‘Jovens místicos’ buscam cartomantes e tarólogos online para conselhos e aliviar estresse


Entre vídeos e previsões para cada signo, seguidores relatam procura por autoconhecimento em canais de astrologia nas redes sociais

Por Leon Ferrari
Atualização:

O namoro do analista de negócios Lucas Pimentel, de 23 anos, não ia bem. Após três anos, o desgaste era nítido e, ele e o namorado, chegaram a adotar um cachorro para tentar melhorar a relação. Não resolveu. Faltava a coragem para terminar. Nessa época, o sinal definitivo veio do cartomante online que ele seguia.

“Fui acompanhando as previsões, tanto a semanal quanto a do amor (no Twitter), e já tinha tinha umas duas semanas que ele (o cartomante) falava: ‘você tem de romper com isso’, ‘tem de sair disso’”. As provocações fizeram com que o jovem pensasse na própria vida.

Se as cartas para Pimentel vieram no momento da separação, para o arquiteto e urbanista Fernando Henrique Primo, de 29 anos, surgiram na hora encontro. Deram estímulo extra para ele conhecer o namorado.

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“Fui ver meu tarô, como sempre, e lá dizia para não ter medo e me lançar, ser corajoso. No mesmo dia, conheci meu namorado. O que era para ser uma noite de cervejas, conversas e beijos, um tempo depois, se tornou mudança.” Ele até trocou Macapá por Bauru (SP) para ficar mais próximo do amado.

Lucas Pimentel, que se considera um 'jovem místico', também gosta de acender incenso para afastar más energias e soprar canela na porta de entrada da casa no primeiro dia do mês para atrair prosperidade Foto: Arquivo pessoal

Nas redes, há vasto universo de cartomantes, tarólogos e astrólogos que fazem sucesso com vídeos, textos e podcasts, com previsões para cada um dos 12 signos do zodíaco. Alguns têm programas de assinatura, para conselhos e encontros exclusivos, e agendam consultas astrológicas para interessados - que são pagas e, geralmente, virtuais.

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Pimentel e Primo se consideram “jovens místicos” - nem todos os que acompanham tarólogos se classificam dessa forma. Alguns preferem ser chamados de “espiritualizados”, e outros dizem apenas não serem completamente céticos. Para eles, as cartas podem servir como conselho e ajudam na busca por autoconhecimento. Mas há, claro, quem tome decisões inspiradas no que elas dizem.

Os cartomantes, astrólogos e tarólogos ouvidos pela reportagem destacam que o tarô não é “fatalista” e que nosso destino depende, sobretudo, de nós mesmos. Eles indicam que os seguidores vejam as cartas como um conselho e um convite para repensar as atitudes.

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Os próprios influenciadores e seus seguidores reconhecem também que as cartas e o tarô não substituem o auxílio profissional (procurar ajuda de um psicólogo quando preciso, por exemplo) e servem para lidar com o estresse da vida cotidiana. Embora sejam buscados por grande diversidade de pessoas, frisam que a maior parte do público tem de 24 a 35 anos, e são mulheres e/ou da comunidade LGBT.

Astrologia e tarô

Os conteúdos que mais bombam nas redes misturam astrologia e tarô. A primeira se apresenta como um estudo do movimento dos astros com base em acontecimentos da Terra. É daí que vem o mapa astral e os doze signos do zodíaco, que se referem ao céu do dia em que nascemos. Já o tarô se mostra como um tipo diferente de oráculo, um jogo de carteado que lê o acaso e traz uma mensagem que o Universo quer que saibamos.

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Igor Reale, que tem mais de meio milhão de seguidores no Twitter, explicou ao Estadão como funciona seu processo de previsões semanais e mensais. “Tiro uma carta pra cada signo e escrevo mais ou menos o que significa. Não dá para ser muito específico, porque é uma previsão pra muitas pessoas, mas também não dá pra ser generalizado, porque ninguém se identifica.”

Ele conta ser cuidadoso na forma como explica a carta aos que o acompanham virtualmente. “Evito falar sobre doença, acidente, para não causar terror generalizado.” Segundo ele, as postagens envolvem assuntos menos graves, como “‘chifre’, dinheiro, esse tipo de coisa.” O cartomante destaca que, por ser uma previsão mais ampla, orienta que os seguidores aproveitem dela o que se identificam.

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Cartomante, astróloga e comunicadora Brona Paludo, mais conhecida como Madama Brona - sua drag astrológica -, e Paula Prado, astróloga e taróloga, também fazem essa advertência. “Gosto de pensar que esse jogo de tarô, de astrologia, esse horóscopo são uma leitura interativa. A gente lê juntos. Falo uma coisa e você complementa a lacuna na sua cabeça e vê se aquilo se adequa à sua vida”, diz Brona. “O tarô não é fatalista. Temos o poder de mudar tudo que quiser. Ele só diz assim ‘essas energias por aqui andam rondando você', e você pode aproveitar as partes boas e se ligar um pouco nas ruins”, diz.

É assim que pensa o redator João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, que não perde nenhuma das previsões feitas por Igor Reale. “Embora algumas previsões sejam bem assertivas, acredito que seja tudo relativo. Prefiro acreditar que, acima de tudo, somente eu sou responsável pelo meu destino”, afirma. “Gosto mais de interpretar as previsões como um conselho, porque costumam alertar sobre comportamentos, algumas coisas que, às vezes, não são tão visíveis para nós.” Ele diz que até leva em conta o que as cartas dizem, mas não deixa que elas pesem totalmente em suas decisões.

João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, não perde nenhuma previsão semanal do cartomante Igor Reale Foto: Werther Santana/Estadão
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Autoconhecimento

Para o designer Lucas Toral, de 28 anos, o sucesso dos conteúdos se dá pela “identificação”. “Em três anos de pandemia, a galera queria muito saber o porquê das coisas. Esses canais de astrologia trazem essa justificativa para o que estamos passando”, diz.

Toral acompanha astrologia esporadicamente há uns anos, mas seguir um cartomante é algo mais recente. Há cerca de um ano, passou a consumir o “Horoscopinho”, da Madama Brona. Além disso, sempre que algum vídeo de astrologia ou tarô aparece no TikTok, ele assiste atento, pois acredita ser uma “mensagem do Universo” (com uma ajuda dos algoritmos).

Se antes, o consumo era mais esporádico, nos últimos dois meses, após ficar desempregado, ouvir o episódio semanal se tornou “sagrado”, porque sentia não conseguir as respostas que buscava em nenhum lugar. “Para que o Universo me traga uma coisa boa.”

Para Paula Prado, o sucesso nas redes tem a ver com autoconhecimento. “A gente vive em um mundo caótico e que todo mundo é individualista”, diz. “As pessoas tê dificuldade de falar sobre o que importa para elas do lado interno, porque todos gostam de passar a minha imagem está super bem”, afirma.

Paula Prado grava vídeos mensais para cada signo sentada no chão do quarto dela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No YouTube, Paula reúne mais de 450 mil inscritos. E no momento em que a vida parece mais acelerada do que nunca, ela aposta em vídeos mais longos. Do chão do quarto, tira cartas para cada um signo, em gravações que duram de 20 a 40 minutos. Alguns passam das 50 mil visualizações.

“Parece que ela dialoga comigo”, diz Rafaela Tabasnik, mestra em Comunicação Digital, de 26 anos. Ela conta ter um ritual. Vê o vídeo do signo duas vezes ao mês. No dia em que é publicado, ela assiste e toma notas em um diário. “No fim do mês, volto para o vídeo e vejo o que que faz sentido e o que que não faz, a partir das minhas anotações.”

Com isso, ela consegue olhar para si. O “esotérico”, nas palavras dela, porém, não exclui a busca pela escuta clínica. “Comecei a fazer terapia inclusive por causa de uma sessão de massagem holística”, conta. “Uma coisa não substitui a outra. São ferramentas complementares.”

Rafaela Tabasnik assiste ao vídeo do signo dela duas vezes no mês e toma notas em um diário Foto: Arquivo pessoal

Para Brona Paludo, a Madama Brona, a magia é uma das principais explicações para o sucesso. “A gente está numa era sem sentido espiritual para as coisas”, afirma. “Talvez isso seja uma resposta a esse ceticismo extremo. Ver um pouquinho de mágica no dia, porque o ser humano precisa.”

Com muito humor, a Madama Brona faz suas previsões para cada signo em um podcast semanal Foto: Werther Sanatan/Estadão

Só no Instagram, Brona tem mais de 240 mil seguidores. O podcast dela, o “Horoscopinho Semanal”, no Spotify, tem cerca de 30 mil ouvintes semanais, segundo ela. Já sua newsletter, 6 mil assinantes. A astróloga também tem um programa de apoiadores para o podcast, com mais de 260 participantes, que recebem conteúdo exclusivo.

Preconceito

Para alguns, o gosto pele astrologia atrai desconfiança dos amigos. Foi o caso do auxiliar de vendas Carlos Gabriel Carvalho, de 24 anos. “Achavam que vivia a minha vida pela previsão. Expliquei que não acreditava 100% que aquilo iria acontecer e que há tantos outros fatores que ditam se a previsão se realiza ou não, que levo como mensagem de aviso ou conforto do universo. Aí pararam de me julgar.”

Paula Prado afirma não ver motivo em querer convencer quem é cético e pede por respeito aos que acreditam. “A pessoa só está buscando uma coisa boa pra ela.”

O namoro do analista de negócios Lucas Pimentel, de 23 anos, não ia bem. Após três anos, o desgaste era nítido e, ele e o namorado, chegaram a adotar um cachorro para tentar melhorar a relação. Não resolveu. Faltava a coragem para terminar. Nessa época, o sinal definitivo veio do cartomante online que ele seguia.

“Fui acompanhando as previsões, tanto a semanal quanto a do amor (no Twitter), e já tinha tinha umas duas semanas que ele (o cartomante) falava: ‘você tem de romper com isso’, ‘tem de sair disso’”. As provocações fizeram com que o jovem pensasse na própria vida.

Se as cartas para Pimentel vieram no momento da separação, para o arquiteto e urbanista Fernando Henrique Primo, de 29 anos, surgiram na hora encontro. Deram estímulo extra para ele conhecer o namorado.

“Fui ver meu tarô, como sempre, e lá dizia para não ter medo e me lançar, ser corajoso. No mesmo dia, conheci meu namorado. O que era para ser uma noite de cervejas, conversas e beijos, um tempo depois, se tornou mudança.” Ele até trocou Macapá por Bauru (SP) para ficar mais próximo do amado.

Lucas Pimentel, que se considera um 'jovem místico', também gosta de acender incenso para afastar más energias e soprar canela na porta de entrada da casa no primeiro dia do mês para atrair prosperidade Foto: Arquivo pessoal

Nas redes, há vasto universo de cartomantes, tarólogos e astrólogos que fazem sucesso com vídeos, textos e podcasts, com previsões para cada um dos 12 signos do zodíaco. Alguns têm programas de assinatura, para conselhos e encontros exclusivos, e agendam consultas astrológicas para interessados - que são pagas e, geralmente, virtuais.

Pimentel e Primo se consideram “jovens místicos” - nem todos os que acompanham tarólogos se classificam dessa forma. Alguns preferem ser chamados de “espiritualizados”, e outros dizem apenas não serem completamente céticos. Para eles, as cartas podem servir como conselho e ajudam na busca por autoconhecimento. Mas há, claro, quem tome decisões inspiradas no que elas dizem.

Os cartomantes, astrólogos e tarólogos ouvidos pela reportagem destacam que o tarô não é “fatalista” e que nosso destino depende, sobretudo, de nós mesmos. Eles indicam que os seguidores vejam as cartas como um conselho e um convite para repensar as atitudes.

Os próprios influenciadores e seus seguidores reconhecem também que as cartas e o tarô não substituem o auxílio profissional (procurar ajuda de um psicólogo quando preciso, por exemplo) e servem para lidar com o estresse da vida cotidiana. Embora sejam buscados por grande diversidade de pessoas, frisam que a maior parte do público tem de 24 a 35 anos, e são mulheres e/ou da comunidade LGBT.

Astrologia e tarô

Os conteúdos que mais bombam nas redes misturam astrologia e tarô. A primeira se apresenta como um estudo do movimento dos astros com base em acontecimentos da Terra. É daí que vem o mapa astral e os doze signos do zodíaco, que se referem ao céu do dia em que nascemos. Já o tarô se mostra como um tipo diferente de oráculo, um jogo de carteado que lê o acaso e traz uma mensagem que o Universo quer que saibamos.

Igor Reale, que tem mais de meio milhão de seguidores no Twitter, explicou ao Estadão como funciona seu processo de previsões semanais e mensais. “Tiro uma carta pra cada signo e escrevo mais ou menos o que significa. Não dá para ser muito específico, porque é uma previsão pra muitas pessoas, mas também não dá pra ser generalizado, porque ninguém se identifica.”

Ele conta ser cuidadoso na forma como explica a carta aos que o acompanham virtualmente. “Evito falar sobre doença, acidente, para não causar terror generalizado.” Segundo ele, as postagens envolvem assuntos menos graves, como “‘chifre’, dinheiro, esse tipo de coisa.” O cartomante destaca que, por ser uma previsão mais ampla, orienta que os seguidores aproveitem dela o que se identificam.

Cartomante, astróloga e comunicadora Brona Paludo, mais conhecida como Madama Brona - sua drag astrológica -, e Paula Prado, astróloga e taróloga, também fazem essa advertência. “Gosto de pensar que esse jogo de tarô, de astrologia, esse horóscopo são uma leitura interativa. A gente lê juntos. Falo uma coisa e você complementa a lacuna na sua cabeça e vê se aquilo se adequa à sua vida”, diz Brona. “O tarô não é fatalista. Temos o poder de mudar tudo que quiser. Ele só diz assim ‘essas energias por aqui andam rondando você', e você pode aproveitar as partes boas e se ligar um pouco nas ruins”, diz.

É assim que pensa o redator João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, que não perde nenhuma das previsões feitas por Igor Reale. “Embora algumas previsões sejam bem assertivas, acredito que seja tudo relativo. Prefiro acreditar que, acima de tudo, somente eu sou responsável pelo meu destino”, afirma. “Gosto mais de interpretar as previsões como um conselho, porque costumam alertar sobre comportamentos, algumas coisas que, às vezes, não são tão visíveis para nós.” Ele diz que até leva em conta o que as cartas dizem, mas não deixa que elas pesem totalmente em suas decisões.

João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, não perde nenhuma previsão semanal do cartomante Igor Reale Foto: Werther Santana/Estadão

Autoconhecimento

Para o designer Lucas Toral, de 28 anos, o sucesso dos conteúdos se dá pela “identificação”. “Em três anos de pandemia, a galera queria muito saber o porquê das coisas. Esses canais de astrologia trazem essa justificativa para o que estamos passando”, diz.

Toral acompanha astrologia esporadicamente há uns anos, mas seguir um cartomante é algo mais recente. Há cerca de um ano, passou a consumir o “Horoscopinho”, da Madama Brona. Além disso, sempre que algum vídeo de astrologia ou tarô aparece no TikTok, ele assiste atento, pois acredita ser uma “mensagem do Universo” (com uma ajuda dos algoritmos).

Se antes, o consumo era mais esporádico, nos últimos dois meses, após ficar desempregado, ouvir o episódio semanal se tornou “sagrado”, porque sentia não conseguir as respostas que buscava em nenhum lugar. “Para que o Universo me traga uma coisa boa.”

Para Paula Prado, o sucesso nas redes tem a ver com autoconhecimento. “A gente vive em um mundo caótico e que todo mundo é individualista”, diz. “As pessoas tê dificuldade de falar sobre o que importa para elas do lado interno, porque todos gostam de passar a minha imagem está super bem”, afirma.

Paula Prado grava vídeos mensais para cada signo sentada no chão do quarto dela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No YouTube, Paula reúne mais de 450 mil inscritos. E no momento em que a vida parece mais acelerada do que nunca, ela aposta em vídeos mais longos. Do chão do quarto, tira cartas para cada um signo, em gravações que duram de 20 a 40 minutos. Alguns passam das 50 mil visualizações.

“Parece que ela dialoga comigo”, diz Rafaela Tabasnik, mestra em Comunicação Digital, de 26 anos. Ela conta ter um ritual. Vê o vídeo do signo duas vezes ao mês. No dia em que é publicado, ela assiste e toma notas em um diário. “No fim do mês, volto para o vídeo e vejo o que que faz sentido e o que que não faz, a partir das minhas anotações.”

Com isso, ela consegue olhar para si. O “esotérico”, nas palavras dela, porém, não exclui a busca pela escuta clínica. “Comecei a fazer terapia inclusive por causa de uma sessão de massagem holística”, conta. “Uma coisa não substitui a outra. São ferramentas complementares.”

Rafaela Tabasnik assiste ao vídeo do signo dela duas vezes no mês e toma notas em um diário Foto: Arquivo pessoal

Para Brona Paludo, a Madama Brona, a magia é uma das principais explicações para o sucesso. “A gente está numa era sem sentido espiritual para as coisas”, afirma. “Talvez isso seja uma resposta a esse ceticismo extremo. Ver um pouquinho de mágica no dia, porque o ser humano precisa.”

Com muito humor, a Madama Brona faz suas previsões para cada signo em um podcast semanal Foto: Werther Sanatan/Estadão

Só no Instagram, Brona tem mais de 240 mil seguidores. O podcast dela, o “Horoscopinho Semanal”, no Spotify, tem cerca de 30 mil ouvintes semanais, segundo ela. Já sua newsletter, 6 mil assinantes. A astróloga também tem um programa de apoiadores para o podcast, com mais de 260 participantes, que recebem conteúdo exclusivo.

Preconceito

Para alguns, o gosto pele astrologia atrai desconfiança dos amigos. Foi o caso do auxiliar de vendas Carlos Gabriel Carvalho, de 24 anos. “Achavam que vivia a minha vida pela previsão. Expliquei que não acreditava 100% que aquilo iria acontecer e que há tantos outros fatores que ditam se a previsão se realiza ou não, que levo como mensagem de aviso ou conforto do universo. Aí pararam de me julgar.”

Paula Prado afirma não ver motivo em querer convencer quem é cético e pede por respeito aos que acreditam. “A pessoa só está buscando uma coisa boa pra ela.”

O namoro do analista de negócios Lucas Pimentel, de 23 anos, não ia bem. Após três anos, o desgaste era nítido e, ele e o namorado, chegaram a adotar um cachorro para tentar melhorar a relação. Não resolveu. Faltava a coragem para terminar. Nessa época, o sinal definitivo veio do cartomante online que ele seguia.

“Fui acompanhando as previsões, tanto a semanal quanto a do amor (no Twitter), e já tinha tinha umas duas semanas que ele (o cartomante) falava: ‘você tem de romper com isso’, ‘tem de sair disso’”. As provocações fizeram com que o jovem pensasse na própria vida.

Se as cartas para Pimentel vieram no momento da separação, para o arquiteto e urbanista Fernando Henrique Primo, de 29 anos, surgiram na hora encontro. Deram estímulo extra para ele conhecer o namorado.

“Fui ver meu tarô, como sempre, e lá dizia para não ter medo e me lançar, ser corajoso. No mesmo dia, conheci meu namorado. O que era para ser uma noite de cervejas, conversas e beijos, um tempo depois, se tornou mudança.” Ele até trocou Macapá por Bauru (SP) para ficar mais próximo do amado.

Lucas Pimentel, que se considera um 'jovem místico', também gosta de acender incenso para afastar más energias e soprar canela na porta de entrada da casa no primeiro dia do mês para atrair prosperidade Foto: Arquivo pessoal

Nas redes, há vasto universo de cartomantes, tarólogos e astrólogos que fazem sucesso com vídeos, textos e podcasts, com previsões para cada um dos 12 signos do zodíaco. Alguns têm programas de assinatura, para conselhos e encontros exclusivos, e agendam consultas astrológicas para interessados - que são pagas e, geralmente, virtuais.

Pimentel e Primo se consideram “jovens místicos” - nem todos os que acompanham tarólogos se classificam dessa forma. Alguns preferem ser chamados de “espiritualizados”, e outros dizem apenas não serem completamente céticos. Para eles, as cartas podem servir como conselho e ajudam na busca por autoconhecimento. Mas há, claro, quem tome decisões inspiradas no que elas dizem.

Os cartomantes, astrólogos e tarólogos ouvidos pela reportagem destacam que o tarô não é “fatalista” e que nosso destino depende, sobretudo, de nós mesmos. Eles indicam que os seguidores vejam as cartas como um conselho e um convite para repensar as atitudes.

Os próprios influenciadores e seus seguidores reconhecem também que as cartas e o tarô não substituem o auxílio profissional (procurar ajuda de um psicólogo quando preciso, por exemplo) e servem para lidar com o estresse da vida cotidiana. Embora sejam buscados por grande diversidade de pessoas, frisam que a maior parte do público tem de 24 a 35 anos, e são mulheres e/ou da comunidade LGBT.

Astrologia e tarô

Os conteúdos que mais bombam nas redes misturam astrologia e tarô. A primeira se apresenta como um estudo do movimento dos astros com base em acontecimentos da Terra. É daí que vem o mapa astral e os doze signos do zodíaco, que se referem ao céu do dia em que nascemos. Já o tarô se mostra como um tipo diferente de oráculo, um jogo de carteado que lê o acaso e traz uma mensagem que o Universo quer que saibamos.

Igor Reale, que tem mais de meio milhão de seguidores no Twitter, explicou ao Estadão como funciona seu processo de previsões semanais e mensais. “Tiro uma carta pra cada signo e escrevo mais ou menos o que significa. Não dá para ser muito específico, porque é uma previsão pra muitas pessoas, mas também não dá pra ser generalizado, porque ninguém se identifica.”

Ele conta ser cuidadoso na forma como explica a carta aos que o acompanham virtualmente. “Evito falar sobre doença, acidente, para não causar terror generalizado.” Segundo ele, as postagens envolvem assuntos menos graves, como “‘chifre’, dinheiro, esse tipo de coisa.” O cartomante destaca que, por ser uma previsão mais ampla, orienta que os seguidores aproveitem dela o que se identificam.

Cartomante, astróloga e comunicadora Brona Paludo, mais conhecida como Madama Brona - sua drag astrológica -, e Paula Prado, astróloga e taróloga, também fazem essa advertência. “Gosto de pensar que esse jogo de tarô, de astrologia, esse horóscopo são uma leitura interativa. A gente lê juntos. Falo uma coisa e você complementa a lacuna na sua cabeça e vê se aquilo se adequa à sua vida”, diz Brona. “O tarô não é fatalista. Temos o poder de mudar tudo que quiser. Ele só diz assim ‘essas energias por aqui andam rondando você', e você pode aproveitar as partes boas e se ligar um pouco nas ruins”, diz.

É assim que pensa o redator João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, que não perde nenhuma das previsões feitas por Igor Reale. “Embora algumas previsões sejam bem assertivas, acredito que seja tudo relativo. Prefiro acreditar que, acima de tudo, somente eu sou responsável pelo meu destino”, afirma. “Gosto mais de interpretar as previsões como um conselho, porque costumam alertar sobre comportamentos, algumas coisas que, às vezes, não são tão visíveis para nós.” Ele diz que até leva em conta o que as cartas dizem, mas não deixa que elas pesem totalmente em suas decisões.

João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, não perde nenhuma previsão semanal do cartomante Igor Reale Foto: Werther Santana/Estadão

Autoconhecimento

Para o designer Lucas Toral, de 28 anos, o sucesso dos conteúdos se dá pela “identificação”. “Em três anos de pandemia, a galera queria muito saber o porquê das coisas. Esses canais de astrologia trazem essa justificativa para o que estamos passando”, diz.

Toral acompanha astrologia esporadicamente há uns anos, mas seguir um cartomante é algo mais recente. Há cerca de um ano, passou a consumir o “Horoscopinho”, da Madama Brona. Além disso, sempre que algum vídeo de astrologia ou tarô aparece no TikTok, ele assiste atento, pois acredita ser uma “mensagem do Universo” (com uma ajuda dos algoritmos).

Se antes, o consumo era mais esporádico, nos últimos dois meses, após ficar desempregado, ouvir o episódio semanal se tornou “sagrado”, porque sentia não conseguir as respostas que buscava em nenhum lugar. “Para que o Universo me traga uma coisa boa.”

Para Paula Prado, o sucesso nas redes tem a ver com autoconhecimento. “A gente vive em um mundo caótico e que todo mundo é individualista”, diz. “As pessoas tê dificuldade de falar sobre o que importa para elas do lado interno, porque todos gostam de passar a minha imagem está super bem”, afirma.

Paula Prado grava vídeos mensais para cada signo sentada no chão do quarto dela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No YouTube, Paula reúne mais de 450 mil inscritos. E no momento em que a vida parece mais acelerada do que nunca, ela aposta em vídeos mais longos. Do chão do quarto, tira cartas para cada um signo, em gravações que duram de 20 a 40 minutos. Alguns passam das 50 mil visualizações.

“Parece que ela dialoga comigo”, diz Rafaela Tabasnik, mestra em Comunicação Digital, de 26 anos. Ela conta ter um ritual. Vê o vídeo do signo duas vezes ao mês. No dia em que é publicado, ela assiste e toma notas em um diário. “No fim do mês, volto para o vídeo e vejo o que que faz sentido e o que que não faz, a partir das minhas anotações.”

Com isso, ela consegue olhar para si. O “esotérico”, nas palavras dela, porém, não exclui a busca pela escuta clínica. “Comecei a fazer terapia inclusive por causa de uma sessão de massagem holística”, conta. “Uma coisa não substitui a outra. São ferramentas complementares.”

Rafaela Tabasnik assiste ao vídeo do signo dela duas vezes no mês e toma notas em um diário Foto: Arquivo pessoal

Para Brona Paludo, a Madama Brona, a magia é uma das principais explicações para o sucesso. “A gente está numa era sem sentido espiritual para as coisas”, afirma. “Talvez isso seja uma resposta a esse ceticismo extremo. Ver um pouquinho de mágica no dia, porque o ser humano precisa.”

Com muito humor, a Madama Brona faz suas previsões para cada signo em um podcast semanal Foto: Werther Sanatan/Estadão

Só no Instagram, Brona tem mais de 240 mil seguidores. O podcast dela, o “Horoscopinho Semanal”, no Spotify, tem cerca de 30 mil ouvintes semanais, segundo ela. Já sua newsletter, 6 mil assinantes. A astróloga também tem um programa de apoiadores para o podcast, com mais de 260 participantes, que recebem conteúdo exclusivo.

Preconceito

Para alguns, o gosto pele astrologia atrai desconfiança dos amigos. Foi o caso do auxiliar de vendas Carlos Gabriel Carvalho, de 24 anos. “Achavam que vivia a minha vida pela previsão. Expliquei que não acreditava 100% que aquilo iria acontecer e que há tantos outros fatores que ditam se a previsão se realiza ou não, que levo como mensagem de aviso ou conforto do universo. Aí pararam de me julgar.”

Paula Prado afirma não ver motivo em querer convencer quem é cético e pede por respeito aos que acreditam. “A pessoa só está buscando uma coisa boa pra ela.”

O namoro do analista de negócios Lucas Pimentel, de 23 anos, não ia bem. Após três anos, o desgaste era nítido e, ele e o namorado, chegaram a adotar um cachorro para tentar melhorar a relação. Não resolveu. Faltava a coragem para terminar. Nessa época, o sinal definitivo veio do cartomante online que ele seguia.

“Fui acompanhando as previsões, tanto a semanal quanto a do amor (no Twitter), e já tinha tinha umas duas semanas que ele (o cartomante) falava: ‘você tem de romper com isso’, ‘tem de sair disso’”. As provocações fizeram com que o jovem pensasse na própria vida.

Se as cartas para Pimentel vieram no momento da separação, para o arquiteto e urbanista Fernando Henrique Primo, de 29 anos, surgiram na hora encontro. Deram estímulo extra para ele conhecer o namorado.

“Fui ver meu tarô, como sempre, e lá dizia para não ter medo e me lançar, ser corajoso. No mesmo dia, conheci meu namorado. O que era para ser uma noite de cervejas, conversas e beijos, um tempo depois, se tornou mudança.” Ele até trocou Macapá por Bauru (SP) para ficar mais próximo do amado.

Lucas Pimentel, que se considera um 'jovem místico', também gosta de acender incenso para afastar más energias e soprar canela na porta de entrada da casa no primeiro dia do mês para atrair prosperidade Foto: Arquivo pessoal

Nas redes, há vasto universo de cartomantes, tarólogos e astrólogos que fazem sucesso com vídeos, textos e podcasts, com previsões para cada um dos 12 signos do zodíaco. Alguns têm programas de assinatura, para conselhos e encontros exclusivos, e agendam consultas astrológicas para interessados - que são pagas e, geralmente, virtuais.

Pimentel e Primo se consideram “jovens místicos” - nem todos os que acompanham tarólogos se classificam dessa forma. Alguns preferem ser chamados de “espiritualizados”, e outros dizem apenas não serem completamente céticos. Para eles, as cartas podem servir como conselho e ajudam na busca por autoconhecimento. Mas há, claro, quem tome decisões inspiradas no que elas dizem.

Os cartomantes, astrólogos e tarólogos ouvidos pela reportagem destacam que o tarô não é “fatalista” e que nosso destino depende, sobretudo, de nós mesmos. Eles indicam que os seguidores vejam as cartas como um conselho e um convite para repensar as atitudes.

Os próprios influenciadores e seus seguidores reconhecem também que as cartas e o tarô não substituem o auxílio profissional (procurar ajuda de um psicólogo quando preciso, por exemplo) e servem para lidar com o estresse da vida cotidiana. Embora sejam buscados por grande diversidade de pessoas, frisam que a maior parte do público tem de 24 a 35 anos, e são mulheres e/ou da comunidade LGBT.

Astrologia e tarô

Os conteúdos que mais bombam nas redes misturam astrologia e tarô. A primeira se apresenta como um estudo do movimento dos astros com base em acontecimentos da Terra. É daí que vem o mapa astral e os doze signos do zodíaco, que se referem ao céu do dia em que nascemos. Já o tarô se mostra como um tipo diferente de oráculo, um jogo de carteado que lê o acaso e traz uma mensagem que o Universo quer que saibamos.

Igor Reale, que tem mais de meio milhão de seguidores no Twitter, explicou ao Estadão como funciona seu processo de previsões semanais e mensais. “Tiro uma carta pra cada signo e escrevo mais ou menos o que significa. Não dá para ser muito específico, porque é uma previsão pra muitas pessoas, mas também não dá pra ser generalizado, porque ninguém se identifica.”

Ele conta ser cuidadoso na forma como explica a carta aos que o acompanham virtualmente. “Evito falar sobre doença, acidente, para não causar terror generalizado.” Segundo ele, as postagens envolvem assuntos menos graves, como “‘chifre’, dinheiro, esse tipo de coisa.” O cartomante destaca que, por ser uma previsão mais ampla, orienta que os seguidores aproveitem dela o que se identificam.

Cartomante, astróloga e comunicadora Brona Paludo, mais conhecida como Madama Brona - sua drag astrológica -, e Paula Prado, astróloga e taróloga, também fazem essa advertência. “Gosto de pensar que esse jogo de tarô, de astrologia, esse horóscopo são uma leitura interativa. A gente lê juntos. Falo uma coisa e você complementa a lacuna na sua cabeça e vê se aquilo se adequa à sua vida”, diz Brona. “O tarô não é fatalista. Temos o poder de mudar tudo que quiser. Ele só diz assim ‘essas energias por aqui andam rondando você', e você pode aproveitar as partes boas e se ligar um pouco nas ruins”, diz.

É assim que pensa o redator João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, que não perde nenhuma das previsões feitas por Igor Reale. “Embora algumas previsões sejam bem assertivas, acredito que seja tudo relativo. Prefiro acreditar que, acima de tudo, somente eu sou responsável pelo meu destino”, afirma. “Gosto mais de interpretar as previsões como um conselho, porque costumam alertar sobre comportamentos, algumas coisas que, às vezes, não são tão visíveis para nós.” Ele diz que até leva em conta o que as cartas dizem, mas não deixa que elas pesem totalmente em suas decisões.

João Victor Marcelino da Silva, de 22 anos, não perde nenhuma previsão semanal do cartomante Igor Reale Foto: Werther Santana/Estadão

Autoconhecimento

Para o designer Lucas Toral, de 28 anos, o sucesso dos conteúdos se dá pela “identificação”. “Em três anos de pandemia, a galera queria muito saber o porquê das coisas. Esses canais de astrologia trazem essa justificativa para o que estamos passando”, diz.

Toral acompanha astrologia esporadicamente há uns anos, mas seguir um cartomante é algo mais recente. Há cerca de um ano, passou a consumir o “Horoscopinho”, da Madama Brona. Além disso, sempre que algum vídeo de astrologia ou tarô aparece no TikTok, ele assiste atento, pois acredita ser uma “mensagem do Universo” (com uma ajuda dos algoritmos).

Se antes, o consumo era mais esporádico, nos últimos dois meses, após ficar desempregado, ouvir o episódio semanal se tornou “sagrado”, porque sentia não conseguir as respostas que buscava em nenhum lugar. “Para que o Universo me traga uma coisa boa.”

Para Paula Prado, o sucesso nas redes tem a ver com autoconhecimento. “A gente vive em um mundo caótico e que todo mundo é individualista”, diz. “As pessoas tê dificuldade de falar sobre o que importa para elas do lado interno, porque todos gostam de passar a minha imagem está super bem”, afirma.

Paula Prado grava vídeos mensais para cada signo sentada no chão do quarto dela Foto: Daniel Teixeira/Estadão

No YouTube, Paula reúne mais de 450 mil inscritos. E no momento em que a vida parece mais acelerada do que nunca, ela aposta em vídeos mais longos. Do chão do quarto, tira cartas para cada um signo, em gravações que duram de 20 a 40 minutos. Alguns passam das 50 mil visualizações.

“Parece que ela dialoga comigo”, diz Rafaela Tabasnik, mestra em Comunicação Digital, de 26 anos. Ela conta ter um ritual. Vê o vídeo do signo duas vezes ao mês. No dia em que é publicado, ela assiste e toma notas em um diário. “No fim do mês, volto para o vídeo e vejo o que que faz sentido e o que que não faz, a partir das minhas anotações.”

Com isso, ela consegue olhar para si. O “esotérico”, nas palavras dela, porém, não exclui a busca pela escuta clínica. “Comecei a fazer terapia inclusive por causa de uma sessão de massagem holística”, conta. “Uma coisa não substitui a outra. São ferramentas complementares.”

Rafaela Tabasnik assiste ao vídeo do signo dela duas vezes no mês e toma notas em um diário Foto: Arquivo pessoal

Para Brona Paludo, a Madama Brona, a magia é uma das principais explicações para o sucesso. “A gente está numa era sem sentido espiritual para as coisas”, afirma. “Talvez isso seja uma resposta a esse ceticismo extremo. Ver um pouquinho de mágica no dia, porque o ser humano precisa.”

Com muito humor, a Madama Brona faz suas previsões para cada signo em um podcast semanal Foto: Werther Sanatan/Estadão

Só no Instagram, Brona tem mais de 240 mil seguidores. O podcast dela, o “Horoscopinho Semanal”, no Spotify, tem cerca de 30 mil ouvintes semanais, segundo ela. Já sua newsletter, 6 mil assinantes. A astróloga também tem um programa de apoiadores para o podcast, com mais de 260 participantes, que recebem conteúdo exclusivo.

Preconceito

Para alguns, o gosto pele astrologia atrai desconfiança dos amigos. Foi o caso do auxiliar de vendas Carlos Gabriel Carvalho, de 24 anos. “Achavam que vivia a minha vida pela previsão. Expliquei que não acreditava 100% que aquilo iria acontecer e que há tantos outros fatores que ditam se a previsão se realiza ou não, que levo como mensagem de aviso ou conforto do universo. Aí pararam de me julgar.”

Paula Prado afirma não ver motivo em querer convencer quem é cético e pede por respeito aos que acreditam. “A pessoa só está buscando uma coisa boa pra ela.”

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