Era por volta de 18h30 do dia 31 de dezembro quando o estudante mineiro Mateus Facio, de 21 anos, que curtia a praia com os amigos em Cabo Frio (RJ), sentiu uma pancada na cabeça. Com o impacto, ele sentou no chão e, junto com o grupo, tentou localizar o que pensava ser a pedra que o atingira. Os rapazes não encontraram pedra nenhuma e concluíram que o objeto teria sido encoberto pela areia.
O pequeno sangramento logo estancou, e Mateus seguiu com os planos para a noite: passar o réveillon em Búzios, cidade vizinha a Cabo Frio. Ele foi para o apartamento, tomou banho, se aprontou e partiu para a balada, onde curtiu a virada do ano e “tomou todas”, conforme relata. No dia seguinte, ainda passou o dia em outra praia próxima.
O estudante conta que só foi descobrir que havia levado, na verdade, um tiro na cabeça quatro dias depois, quando já estava em casa, no município mineiro de Juiz de Fora. Ele mesmo quem dirigiu de Cabo Frio a Juiz de Fora, no dia 2.
Foram sete horas de viagem para uma distância de 300 km, tempo maior que o normal devido ao congestionamento típico dessa época nas estradas.
“Voltei dia 2 porque tinha que trabalhar no dia 3″, afirma Facio. “Eu estava normal. Foi só no dia 4 que meu braço começou a ter movimentos involuntários, se mexendo sozinho. Achamos aquilo estranho e fomos ao médico. Como aparentemente era uma convulsão, ele pediu ressonância e aí descobrimos.”
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Era um projétil de 9 mm, alojado no crânio. “O que me disseram é que o cérebro percebeu que havia um corpo estranho naquele local, que estava começando a afetar o sistema nervoso, por isso a convulsão”, conta.
Ele foi imediatamente encaminhado para Unidade de Tratamento Intensivo do hospital, onde passou por um procedimento para retirada da bala. “Minha mãe ficou dois dias sem dormir depois que descobriu, só chorava. Ninguém acreditava que aquilo tinha acontecido.”
Segundo ele, a hipótese mais provável é que alguém tenha dado um tiro para o alto, pois o projétil atingiu a parte de cima da cabeça. “É a única explicação. O tiro veio de longe, num ângulo de 180º”.
O estudante, que deixou o curso de Administração de Empresas e vai cursar Medicina este ano, disse que agora tem dois aniversários: 4 de janeiro e 17 de maio, data em que nasceu. “Nasci de novo. Parece que não senti a gravidade do que aconteceu até agora. Só doeu mesmo quando tirei os pontos.”
“Parte dela penetrou no cérebro. Isso causou compressão da região e os movimentos involuntários no braço”, afirmou ao Jornal Nacional, da TV Globo, Flávio Falcometa, responsável pela extração da bala na cabeça do jovem. Segundo o médico, por uma distância de poucos milímetros o projétil não causou um dano mais grave.
O Estadão não conseguiu contato com o cirurgião. O rapaz teve alta três dias após a cirurgia e já leva uma vida praticamente normal.