Um adolescente de 16 anos acusou hoje um grupo de cinco militares da 9ª Brigada de Infantaria Motorizada do Rio de espancá-lo, torturá-lo com choques elétricos e depois atear fogo em seu corpo, ontem, dentro de uma unidade desativada do Exército, em Realengo, zona oeste. De acordo com J.S.G., a ação teria sido uma punição por ele estar fumando maconha em área militar. O jovem está internado no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, com queimaduras de primeiro e segundo graus nas pernas, braços e rosto. O globo ocular esquerdo foi atingido por um líquido ainda não identificado, mas os médicos garantem que ele não corre risco de morrer ou de perder a visão. J. contou que foi impedido de ver as identificações que os militares normalmente usam na farda, mas seu depoimento à 33ª Delegacia de Polícia Civil de Realengo já permitiu ao comando da 9ª Brigada de Infantaria identificar a guarnição que abordou o rapaz e um outro homem que consumia entorpecentes no local. No hospital, J. disse que foi flagrado pela guarnição junto com um outro homem e não tentou fugir. Segundo ele, a guarnição teria feito contato por telefone com um tenente. "Eu ouvi o tenente responder ''dá três minutos para eles sumirem daí ou vou aí e mato eles''. Em seguida, eles liberaram o outro rapaz, que tinha 23 anos, porque acharam que ele era menor e mandaram que eu ficasse", contou o adolescente. "Eles não me xingaram, apenas me davam tapas. Eu olhava para o chão e logo senti no corpo um líquido que ardia. Acho que era um spray. Depois vieram os choques. No final, me tacaram fogo e me mandaram correr", descreveu J. Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) afirmou que uma patrulha usou spray de pimenta para deter dois invasores, que teriam tentado fugir. Segundo o informativo, eles teriam sido presos e liberados por volta das 16 horas. A nota afirma ainda que outros militares e civis presenciaram o fato. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado. A 33ªDP informou que o caso foi transferido para a Polícia Federal, que até o final da tarde de hoje não havia recebido o inquérito. A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) afirmou que vai cobrar explicações do Exército sobre o caso.
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