muito", alerta o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e da PUC-SP.Na visão do Itaú-Unibanco, porém, aquela história não está fadada a se repetir. "No passado tivemos várias crises, num contexto de déficits externos, mas foi por causa da pouca estabilidade econômica, do risco elevado e de um perfil inadequado de financiamento", diz Goldfajn. Agora, ao contrário, o Brasil tem estabilidade, fundamentos bem mais sólidos e um perfil de financiamento em reais (no caso das captações de renda fixa), ações e investimento direto. Ele nota que a dívida externa do País - a parte do passivo externo que corresponde a endividamento em renda fixa, isto é, que paga juros - está aproximadamente zerada.O economista-chefe do Itaú-Unibanco frisa, porém, que é fundamental que o aumento do déficit em conta corrente seja acompanhado do crescimento do investimento total da economia. Para isso, "é preciso ajudar o financiamento externo a ser saudável", diz. Um dos elementos dessa estratégia é o câmbio flutuante, com o risco permanente de uma desvalorização que torne mais oneroso o endividamento externo para empresas que faturam em real. SUSTENTABILIDADEOutra providência é manter a atratividade do mercado de capitais brasileiros para atrair o investimento em ações, preferível ao capital que vem para títulos de renda fixa. "O resto é o beabá - manter a inflação controlada, a política fiscal em ordem, melhorar o marco regulatório, etc", diz Goldfajn.Um critério fundamental para saber se os déficits externos serão sustentáveis é acompanhar a evolução do passivo externo. Se ele crescer explosivamente como proporção do PIB, é sinal de que em algum momento o investidor estrangeiro vai ter dúvidas quanto ao retorno dos seus ativos no Brasil, e pode sair abruptamente. As projeções do Itaú-Unibanco, porém, são reconfortantes. Pelas contas do departamento econômico do maior banco privado do País, o passivo externo líquido, de 33% do PIB em 2009, fica aproximadamente neste nível até 2012. A partir daí, sobe gradativamente até 42% do PIB em 2021 e 2022, e cai novamente para 32% em 2030. Os economistas frisam que, quanto mais longa a projeção, mais imprecisa ela é. De qualquer forma, há uma aposta clara na sustentabilidade das contas externas nas próximas duas décadas.

O Brasil está ingressando em uma fase de megassuperávits em conta corrente que chegarão ao nível de US$ 107 bilhões, ou 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segundo recente projeções do Itaú-Unibanco. De acordo com as previsões, publicadas num relatório do banco de cenários até 2020, o superávit em conta corrente ficará acima de 4,5% do PIB durante seis anos, de 2012 a 2017, quando atingirá o pico em termos de valores absolutos, registrando US$ 136 bilhões. Para 2010 e 2011, o Itaú-Unibanco projeta déficits de respectivamente US$ 60 bilhões e US$ 83 bilhões, ou 3,1% e 4% do PIB.O déficit em conta corrente é a combinação do saldo comercial e dos gastos líquidos externos com juros, dividendos, serviços e remessas unilaterais. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), a previsão de déficits não deve ser motivo de alarme. Pelo contrário, ele vê o Brasil ingressando numa etapa dourada da sua história econômica, na qual a taxa de investimentos vai subir para 22% do PIB, ou até mais, dando suporte a um crescimento sustentável e equilibrado de 5% ao ano. Além da alta dos investimentos, o PIB será embalado pelo crescimento da produtividade e pelo aumento da parcela da população em idade de trabalhar."Tem gente que acha que o déficit em conta corrente vai acabar quebrando a gente", diz Goldfajn. Ele frisa, porém, que "o dinheiro entra para financiar o investimento, o que acaba gerando mais na frente os recursos para pagar o que entrou". ELEIÇÕESO que não vão faltar, acrescenta o economista, são investimentos: ele cita o pré-sal (com estimativa de US$ 55 bilhões em dez anos), a Copa do Mundo, a Olimpíada (com projeção de aumento médio de 0,7 ponto porcentual no PIB nos quatro anos que antecedem o evento) e todas as inúmeras oportunidades de negócios no Brasil, que fazem do País hoje um dos principais polos de atração de capital no mundo emergente.Segundo o relatório do Itaú-Unibanco, "o contexto global favorece o investimento em economias emergentes com grande potencial de expandir o consumo doméstico". Além disso, o mercado brasileiro está sendo impulsionado pelo crescimento da classe média, com grande propensão a consumir, e os juros reais continuam caindo, favorecendo os investimentos, especialmente imobiliários.Goldfajn acha que o vencedor das eleições presidenciais de 2010 provavelmente não vai jogar fora a política econômica de câmbio flutuante, meta de inflação e consistência fiscal que está rendendo frutos tão espetaculares. Mas ele sabe que a combinação de grandes déficits externos com câmbio valorizado (a projeção do Itaú-Unibanco é de uma leve e gradual desvalorização de 15% nos próximos dez anos) é bastante incômoda para uma corrente de economistas que aumentou sua influência no governo nos últimos anos (ver matéria abaixo). Assim, ele atribui uma probabilidade de 25% a alterações drásticas do atual arranjo macroeconômico, como tentativas de forçar uma desvalorização, que poderiam afugentar o investidor externo e provocar inflação, botando a perder o futuro róseo que permanece como cenário mais provável para o Itaú-Unibanco.De fato há economistas que assistem com intensa preocupação à volta aos déficits externos. O déficit em conta corrente significa que o País gasta - isto é, consome e investe - mais do que a sua renda, que é equivalente ao PIB, ou tudo que ele produz. Em outras palavras, o resto do mundo tem de financiar o excesso de gastos em relação à renda - o que os economistas chamam de importar poupança. A poupança doméstica reduz o consumo e ajuda o gasto a se aproximar da renda. O Brasil, porém, poupa muito pouco, razão pela qual a poupança externa é tão importante.CRISES DO PASSADOEssa importação de poupança aumenta o chamado "passivo externo líquido", que é a dívida externa mais a posição líquida dos investimentos estrangeiros no País (isto é, deduzida dos investimentos brasileiros no exterior). Para aqueles economistas, o aumento do passivo externo cria uma situação de vulnerabilidade, já que o dinheiro que entrou para financiar o excesso de gastos pode sair num momento subsequente. Se essa reversão for abrupta, o dólar pode disparar, a inflação explodir e o País ser forçado a cortar a ferro e fogo o consumo e os investimentos, mergulhando na recessão.A história econômica do Brasil dá suporte a esse tipo de preocupação. Nos últimos 40 anos, sempre que o déficit em conta corrente ficou acima de 4% do PIB o Brasil viveu sérios problemas externos: de 1979 a 1982, com a crise da dívida externa; em 1998 e 1999, com a desvalorização do real; e em 2001, quando o apagão e a moratória argentina levaram a uma nova rodada de desvalorização."Nós conhecemos a história dos problemas de se endividar muito", alerta o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e da PUC-SP.Na visão do Itaú-Unibanco, porém, aquela história não está fadada a se repetir. "No passado tivemos várias crises, num contexto de déficits externos, mas foi por causa da pouca estabilidade econômica, do risco elevado e de um perfil inadequado de financiamento", diz Goldfajn. Agora, ao contrário, o Brasil tem estabilidade, fundamentos bem mais sólidos e um perfil de financiamento em reais (no caso das captações de renda fixa), ações e investimento direto. Ele nota que a dívida externa do País - a parte do passivo externo que corresponde a endividamento em renda fixa, isto é, que paga juros - está aproximadamente zerada.O economista-chefe do Itaú-Unibanco frisa, porém, que é fundamental que o aumento do déficit em conta corrente seja acompanhado do crescimento do investimento total da economia. Para isso, "é preciso ajudar o financiamento externo a ser saudável", diz. Um dos elementos dessa estratégia é o câmbio flutuante, com o risco permanente de uma desvalorização que torne mais oneroso o endividamento externo para empresas que faturam em real. SUSTENTABILIDADEOutra providência é manter a atratividade do mercado de capitais brasileiros para atrair o investimento em ações, preferível ao capital que vem para títulos de renda fixa. "O resto é o beabá - manter a inflação controlada, a política fiscal em ordem, melhorar o marco regulatório, etc", diz Goldfajn.Um critério fundamental para saber se os déficits externos serão sustentáveis é acompanhar a evolução do passivo externo. Se ele crescer explosivamente como proporção do PIB, é sinal de que em algum momento o investidor estrangeiro vai ter dúvidas quanto ao retorno dos seus ativos no Brasil, e pode sair abruptamente. As projeções do Itaú-Unibanco, porém, são reconfortantes. Pelas contas do departamento econômico do maior banco privado do País, o passivo externo líquido, de 33% do PIB em 2009, fica aproximadamente neste nível até 2012. A partir daí, sobe gradativamente até 42% do PIB em 2021 e 2022, e cai novamente para 32% em 2030. Os economistas frisam que, quanto mais longa a projeção, mais imprecisa ela é. De qualquer forma, há uma aposta clara na sustentabilidade das contas externas nas próximas duas décadas.

O Brasil está ingressando em uma fase de megassuperávits em conta corrente que chegarão ao nível de US$ 107 bilhões, ou 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segundo recente projeções do Itaú-Unibanco. De acordo com as previsões, publicadas num relatório do banco de cenários até 2020, o superávit em conta corrente ficará acima de 4,5% do PIB durante seis anos, de 2012 a 2017, quando atingirá o pico em termos de valores absolutos, registrando US$ 136 bilhões. Para 2010 e 2011, o Itaú-Unibanco projeta déficits de respectivamente US$ 60 bilhões e US$ 83 bilhões, ou 3,1% e 4% do PIB.O déficit em conta corrente é a combinação do saldo comercial e dos gastos líquidos externos com juros, dividendos, serviços e remessas unilaterais. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), a previsão de déficits não deve ser motivo de alarme. Pelo contrário, ele vê o Brasil ingressando numa etapa dourada da sua história econômica, na qual a taxa de investimentos vai subir para 22% do PIB, ou até mais, dando suporte a um crescimento sustentável e equilibrado de 5% ao ano. Além da alta dos investimentos, o PIB será embalado pelo crescimento da produtividade e pelo aumento da parcela da população em idade de trabalhar."Tem gente que acha que o déficit em conta corrente vai acabar quebrando a gente", diz Goldfajn. Ele frisa, porém, que "o dinheiro entra para financiar o investimento, o que acaba gerando mais na frente os recursos para pagar o que entrou". ELEIÇÕESO que não vão faltar, acrescenta o economista, são investimentos: ele cita o pré-sal (com estimativa de US$ 55 bilhões em dez anos), a Copa do Mundo, a Olimpíada (com projeção de aumento médio de 0,7 ponto porcentual no PIB nos quatro anos que antecedem o evento) e todas as inúmeras oportunidades de negócios no Brasil, que fazem do País hoje um dos principais polos de atração de capital no mundo emergente.Segundo o relatório do Itaú-Unibanco, "o contexto global favorece o investimento em economias emergentes com grande potencial de expandir o consumo doméstico". Além disso, o mercado brasileiro está sendo impulsionado pelo crescimento da classe média, com grande propensão a consumir, e os juros reais continuam caindo, favorecendo os investimentos, especialmente imobiliários.Goldfajn acha que o vencedor das eleições presidenciais de 2010 provavelmente não vai jogar fora a política econômica de câmbio flutuante, meta de inflação e consistência fiscal que está rendendo frutos tão espetaculares. Mas ele sabe que a combinação de grandes déficits externos com câmbio valorizado (a projeção do Itaú-Unibanco é de uma leve e gradual desvalorização de 15% nos próximos dez anos) é bastante incômoda para uma corrente de economistas que aumentou sua influência no governo nos últimos anos (ver matéria abaixo). Assim, ele atribui uma probabilidade de 25% a alterações drásticas do atual arranjo macroeconômico, como tentativas de forçar uma desvalorização, que poderiam afugentar o investidor externo e provocar inflação, botando a perder o futuro róseo que permanece como cenário mais provável para o Itaú-Unibanco.De fato há economistas que assistem com intensa preocupação à volta aos déficits externos. O déficit em conta corrente significa que o País gasta - isto é, consome e investe - mais do que a sua renda, que é equivalente ao PIB, ou tudo que ele produz. Em outras palavras, o resto do mundo tem de financiar o excesso de gastos em relação à renda - o que os economistas chamam de importar poupança. A poupança doméstica reduz o consumo e ajuda o gasto a se aproximar da renda. O Brasil, porém, poupa muito pouco, razão pela qual a poupança externa é tão importante.CRISES DO PASSADOEssa importação de poupança aumenta o chamado "passivo externo líquido", que é a dívida externa mais a posição líquida dos investimentos estrangeiros no País (isto é, deduzida dos investimentos brasileiros no exterior). Para aqueles economistas, o aumento do passivo externo cria uma situação de vulnerabilidade, já que o dinheiro que entrou para financiar o excesso de gastos pode sair num momento subsequente. Se essa reversão for abrupta, o dólar pode disparar, a inflação explodir e o País ser forçado a cortar a ferro e fogo o consumo e os investimentos, mergulhando na recessão.A história econômica do Brasil dá suporte a esse tipo de preocupação. Nos últimos 40 anos, sempre que o déficit em conta corrente ficou acima de 4% do PIB o Brasil viveu sérios problemas externos: de 1979 a 1982, com a crise da dívida externa; em 1998 e 1999, com a desvalorização do real; e em 2001, quando o apagão e a moratória argentina levaram a uma nova rodada de desvalorização."Nós conhecemos a história dos problemas de se endividar muito", alerta o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e da PUC-SP.Na visão do Itaú-Unibanco, porém, aquela história não está fadada a se repetir. "No passado tivemos várias crises, num contexto de déficits externos, mas foi por causa da pouca estabilidade econômica, do risco elevado e de um perfil inadequado de financiamento", diz Goldfajn. Agora, ao contrário, o Brasil tem estabilidade, fundamentos bem mais sólidos e um perfil de financiamento em reais (no caso das captações de renda fixa), ações e investimento direto. Ele nota que a dívida externa do País - a parte do passivo externo que corresponde a endividamento em renda fixa, isto é, que paga juros - está aproximadamente zerada.O economista-chefe do Itaú-Unibanco frisa, porém, que é fundamental que o aumento do déficit em conta corrente seja acompanhado do crescimento do investimento total da economia. Para isso, "é preciso ajudar o financiamento externo a ser saudável", diz. Um dos elementos dessa estratégia é o câmbio flutuante, com o risco permanente de uma desvalorização que torne mais oneroso o endividamento externo para empresas que faturam em real. SUSTENTABILIDADEOutra providência é manter a atratividade do mercado de capitais brasileiros para atrair o investimento em ações, preferível ao capital que vem para títulos de renda fixa. "O resto é o beabá - manter a inflação controlada, a política fiscal em ordem, melhorar o marco regulatório, etc", diz Goldfajn.Um critério fundamental para saber se os déficits externos serão sustentáveis é acompanhar a evolução do passivo externo. Se ele crescer explosivamente como proporção do PIB, é sinal de que em algum momento o investidor estrangeiro vai ter dúvidas quanto ao retorno dos seus ativos no Brasil, e pode sair abruptamente. As projeções do Itaú-Unibanco, porém, são reconfortantes. Pelas contas do departamento econômico do maior banco privado do País, o passivo externo líquido, de 33% do PIB em 2009, fica aproximadamente neste nível até 2012. A partir daí, sobe gradativamente até 42% do PIB em 2021 e 2022, e cai novamente para 32% em 2030. Os economistas frisam que, quanto mais longa a projeção, mais imprecisa ela é. De qualquer forma, há uma aposta clara na sustentabilidade das contas externas nas próximas duas décadas.

O Brasil está ingressando em uma fase de megassuperávits em conta corrente que chegarão ao nível de US$ 107 bilhões, ou 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segundo recente projeções do Itaú-Unibanco. De acordo com as previsões, publicadas num relatório do banco de cenários até 2020, o superávit em conta corrente ficará acima de 4,5% do PIB durante seis anos, de 2012 a 2017, quando atingirá o pico em termos de valores absolutos, registrando US$ 136 bilhões. Para 2010 e 2011, o Itaú-Unibanco projeta déficits de respectivamente US$ 60 bilhões e US$ 83 bilhões, ou 3,1% e 4% do PIB.O déficit em conta corrente é a combinação do saldo comercial e dos gastos líquidos externos com juros, dividendos, serviços e remessas unilaterais. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco e ex-diretor do Banco Central (BC), a previsão de déficits não deve ser motivo de alarme. Pelo contrário, ele vê o Brasil ingressando numa etapa dourada da sua história econômica, na qual a taxa de investimentos vai subir para 22% do PIB, ou até mais, dando suporte a um crescimento sustentável e equilibrado de 5% ao ano. Além da alta dos investimentos, o PIB será embalado pelo crescimento da produtividade e pelo aumento da parcela da população em idade de trabalhar."Tem gente que acha que o déficit em conta corrente vai acabar quebrando a gente", diz Goldfajn. Ele frisa, porém, que "o dinheiro entra para financiar o investimento, o que acaba gerando mais na frente os recursos para pagar o que entrou". ELEIÇÕESO que não vão faltar, acrescenta o economista, são investimentos: ele cita o pré-sal (com estimativa de US$ 55 bilhões em dez anos), a Copa do Mundo, a Olimpíada (com projeção de aumento médio de 0,7 ponto porcentual no PIB nos quatro anos que antecedem o evento) e todas as inúmeras oportunidades de negócios no Brasil, que fazem do País hoje um dos principais polos de atração de capital no mundo emergente.Segundo o relatório do Itaú-Unibanco, "o contexto global favorece o investimento em economias emergentes com grande potencial de expandir o consumo doméstico". Além disso, o mercado brasileiro está sendo impulsionado pelo crescimento da classe média, com grande propensão a consumir, e os juros reais continuam caindo, favorecendo os investimentos, especialmente imobiliários.Goldfajn acha que o vencedor das eleições presidenciais de 2010 provavelmente não vai jogar fora a política econômica de câmbio flutuante, meta de inflação e consistência fiscal que está rendendo frutos tão espetaculares. Mas ele sabe que a combinação de grandes déficits externos com câmbio valorizado (a projeção do Itaú-Unibanco é de uma leve e gradual desvalorização de 15% nos próximos dez anos) é bastante incômoda para uma corrente de economistas que aumentou sua influência no governo nos últimos anos (ver matéria abaixo). Assim, ele atribui uma probabilidade de 25% a alterações drásticas do atual arranjo macroeconômico, como tentativas de forçar uma desvalorização, que poderiam afugentar o investidor externo e provocar inflação, botando a perder o futuro róseo que permanece como cenário mais provável para o Itaú-Unibanco.De fato há economistas que assistem com intensa preocupação à volta aos déficits externos. O déficit em conta corrente significa que o País gasta - isto é, consome e investe - mais do que a sua renda, que é equivalente ao PIB, ou tudo que ele produz. Em outras palavras, o resto do mundo tem de financiar o excesso de gastos em relação à renda - o que os economistas chamam de importar poupança. A poupança doméstica reduz o consumo e ajuda o gasto a se aproximar da renda. O Brasil, porém, poupa muito pouco, razão pela qual a poupança externa é tão importante.CRISES DO PASSADOEssa importação de poupança aumenta o chamado "passivo externo líquido", que é a dívida externa mais a posição líquida dos investimentos estrangeiros no País (isto é, deduzida dos investimentos brasileiros no exterior). Para aqueles economistas, o aumento do passivo externo cria uma situação de vulnerabilidade, já que o dinheiro que entrou para financiar o excesso de gastos pode sair num momento subsequente. Se essa reversão for abrupta, o dólar pode disparar, a inflação explodir e o País ser forçado a cortar a ferro e fogo o consumo e os investimentos, mergulhando na recessão.A história econômica do Brasil dá suporte a esse tipo de preocupação. Nos últimos 40 anos, sempre que o déficit em conta corrente ficou acima de 4% do PIB o Brasil viveu sérios problemas externos: de 1979 a 1982, com a crise da dívida externa; em 1998 e 1999, com a desvalorização do real; e em 2001, quando o apagão e a moratória argentina levaram a uma nova rodada de desvalorização."Nós conhecemos a história dos problemas de se endividar muito", alerta o economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e da PUC-SP.Na visão do Itaú-Unibanco, porém, aquela história não está fadada a se repetir. "No passado tivemos várias crises, num contexto de déficits externos, mas foi por causa da pouca estabilidade econômica, do risco elevado e de um perfil inadequado de financiamento", diz Goldfajn. Agora, ao contrário, o Brasil tem estabilidade, fundamentos bem mais sólidos e um perfil de financiamento em reais (no caso das captações de renda fixa), ações e investimento direto. Ele nota que a dívida externa do País - a parte do passivo externo que corresponde a endividamento em renda fixa, isto é, que paga juros - está aproximadamente zerada.O economista-chefe do Itaú-Unibanco frisa, porém, que é fundamental que o aumento do déficit em conta corrente seja acompanhado do crescimento do investimento total da economia. Para isso, "é preciso ajudar o financiamento externo a ser saudável", diz. Um dos elementos dessa estratégia é o câmbio flutuante, com o risco permanente de uma desvalorização que torne mais oneroso o endividamento externo para empresas que faturam em real. SUSTENTABILIDADEOutra providência é manter a atratividade do mercado de capitais brasileiros para atrair o investimento em ações, preferível ao capital que vem para títulos de renda fixa. "O resto é o beabá - manter a inflação controlada, a política fiscal em ordem, melhorar o marco regulatório, etc", diz Goldfajn.Um critério fundamental para saber se os déficits externos serão sustentáveis é acompanhar a evolução do passivo externo. Se ele crescer explosivamente como proporção do PIB, é sinal de que em algum momento o investidor estrangeiro vai ter dúvidas quanto ao retorno dos seus ativos no Brasil, e pode sair abruptamente. As projeções do Itaú-Unibanco, porém, são reconfortantes. Pelas contas do departamento econômico do maior banco privado do País, o passivo externo líquido, de 33% do PIB em 2009, fica aproximadamente neste nível até 2012. A partir daí, sobe gradativamente até 42% do PIB em 2021 e 2022, e cai novamente para 32% em 2030. Os economistas frisam que, quanto mais longa a projeção, mais imprecisa ela é. De qualquer forma, há uma aposta clara na sustentabilidade das contas externas nas próximas duas décadas.

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