A vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier numa capa cheia de história


Além do campeão do boxe, primeira página de 29 de janeiro de 1974 tinha Pelé, Fidel Castro, Mequinho e Nelson Rodrigues

Por Edmundo Leite
Atualização:
Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Muhammad Ali foi uma das grandes personalidades do século 20. Cada luta do boxeador ganhava sempre um grande destaque nas capas e páginas internas dos jornais. Foi assim no Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974, quando Ali derrotou Joe Frazier no segundo confronto que reuniu em Nova York, mais que campeões, dois dos maiores nomes da história do boxe e a maior rivalidade do pugilismo. “Desta vez, não quis saber de brincadeiras: não provocou Frazier, não ofereceu o rosto, usou apenas sua técnica contra a coragem e vigor do adversário.”

A foto de Ali acertando o rosto de Frazier em cheio ocupou quase toda a metade inferior da capa, que curiosamente estava recheada de personagens históricos em outras chamadas de notícias: Pelé, o cubano Fidel Castro e o soviético Brezhnev, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o enxadrista Mequinho.

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As tensões políticas na Argentina e na Bolívia eram os outros destaques da capa naquele dia, além do onipresente confronto entre israelenses e árabes.

Jornal da Tarde - 29 de janeiro de 1974

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão
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Na primeira luta entre os dois, em 1971, a vitória foi de Joe Frazier. Nesta segunda luta Ali venceu por pontos em decisão unânime dos jurados. Leia a íntegra e veja como foi a luta:

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Uma vitória técnica, discreta. Mas não deixou dúvidas.

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A vitória de Clay sobre Frazier, ontem à noite no Madison Square Garden, foi justa e recebeu o voto unânime dos jurados. Mas foi a vitória de uma técnica já cansada contra uma força que o tempo e a derrota contra Foreman tornaram incapaz de derrubar um homem.

Nem Clay nem Frazier puderam manter o ritmo da primeira luta, em março de 1971, mas este encontro foi muito parecido com o outro — a diferença é que entre os dois houve nocautes, queixos quebrados e um certo desânimo; além do peso que três anos representam na vida de um atleta.

A única dúvida: Clay terá condições para vencer George Foreman, o homem que mandou Frazier seis vezes à lona em apenas dois assaltos? É bom lembrar que Foreman é quase dez anos mais moço e mais selvagem.

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Com curtos contra-golpes de esquerda e direita na cabeça, e jabs de esquerda, quase três anos depois, Cassius Clay (Muhamad Ali) teve sua vingança contra Joe Frazier; vencendo o ex-campeão mundial dos pesos-pesados por decisão unanime dos jurados.

As 20 mil pessoas que lotaram o Madison Square Garden de Nova Iorque, assistiram doze assaltos onde o estilo e técnica de Muhammadi Ali superaram a iniciativa e a violência de Frazier. Desta vez, Ali não fez brincadeiras, e Frazier não encontrou onde colocar seu poderoso gancho de esquerda.

Os apostadores norte-americanos não costumam cometer enganos. No dia 8 de março de 71, Frazier era favorito nas apostas por 6 a 5, mas ontem à noite Ali estava melhor preparado, só teve dificuldades no sétimo e oitavo assalto, quando esteve lento e parecia cansado dos golpes de Frazier.

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Por isso, confirmou seu favoritismo de 17 por 10 nas apostas. O juiz, Tony Perez teve bastante trabalho pelo estilo da luta, com Frazier impondo troca de golpes a curta-distância e Clay provocando clinchs, mas os jurados não hesitaram em apontar Clay como vencedor de quase todos assaltos.

Para Frazier (132 lutas, 30 vitórias, duas derrotas,) essa derrota pode significar o final de carreira. Para Ali (32 anos, 41 lutas, 44 vitorias, duas derrotas) o caminho para enfrentar o título contra George Foreman está aberto.

Primeiro assalto — Não ouve estudos: Ali iniciou rapidamente e superou Frazier em estilo com jabs de esquerda na cabeça e combinações de esquerda-direita. Frazier deu bons ganchos de esquerda no fim do assalto. Vantagem de Ali.

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Segundo assalto — Ali voltou determinado a vencer. Frazier acertou um gancho de esquerda e recebeu um forte direto de direita na cabeça. O juiz se enganou: pensou ouvir o gongo e encerrou o assalto 20 segundos antes. Os dois foram chamados de volta. Ali esteve melhor

Terceiro assalto — Frazier pressionou bastante, batendo contra o corpo de Ali, mas recebeu golpes de esquerda e direita na cabeça, e apesar de ter vantagem no assalto, terminou com problemas no olho esquerdo.

Quarto assalto — O combate é violento, sempre no mesmo esquema: Ali dá diretos relâmpagos de esquerda que Frazier recebe no rosto e responde cada vez mais dificuldades com seus poderosos ganchos de esquerda. Frazier parece infatigável, mas a vantagem é de Ali.

Quinto assalto — Mais uma vez o estilo de Ali supera o de Frazier. Ele acerta três a quatro golpes para cada um de Frazier, com diretos, enquanto este, ocasionalmente, acerta um gancho.

Sexto assalto — Ali acerta oito bons golpes, e com classe e técnica vai superando Frazier, dando boas sequências de diretos e bloqueando bem as investidas do adversário.

Sétimo assalto — Frazier reage. Dá ótimos ganchos de esquerda contra a cabeça e o corpo de Ali, que parecia cansado e lento.

Oitavo assalto — Com um potente gancho de esquerda, Frazier dá a impressão de paralisar a respiração de Ali. Este dá alguns jabs, mas está cada vez mais lento.

Nono assalto — Um assalto violento. Ali reage, e há troca de golpes. Ali é obrigado a cobrir melhor sua guarda e bloqueia bem Frazier, que sai com o rosto inchado. Ali sangra um louco pelo nariz, e apesar de lento, teve vantagem.

Décimo assalto — Ali, fechado na defesa, acerta mais golpes, a curta distância, mas Frazier apesar de bater menos, encaixa seus ganchos com mais violência.

Décimo primeiro assalto — A categoria de Ali é vantajosa. Dá onze golpes em Frazier no início do assalto, sem reação Frazier tem o rosto cada vez mais inchado.

Décimo segundo assalto — Frazier partiu rapidamente para cima de Ali e golpeou seu corpo e cabeça. Ali tenta reagir no ultimo minuto, mas tomou novos violentos contra-golpes de Frazier.

Em 71, eles acabaram no hospital

Muhammad Ali e Joe Frazier encontraram-se pela primeira vez num ringue, no dia 8 de março de 1971, como verdadeiros campeões mundiais. Ali, não deu a menor importância para as autoridades norte-americanas que lhe tiraram o título, pela recusa de servir no Vietnã. Frazier, dono legal do título, nem ligava para as provocações de seu adversário. E fizeram uma luta violenta em que Joe Frazier saiu vitorioso e os dois acabaram num hospital, cuidando dos ferimentos.

A técnica que Cassius Clay — ou Muhammad Ali, como exige ser chamado — estava acostumado a usar contra todos os adversários não funcionou naquele dia. Ele não dançou no ringue como tinha anunciado. Esperou firme o seu adversário nos quinze assaltos. Mas o golpes de Clay foram mais precisos e mais bem colocados que os de Frazier.

Os comentaristas disseram, depois da luta, que Clay não soube se livrar de Frazier. E, desta vez, foi o próprio Frazier que fez o que havia previsto (“Morrendo o corpo, o espírito também morrerá”). Frazier batia na cintura, tentando diminuir a força de Clay, mas oferecia seu rosto para os potentes socos e golpes violentos de Ali.

E o rosto de Frazier ficou totalmente modificado pelos golpes e pela dor. No décimo quinto assalto, Cassius Clay estava sem sangue escorrendo pelo supercílio, sem olhos inchados, e com a mesma fisionomia com que começou a luta.

Mas, um golpe de esquerda inesperado, jogou Clay no chão. Apoiado nas cordas, ele ouviu o juiz contar até oito. Ainda tentou levantar seu braço para um soco. Mas estava completamente sem reflexos. Conseguiu ficar de pé até o final da luta, mas perdeu por pontos.

Trezentos milhões de pessoas assistiram a derrota de Cassius Clay. No Madison Square Garden, duas pessoas morreram de ataque cardíaco. Em Chicago, cinemas que apresentariam a luta em circuito fechado foram totalmente destruídos por aqueles que não conseguiam entrar. A entrevista coletiva marcada para depois da luta, não aconteceu. O campeão mundial dos peso-pesados, Joe Frazier saiu do estádio para um hospital, onde ficou dez dias. E Clay deixou o Madison Square Garden com suspeita de fratura na mandíbula.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Veja também

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Muhammad Ali foi uma das grandes personalidades do século 20. Cada luta do boxeador ganhava sempre um grande destaque nas capas e páginas internas dos jornais. Foi assim no Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974, quando Ali derrotou Joe Frazier no segundo confronto que reuniu em Nova York, mais que campeões, dois dos maiores nomes da história do boxe e a maior rivalidade do pugilismo. “Desta vez, não quis saber de brincadeiras: não provocou Frazier, não ofereceu o rosto, usou apenas sua técnica contra a coragem e vigor do adversário.”

A foto de Ali acertando o rosto de Frazier em cheio ocupou quase toda a metade inferior da capa, que curiosamente estava recheada de personagens históricos em outras chamadas de notícias: Pelé, o cubano Fidel Castro e o soviético Brezhnev, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o enxadrista Mequinho.

As tensões políticas na Argentina e na Bolívia eram os outros destaques da capa naquele dia, além do onipresente confronto entre israelenses e árabes.

Jornal da Tarde - 29 de janeiro de 1974

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Na primeira luta entre os dois, em 1971, a vitória foi de Joe Frazier. Nesta segunda luta Ali venceu por pontos em decisão unânime dos jurados. Leia a íntegra e veja como foi a luta:

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Uma vitória técnica, discreta. Mas não deixou dúvidas.

A vitória de Clay sobre Frazier, ontem à noite no Madison Square Garden, foi justa e recebeu o voto unânime dos jurados. Mas foi a vitória de uma técnica já cansada contra uma força que o tempo e a derrota contra Foreman tornaram incapaz de derrubar um homem.

Nem Clay nem Frazier puderam manter o ritmo da primeira luta, em março de 1971, mas este encontro foi muito parecido com o outro — a diferença é que entre os dois houve nocautes, queixos quebrados e um certo desânimo; além do peso que três anos representam na vida de um atleta.

A única dúvida: Clay terá condições para vencer George Foreman, o homem que mandou Frazier seis vezes à lona em apenas dois assaltos? É bom lembrar que Foreman é quase dez anos mais moço e mais selvagem.

Com curtos contra-golpes de esquerda e direita na cabeça, e jabs de esquerda, quase três anos depois, Cassius Clay (Muhamad Ali) teve sua vingança contra Joe Frazier; vencendo o ex-campeão mundial dos pesos-pesados por decisão unanime dos jurados.

As 20 mil pessoas que lotaram o Madison Square Garden de Nova Iorque, assistiram doze assaltos onde o estilo e técnica de Muhammadi Ali superaram a iniciativa e a violência de Frazier. Desta vez, Ali não fez brincadeiras, e Frazier não encontrou onde colocar seu poderoso gancho de esquerda.

Os apostadores norte-americanos não costumam cometer enganos. No dia 8 de março de 71, Frazier era favorito nas apostas por 6 a 5, mas ontem à noite Ali estava melhor preparado, só teve dificuldades no sétimo e oitavo assalto, quando esteve lento e parecia cansado dos golpes de Frazier.

Por isso, confirmou seu favoritismo de 17 por 10 nas apostas. O juiz, Tony Perez teve bastante trabalho pelo estilo da luta, com Frazier impondo troca de golpes a curta-distância e Clay provocando clinchs, mas os jurados não hesitaram em apontar Clay como vencedor de quase todos assaltos.

Para Frazier (132 lutas, 30 vitórias, duas derrotas,) essa derrota pode significar o final de carreira. Para Ali (32 anos, 41 lutas, 44 vitorias, duas derrotas) o caminho para enfrentar o título contra George Foreman está aberto.

Primeiro assalto — Não ouve estudos: Ali iniciou rapidamente e superou Frazier em estilo com jabs de esquerda na cabeça e combinações de esquerda-direita. Frazier deu bons ganchos de esquerda no fim do assalto. Vantagem de Ali.

Segundo assalto — Ali voltou determinado a vencer. Frazier acertou um gancho de esquerda e recebeu um forte direto de direita na cabeça. O juiz se enganou: pensou ouvir o gongo e encerrou o assalto 20 segundos antes. Os dois foram chamados de volta. Ali esteve melhor

Terceiro assalto — Frazier pressionou bastante, batendo contra o corpo de Ali, mas recebeu golpes de esquerda e direita na cabeça, e apesar de ter vantagem no assalto, terminou com problemas no olho esquerdo.

Quarto assalto — O combate é violento, sempre no mesmo esquema: Ali dá diretos relâmpagos de esquerda que Frazier recebe no rosto e responde cada vez mais dificuldades com seus poderosos ganchos de esquerda. Frazier parece infatigável, mas a vantagem é de Ali.

Quinto assalto — Mais uma vez o estilo de Ali supera o de Frazier. Ele acerta três a quatro golpes para cada um de Frazier, com diretos, enquanto este, ocasionalmente, acerta um gancho.

Sexto assalto — Ali acerta oito bons golpes, e com classe e técnica vai superando Frazier, dando boas sequências de diretos e bloqueando bem as investidas do adversário.

Sétimo assalto — Frazier reage. Dá ótimos ganchos de esquerda contra a cabeça e o corpo de Ali, que parecia cansado e lento.

Oitavo assalto — Com um potente gancho de esquerda, Frazier dá a impressão de paralisar a respiração de Ali. Este dá alguns jabs, mas está cada vez mais lento.

Nono assalto — Um assalto violento. Ali reage, e há troca de golpes. Ali é obrigado a cobrir melhor sua guarda e bloqueia bem Frazier, que sai com o rosto inchado. Ali sangra um louco pelo nariz, e apesar de lento, teve vantagem.

Décimo assalto — Ali, fechado na defesa, acerta mais golpes, a curta distância, mas Frazier apesar de bater menos, encaixa seus ganchos com mais violência.

Décimo primeiro assalto — A categoria de Ali é vantajosa. Dá onze golpes em Frazier no início do assalto, sem reação Frazier tem o rosto cada vez mais inchado.

Décimo segundo assalto — Frazier partiu rapidamente para cima de Ali e golpeou seu corpo e cabeça. Ali tenta reagir no ultimo minuto, mas tomou novos violentos contra-golpes de Frazier.

Em 71, eles acabaram no hospital

Muhammad Ali e Joe Frazier encontraram-se pela primeira vez num ringue, no dia 8 de março de 1971, como verdadeiros campeões mundiais. Ali, não deu a menor importância para as autoridades norte-americanas que lhe tiraram o título, pela recusa de servir no Vietnã. Frazier, dono legal do título, nem ligava para as provocações de seu adversário. E fizeram uma luta violenta em que Joe Frazier saiu vitorioso e os dois acabaram num hospital, cuidando dos ferimentos.

A técnica que Cassius Clay — ou Muhammad Ali, como exige ser chamado — estava acostumado a usar contra todos os adversários não funcionou naquele dia. Ele não dançou no ringue como tinha anunciado. Esperou firme o seu adversário nos quinze assaltos. Mas o golpes de Clay foram mais precisos e mais bem colocados que os de Frazier.

Os comentaristas disseram, depois da luta, que Clay não soube se livrar de Frazier. E, desta vez, foi o próprio Frazier que fez o que havia previsto (“Morrendo o corpo, o espírito também morrerá”). Frazier batia na cintura, tentando diminuir a força de Clay, mas oferecia seu rosto para os potentes socos e golpes violentos de Ali.

E o rosto de Frazier ficou totalmente modificado pelos golpes e pela dor. No décimo quinto assalto, Cassius Clay estava sem sangue escorrendo pelo supercílio, sem olhos inchados, e com a mesma fisionomia com que começou a luta.

Mas, um golpe de esquerda inesperado, jogou Clay no chão. Apoiado nas cordas, ele ouviu o juiz contar até oito. Ainda tentou levantar seu braço para um soco. Mas estava completamente sem reflexos. Conseguiu ficar de pé até o final da luta, mas perdeu por pontos.

Trezentos milhões de pessoas assistiram a derrota de Cassius Clay. No Madison Square Garden, duas pessoas morreram de ataque cardíaco. Em Chicago, cinemas que apresentariam a luta em circuito fechado foram totalmente destruídos por aqueles que não conseguiam entrar. A entrevista coletiva marcada para depois da luta, não aconteceu. O campeão mundial dos peso-pesados, Joe Frazier saiu do estádio para um hospital, onde ficou dez dias. E Clay deixou o Madison Square Garden com suspeita de fratura na mandíbula.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Veja também

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Muhammad Ali foi uma das grandes personalidades do século 20. Cada luta do boxeador ganhava sempre um grande destaque nas capas e páginas internas dos jornais. Foi assim no Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974, quando Ali derrotou Joe Frazier no segundo confronto que reuniu em Nova York, mais que campeões, dois dos maiores nomes da história do boxe e a maior rivalidade do pugilismo. “Desta vez, não quis saber de brincadeiras: não provocou Frazier, não ofereceu o rosto, usou apenas sua técnica contra a coragem e vigor do adversário.”

A foto de Ali acertando o rosto de Frazier em cheio ocupou quase toda a metade inferior da capa, que curiosamente estava recheada de personagens históricos em outras chamadas de notícias: Pelé, o cubano Fidel Castro e o soviético Brezhnev, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o enxadrista Mequinho.

As tensões políticas na Argentina e na Bolívia eram os outros destaques da capa naquele dia, além do onipresente confronto entre israelenses e árabes.

Jornal da Tarde - 29 de janeiro de 1974

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Na primeira luta entre os dois, em 1971, a vitória foi de Joe Frazier. Nesta segunda luta Ali venceu por pontos em decisão unânime dos jurados. Leia a íntegra e veja como foi a luta:

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Uma vitória técnica, discreta. Mas não deixou dúvidas.

A vitória de Clay sobre Frazier, ontem à noite no Madison Square Garden, foi justa e recebeu o voto unânime dos jurados. Mas foi a vitória de uma técnica já cansada contra uma força que o tempo e a derrota contra Foreman tornaram incapaz de derrubar um homem.

Nem Clay nem Frazier puderam manter o ritmo da primeira luta, em março de 1971, mas este encontro foi muito parecido com o outro — a diferença é que entre os dois houve nocautes, queixos quebrados e um certo desânimo; além do peso que três anos representam na vida de um atleta.

A única dúvida: Clay terá condições para vencer George Foreman, o homem que mandou Frazier seis vezes à lona em apenas dois assaltos? É bom lembrar que Foreman é quase dez anos mais moço e mais selvagem.

Com curtos contra-golpes de esquerda e direita na cabeça, e jabs de esquerda, quase três anos depois, Cassius Clay (Muhamad Ali) teve sua vingança contra Joe Frazier; vencendo o ex-campeão mundial dos pesos-pesados por decisão unanime dos jurados.

As 20 mil pessoas que lotaram o Madison Square Garden de Nova Iorque, assistiram doze assaltos onde o estilo e técnica de Muhammadi Ali superaram a iniciativa e a violência de Frazier. Desta vez, Ali não fez brincadeiras, e Frazier não encontrou onde colocar seu poderoso gancho de esquerda.

Os apostadores norte-americanos não costumam cometer enganos. No dia 8 de março de 71, Frazier era favorito nas apostas por 6 a 5, mas ontem à noite Ali estava melhor preparado, só teve dificuldades no sétimo e oitavo assalto, quando esteve lento e parecia cansado dos golpes de Frazier.

Por isso, confirmou seu favoritismo de 17 por 10 nas apostas. O juiz, Tony Perez teve bastante trabalho pelo estilo da luta, com Frazier impondo troca de golpes a curta-distância e Clay provocando clinchs, mas os jurados não hesitaram em apontar Clay como vencedor de quase todos assaltos.

Para Frazier (132 lutas, 30 vitórias, duas derrotas,) essa derrota pode significar o final de carreira. Para Ali (32 anos, 41 lutas, 44 vitorias, duas derrotas) o caminho para enfrentar o título contra George Foreman está aberto.

Primeiro assalto — Não ouve estudos: Ali iniciou rapidamente e superou Frazier em estilo com jabs de esquerda na cabeça e combinações de esquerda-direita. Frazier deu bons ganchos de esquerda no fim do assalto. Vantagem de Ali.

Segundo assalto — Ali voltou determinado a vencer. Frazier acertou um gancho de esquerda e recebeu um forte direto de direita na cabeça. O juiz se enganou: pensou ouvir o gongo e encerrou o assalto 20 segundos antes. Os dois foram chamados de volta. Ali esteve melhor

Terceiro assalto — Frazier pressionou bastante, batendo contra o corpo de Ali, mas recebeu golpes de esquerda e direita na cabeça, e apesar de ter vantagem no assalto, terminou com problemas no olho esquerdo.

Quarto assalto — O combate é violento, sempre no mesmo esquema: Ali dá diretos relâmpagos de esquerda que Frazier recebe no rosto e responde cada vez mais dificuldades com seus poderosos ganchos de esquerda. Frazier parece infatigável, mas a vantagem é de Ali.

Quinto assalto — Mais uma vez o estilo de Ali supera o de Frazier. Ele acerta três a quatro golpes para cada um de Frazier, com diretos, enquanto este, ocasionalmente, acerta um gancho.

Sexto assalto — Ali acerta oito bons golpes, e com classe e técnica vai superando Frazier, dando boas sequências de diretos e bloqueando bem as investidas do adversário.

Sétimo assalto — Frazier reage. Dá ótimos ganchos de esquerda contra a cabeça e o corpo de Ali, que parecia cansado e lento.

Oitavo assalto — Com um potente gancho de esquerda, Frazier dá a impressão de paralisar a respiração de Ali. Este dá alguns jabs, mas está cada vez mais lento.

Nono assalto — Um assalto violento. Ali reage, e há troca de golpes. Ali é obrigado a cobrir melhor sua guarda e bloqueia bem Frazier, que sai com o rosto inchado. Ali sangra um louco pelo nariz, e apesar de lento, teve vantagem.

Décimo assalto — Ali, fechado na defesa, acerta mais golpes, a curta distância, mas Frazier apesar de bater menos, encaixa seus ganchos com mais violência.

Décimo primeiro assalto — A categoria de Ali é vantajosa. Dá onze golpes em Frazier no início do assalto, sem reação Frazier tem o rosto cada vez mais inchado.

Décimo segundo assalto — Frazier partiu rapidamente para cima de Ali e golpeou seu corpo e cabeça. Ali tenta reagir no ultimo minuto, mas tomou novos violentos contra-golpes de Frazier.

Em 71, eles acabaram no hospital

Muhammad Ali e Joe Frazier encontraram-se pela primeira vez num ringue, no dia 8 de março de 1971, como verdadeiros campeões mundiais. Ali, não deu a menor importância para as autoridades norte-americanas que lhe tiraram o título, pela recusa de servir no Vietnã. Frazier, dono legal do título, nem ligava para as provocações de seu adversário. E fizeram uma luta violenta em que Joe Frazier saiu vitorioso e os dois acabaram num hospital, cuidando dos ferimentos.

A técnica que Cassius Clay — ou Muhammad Ali, como exige ser chamado — estava acostumado a usar contra todos os adversários não funcionou naquele dia. Ele não dançou no ringue como tinha anunciado. Esperou firme o seu adversário nos quinze assaltos. Mas o golpes de Clay foram mais precisos e mais bem colocados que os de Frazier.

Os comentaristas disseram, depois da luta, que Clay não soube se livrar de Frazier. E, desta vez, foi o próprio Frazier que fez o que havia previsto (“Morrendo o corpo, o espírito também morrerá”). Frazier batia na cintura, tentando diminuir a força de Clay, mas oferecia seu rosto para os potentes socos e golpes violentos de Ali.

E o rosto de Frazier ficou totalmente modificado pelos golpes e pela dor. No décimo quinto assalto, Cassius Clay estava sem sangue escorrendo pelo supercílio, sem olhos inchados, e com a mesma fisionomia com que começou a luta.

Mas, um golpe de esquerda inesperado, jogou Clay no chão. Apoiado nas cordas, ele ouviu o juiz contar até oito. Ainda tentou levantar seu braço para um soco. Mas estava completamente sem reflexos. Conseguiu ficar de pé até o final da luta, mas perdeu por pontos.

Trezentos milhões de pessoas assistiram a derrota de Cassius Clay. No Madison Square Garden, duas pessoas morreram de ataque cardíaco. Em Chicago, cinemas que apresentariam a luta em circuito fechado foram totalmente destruídos por aqueles que não conseguiam entrar. A entrevista coletiva marcada para depois da luta, não aconteceu. O campeão mundial dos peso-pesados, Joe Frazier saiu do estádio para um hospital, onde ficou dez dias. E Clay deixou o Madison Square Garden com suspeita de fratura na mandíbula.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Veja também

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Muhammad Ali foi uma das grandes personalidades do século 20. Cada luta do boxeador ganhava sempre um grande destaque nas capas e páginas internas dos jornais. Foi assim no Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974, quando Ali derrotou Joe Frazier no segundo confronto que reuniu em Nova York, mais que campeões, dois dos maiores nomes da história do boxe e a maior rivalidade do pugilismo. “Desta vez, não quis saber de brincadeiras: não provocou Frazier, não ofereceu o rosto, usou apenas sua técnica contra a coragem e vigor do adversário.”

A foto de Ali acertando o rosto de Frazier em cheio ocupou quase toda a metade inferior da capa, que curiosamente estava recheada de personagens históricos em outras chamadas de notícias: Pelé, o cubano Fidel Castro e o soviético Brezhnev, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o enxadrista Mequinho.

As tensões políticas na Argentina e na Bolívia eram os outros destaques da capa naquele dia, além do onipresente confronto entre israelenses e árabes.

Jornal da Tarde - 29 de janeiro de 1974

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Na primeira luta entre os dois, em 1971, a vitória foi de Joe Frazier. Nesta segunda luta Ali venceu por pontos em decisão unânime dos jurados. Leia a íntegra e veja como foi a luta:

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Uma vitória técnica, discreta. Mas não deixou dúvidas.

A vitória de Clay sobre Frazier, ontem à noite no Madison Square Garden, foi justa e recebeu o voto unânime dos jurados. Mas foi a vitória de uma técnica já cansada contra uma força que o tempo e a derrota contra Foreman tornaram incapaz de derrubar um homem.

Nem Clay nem Frazier puderam manter o ritmo da primeira luta, em março de 1971, mas este encontro foi muito parecido com o outro — a diferença é que entre os dois houve nocautes, queixos quebrados e um certo desânimo; além do peso que três anos representam na vida de um atleta.

A única dúvida: Clay terá condições para vencer George Foreman, o homem que mandou Frazier seis vezes à lona em apenas dois assaltos? É bom lembrar que Foreman é quase dez anos mais moço e mais selvagem.

Com curtos contra-golpes de esquerda e direita na cabeça, e jabs de esquerda, quase três anos depois, Cassius Clay (Muhamad Ali) teve sua vingança contra Joe Frazier; vencendo o ex-campeão mundial dos pesos-pesados por decisão unanime dos jurados.

As 20 mil pessoas que lotaram o Madison Square Garden de Nova Iorque, assistiram doze assaltos onde o estilo e técnica de Muhammadi Ali superaram a iniciativa e a violência de Frazier. Desta vez, Ali não fez brincadeiras, e Frazier não encontrou onde colocar seu poderoso gancho de esquerda.

Os apostadores norte-americanos não costumam cometer enganos. No dia 8 de março de 71, Frazier era favorito nas apostas por 6 a 5, mas ontem à noite Ali estava melhor preparado, só teve dificuldades no sétimo e oitavo assalto, quando esteve lento e parecia cansado dos golpes de Frazier.

Por isso, confirmou seu favoritismo de 17 por 10 nas apostas. O juiz, Tony Perez teve bastante trabalho pelo estilo da luta, com Frazier impondo troca de golpes a curta-distância e Clay provocando clinchs, mas os jurados não hesitaram em apontar Clay como vencedor de quase todos assaltos.

Para Frazier (132 lutas, 30 vitórias, duas derrotas,) essa derrota pode significar o final de carreira. Para Ali (32 anos, 41 lutas, 44 vitorias, duas derrotas) o caminho para enfrentar o título contra George Foreman está aberto.

Primeiro assalto — Não ouve estudos: Ali iniciou rapidamente e superou Frazier em estilo com jabs de esquerda na cabeça e combinações de esquerda-direita. Frazier deu bons ganchos de esquerda no fim do assalto. Vantagem de Ali.

Segundo assalto — Ali voltou determinado a vencer. Frazier acertou um gancho de esquerda e recebeu um forte direto de direita na cabeça. O juiz se enganou: pensou ouvir o gongo e encerrou o assalto 20 segundos antes. Os dois foram chamados de volta. Ali esteve melhor

Terceiro assalto — Frazier pressionou bastante, batendo contra o corpo de Ali, mas recebeu golpes de esquerda e direita na cabeça, e apesar de ter vantagem no assalto, terminou com problemas no olho esquerdo.

Quarto assalto — O combate é violento, sempre no mesmo esquema: Ali dá diretos relâmpagos de esquerda que Frazier recebe no rosto e responde cada vez mais dificuldades com seus poderosos ganchos de esquerda. Frazier parece infatigável, mas a vantagem é de Ali.

Quinto assalto — Mais uma vez o estilo de Ali supera o de Frazier. Ele acerta três a quatro golpes para cada um de Frazier, com diretos, enquanto este, ocasionalmente, acerta um gancho.

Sexto assalto — Ali acerta oito bons golpes, e com classe e técnica vai superando Frazier, dando boas sequências de diretos e bloqueando bem as investidas do adversário.

Sétimo assalto — Frazier reage. Dá ótimos ganchos de esquerda contra a cabeça e o corpo de Ali, que parecia cansado e lento.

Oitavo assalto — Com um potente gancho de esquerda, Frazier dá a impressão de paralisar a respiração de Ali. Este dá alguns jabs, mas está cada vez mais lento.

Nono assalto — Um assalto violento. Ali reage, e há troca de golpes. Ali é obrigado a cobrir melhor sua guarda e bloqueia bem Frazier, que sai com o rosto inchado. Ali sangra um louco pelo nariz, e apesar de lento, teve vantagem.

Décimo assalto — Ali, fechado na defesa, acerta mais golpes, a curta distância, mas Frazier apesar de bater menos, encaixa seus ganchos com mais violência.

Décimo primeiro assalto — A categoria de Ali é vantajosa. Dá onze golpes em Frazier no início do assalto, sem reação Frazier tem o rosto cada vez mais inchado.

Décimo segundo assalto — Frazier partiu rapidamente para cima de Ali e golpeou seu corpo e cabeça. Ali tenta reagir no ultimo minuto, mas tomou novos violentos contra-golpes de Frazier.

Em 71, eles acabaram no hospital

Muhammad Ali e Joe Frazier encontraram-se pela primeira vez num ringue, no dia 8 de março de 1971, como verdadeiros campeões mundiais. Ali, não deu a menor importância para as autoridades norte-americanas que lhe tiraram o título, pela recusa de servir no Vietnã. Frazier, dono legal do título, nem ligava para as provocações de seu adversário. E fizeram uma luta violenta em que Joe Frazier saiu vitorioso e os dois acabaram num hospital, cuidando dos ferimentos.

A técnica que Cassius Clay — ou Muhammad Ali, como exige ser chamado — estava acostumado a usar contra todos os adversários não funcionou naquele dia. Ele não dançou no ringue como tinha anunciado. Esperou firme o seu adversário nos quinze assaltos. Mas o golpes de Clay foram mais precisos e mais bem colocados que os de Frazier.

Os comentaristas disseram, depois da luta, que Clay não soube se livrar de Frazier. E, desta vez, foi o próprio Frazier que fez o que havia previsto (“Morrendo o corpo, o espírito também morrerá”). Frazier batia na cintura, tentando diminuir a força de Clay, mas oferecia seu rosto para os potentes socos e golpes violentos de Ali.

E o rosto de Frazier ficou totalmente modificado pelos golpes e pela dor. No décimo quinto assalto, Cassius Clay estava sem sangue escorrendo pelo supercílio, sem olhos inchados, e com a mesma fisionomia com que começou a luta.

Mas, um golpe de esquerda inesperado, jogou Clay no chão. Apoiado nas cordas, ele ouviu o juiz contar até oito. Ainda tentou levantar seu braço para um soco. Mas estava completamente sem reflexos. Conseguiu ficar de pé até o final da luta, mas perdeu por pontos.

Trezentos milhões de pessoas assistiram a derrota de Cassius Clay. No Madison Square Garden, duas pessoas morreram de ataque cardíaco. Em Chicago, cinemas que apresentariam a luta em circuito fechado foram totalmente destruídos por aqueles que não conseguiam entrar. A entrevista coletiva marcada para depois da luta, não aconteceu. O campeão mundial dos peso-pesados, Joe Frazier saiu do estádio para um hospital, onde ficou dez dias. E Clay deixou o Madison Square Garden com suspeita de fratura na mandíbula.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Veja também

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Muhammad Ali foi uma das grandes personalidades do século 20. Cada luta do boxeador ganhava sempre um grande destaque nas capas e páginas internas dos jornais. Foi assim no Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974, quando Ali derrotou Joe Frazier no segundo confronto que reuniu em Nova York, mais que campeões, dois dos maiores nomes da história do boxe e a maior rivalidade do pugilismo. “Desta vez, não quis saber de brincadeiras: não provocou Frazier, não ofereceu o rosto, usou apenas sua técnica contra a coragem e vigor do adversário.”

A foto de Ali acertando o rosto de Frazier em cheio ocupou quase toda a metade inferior da capa, que curiosamente estava recheada de personagens históricos em outras chamadas de notícias: Pelé, o cubano Fidel Castro e o soviético Brezhnev, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o enxadrista Mequinho.

As tensões políticas na Argentina e na Bolívia eram os outros destaques da capa naquele dia, além do onipresente confronto entre israelenses e árabes.

Jornal da Tarde - 29 de janeiro de 1974

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Na primeira luta entre os dois, em 1971, a vitória foi de Joe Frazier. Nesta segunda luta Ali venceu por pontos em decisão unânime dos jurados. Leia a íntegra e veja como foi a luta:

Página do Jornal da Tarde de 29 de janeiro de 1974 com notícia da vitória de Muhammad Ali sobre Joe Frazier. Foto: Acervo Estadão

Uma vitória técnica, discreta. Mas não deixou dúvidas.

A vitória de Clay sobre Frazier, ontem à noite no Madison Square Garden, foi justa e recebeu o voto unânime dos jurados. Mas foi a vitória de uma técnica já cansada contra uma força que o tempo e a derrota contra Foreman tornaram incapaz de derrubar um homem.

Nem Clay nem Frazier puderam manter o ritmo da primeira luta, em março de 1971, mas este encontro foi muito parecido com o outro — a diferença é que entre os dois houve nocautes, queixos quebrados e um certo desânimo; além do peso que três anos representam na vida de um atleta.

A única dúvida: Clay terá condições para vencer George Foreman, o homem que mandou Frazier seis vezes à lona em apenas dois assaltos? É bom lembrar que Foreman é quase dez anos mais moço e mais selvagem.

Com curtos contra-golpes de esquerda e direita na cabeça, e jabs de esquerda, quase três anos depois, Cassius Clay (Muhamad Ali) teve sua vingança contra Joe Frazier; vencendo o ex-campeão mundial dos pesos-pesados por decisão unanime dos jurados.

As 20 mil pessoas que lotaram o Madison Square Garden de Nova Iorque, assistiram doze assaltos onde o estilo e técnica de Muhammadi Ali superaram a iniciativa e a violência de Frazier. Desta vez, Ali não fez brincadeiras, e Frazier não encontrou onde colocar seu poderoso gancho de esquerda.

Os apostadores norte-americanos não costumam cometer enganos. No dia 8 de março de 71, Frazier era favorito nas apostas por 6 a 5, mas ontem à noite Ali estava melhor preparado, só teve dificuldades no sétimo e oitavo assalto, quando esteve lento e parecia cansado dos golpes de Frazier.

Por isso, confirmou seu favoritismo de 17 por 10 nas apostas. O juiz, Tony Perez teve bastante trabalho pelo estilo da luta, com Frazier impondo troca de golpes a curta-distância e Clay provocando clinchs, mas os jurados não hesitaram em apontar Clay como vencedor de quase todos assaltos.

Para Frazier (132 lutas, 30 vitórias, duas derrotas,) essa derrota pode significar o final de carreira. Para Ali (32 anos, 41 lutas, 44 vitorias, duas derrotas) o caminho para enfrentar o título contra George Foreman está aberto.

Primeiro assalto — Não ouve estudos: Ali iniciou rapidamente e superou Frazier em estilo com jabs de esquerda na cabeça e combinações de esquerda-direita. Frazier deu bons ganchos de esquerda no fim do assalto. Vantagem de Ali.

Segundo assalto — Ali voltou determinado a vencer. Frazier acertou um gancho de esquerda e recebeu um forte direto de direita na cabeça. O juiz se enganou: pensou ouvir o gongo e encerrou o assalto 20 segundos antes. Os dois foram chamados de volta. Ali esteve melhor

Terceiro assalto — Frazier pressionou bastante, batendo contra o corpo de Ali, mas recebeu golpes de esquerda e direita na cabeça, e apesar de ter vantagem no assalto, terminou com problemas no olho esquerdo.

Quarto assalto — O combate é violento, sempre no mesmo esquema: Ali dá diretos relâmpagos de esquerda que Frazier recebe no rosto e responde cada vez mais dificuldades com seus poderosos ganchos de esquerda. Frazier parece infatigável, mas a vantagem é de Ali.

Quinto assalto — Mais uma vez o estilo de Ali supera o de Frazier. Ele acerta três a quatro golpes para cada um de Frazier, com diretos, enquanto este, ocasionalmente, acerta um gancho.

Sexto assalto — Ali acerta oito bons golpes, e com classe e técnica vai superando Frazier, dando boas sequências de diretos e bloqueando bem as investidas do adversário.

Sétimo assalto — Frazier reage. Dá ótimos ganchos de esquerda contra a cabeça e o corpo de Ali, que parecia cansado e lento.

Oitavo assalto — Com um potente gancho de esquerda, Frazier dá a impressão de paralisar a respiração de Ali. Este dá alguns jabs, mas está cada vez mais lento.

Nono assalto — Um assalto violento. Ali reage, e há troca de golpes. Ali é obrigado a cobrir melhor sua guarda e bloqueia bem Frazier, que sai com o rosto inchado. Ali sangra um louco pelo nariz, e apesar de lento, teve vantagem.

Décimo assalto — Ali, fechado na defesa, acerta mais golpes, a curta distância, mas Frazier apesar de bater menos, encaixa seus ganchos com mais violência.

Décimo primeiro assalto — A categoria de Ali é vantajosa. Dá onze golpes em Frazier no início do assalto, sem reação Frazier tem o rosto cada vez mais inchado.

Décimo segundo assalto — Frazier partiu rapidamente para cima de Ali e golpeou seu corpo e cabeça. Ali tenta reagir no ultimo minuto, mas tomou novos violentos contra-golpes de Frazier.

Em 71, eles acabaram no hospital

Muhammad Ali e Joe Frazier encontraram-se pela primeira vez num ringue, no dia 8 de março de 1971, como verdadeiros campeões mundiais. Ali, não deu a menor importância para as autoridades norte-americanas que lhe tiraram o título, pela recusa de servir no Vietnã. Frazier, dono legal do título, nem ligava para as provocações de seu adversário. E fizeram uma luta violenta em que Joe Frazier saiu vitorioso e os dois acabaram num hospital, cuidando dos ferimentos.

A técnica que Cassius Clay — ou Muhammad Ali, como exige ser chamado — estava acostumado a usar contra todos os adversários não funcionou naquele dia. Ele não dançou no ringue como tinha anunciado. Esperou firme o seu adversário nos quinze assaltos. Mas o golpes de Clay foram mais precisos e mais bem colocados que os de Frazier.

Os comentaristas disseram, depois da luta, que Clay não soube se livrar de Frazier. E, desta vez, foi o próprio Frazier que fez o que havia previsto (“Morrendo o corpo, o espírito também morrerá”). Frazier batia na cintura, tentando diminuir a força de Clay, mas oferecia seu rosto para os potentes socos e golpes violentos de Ali.

E o rosto de Frazier ficou totalmente modificado pelos golpes e pela dor. No décimo quinto assalto, Cassius Clay estava sem sangue escorrendo pelo supercílio, sem olhos inchados, e com a mesma fisionomia com que começou a luta.

Mas, um golpe de esquerda inesperado, jogou Clay no chão. Apoiado nas cordas, ele ouviu o juiz contar até oito. Ainda tentou levantar seu braço para um soco. Mas estava completamente sem reflexos. Conseguiu ficar de pé até o final da luta, mas perdeu por pontos.

Trezentos milhões de pessoas assistiram a derrota de Cassius Clay. No Madison Square Garden, duas pessoas morreram de ataque cardíaco. Em Chicago, cinemas que apresentariam a luta em circuito fechado foram totalmente destruídos por aqueles que não conseguiam entrar. A entrevista coletiva marcada para depois da luta, não aconteceu. O campeão mundial dos peso-pesados, Joe Frazier saiu do estádio para um hospital, onde ficou dez dias. E Clay deixou o Madison Square Garden com suspeita de fratura na mandíbula.

Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

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