Livro traz relato assustador do ocaso da Guerra Fria


''A Mão Sem Vida'', do jornalista David Hoffman, mostra a decadência da URSS à luz da corrida armamentista

Por Dwight Garner

Desde os infelizes últimos anos do governo de Leonid Brejnev, encerrados com sua morte em 1982, até a chegada de Mikhail Gorbachev em 1985, a União Soviética pareceu ser conduzida, como descreveu David Remnick, por uma série de "homens moribundos em hospitais de iluminação precária".Depois de Brejnev veio Yuri Andropov e, então, Konstantin Chernenko: eminências pardas que morreram, cada qual, cerca de um ano após terem assumido o poder. Um abatido Ronald Reagan perguntou, ao saber da morte de Chernenko: "Como posso chegar a algum lugar com os líderes russos se eles não param de morrer?"Naquele mesmo momento a União Soviética estava preocupada com problemas de sucessão de um tipo muito mais sombrio, segundo o que escreve David E. Hoffman em The Dead Hand ("A Mão Sem Vida"), sua nova e assustadora história da corrida armamentista da Guerra Fria.O livro empresta seu título de um dispositivo soviético do juízo final concebido no período de Brejnev. Os soviéticos temiam a "decapitação" - a morte de seus líderes num súbito e maciço ataque nuclear americano - e por isso desenvolveram um sistema automático de retaliação capaz de lançar seus mísseis mesmo no caso de a estrutura de comando ter sido aniquilada. Assim, o destino do planeta repousaria nos ombros de alguns oficiais de baixa patente transpirando num abrigo de concreto. Esses oficiais seriam os dedos de uma mão sem vida movendo-se por causa dos espasmos e reflexos após a decapitação.Hoffman, editor do Washington Post, foi chefe da sucursal moscovita do jornal de 1995 até 2001. Em "A Mão Sem Vida", ele nos proporciona um relato legível e multifacetado das décadas de impasse militar entre Estados Unidos e União Soviética. Ele aborda os pontos habituais, desde a aurora da destruição mútua garantida até a inabalável devoção de Ronald Reagan à Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI em inglês), também conhecida como Guerra nas Estrelas, passando pelas tentativas de reconciliação da época de Richard Nixon.Por meio de entrevistas e novos documentos, Hoffman oferece detalhes do vasto programa secreto soviético de armas biológicas, desenvolvido à revelia dos tratados internacionais na mesma época em que os soviéticos pareciam interessados na redução de seu estoque de armas nucleares.Este programa de armas biológicas incluiu o desenvolvimento de um supergerme que atacava suas vítimas em dois estágios medonhos: primeiro os infectados apresentavam sintomas de baixa intensidade e,então, quando começavam a dar sinais de recuperação, o germe desferia contra eles o golpe fatal.Hoffman detalha até que ponto chegava a paranoia soviética diante da possibilidade de os EUA lançarem um ataque nuclear sem provocação. Ele oferece um relato dos bastidores de como Gorbachev conteve seus próprios generais e conseguiu desacelerar, e depois reverter, a corrida armamentista. E ele enfatiza bastante o perigo representado pelos estoques de armas nucleares e biológicas da União Soviética após o colapso da mesma. Boa parte deste material está em armazéns desprovidos de vigilância.As dezenas de milhares de ex-funcionários do Departamento de Defesa soviético, atualmente desempregados, também representam perigo semelhante. Alguns deles estariam dispostos a vender armas e habilidades a quem pagar o maior preço. Hoffman relata o caso de um especialista em guerra biológica que acabou vendendo doces e jeans num mercado a céu aberto em Moscou."A Mão Sem Vida" é de uma seriedade mortal, mas por vezes flerta com o humor negro - uma espécie de "Dr. Fantástico" refilmado pelos irmãos Coen. Quando Hoffman escreve a respeito do método adotado pelos soviéticos para se livrar do lixo nuclear - mesmo reatores nucleares inteiros -, abandonando-o no mar, ele destaca que os funcionários atiravam contra os barris que voltassem à superfície, abrindo buracos nos mesmos.Ele observa a curiosa ideia soviética de que seria possível prever um ataque nuclear por meio da busca por aumentos bruscos no preço das doações de sangue na Grã-Bretanha. "A KGB não percebeu que os doadores de sangue britânicos não são pagos", escreve Hoffman.Ele cita Nixon no momento em que este perdeu o interesse nas armas biológicas. "Nunca usaremos os malditos germes, assim, de que serve a guerra biológica como ferramenta de dissuasão?" disse Nixon. "Se alguém usar germes contra nós, a resposta será um ataque nuclear fulminante."Hoffman apresenta reconstituições detalhadas de grandes disparates soviéticos, como a destruição do voo 007 das Linhas Aéreas Coreanas em 1983, e compara tais momentos a eventos curiosos, como o episódio de 1987 em que um descontente jovem da Alemanha Ocidental chamado Mathias Rust conseguiu burlar a vigilância aérea soviética e pousar um monomotor Cessna em plena Praça Vermelha, em Moscou.Se "A Mão Sem Vida" tem um par de vultos antagonistas, estes são Reagan e Gorbachev, e Hoffman mostra-se simpático à maneira de pensar e agir de ambos. Em relação a Gorbachev, sua admiração é maior."A coragem de um líder é muitas vezes definida pela construção de algo, pela ação positiva", escreve ele. "Mas, neste caso, a grande contribuição de Gorbachev foi decidir o que não fazer." Gorbachev recusou-se a aumentar as apostas propondo um sistema soviético antimísseis análogo ao Guerra nas Estrelas. Ele tampouco interveio na queda do Muro de Berlim.Um dos poucos vilões deste livro é o Departamento de Defesa do presidente George H. Bush, administrado por Dick Cheney. O Pentágono recusou-se a auxiliar os soviéticos a destruir ou garantir a segurança de suas armas enquanto o país desmoronava. O vice-secretário Donald J. Atwood é citado manifestando o desejo de ver os soviéticos em "queda livre".

Desde os infelizes últimos anos do governo de Leonid Brejnev, encerrados com sua morte em 1982, até a chegada de Mikhail Gorbachev em 1985, a União Soviética pareceu ser conduzida, como descreveu David Remnick, por uma série de "homens moribundos em hospitais de iluminação precária".Depois de Brejnev veio Yuri Andropov e, então, Konstantin Chernenko: eminências pardas que morreram, cada qual, cerca de um ano após terem assumido o poder. Um abatido Ronald Reagan perguntou, ao saber da morte de Chernenko: "Como posso chegar a algum lugar com os líderes russos se eles não param de morrer?"Naquele mesmo momento a União Soviética estava preocupada com problemas de sucessão de um tipo muito mais sombrio, segundo o que escreve David E. Hoffman em The Dead Hand ("A Mão Sem Vida"), sua nova e assustadora história da corrida armamentista da Guerra Fria.O livro empresta seu título de um dispositivo soviético do juízo final concebido no período de Brejnev. Os soviéticos temiam a "decapitação" - a morte de seus líderes num súbito e maciço ataque nuclear americano - e por isso desenvolveram um sistema automático de retaliação capaz de lançar seus mísseis mesmo no caso de a estrutura de comando ter sido aniquilada. Assim, o destino do planeta repousaria nos ombros de alguns oficiais de baixa patente transpirando num abrigo de concreto. Esses oficiais seriam os dedos de uma mão sem vida movendo-se por causa dos espasmos e reflexos após a decapitação.Hoffman, editor do Washington Post, foi chefe da sucursal moscovita do jornal de 1995 até 2001. Em "A Mão Sem Vida", ele nos proporciona um relato legível e multifacetado das décadas de impasse militar entre Estados Unidos e União Soviética. Ele aborda os pontos habituais, desde a aurora da destruição mútua garantida até a inabalável devoção de Ronald Reagan à Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI em inglês), também conhecida como Guerra nas Estrelas, passando pelas tentativas de reconciliação da época de Richard Nixon.Por meio de entrevistas e novos documentos, Hoffman oferece detalhes do vasto programa secreto soviético de armas biológicas, desenvolvido à revelia dos tratados internacionais na mesma época em que os soviéticos pareciam interessados na redução de seu estoque de armas nucleares.Este programa de armas biológicas incluiu o desenvolvimento de um supergerme que atacava suas vítimas em dois estágios medonhos: primeiro os infectados apresentavam sintomas de baixa intensidade e,então, quando começavam a dar sinais de recuperação, o germe desferia contra eles o golpe fatal.Hoffman detalha até que ponto chegava a paranoia soviética diante da possibilidade de os EUA lançarem um ataque nuclear sem provocação. Ele oferece um relato dos bastidores de como Gorbachev conteve seus próprios generais e conseguiu desacelerar, e depois reverter, a corrida armamentista. E ele enfatiza bastante o perigo representado pelos estoques de armas nucleares e biológicas da União Soviética após o colapso da mesma. Boa parte deste material está em armazéns desprovidos de vigilância.As dezenas de milhares de ex-funcionários do Departamento de Defesa soviético, atualmente desempregados, também representam perigo semelhante. Alguns deles estariam dispostos a vender armas e habilidades a quem pagar o maior preço. Hoffman relata o caso de um especialista em guerra biológica que acabou vendendo doces e jeans num mercado a céu aberto em Moscou."A Mão Sem Vida" é de uma seriedade mortal, mas por vezes flerta com o humor negro - uma espécie de "Dr. Fantástico" refilmado pelos irmãos Coen. Quando Hoffman escreve a respeito do método adotado pelos soviéticos para se livrar do lixo nuclear - mesmo reatores nucleares inteiros -, abandonando-o no mar, ele destaca que os funcionários atiravam contra os barris que voltassem à superfície, abrindo buracos nos mesmos.Ele observa a curiosa ideia soviética de que seria possível prever um ataque nuclear por meio da busca por aumentos bruscos no preço das doações de sangue na Grã-Bretanha. "A KGB não percebeu que os doadores de sangue britânicos não são pagos", escreve Hoffman.Ele cita Nixon no momento em que este perdeu o interesse nas armas biológicas. "Nunca usaremos os malditos germes, assim, de que serve a guerra biológica como ferramenta de dissuasão?" disse Nixon. "Se alguém usar germes contra nós, a resposta será um ataque nuclear fulminante."Hoffman apresenta reconstituições detalhadas de grandes disparates soviéticos, como a destruição do voo 007 das Linhas Aéreas Coreanas em 1983, e compara tais momentos a eventos curiosos, como o episódio de 1987 em que um descontente jovem da Alemanha Ocidental chamado Mathias Rust conseguiu burlar a vigilância aérea soviética e pousar um monomotor Cessna em plena Praça Vermelha, em Moscou.Se "A Mão Sem Vida" tem um par de vultos antagonistas, estes são Reagan e Gorbachev, e Hoffman mostra-se simpático à maneira de pensar e agir de ambos. Em relação a Gorbachev, sua admiração é maior."A coragem de um líder é muitas vezes definida pela construção de algo, pela ação positiva", escreve ele. "Mas, neste caso, a grande contribuição de Gorbachev foi decidir o que não fazer." Gorbachev recusou-se a aumentar as apostas propondo um sistema soviético antimísseis análogo ao Guerra nas Estrelas. Ele tampouco interveio na queda do Muro de Berlim.Um dos poucos vilões deste livro é o Departamento de Defesa do presidente George H. Bush, administrado por Dick Cheney. O Pentágono recusou-se a auxiliar os soviéticos a destruir ou garantir a segurança de suas armas enquanto o país desmoronava. O vice-secretário Donald J. Atwood é citado manifestando o desejo de ver os soviéticos em "queda livre".

Desde os infelizes últimos anos do governo de Leonid Brejnev, encerrados com sua morte em 1982, até a chegada de Mikhail Gorbachev em 1985, a União Soviética pareceu ser conduzida, como descreveu David Remnick, por uma série de "homens moribundos em hospitais de iluminação precária".Depois de Brejnev veio Yuri Andropov e, então, Konstantin Chernenko: eminências pardas que morreram, cada qual, cerca de um ano após terem assumido o poder. Um abatido Ronald Reagan perguntou, ao saber da morte de Chernenko: "Como posso chegar a algum lugar com os líderes russos se eles não param de morrer?"Naquele mesmo momento a União Soviética estava preocupada com problemas de sucessão de um tipo muito mais sombrio, segundo o que escreve David E. Hoffman em The Dead Hand ("A Mão Sem Vida"), sua nova e assustadora história da corrida armamentista da Guerra Fria.O livro empresta seu título de um dispositivo soviético do juízo final concebido no período de Brejnev. Os soviéticos temiam a "decapitação" - a morte de seus líderes num súbito e maciço ataque nuclear americano - e por isso desenvolveram um sistema automático de retaliação capaz de lançar seus mísseis mesmo no caso de a estrutura de comando ter sido aniquilada. Assim, o destino do planeta repousaria nos ombros de alguns oficiais de baixa patente transpirando num abrigo de concreto. Esses oficiais seriam os dedos de uma mão sem vida movendo-se por causa dos espasmos e reflexos após a decapitação.Hoffman, editor do Washington Post, foi chefe da sucursal moscovita do jornal de 1995 até 2001. Em "A Mão Sem Vida", ele nos proporciona um relato legível e multifacetado das décadas de impasse militar entre Estados Unidos e União Soviética. Ele aborda os pontos habituais, desde a aurora da destruição mútua garantida até a inabalável devoção de Ronald Reagan à Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI em inglês), também conhecida como Guerra nas Estrelas, passando pelas tentativas de reconciliação da época de Richard Nixon.Por meio de entrevistas e novos documentos, Hoffman oferece detalhes do vasto programa secreto soviético de armas biológicas, desenvolvido à revelia dos tratados internacionais na mesma época em que os soviéticos pareciam interessados na redução de seu estoque de armas nucleares.Este programa de armas biológicas incluiu o desenvolvimento de um supergerme que atacava suas vítimas em dois estágios medonhos: primeiro os infectados apresentavam sintomas de baixa intensidade e,então, quando começavam a dar sinais de recuperação, o germe desferia contra eles o golpe fatal.Hoffman detalha até que ponto chegava a paranoia soviética diante da possibilidade de os EUA lançarem um ataque nuclear sem provocação. Ele oferece um relato dos bastidores de como Gorbachev conteve seus próprios generais e conseguiu desacelerar, e depois reverter, a corrida armamentista. E ele enfatiza bastante o perigo representado pelos estoques de armas nucleares e biológicas da União Soviética após o colapso da mesma. Boa parte deste material está em armazéns desprovidos de vigilância.As dezenas de milhares de ex-funcionários do Departamento de Defesa soviético, atualmente desempregados, também representam perigo semelhante. Alguns deles estariam dispostos a vender armas e habilidades a quem pagar o maior preço. Hoffman relata o caso de um especialista em guerra biológica que acabou vendendo doces e jeans num mercado a céu aberto em Moscou."A Mão Sem Vida" é de uma seriedade mortal, mas por vezes flerta com o humor negro - uma espécie de "Dr. Fantástico" refilmado pelos irmãos Coen. Quando Hoffman escreve a respeito do método adotado pelos soviéticos para se livrar do lixo nuclear - mesmo reatores nucleares inteiros -, abandonando-o no mar, ele destaca que os funcionários atiravam contra os barris que voltassem à superfície, abrindo buracos nos mesmos.Ele observa a curiosa ideia soviética de que seria possível prever um ataque nuclear por meio da busca por aumentos bruscos no preço das doações de sangue na Grã-Bretanha. "A KGB não percebeu que os doadores de sangue britânicos não são pagos", escreve Hoffman.Ele cita Nixon no momento em que este perdeu o interesse nas armas biológicas. "Nunca usaremos os malditos germes, assim, de que serve a guerra biológica como ferramenta de dissuasão?" disse Nixon. "Se alguém usar germes contra nós, a resposta será um ataque nuclear fulminante."Hoffman apresenta reconstituições detalhadas de grandes disparates soviéticos, como a destruição do voo 007 das Linhas Aéreas Coreanas em 1983, e compara tais momentos a eventos curiosos, como o episódio de 1987 em que um descontente jovem da Alemanha Ocidental chamado Mathias Rust conseguiu burlar a vigilância aérea soviética e pousar um monomotor Cessna em plena Praça Vermelha, em Moscou.Se "A Mão Sem Vida" tem um par de vultos antagonistas, estes são Reagan e Gorbachev, e Hoffman mostra-se simpático à maneira de pensar e agir de ambos. Em relação a Gorbachev, sua admiração é maior."A coragem de um líder é muitas vezes definida pela construção de algo, pela ação positiva", escreve ele. "Mas, neste caso, a grande contribuição de Gorbachev foi decidir o que não fazer." Gorbachev recusou-se a aumentar as apostas propondo um sistema soviético antimísseis análogo ao Guerra nas Estrelas. Ele tampouco interveio na queda do Muro de Berlim.Um dos poucos vilões deste livro é o Departamento de Defesa do presidente George H. Bush, administrado por Dick Cheney. O Pentágono recusou-se a auxiliar os soviéticos a destruir ou garantir a segurança de suas armas enquanto o país desmoronava. O vice-secretário Donald J. Atwood é citado manifestando o desejo de ver os soviéticos em "queda livre".

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