Jornalismo, educação, tecnologia e as combinações disso tudo

Opinião|A "bolha de filtro" ajuda mais que atrapalha


Por Paulo Silvestre

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=FNcTztlaSyI]

O vídeo acima descreve as ideias de Eli Pariser, ativista digital americano, que vê riscos no conceito que ele batizou de "bolha de filtro". Resumidamente, ele critica algoritmos usados por sites como Google, Facebook e até alguns veículos de comunicação para exibir, a cada usuário, individualmente, conteúdos que estejam supostamente alinhados com coisas pelas quais demonstrou interesse no passado. Para Eli, isso é perigoso, pois as pessoas progressivamente deixariam de acessar conteúdo que lhes seria importante, apesar de "desalinhado com o seu perfil".

No vídeo, ele usa uma infeliz declaração de Mark Zuckerberg que, com sua tradicional sutileza paquidérmica, sugere que "um esquilo morrendo na frente da sua casa pode ser mais relevante para seus interesses agora que as pessoas morrendo na África". A partir dela, Pariser desfia a sua teoria.

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Devo dizer que ela é muito boa e bem construída. Mais que isso: ela é completamente alinhada com um dos pilares do (bom) jornalismo, que é responsável não apenas pela informação do povo, mas pela sua formação, desempenhando um papel crítico para o desenvolvimento saudável de qualquer sociedade. Porém, tirando a insensibilidade demonstrada pelo fundador do Facebook com um dos maiores flagelos da humanidade, o que ele disse também é verdade: tanto que seria muito possível que algum familiar telefonasse para você para contar que um esquilo morreu em seu jardim, mas dificilmente faria o mesmo para dizer que pessoas estão morrendo na África.

Permita-me colocar mais alguns ingredientes nesse caldeirão que estou cozinhando. Um jornal publica dezenas, centenas de notícias em um único dia. Um grande portal faz isso na casa das milhares, por conta de seus parceiros. Como cantaria Caetano, "quem lê tanta notícia?" Ninguém, nem o editor-chefe, consegue consumir tanta informação. Como me disse certa vez minha colega Maria Ercília, "as pessoas ainda precisam de alguém que lhes diga o que ler".

Tradicionalmente, esse papel tem sido dos editores, que funcionavam como uma janela para o mundo para seu público. Quanto melhor o editor, melhor essa janela. E quanto mais conhecido e homogêneo esse público, mais eficiente o resultado desse trabalho.

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Mas o que acontece quando o público é potencialmente o mundo todo? Ou menos que isso, mas nem por isso pouca gente: a penetração de um portal como a MSN, que, de uma forma ou de outra, é acessado por quase todos os internautas? Daí o editor se vê diante de um trabalho que é virtualmente impossível de ser realizado com a mesma qualidade. E a teoria de Pariser vai pro brejo por um motivo muito simples: o melhor editor do mundo jamais "acertará" com todo o seu público. Ele sempre oferecerá algo que não é importante nem relevante para muitas pessoas, enquanto deixará de promover algo importante, relevante ou não, para o mesmo grupo.

Vamos pegar um exemplo real, a parte superior da home page do Estadão agora:

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Marquei algumas chamadas em amarelo:

  • "Santos perde do Atlético-GO por 2 a 0"
  • "As incríveis histórias por trás da fila do teste de DNA no Imesc de SP"
  • "UNIÃO FORMALIZADA"
  • "LIVROS DE FINANÇAS PESSOAIS"
  • "Maior festival de cerveja do mundo"
  • "TV Estadão: arte urbana ao vivo, no Masp"

E alguns em veremelho:

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  • "Aposte já na turnê de João Gilberto"
  • "Aleksandr Rodchenko infantil"
  • "Pais e filhos do mundo da música"

O primeiro grupo são chamadas para conteúdos que me parecem pouco importantes ou pouco relevantes para mim; o segundo indica material que não me parece nem importante e nem relevante.

Entenda: não estou dizendo que o material em vermelho não tem valor. Muito pelo contrário! Tanto que foram selecionados pelo editor da home page. Mas eu poderia perfeitamente continuar vivendo sem saber disso. Melhor ainda: esse espaço nobre poderia estar promovendo coisas importantes ou que eu considero relevantes do próprio Estadão. Por exemplo, as recém-descobertas frases escritas por operários nas paredes do edifício do Congresso Nacional, quando o estavam construindo, o mais recente artigo de Raquel Landim, ou a negativa do Facebook de que estaria repassando contatos a terceiros. Nenhum desses ótimos conteúdos estava promovido na home do Estadão.

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Portanto, muita calma antes de aplaudir Eli Pariser. A sua "bolha de filtro" pode ser tão importante para o desempenho do bom jornalismo, que arrisco dizer que o futuro dos veículos de comunicação depende do BOM uso dela, combinada com a edição humana. Existe verdade no que ele diz, mas ela deve ser apreciada com moderação. Ou talvez usando um bom filtro de relevância.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=FNcTztlaSyI]

O vídeo acima descreve as ideias de Eli Pariser, ativista digital americano, que vê riscos no conceito que ele batizou de "bolha de filtro". Resumidamente, ele critica algoritmos usados por sites como Google, Facebook e até alguns veículos de comunicação para exibir, a cada usuário, individualmente, conteúdos que estejam supostamente alinhados com coisas pelas quais demonstrou interesse no passado. Para Eli, isso é perigoso, pois as pessoas progressivamente deixariam de acessar conteúdo que lhes seria importante, apesar de "desalinhado com o seu perfil".

No vídeo, ele usa uma infeliz declaração de Mark Zuckerberg que, com sua tradicional sutileza paquidérmica, sugere que "um esquilo morrendo na frente da sua casa pode ser mais relevante para seus interesses agora que as pessoas morrendo na África". A partir dela, Pariser desfia a sua teoria.

Devo dizer que ela é muito boa e bem construída. Mais que isso: ela é completamente alinhada com um dos pilares do (bom) jornalismo, que é responsável não apenas pela informação do povo, mas pela sua formação, desempenhando um papel crítico para o desenvolvimento saudável de qualquer sociedade. Porém, tirando a insensibilidade demonstrada pelo fundador do Facebook com um dos maiores flagelos da humanidade, o que ele disse também é verdade: tanto que seria muito possível que algum familiar telefonasse para você para contar que um esquilo morreu em seu jardim, mas dificilmente faria o mesmo para dizer que pessoas estão morrendo na África.

Permita-me colocar mais alguns ingredientes nesse caldeirão que estou cozinhando. Um jornal publica dezenas, centenas de notícias em um único dia. Um grande portal faz isso na casa das milhares, por conta de seus parceiros. Como cantaria Caetano, "quem lê tanta notícia?" Ninguém, nem o editor-chefe, consegue consumir tanta informação. Como me disse certa vez minha colega Maria Ercília, "as pessoas ainda precisam de alguém que lhes diga o que ler".

Tradicionalmente, esse papel tem sido dos editores, que funcionavam como uma janela para o mundo para seu público. Quanto melhor o editor, melhor essa janela. E quanto mais conhecido e homogêneo esse público, mais eficiente o resultado desse trabalho.

Mas o que acontece quando o público é potencialmente o mundo todo? Ou menos que isso, mas nem por isso pouca gente: a penetração de um portal como a MSN, que, de uma forma ou de outra, é acessado por quase todos os internautas? Daí o editor se vê diante de um trabalho que é virtualmente impossível de ser realizado com a mesma qualidade. E a teoria de Pariser vai pro brejo por um motivo muito simples: o melhor editor do mundo jamais "acertará" com todo o seu público. Ele sempre oferecerá algo que não é importante nem relevante para muitas pessoas, enquanto deixará de promover algo importante, relevante ou não, para o mesmo grupo.

Vamos pegar um exemplo real, a parte superior da home page do Estadão agora:

Marquei algumas chamadas em amarelo:

  • "Santos perde do Atlético-GO por 2 a 0"
  • "As incríveis histórias por trás da fila do teste de DNA no Imesc de SP"
  • "UNIÃO FORMALIZADA"
  • "LIVROS DE FINANÇAS PESSOAIS"
  • "Maior festival de cerveja do mundo"
  • "TV Estadão: arte urbana ao vivo, no Masp"

E alguns em veremelho:

  • "Aposte já na turnê de João Gilberto"
  • "Aleksandr Rodchenko infantil"
  • "Pais e filhos do mundo da música"

O primeiro grupo são chamadas para conteúdos que me parecem pouco importantes ou pouco relevantes para mim; o segundo indica material que não me parece nem importante e nem relevante.

Entenda: não estou dizendo que o material em vermelho não tem valor. Muito pelo contrário! Tanto que foram selecionados pelo editor da home page. Mas eu poderia perfeitamente continuar vivendo sem saber disso. Melhor ainda: esse espaço nobre poderia estar promovendo coisas importantes ou que eu considero relevantes do próprio Estadão. Por exemplo, as recém-descobertas frases escritas por operários nas paredes do edifício do Congresso Nacional, quando o estavam construindo, o mais recente artigo de Raquel Landim, ou a negativa do Facebook de que estaria repassando contatos a terceiros. Nenhum desses ótimos conteúdos estava promovido na home do Estadão.

Portanto, muita calma antes de aplaudir Eli Pariser. A sua "bolha de filtro" pode ser tão importante para o desempenho do bom jornalismo, que arrisco dizer que o futuro dos veículos de comunicação depende do BOM uso dela, combinada com a edição humana. Existe verdade no que ele diz, mas ela deve ser apreciada com moderação. Ou talvez usando um bom filtro de relevância.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=FNcTztlaSyI]

O vídeo acima descreve as ideias de Eli Pariser, ativista digital americano, que vê riscos no conceito que ele batizou de "bolha de filtro". Resumidamente, ele critica algoritmos usados por sites como Google, Facebook e até alguns veículos de comunicação para exibir, a cada usuário, individualmente, conteúdos que estejam supostamente alinhados com coisas pelas quais demonstrou interesse no passado. Para Eli, isso é perigoso, pois as pessoas progressivamente deixariam de acessar conteúdo que lhes seria importante, apesar de "desalinhado com o seu perfil".

No vídeo, ele usa uma infeliz declaração de Mark Zuckerberg que, com sua tradicional sutileza paquidérmica, sugere que "um esquilo morrendo na frente da sua casa pode ser mais relevante para seus interesses agora que as pessoas morrendo na África". A partir dela, Pariser desfia a sua teoria.

Devo dizer que ela é muito boa e bem construída. Mais que isso: ela é completamente alinhada com um dos pilares do (bom) jornalismo, que é responsável não apenas pela informação do povo, mas pela sua formação, desempenhando um papel crítico para o desenvolvimento saudável de qualquer sociedade. Porém, tirando a insensibilidade demonstrada pelo fundador do Facebook com um dos maiores flagelos da humanidade, o que ele disse também é verdade: tanto que seria muito possível que algum familiar telefonasse para você para contar que um esquilo morreu em seu jardim, mas dificilmente faria o mesmo para dizer que pessoas estão morrendo na África.

Permita-me colocar mais alguns ingredientes nesse caldeirão que estou cozinhando. Um jornal publica dezenas, centenas de notícias em um único dia. Um grande portal faz isso na casa das milhares, por conta de seus parceiros. Como cantaria Caetano, "quem lê tanta notícia?" Ninguém, nem o editor-chefe, consegue consumir tanta informação. Como me disse certa vez minha colega Maria Ercília, "as pessoas ainda precisam de alguém que lhes diga o que ler".

Tradicionalmente, esse papel tem sido dos editores, que funcionavam como uma janela para o mundo para seu público. Quanto melhor o editor, melhor essa janela. E quanto mais conhecido e homogêneo esse público, mais eficiente o resultado desse trabalho.

Mas o que acontece quando o público é potencialmente o mundo todo? Ou menos que isso, mas nem por isso pouca gente: a penetração de um portal como a MSN, que, de uma forma ou de outra, é acessado por quase todos os internautas? Daí o editor se vê diante de um trabalho que é virtualmente impossível de ser realizado com a mesma qualidade. E a teoria de Pariser vai pro brejo por um motivo muito simples: o melhor editor do mundo jamais "acertará" com todo o seu público. Ele sempre oferecerá algo que não é importante nem relevante para muitas pessoas, enquanto deixará de promover algo importante, relevante ou não, para o mesmo grupo.

Vamos pegar um exemplo real, a parte superior da home page do Estadão agora:

Marquei algumas chamadas em amarelo:

  • "Santos perde do Atlético-GO por 2 a 0"
  • "As incríveis histórias por trás da fila do teste de DNA no Imesc de SP"
  • "UNIÃO FORMALIZADA"
  • "LIVROS DE FINANÇAS PESSOAIS"
  • "Maior festival de cerveja do mundo"
  • "TV Estadão: arte urbana ao vivo, no Masp"

E alguns em veremelho:

  • "Aposte já na turnê de João Gilberto"
  • "Aleksandr Rodchenko infantil"
  • "Pais e filhos do mundo da música"

O primeiro grupo são chamadas para conteúdos que me parecem pouco importantes ou pouco relevantes para mim; o segundo indica material que não me parece nem importante e nem relevante.

Entenda: não estou dizendo que o material em vermelho não tem valor. Muito pelo contrário! Tanto que foram selecionados pelo editor da home page. Mas eu poderia perfeitamente continuar vivendo sem saber disso. Melhor ainda: esse espaço nobre poderia estar promovendo coisas importantes ou que eu considero relevantes do próprio Estadão. Por exemplo, as recém-descobertas frases escritas por operários nas paredes do edifício do Congresso Nacional, quando o estavam construindo, o mais recente artigo de Raquel Landim, ou a negativa do Facebook de que estaria repassando contatos a terceiros. Nenhum desses ótimos conteúdos estava promovido na home do Estadão.

Portanto, muita calma antes de aplaudir Eli Pariser. A sua "bolha de filtro" pode ser tão importante para o desempenho do bom jornalismo, que arrisco dizer que o futuro dos veículos de comunicação depende do BOM uso dela, combinada com a edição humana. Existe verdade no que ele diz, mas ela deve ser apreciada com moderação. Ou talvez usando um bom filtro de relevância.

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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