O secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, disse à TV Globo nesta sexta-feira, 6, que grupos com origem no jogo do bicho migraram para as bets (sites de apostas esportivas), o que motivou a Operação Integration, deflagrada pela Polícia Civil pernambucana nesta semana. A investigação mira uma organização criminosa envolvida em jogos ilegais e lavagem de dinheiro.
Conforme o Estadão mostrou, relatório da Polícia Civil pernambucana revela a suspeita de que a bet Esportes da Sorte faça a lavagem de dinheiro de origem ilegal do jogo do bicho. Essa hipótese tem origem em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que trouxeram indícios diretos de atuação suspeita por parte da empresa. O site de apostas diz que suas atividades são legais.
O dono da bet, Darwin Henrique da Silva Filho, foi preso nessa quinta-feira, 5. Ele afirmou, em carta, que sempre defendeu a lei e pautou a atuação da empresa “em favor das boas práticas”. Além de Darwin Filho, o relatório descreve as atividades de Darwin Henrique da Silva (o pai), que teria atuação no jogo do bicho pela Banca Caminho da Sorte. Procurada pela reportagem, a defesa de Darwin Silva não foi localizada.
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À TV Globo, o secretário não cita o nome da empresa, mas diz que a origem dos principais sócios da organização criminosa foi o jogo do bicho. “Quando surgiu a bet, e foi legalizada, vimos a migração de pessoas que tinham sua atividade no jogo do bicho, que é ilegal, migrando para a bet. Existe a bet, que é legal, mas existem, como foi comprovado na operação, outros jogos que não são legais dentro da mesma estrutura”, afirmou.
“Esse grupo criminoso explorava também jogos que não são legais, como o Jogo do Tigrinho, e isso era canalizado para dentro da estrutura para legalizar”, acrescentou o secretário. “Há indícios e provas suficientes do cometimento do crime”.”
Carvalho também fala sobre o papel dos influenciadores digitais na divulgação desses jogos. “Se você pega um influencer, que tem uma imagem boa, faz um contrato com ele para que divulgue a bet. Cada pessoa tem dezenas de milhares, às vezes milhões de seguidores. É uma rede que se espalha de uma maneira muito rápida e o dinheiro flui para dentro dessas organizações de forma muito rápida”, completou.
A operação policial, deflagrada na quarta-feira, 4, também prendeu Deolane Bezerra, influencer de 36 anos com mais de 21 milhões de seguidores no Instagram, que afirma ser vítima de injustiça. Ela divulgava o site Esportes da Sorte. O nome de Deolane não é citado no relatório nem pelo secretário.
“É feita toda uma história de que o jogo vai levar você a ter patrimônio, carro, mansão, barco, quando isso não é realidade. Aquele pessoa que tem esses bens, não foi jogando. Foi sendo patrocinado para vender uma ilusão e levar pessoas a jogarem muitas vezes de forma compulsiva e perder tudo o que tem”, disse Carvalho.
“O jogo não foi feito para a pessoa ganhar. Foi feito para a casa ganhar”, afirmou o secretário.
Origem no jogo do bicho
O relatório policial de 2023 descreve que o início da investigação se deu em 1º de dezembro de 2022, quando houve a apreensão de R$ 180,1 mil em espécie na sede da Banca Caminho da Sorte, no bairro Afogados, no Recife, “configurando a contravenção penal do jogo do bicho”. Na banca do bicho, havia a opção de apostas em jogos esportivos.
A partir daí, os investigadores se aprofundaram sobre o funcionamento da bet. O relatório destaca uma notícia que descreve a suposta atuação de Darwin Henrique da Silva em Fortaleza, detalhando que ele teria levado à capital cearense uma nova modalidade de jogo do bicho informatizado e aumentou a premiação aos apostadores.
A apuração então se voltou a relatórios do Coaf sobre CPFs e CNPJs ligados aos alvos centrais e seus parentes. Ao longo de 92 páginas, são descritas operações com indícios de prática de lavagem de dinheiro para dissimular a origem do recurso movimentado pelas empresas.
A polícia diz haver ainda indícios suficientes de que o dinheiro oriundo do jogo do bicho (Caminho da Sorte) e jogos de azar esportivo (plataforma Esportes da Sorte) e cassino esteja sendo lavado nos diversos patrocínios que a plataforma celebrou contrato, ultrapassando a casa das dezenas de milhões de reais, bem como em imóveis e carros de luxo e outras empresas de propriedade dos investigados e pessoas físicas próximas a eles.
Na fase atual da Operação Integration, foram cumpridos, ao todo, 19 mandados de prisão, tendo sido pelo menos 10 pessoas já presas, além de 24 mandados de busca e apreensão de bens, entre eles aeronaves, carros, joias, relógios e bolsas de luxo. Foi apreendida também uma quantia em dinheiro, inclusive em dólar, euro e libras esterlinas. A soma dos objetivos e valores ultrapassa o equivalente a R$ 150 milhões.
Houve pedido à Justiça de bloqueio de bens avaliados em R$ 2,1 bilhões.
Defesa pediu habeas corpus à Justiça
Em nota, o escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão, que representa Darwin Filho, diz que todos os questionamentos da polícia “foram devidamente explicados e as dúvidas sobre as atividades da empresa Esporte da Sorte foram sanadas, demonstrando-se a regularidade e a legalidade das atividades profissionais”.
O escritório impetrou pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de Pernambuco e aguarda a análise do pedido de revogação das prisões.