A morte de Picasso em 1973. “Se é que Picasso morre”


Jornal da Tarde publicou título criativo para mostrar a dimensão da genialidade e da influência do artista

Por Edmundo Leite
Atualização:

A morte do pintor espanhol Pablo Picasso em 8 de abril de 1973 foi noticiada no dia seguinte pelo Jornal da Tarde com um dos mais célebres títulos da história do jornal: “Picasso morreu, se é que Picasso morre”.

Criado pelo jornalista Guilherme Cunha Pinto, o Jovem Gui, o título foi publicado numa página interna com textos e fotos que mostravam a genialidade do artista que partira aos 91 anos de idade. "Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso."

Leia a íntegra:

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Jornal da Tarde - 9 de abril de 1973

Picasso morreu, se é que Picasso morre

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Aos 91 anos, Pablo Picasso estava fazendo planos incríveis: voltar à sua Espanha assim que o generalíssimo Franco morresse e completar uma nova fase de sua obra. Sua mulher, Jacqueline, seu filho Pablo, seu secretário Miguel, e todos os sete ou oito eleitos que podiam entrar em sua casa de Mougins, na Riviera Francesa, acreditavam nele: Picasso não parecia mortal.

Como duvidar de um homem que, aos 91 ficava até às três da madrugada ao lado de um copo de vinho, conversando ou trabalhando? Um homem que continuava levando seus desenhos e esboços para a cama, na hora de dormir, para começar a trabalhar logo que acordasse, às oito ou nove da manhã. Que estava organizando pessoalmente duas novas retrospectivas de seus trabalhos, em Avignon e Nice, nas últimas duas semanas. Que repetia: "Andam dizendo que estou cansado e doente, que já não trabalho. Pois vão ver."

Ele morreu ontem pela manhã, de ataque cardíaco, após complicações de um edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões). Seu jardineiro, o primeiro a espalhar a notícia, contou que, no sábado, ele havia passeado pelo jardim e colhido flores para pintar. Nesse dia, Picasso ficou acordado até tarde, conversando. Pela manhã, havia esboços e lápis de cor espalhados em sua cama. Ainda não há nenhuma informação sobre onde, e como será seu funeral.

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Sua vida, uma revolução permanente na arte. Ele mudou o desenho. A pintura. A escultura. A gravura e cerâmica.

Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso.

Mais afortunado que outros gênios da pintura, não precisou morrer para que sua assinatura chegasse ao topo do milionário mercado artístico mundial (seus quadros mais valiosos, das fases "rosa" e "azul", estavam cotados até ontem em meio milhão de dólares, mais do que já se pagou por um Degas).

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Para os museus e colecionadores particulares do mundo todo, o testamento da arte de Pablo Picasso começou já em 1906, quando foi descoberto pelas galerias. Em setenta anos de trabalho contínuo deixou uma produção de cerca de catorze mil pinturas e desenhos; cem mil litografias, gravuras e águas-fortes; trezentas esculturas e cerâmicas; 34 mil ilustrações de livros.

Picasso várias vezes se definiu como um pintor sem estilo, pois sabia que estilo era o que se seguia a talentos como o dele. Quem primeiro se assombrou com esse talento foram os professores da Escola de Artes de Barcelona, onde entrou aos 14 anos, depois da infância vivida em Málaga.

Foi nessa época que seu pai José Ruiz, também professor da escola, percebeu de vez que a admiração que sentia pelo traço do filho não era mais um caso de injustificado orgulho paternal, e resolveu entregar-lhe seus pincéis, para que Pablo fizesse a obra que ele nunca havia conseguido.

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CUBISMO, A PRIMEIRA REVOLUÇÃO

Pablo Ruiz (Picasso era o sobrenome de sua mãe Maria, que ele passou a usar só em 1901) chegou a Paris em 1900, mas não ficou muito tempo, despreparado para vida que Montmartre reservava para os talentos iniciantes. Mas voltou em 1904, de vez, para morar no "Bateau Lavoir" da rua Ravignan, um edifício mal Iluminado onde se reuniam artistas e intelectuais como Andre Salmon, Jean Gris e Georges Braque.

Nessa época Picasso cultivava sua fase azul, povoada de pobres diabos e doentes. O 'quadro "Saltimbancos", de 1905, inaugurava uma fase que os críticos chamariam de "rosa", um período de nus cósmicos, ambulantes, arlequins e cenas circenses e que lhe permitiu agilizar a técnica, acentuar as deformações e fazer mais sutil o traço.

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Mas a descoberta dos feitiços africanos, com esculturas negras monstruosamente deformadas, que nessa época foram revelados na Europa, modificariam outra vez o rumo da pintura de Picasso. Certo dia, em 1907, ele chamou o pintor Braque para que visse em seu atelier um quadro que tinha acabado de pintar.

Quando viu "As Senhoritas de Avignon", Braque descobriu naqueles rostos de máscaras negras e olhos colocados de lado, tudo o que sentia em relação à arte, mas que ainda não havia conseguido externar. Nascia aí o cubismo, movimento a que Picasso foi fiel durante dez anos.

OLGA E OS AMORES

Enquanto voltava - por pouco tempo - a temática dos arlequins, acrobatas e bailarinas, Picasso se apaixonou e casou em 1917 com Olga Koklova, bailarina russa do Bailei de Diaghilev, com quem teve Pablo, seu único filho legítimo. Teve mais três, mais tarde: Maía nascida da união com sua modelo Marie Thérese Walter, e a Claude e Paloma (a quem ele se referiu certa vez como "minhas duas melhores obras"), da atriz francesa Françoise Gillot.

As mulheres tiveram tanta importância no trabalho de Picasso, que em 1969, aos 79 anos, ele foi vítima de boatos que anunciavam crise em seu casamento com Jacqueline. Tudo porque nesse ano Picasso passou a pintar no reverso de cartolinas onduladas. Logo algumas revistas européias previram que o casamento estava no fim. Por acaso a arte de Picasso não esteve sempre relacionada com sua vida sentimental? -- perguntavam elas. E vinham os exemplos.

Por Fernande, por exemplo, por quem se apaixonou em 1904, ele abandonou as personagens sombrios e misteriosos da fase azul, para entrar na alegre fase rosa. De Marcelle, amor de 1912, Picasso dizia a Appolinaire, o poeta "Ela está em todos os meus quadros. As pipas e os maços de cigarro aparecem em primeiro plano, mas Marcelle está nas cores, nos traços delicados, no clima de paz profunda".

Os direitos de esposa de nada valeram a Olga: seu casamento arruinado foi ilustrado com esculturas de monstros. Marie Thereze, loira e bonita, inspirou a fase dos grafismos curvos. Dora Maar, companheira de Picasso em 1935, foi talvez a musa mais maltratada e ridicularizada da historia da pintura, motivando figuras totalmente deformadas nas telas. Em 43 surgiu Françoise, e o mestre se acalma novamente. Dez anos depois encontrou Jacqueline, com quem se casa em 1961 e com quem viveu até o fim.

SURREALISMO E TAUROMAQUIA

Em seu livro "Minha Vida com Picasso", Françoise Gillot descreveu o ritual que seguiu durante dez anos como modelo: "Pablo ficava de pé, a três ou quatro metros com ar grave e distante. Seus olhos não se afastavam de mim nem um segundo. Ele não tocava o papel, nem ao menos tinha um lápis na mão. Depois de por a roupa, percebi que ficara ali, de pé, pouco mais de uma hora. No dia seguinte Pablo, de memoria começou uma série de desenhos mostrando-me naquela pose. Fez também uma série de onze litografias de minha cabeça, sempre colocando uma pequena verruga bem abaixo de meu olho esquerdo, e desenhando minha sobrancelha direita em forma de acento circunflexo".

Enquanto durou a união com Olga, Picasso desenhou para o Ballet de Diaghilev, além de colaborar com outros espetáculos de balé, como na criação de cenário, guarda-roupa e pano de boca para "Parade", tema de Jean Cocteau com música de Eric Satie. Até 1929 faz algumas obras que foram classificadas conto surrealistas: fase das "Banhistas", de extremidades e rostos cada vez mais retorcidos.

Na década de 30 inaugura uma nova fase, com a tauromaquia. Como Hemingway, era figura frequente nas touradas. O escritor era muito amigo de Antonio Ordonéz, principalmente; o pintor era ligado a Dominguin e chegou a desenhar para ele alguns modelos para usar na arena. Mas as touradas não exerceram influência mórbida em Picasso, que se atraía mais pelo aspecto festivo e pelas cores do espetáculo.

GUERNICA E FRANCO

Para alguns críticos, a melhor obra de Picasso é "Guernica", um quadro de 3,5 x 7,60 m esteve na II Bienal de São Paulo, em 1954 que mostra a tragédia de uma pequena cidade espanhola bombardeada pela Divisão Condor da Luftwaffe, "Guernica" causou um dos mais famosos diálogos da vida do pintor.

Diante do quadro, o embaixador nazista na França perguntou a Picasso: "Esta obra é sua?" Picasso balançou o cabeça: "Não é sua."

Em 1970 o general Franco, aparentemente esquecido do significado desta obra e de uma outra referência de Picasso, o quadro "Sonhos e Mentiras de Franco", pediu para que o pintor autorizasse a mudança de "Guernica" do Museu de Arte Moderna de Nova York para Madri, referindo-se à obra como "um tesouro artístico". Mas ele recusou: doava a tela, sim; mas para República Espanhola, não para ditadura.

Durante a II Guerra, Picasso cultivou um impressionismo tragicômico, enquanto fazia também experiências no teatro. Escreveu entre outras "As Quatro Meninas" e "O Desejo Agarrado pelo Rabo", uma espécie de carnaval surrealista em seis atos, com "mise-en-scene" de Albert Camus e um elenco que chegava ao requinte de possuir Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

BRIGAS COM MOSCOU

Já rico e oficialmente consagrado por muitos prêmios Picasso filiou-se ao Partido Comunista, em 1944, mas nunca viveu em paz com Moscou. Foi autor proibido na União Soviética durante o período stalinista e o retrato que fez de Stalin, em 1953, foi recebido com repulsa e indignação pelos líderes políticos soviéticos, que lhe devolveram o presente.

Talvez em represália, há dez anos, quando uma comissão foi informá-lo de que havia ganho o Prêmio Lênin, Picasso nem abriu a porta, o que lhe valeu novas criticas. Muitos acharam que era mesmo incrível que um comunista vivesse numa mansão cercada por altos muros de pedra, arame farpado e uma grade de ferro para afastar os visitantes indesejáveis (desde 1946 ele vivia em Notre-Dame de Vie, em Mougins sul da França, e há poucos anos sua fortuna pessoal foi calculada em 40 milhões de dólares).

Em 1948 há a oportunidade para voltar a um tema que tinha sido constante em sua imaginação, quando menino, a pomba, símbolo do Congresso Mundial da Paz organizado pelo Partido Comunista, em Paris.

A primeira chance que o mundo teve de ver Picasso trabalhando foi em 1950, graças ao filme "O Mistério Picasso", de Georges Clouzot, que, a pedido do pintor, teve o cuidado de não focalizar suas mãos. Antes de seu ultimo casamento, a grande obra de Picasso foi o mural do Palácio da UNESCO, em Paris, Ícaro e as Trevas", em 1959.

A ENTRADA NO LOUVRE

As provas de consagração total sucederam-se a essa época. Em 1966, o então ministro da Cultura da França André Malraux, organizou uma dupla exposição retrospectiva, nos chamados Grande Palácio e Pequeno Palácio, em Paris, que foi visitada por um milhão de pessoas.

As comemorações elo nonagésimo aniversário do pintor, em outubro de 1971 abriram um grande precedente: pela primeira vez na história do Museu do Louvre, foram expostas, na Grande Galeria obras de um artista vivo. Na ocasião, Pompidou disse: "Esta não e uma exposição de Picasso. É uma homenagem que a França presta ao grande artista. É uma homenagem ao homem que escolheu nosso país para residir e trabalhar".

A 10 de janeiro deste ano, no Brasil o Departamento de Polícia Federal apreendeu todos os exemplares à venda no país das "Gravuras Eróticas de Picasso", sob a alegação de serem contrárias à moral e aos bons costumes.

Picasso respondia assim aos que reclamavam que não conseguiam entender seus quadros: "Todos querem entender a arte. Por que não entender o canto dos pássaros?"

 

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ACERVO ESTADÃO

A morte do pintor espanhol Pablo Picasso em 8 de abril de 1973 foi noticiada no dia seguinte pelo Jornal da Tarde com um dos mais célebres títulos da história do jornal: “Picasso morreu, se é que Picasso morre”.

Criado pelo jornalista Guilherme Cunha Pinto, o Jovem Gui, o título foi publicado numa página interna com textos e fotos que mostravam a genialidade do artista que partira aos 91 anos de idade. "Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso."

Leia a íntegra:

 

Jornal da Tarde - 9 de abril de 1973

Picasso morreu, se é que Picasso morre

Aos 91 anos, Pablo Picasso estava fazendo planos incríveis: voltar à sua Espanha assim que o generalíssimo Franco morresse e completar uma nova fase de sua obra. Sua mulher, Jacqueline, seu filho Pablo, seu secretário Miguel, e todos os sete ou oito eleitos que podiam entrar em sua casa de Mougins, na Riviera Francesa, acreditavam nele: Picasso não parecia mortal.

Como duvidar de um homem que, aos 91 ficava até às três da madrugada ao lado de um copo de vinho, conversando ou trabalhando? Um homem que continuava levando seus desenhos e esboços para a cama, na hora de dormir, para começar a trabalhar logo que acordasse, às oito ou nove da manhã. Que estava organizando pessoalmente duas novas retrospectivas de seus trabalhos, em Avignon e Nice, nas últimas duas semanas. Que repetia: "Andam dizendo que estou cansado e doente, que já não trabalho. Pois vão ver."

Ele morreu ontem pela manhã, de ataque cardíaco, após complicações de um edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões). Seu jardineiro, o primeiro a espalhar a notícia, contou que, no sábado, ele havia passeado pelo jardim e colhido flores para pintar. Nesse dia, Picasso ficou acordado até tarde, conversando. Pela manhã, havia esboços e lápis de cor espalhados em sua cama. Ainda não há nenhuma informação sobre onde, e como será seu funeral.

Sua vida, uma revolução permanente na arte. Ele mudou o desenho. A pintura. A escultura. A gravura e cerâmica.

Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso.

Mais afortunado que outros gênios da pintura, não precisou morrer para que sua assinatura chegasse ao topo do milionário mercado artístico mundial (seus quadros mais valiosos, das fases "rosa" e "azul", estavam cotados até ontem em meio milhão de dólares, mais do que já se pagou por um Degas).

Para os museus e colecionadores particulares do mundo todo, o testamento da arte de Pablo Picasso começou já em 1906, quando foi descoberto pelas galerias. Em setenta anos de trabalho contínuo deixou uma produção de cerca de catorze mil pinturas e desenhos; cem mil litografias, gravuras e águas-fortes; trezentas esculturas e cerâmicas; 34 mil ilustrações de livros.

Picasso várias vezes se definiu como um pintor sem estilo, pois sabia que estilo era o que se seguia a talentos como o dele. Quem primeiro se assombrou com esse talento foram os professores da Escola de Artes de Barcelona, onde entrou aos 14 anos, depois da infância vivida em Málaga.

Foi nessa época que seu pai José Ruiz, também professor da escola, percebeu de vez que a admiração que sentia pelo traço do filho não era mais um caso de injustificado orgulho paternal, e resolveu entregar-lhe seus pincéis, para que Pablo fizesse a obra que ele nunca havia conseguido.

CUBISMO, A PRIMEIRA REVOLUÇÃO

Pablo Ruiz (Picasso era o sobrenome de sua mãe Maria, que ele passou a usar só em 1901) chegou a Paris em 1900, mas não ficou muito tempo, despreparado para vida que Montmartre reservava para os talentos iniciantes. Mas voltou em 1904, de vez, para morar no "Bateau Lavoir" da rua Ravignan, um edifício mal Iluminado onde se reuniam artistas e intelectuais como Andre Salmon, Jean Gris e Georges Braque.

Nessa época Picasso cultivava sua fase azul, povoada de pobres diabos e doentes. O 'quadro "Saltimbancos", de 1905, inaugurava uma fase que os críticos chamariam de "rosa", um período de nus cósmicos, ambulantes, arlequins e cenas circenses e que lhe permitiu agilizar a técnica, acentuar as deformações e fazer mais sutil o traço.

Mas a descoberta dos feitiços africanos, com esculturas negras monstruosamente deformadas, que nessa época foram revelados na Europa, modificariam outra vez o rumo da pintura de Picasso. Certo dia, em 1907, ele chamou o pintor Braque para que visse em seu atelier um quadro que tinha acabado de pintar.

Quando viu "As Senhoritas de Avignon", Braque descobriu naqueles rostos de máscaras negras e olhos colocados de lado, tudo o que sentia em relação à arte, mas que ainda não havia conseguido externar. Nascia aí o cubismo, movimento a que Picasso foi fiel durante dez anos.

OLGA E OS AMORES

Enquanto voltava - por pouco tempo - a temática dos arlequins, acrobatas e bailarinas, Picasso se apaixonou e casou em 1917 com Olga Koklova, bailarina russa do Bailei de Diaghilev, com quem teve Pablo, seu único filho legítimo. Teve mais três, mais tarde: Maía nascida da união com sua modelo Marie Thérese Walter, e a Claude e Paloma (a quem ele se referiu certa vez como "minhas duas melhores obras"), da atriz francesa Françoise Gillot.

As mulheres tiveram tanta importância no trabalho de Picasso, que em 1969, aos 79 anos, ele foi vítima de boatos que anunciavam crise em seu casamento com Jacqueline. Tudo porque nesse ano Picasso passou a pintar no reverso de cartolinas onduladas. Logo algumas revistas européias previram que o casamento estava no fim. Por acaso a arte de Picasso não esteve sempre relacionada com sua vida sentimental? -- perguntavam elas. E vinham os exemplos.

Por Fernande, por exemplo, por quem se apaixonou em 1904, ele abandonou as personagens sombrios e misteriosos da fase azul, para entrar na alegre fase rosa. De Marcelle, amor de 1912, Picasso dizia a Appolinaire, o poeta "Ela está em todos os meus quadros. As pipas e os maços de cigarro aparecem em primeiro plano, mas Marcelle está nas cores, nos traços delicados, no clima de paz profunda".

Os direitos de esposa de nada valeram a Olga: seu casamento arruinado foi ilustrado com esculturas de monstros. Marie Thereze, loira e bonita, inspirou a fase dos grafismos curvos. Dora Maar, companheira de Picasso em 1935, foi talvez a musa mais maltratada e ridicularizada da historia da pintura, motivando figuras totalmente deformadas nas telas. Em 43 surgiu Françoise, e o mestre se acalma novamente. Dez anos depois encontrou Jacqueline, com quem se casa em 1961 e com quem viveu até o fim.

SURREALISMO E TAUROMAQUIA

Em seu livro "Minha Vida com Picasso", Françoise Gillot descreveu o ritual que seguiu durante dez anos como modelo: "Pablo ficava de pé, a três ou quatro metros com ar grave e distante. Seus olhos não se afastavam de mim nem um segundo. Ele não tocava o papel, nem ao menos tinha um lápis na mão. Depois de por a roupa, percebi que ficara ali, de pé, pouco mais de uma hora. No dia seguinte Pablo, de memoria começou uma série de desenhos mostrando-me naquela pose. Fez também uma série de onze litografias de minha cabeça, sempre colocando uma pequena verruga bem abaixo de meu olho esquerdo, e desenhando minha sobrancelha direita em forma de acento circunflexo".

Enquanto durou a união com Olga, Picasso desenhou para o Ballet de Diaghilev, além de colaborar com outros espetáculos de balé, como na criação de cenário, guarda-roupa e pano de boca para "Parade", tema de Jean Cocteau com música de Eric Satie. Até 1929 faz algumas obras que foram classificadas conto surrealistas: fase das "Banhistas", de extremidades e rostos cada vez mais retorcidos.

Na década de 30 inaugura uma nova fase, com a tauromaquia. Como Hemingway, era figura frequente nas touradas. O escritor era muito amigo de Antonio Ordonéz, principalmente; o pintor era ligado a Dominguin e chegou a desenhar para ele alguns modelos para usar na arena. Mas as touradas não exerceram influência mórbida em Picasso, que se atraía mais pelo aspecto festivo e pelas cores do espetáculo.

GUERNICA E FRANCO

Para alguns críticos, a melhor obra de Picasso é "Guernica", um quadro de 3,5 x 7,60 m esteve na II Bienal de São Paulo, em 1954 que mostra a tragédia de uma pequena cidade espanhola bombardeada pela Divisão Condor da Luftwaffe, "Guernica" causou um dos mais famosos diálogos da vida do pintor.

Diante do quadro, o embaixador nazista na França perguntou a Picasso: "Esta obra é sua?" Picasso balançou o cabeça: "Não é sua."

Em 1970 o general Franco, aparentemente esquecido do significado desta obra e de uma outra referência de Picasso, o quadro "Sonhos e Mentiras de Franco", pediu para que o pintor autorizasse a mudança de "Guernica" do Museu de Arte Moderna de Nova York para Madri, referindo-se à obra como "um tesouro artístico". Mas ele recusou: doava a tela, sim; mas para República Espanhola, não para ditadura.

Durante a II Guerra, Picasso cultivou um impressionismo tragicômico, enquanto fazia também experiências no teatro. Escreveu entre outras "As Quatro Meninas" e "O Desejo Agarrado pelo Rabo", uma espécie de carnaval surrealista em seis atos, com "mise-en-scene" de Albert Camus e um elenco que chegava ao requinte de possuir Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

BRIGAS COM MOSCOU

Já rico e oficialmente consagrado por muitos prêmios Picasso filiou-se ao Partido Comunista, em 1944, mas nunca viveu em paz com Moscou. Foi autor proibido na União Soviética durante o período stalinista e o retrato que fez de Stalin, em 1953, foi recebido com repulsa e indignação pelos líderes políticos soviéticos, que lhe devolveram o presente.

Talvez em represália, há dez anos, quando uma comissão foi informá-lo de que havia ganho o Prêmio Lênin, Picasso nem abriu a porta, o que lhe valeu novas criticas. Muitos acharam que era mesmo incrível que um comunista vivesse numa mansão cercada por altos muros de pedra, arame farpado e uma grade de ferro para afastar os visitantes indesejáveis (desde 1946 ele vivia em Notre-Dame de Vie, em Mougins sul da França, e há poucos anos sua fortuna pessoal foi calculada em 40 milhões de dólares).

Em 1948 há a oportunidade para voltar a um tema que tinha sido constante em sua imaginação, quando menino, a pomba, símbolo do Congresso Mundial da Paz organizado pelo Partido Comunista, em Paris.

A primeira chance que o mundo teve de ver Picasso trabalhando foi em 1950, graças ao filme "O Mistério Picasso", de Georges Clouzot, que, a pedido do pintor, teve o cuidado de não focalizar suas mãos. Antes de seu ultimo casamento, a grande obra de Picasso foi o mural do Palácio da UNESCO, em Paris, Ícaro e as Trevas", em 1959.

A ENTRADA NO LOUVRE

As provas de consagração total sucederam-se a essa época. Em 1966, o então ministro da Cultura da França André Malraux, organizou uma dupla exposição retrospectiva, nos chamados Grande Palácio e Pequeno Palácio, em Paris, que foi visitada por um milhão de pessoas.

As comemorações elo nonagésimo aniversário do pintor, em outubro de 1971 abriram um grande precedente: pela primeira vez na história do Museu do Louvre, foram expostas, na Grande Galeria obras de um artista vivo. Na ocasião, Pompidou disse: "Esta não e uma exposição de Picasso. É uma homenagem que a França presta ao grande artista. É uma homenagem ao homem que escolheu nosso país para residir e trabalhar".

A 10 de janeiro deste ano, no Brasil o Departamento de Polícia Federal apreendeu todos os exemplares à venda no país das "Gravuras Eróticas de Picasso", sob a alegação de serem contrárias à moral e aos bons costumes.

Picasso respondia assim aos que reclamavam que não conseguiam entender seus quadros: "Todos querem entender a arte. Por que não entender o canto dos pássaros?"

 

>> Leia mais sobre Picasso

ACERVO ESTADÃO

A morte do pintor espanhol Pablo Picasso em 8 de abril de 1973 foi noticiada no dia seguinte pelo Jornal da Tarde com um dos mais célebres títulos da história do jornal: “Picasso morreu, se é que Picasso morre”.

Criado pelo jornalista Guilherme Cunha Pinto, o Jovem Gui, o título foi publicado numa página interna com textos e fotos que mostravam a genialidade do artista que partira aos 91 anos de idade. "Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso."

Leia a íntegra:

 

Jornal da Tarde - 9 de abril de 1973

Picasso morreu, se é que Picasso morre

Aos 91 anos, Pablo Picasso estava fazendo planos incríveis: voltar à sua Espanha assim que o generalíssimo Franco morresse e completar uma nova fase de sua obra. Sua mulher, Jacqueline, seu filho Pablo, seu secretário Miguel, e todos os sete ou oito eleitos que podiam entrar em sua casa de Mougins, na Riviera Francesa, acreditavam nele: Picasso não parecia mortal.

Como duvidar de um homem que, aos 91 ficava até às três da madrugada ao lado de um copo de vinho, conversando ou trabalhando? Um homem que continuava levando seus desenhos e esboços para a cama, na hora de dormir, para começar a trabalhar logo que acordasse, às oito ou nove da manhã. Que estava organizando pessoalmente duas novas retrospectivas de seus trabalhos, em Avignon e Nice, nas últimas duas semanas. Que repetia: "Andam dizendo que estou cansado e doente, que já não trabalho. Pois vão ver."

Ele morreu ontem pela manhã, de ataque cardíaco, após complicações de um edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões). Seu jardineiro, o primeiro a espalhar a notícia, contou que, no sábado, ele havia passeado pelo jardim e colhido flores para pintar. Nesse dia, Picasso ficou acordado até tarde, conversando. Pela manhã, havia esboços e lápis de cor espalhados em sua cama. Ainda não há nenhuma informação sobre onde, e como será seu funeral.

Sua vida, uma revolução permanente na arte. Ele mudou o desenho. A pintura. A escultura. A gravura e cerâmica.

Em Málaga, fins do século passado, o garoto ouviu atentamente as previsões da mãe: - Se você for militar, será general: se for religioso, será papa". O garoto escolheu a pintura, e foi Picasso.

Mais afortunado que outros gênios da pintura, não precisou morrer para que sua assinatura chegasse ao topo do milionário mercado artístico mundial (seus quadros mais valiosos, das fases "rosa" e "azul", estavam cotados até ontem em meio milhão de dólares, mais do que já se pagou por um Degas).

Para os museus e colecionadores particulares do mundo todo, o testamento da arte de Pablo Picasso começou já em 1906, quando foi descoberto pelas galerias. Em setenta anos de trabalho contínuo deixou uma produção de cerca de catorze mil pinturas e desenhos; cem mil litografias, gravuras e águas-fortes; trezentas esculturas e cerâmicas; 34 mil ilustrações de livros.

Picasso várias vezes se definiu como um pintor sem estilo, pois sabia que estilo era o que se seguia a talentos como o dele. Quem primeiro se assombrou com esse talento foram os professores da Escola de Artes de Barcelona, onde entrou aos 14 anos, depois da infância vivida em Málaga.

Foi nessa época que seu pai José Ruiz, também professor da escola, percebeu de vez que a admiração que sentia pelo traço do filho não era mais um caso de injustificado orgulho paternal, e resolveu entregar-lhe seus pincéis, para que Pablo fizesse a obra que ele nunca havia conseguido.

CUBISMO, A PRIMEIRA REVOLUÇÃO

Pablo Ruiz (Picasso era o sobrenome de sua mãe Maria, que ele passou a usar só em 1901) chegou a Paris em 1900, mas não ficou muito tempo, despreparado para vida que Montmartre reservava para os talentos iniciantes. Mas voltou em 1904, de vez, para morar no "Bateau Lavoir" da rua Ravignan, um edifício mal Iluminado onde se reuniam artistas e intelectuais como Andre Salmon, Jean Gris e Georges Braque.

Nessa época Picasso cultivava sua fase azul, povoada de pobres diabos e doentes. O 'quadro "Saltimbancos", de 1905, inaugurava uma fase que os críticos chamariam de "rosa", um período de nus cósmicos, ambulantes, arlequins e cenas circenses e que lhe permitiu agilizar a técnica, acentuar as deformações e fazer mais sutil o traço.

Mas a descoberta dos feitiços africanos, com esculturas negras monstruosamente deformadas, que nessa época foram revelados na Europa, modificariam outra vez o rumo da pintura de Picasso. Certo dia, em 1907, ele chamou o pintor Braque para que visse em seu atelier um quadro que tinha acabado de pintar.

Quando viu "As Senhoritas de Avignon", Braque descobriu naqueles rostos de máscaras negras e olhos colocados de lado, tudo o que sentia em relação à arte, mas que ainda não havia conseguido externar. Nascia aí o cubismo, movimento a que Picasso foi fiel durante dez anos.

OLGA E OS AMORES

Enquanto voltava - por pouco tempo - a temática dos arlequins, acrobatas e bailarinas, Picasso se apaixonou e casou em 1917 com Olga Koklova, bailarina russa do Bailei de Diaghilev, com quem teve Pablo, seu único filho legítimo. Teve mais três, mais tarde: Maía nascida da união com sua modelo Marie Thérese Walter, e a Claude e Paloma (a quem ele se referiu certa vez como "minhas duas melhores obras"), da atriz francesa Françoise Gillot.

As mulheres tiveram tanta importância no trabalho de Picasso, que em 1969, aos 79 anos, ele foi vítima de boatos que anunciavam crise em seu casamento com Jacqueline. Tudo porque nesse ano Picasso passou a pintar no reverso de cartolinas onduladas. Logo algumas revistas européias previram que o casamento estava no fim. Por acaso a arte de Picasso não esteve sempre relacionada com sua vida sentimental? -- perguntavam elas. E vinham os exemplos.

Por Fernande, por exemplo, por quem se apaixonou em 1904, ele abandonou as personagens sombrios e misteriosos da fase azul, para entrar na alegre fase rosa. De Marcelle, amor de 1912, Picasso dizia a Appolinaire, o poeta "Ela está em todos os meus quadros. As pipas e os maços de cigarro aparecem em primeiro plano, mas Marcelle está nas cores, nos traços delicados, no clima de paz profunda".

Os direitos de esposa de nada valeram a Olga: seu casamento arruinado foi ilustrado com esculturas de monstros. Marie Thereze, loira e bonita, inspirou a fase dos grafismos curvos. Dora Maar, companheira de Picasso em 1935, foi talvez a musa mais maltratada e ridicularizada da historia da pintura, motivando figuras totalmente deformadas nas telas. Em 43 surgiu Françoise, e o mestre se acalma novamente. Dez anos depois encontrou Jacqueline, com quem se casa em 1961 e com quem viveu até o fim.

SURREALISMO E TAUROMAQUIA

Em seu livro "Minha Vida com Picasso", Françoise Gillot descreveu o ritual que seguiu durante dez anos como modelo: "Pablo ficava de pé, a três ou quatro metros com ar grave e distante. Seus olhos não se afastavam de mim nem um segundo. Ele não tocava o papel, nem ao menos tinha um lápis na mão. Depois de por a roupa, percebi que ficara ali, de pé, pouco mais de uma hora. No dia seguinte Pablo, de memoria começou uma série de desenhos mostrando-me naquela pose. Fez também uma série de onze litografias de minha cabeça, sempre colocando uma pequena verruga bem abaixo de meu olho esquerdo, e desenhando minha sobrancelha direita em forma de acento circunflexo".

Enquanto durou a união com Olga, Picasso desenhou para o Ballet de Diaghilev, além de colaborar com outros espetáculos de balé, como na criação de cenário, guarda-roupa e pano de boca para "Parade", tema de Jean Cocteau com música de Eric Satie. Até 1929 faz algumas obras que foram classificadas conto surrealistas: fase das "Banhistas", de extremidades e rostos cada vez mais retorcidos.

Na década de 30 inaugura uma nova fase, com a tauromaquia. Como Hemingway, era figura frequente nas touradas. O escritor era muito amigo de Antonio Ordonéz, principalmente; o pintor era ligado a Dominguin e chegou a desenhar para ele alguns modelos para usar na arena. Mas as touradas não exerceram influência mórbida em Picasso, que se atraía mais pelo aspecto festivo e pelas cores do espetáculo.

GUERNICA E FRANCO

Para alguns críticos, a melhor obra de Picasso é "Guernica", um quadro de 3,5 x 7,60 m esteve na II Bienal de São Paulo, em 1954 que mostra a tragédia de uma pequena cidade espanhola bombardeada pela Divisão Condor da Luftwaffe, "Guernica" causou um dos mais famosos diálogos da vida do pintor.

Diante do quadro, o embaixador nazista na França perguntou a Picasso: "Esta obra é sua?" Picasso balançou o cabeça: "Não é sua."

Em 1970 o general Franco, aparentemente esquecido do significado desta obra e de uma outra referência de Picasso, o quadro "Sonhos e Mentiras de Franco", pediu para que o pintor autorizasse a mudança de "Guernica" do Museu de Arte Moderna de Nova York para Madri, referindo-se à obra como "um tesouro artístico". Mas ele recusou: doava a tela, sim; mas para República Espanhola, não para ditadura.

Durante a II Guerra, Picasso cultivou um impressionismo tragicômico, enquanto fazia também experiências no teatro. Escreveu entre outras "As Quatro Meninas" e "O Desejo Agarrado pelo Rabo", uma espécie de carnaval surrealista em seis atos, com "mise-en-scene" de Albert Camus e um elenco que chegava ao requinte de possuir Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

BRIGAS COM MOSCOU

Já rico e oficialmente consagrado por muitos prêmios Picasso filiou-se ao Partido Comunista, em 1944, mas nunca viveu em paz com Moscou. Foi autor proibido na União Soviética durante o período stalinista e o retrato que fez de Stalin, em 1953, foi recebido com repulsa e indignação pelos líderes políticos soviéticos, que lhe devolveram o presente.

Talvez em represália, há dez anos, quando uma comissão foi informá-lo de que havia ganho o Prêmio Lênin, Picasso nem abriu a porta, o que lhe valeu novas criticas. Muitos acharam que era mesmo incrível que um comunista vivesse numa mansão cercada por altos muros de pedra, arame farpado e uma grade de ferro para afastar os visitantes indesejáveis (desde 1946 ele vivia em Notre-Dame de Vie, em Mougins sul da França, e há poucos anos sua fortuna pessoal foi calculada em 40 milhões de dólares).

Em 1948 há a oportunidade para voltar a um tema que tinha sido constante em sua imaginação, quando menino, a pomba, símbolo do Congresso Mundial da Paz organizado pelo Partido Comunista, em Paris.

A primeira chance que o mundo teve de ver Picasso trabalhando foi em 1950, graças ao filme "O Mistério Picasso", de Georges Clouzot, que, a pedido do pintor, teve o cuidado de não focalizar suas mãos. Antes de seu ultimo casamento, a grande obra de Picasso foi o mural do Palácio da UNESCO, em Paris, Ícaro e as Trevas", em 1959.

A ENTRADA NO LOUVRE

As provas de consagração total sucederam-se a essa época. Em 1966, o então ministro da Cultura da França André Malraux, organizou uma dupla exposição retrospectiva, nos chamados Grande Palácio e Pequeno Palácio, em Paris, que foi visitada por um milhão de pessoas.

As comemorações elo nonagésimo aniversário do pintor, em outubro de 1971 abriram um grande precedente: pela primeira vez na história do Museu do Louvre, foram expostas, na Grande Galeria obras de um artista vivo. Na ocasião, Pompidou disse: "Esta não e uma exposição de Picasso. É uma homenagem que a França presta ao grande artista. É uma homenagem ao homem que escolheu nosso país para residir e trabalhar".

A 10 de janeiro deste ano, no Brasil o Departamento de Polícia Federal apreendeu todos os exemplares à venda no país das "Gravuras Eróticas de Picasso", sob a alegação de serem contrárias à moral e aos bons costumes.

Picasso respondia assim aos que reclamavam que não conseguiam entender seus quadros: "Todos querem entender a arte. Por que não entender o canto dos pássaros?"

 

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