Jornalismo, educação, tecnologia e as combinações disso tudo

Opinião|Com a inteligência artificial, desinformação ganha status de arma na guerra


Por Paulo Silvestre
O general e grande estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.) já sabia do poder da desinformação - Imagem: reprodução  

Depois do ataque terrorista na casa de espetáculos Crocus City Hall, na Grande Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, se apressou a dizer que "islamistas radicais a mando do governo ucraniano" foram os responsáveis pelo maior atentado na Rússia em 20 anos, que deixou 139 mortos e 182 feridos até o momento. Mas não há indícios de que a acusação tenha fundamento, sendo que a célula do grupo terrorista Estado Islâmico no Afeganistão já reivindicou a autoria do ataque.

Então por que Putin insiste nessa tese macabra?

continua após a publicidade

No jornalismo, dizemos que "a verdade é a primeira vítima em uma guerra". Isso é um fato desde sempre, mas, sob o manto das redes sociais, a desinformação ganhou status de uma poderosa arma.

A Rússia sempre foi eficientíssima nesse crime. Agora, com o apoio da inteligência artificial, as fake news se tornam ainda mais críveis.

Putin espalha mentiras sobre a Ucrânia desde antes de sua abominável e sangrenta invasão no vizinho, já no seu terceiro ano. O objetivo é legitimar suas intenções junto aos russos e a grupos da opinião pública internacional.

continua após a publicidade

O autocrata esperava que a invasão terminasse logo. Mas diante da resistência ucraniana e do apoio ocidental, suas mentiras ficaram ainda mais importantes para ele.

Além dos objetivos acima, Putin tenta plantar dúvidas na população e em políticos ocidentais, para que a ajuda a Kiev seja reduzida, e ele possa finalmente incorporar a Ucrânia ao território russo. Alguns congressistas americanos já acreditam nele.

continua após a publicidade

O general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), considerado um dos maiores estrategistas militares da história, já sabia do poder disso tudo. Em sua clássica obra "A Arte da Guerra", ele escreveu: "Toda guerra é baseada em dissimulação. Por isso, quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja grande desespero; quando perto, finja estar longe; quando longe, faça acreditar que está próximo."

De fato, enganar tropas ou populações (inimigas ou aliadas) rendeu grandes vitórias na história. Talvez o episódio a mais memorável seja o do Cavalo de Troia, que levou, em seu interior, soldados gregos para dentro das muralhas inimigas, encerrando a Guerra de Troia (século XII a.C.).

Em 1879, o marechal peruano Cáceres resistiu ao exército chileno vestindo rebanhos de lhamas com ponchos e chapéus, para que o inimigo achasse que suas tropas eram muito mais numerosas. No Brasil, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, soldados paulistas usaram o barulho de matracas para que as tropas federais pensassem que tinham muitas metralhadoras.

continua após a publicidade

O futuro dos conflitos pode ser uma combinação de desinformação com invasão de sistemas digitais. O filme "O Mundo Depois de Nós" (2023, Netflix) usa a ficção para ilustrar essa tese. Na história, todos os sistemas dos EUA são desabilitados ou controlados por um invasor desconhecido. O filme termina como começa: sem que ninguém saiba o que ou por que aquilo está acontecendo. E isso é suficiente para colocar a maior potência do mundo de joelhos em poucos dias.

A chance de algo assim acontecer hoje é virtualmente nula. Mas a inteligência artificial já se tornou uma ferramenta de generais, em suas estratégias, e da indústria, que cria armas capazes de executar suas ações se intervenção humana. Isso abre sérias questões éticas: afinal, uma máquina pode decidir sobre a vida ou a morte de pessoas, e ainda executar ações letais?

continua após a publicidade

De qualquer forma, isso ficaria pequeno diante de um ataque hacker massivo, que desabilitasse toda a infraestrutura e serviços essenciais de um país ao mesmo tempo, como naquele filme. E isso já aconteceu contra organizações pontuais, mesmo nos Estados Unidos.

Diante da nossa incapacidade de abandonar nosso instinto primitivo que nos leva a guerras, talvez seja hora de criar outra força armada, responsável pela guerra cibernética, abocanhando parte dos orçamentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Afinal, podemos estar rumando para uma guerra travada sem nenhum disparo, apenas com ataques digitais e disseminação de fake news, potencializados pela IA.

continua após a publicidade

Vídeo relacionado:

 

O general e grande estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.) já sabia do poder da desinformação - Imagem: reprodução  

Depois do ataque terrorista na casa de espetáculos Crocus City Hall, na Grande Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, se apressou a dizer que "islamistas radicais a mando do governo ucraniano" foram os responsáveis pelo maior atentado na Rússia em 20 anos, que deixou 139 mortos e 182 feridos até o momento. Mas não há indícios de que a acusação tenha fundamento, sendo que a célula do grupo terrorista Estado Islâmico no Afeganistão já reivindicou a autoria do ataque.

Então por que Putin insiste nessa tese macabra?

No jornalismo, dizemos que "a verdade é a primeira vítima em uma guerra". Isso é um fato desde sempre, mas, sob o manto das redes sociais, a desinformação ganhou status de uma poderosa arma.

A Rússia sempre foi eficientíssima nesse crime. Agora, com o apoio da inteligência artificial, as fake news se tornam ainda mais críveis.

Putin espalha mentiras sobre a Ucrânia desde antes de sua abominável e sangrenta invasão no vizinho, já no seu terceiro ano. O objetivo é legitimar suas intenções junto aos russos e a grupos da opinião pública internacional.

O autocrata esperava que a invasão terminasse logo. Mas diante da resistência ucraniana e do apoio ocidental, suas mentiras ficaram ainda mais importantes para ele.

Além dos objetivos acima, Putin tenta plantar dúvidas na população e em políticos ocidentais, para que a ajuda a Kiev seja reduzida, e ele possa finalmente incorporar a Ucrânia ao território russo. Alguns congressistas americanos já acreditam nele.

O general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), considerado um dos maiores estrategistas militares da história, já sabia do poder disso tudo. Em sua clássica obra "A Arte da Guerra", ele escreveu: "Toda guerra é baseada em dissimulação. Por isso, quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja grande desespero; quando perto, finja estar longe; quando longe, faça acreditar que está próximo."

De fato, enganar tropas ou populações (inimigas ou aliadas) rendeu grandes vitórias na história. Talvez o episódio a mais memorável seja o do Cavalo de Troia, que levou, em seu interior, soldados gregos para dentro das muralhas inimigas, encerrando a Guerra de Troia (século XII a.C.).

Em 1879, o marechal peruano Cáceres resistiu ao exército chileno vestindo rebanhos de lhamas com ponchos e chapéus, para que o inimigo achasse que suas tropas eram muito mais numerosas. No Brasil, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, soldados paulistas usaram o barulho de matracas para que as tropas federais pensassem que tinham muitas metralhadoras.

O futuro dos conflitos pode ser uma combinação de desinformação com invasão de sistemas digitais. O filme "O Mundo Depois de Nós" (2023, Netflix) usa a ficção para ilustrar essa tese. Na história, todos os sistemas dos EUA são desabilitados ou controlados por um invasor desconhecido. O filme termina como começa: sem que ninguém saiba o que ou por que aquilo está acontecendo. E isso é suficiente para colocar a maior potência do mundo de joelhos em poucos dias.

A chance de algo assim acontecer hoje é virtualmente nula. Mas a inteligência artificial já se tornou uma ferramenta de generais, em suas estratégias, e da indústria, que cria armas capazes de executar suas ações se intervenção humana. Isso abre sérias questões éticas: afinal, uma máquina pode decidir sobre a vida ou a morte de pessoas, e ainda executar ações letais?

De qualquer forma, isso ficaria pequeno diante de um ataque hacker massivo, que desabilitasse toda a infraestrutura e serviços essenciais de um país ao mesmo tempo, como naquele filme. E isso já aconteceu contra organizações pontuais, mesmo nos Estados Unidos.

Diante da nossa incapacidade de abandonar nosso instinto primitivo que nos leva a guerras, talvez seja hora de criar outra força armada, responsável pela guerra cibernética, abocanhando parte dos orçamentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Afinal, podemos estar rumando para uma guerra travada sem nenhum disparo, apenas com ataques digitais e disseminação de fake news, potencializados pela IA.

Vídeo relacionado:

 

O general e grande estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.) já sabia do poder da desinformação - Imagem: reprodução  

Depois do ataque terrorista na casa de espetáculos Crocus City Hall, na Grande Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, se apressou a dizer que "islamistas radicais a mando do governo ucraniano" foram os responsáveis pelo maior atentado na Rússia em 20 anos, que deixou 139 mortos e 182 feridos até o momento. Mas não há indícios de que a acusação tenha fundamento, sendo que a célula do grupo terrorista Estado Islâmico no Afeganistão já reivindicou a autoria do ataque.

Então por que Putin insiste nessa tese macabra?

No jornalismo, dizemos que "a verdade é a primeira vítima em uma guerra". Isso é um fato desde sempre, mas, sob o manto das redes sociais, a desinformação ganhou status de uma poderosa arma.

A Rússia sempre foi eficientíssima nesse crime. Agora, com o apoio da inteligência artificial, as fake news se tornam ainda mais críveis.

Putin espalha mentiras sobre a Ucrânia desde antes de sua abominável e sangrenta invasão no vizinho, já no seu terceiro ano. O objetivo é legitimar suas intenções junto aos russos e a grupos da opinião pública internacional.

O autocrata esperava que a invasão terminasse logo. Mas diante da resistência ucraniana e do apoio ocidental, suas mentiras ficaram ainda mais importantes para ele.

Além dos objetivos acima, Putin tenta plantar dúvidas na população e em políticos ocidentais, para que a ajuda a Kiev seja reduzida, e ele possa finalmente incorporar a Ucrânia ao território russo. Alguns congressistas americanos já acreditam nele.

O general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), considerado um dos maiores estrategistas militares da história, já sabia do poder disso tudo. Em sua clássica obra "A Arte da Guerra", ele escreveu: "Toda guerra é baseada em dissimulação. Por isso, quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja grande desespero; quando perto, finja estar longe; quando longe, faça acreditar que está próximo."

De fato, enganar tropas ou populações (inimigas ou aliadas) rendeu grandes vitórias na história. Talvez o episódio a mais memorável seja o do Cavalo de Troia, que levou, em seu interior, soldados gregos para dentro das muralhas inimigas, encerrando a Guerra de Troia (século XII a.C.).

Em 1879, o marechal peruano Cáceres resistiu ao exército chileno vestindo rebanhos de lhamas com ponchos e chapéus, para que o inimigo achasse que suas tropas eram muito mais numerosas. No Brasil, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, soldados paulistas usaram o barulho de matracas para que as tropas federais pensassem que tinham muitas metralhadoras.

O futuro dos conflitos pode ser uma combinação de desinformação com invasão de sistemas digitais. O filme "O Mundo Depois de Nós" (2023, Netflix) usa a ficção para ilustrar essa tese. Na história, todos os sistemas dos EUA são desabilitados ou controlados por um invasor desconhecido. O filme termina como começa: sem que ninguém saiba o que ou por que aquilo está acontecendo. E isso é suficiente para colocar a maior potência do mundo de joelhos em poucos dias.

A chance de algo assim acontecer hoje é virtualmente nula. Mas a inteligência artificial já se tornou uma ferramenta de generais, em suas estratégias, e da indústria, que cria armas capazes de executar suas ações se intervenção humana. Isso abre sérias questões éticas: afinal, uma máquina pode decidir sobre a vida ou a morte de pessoas, e ainda executar ações letais?

De qualquer forma, isso ficaria pequeno diante de um ataque hacker massivo, que desabilitasse toda a infraestrutura e serviços essenciais de um país ao mesmo tempo, como naquele filme. E isso já aconteceu contra organizações pontuais, mesmo nos Estados Unidos.

Diante da nossa incapacidade de abandonar nosso instinto primitivo que nos leva a guerras, talvez seja hora de criar outra força armada, responsável pela guerra cibernética, abocanhando parte dos orçamentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Afinal, podemos estar rumando para uma guerra travada sem nenhum disparo, apenas com ataques digitais e disseminação de fake news, potencializados pela IA.

Vídeo relacionado:

 

O general e grande estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.) já sabia do poder da desinformação - Imagem: reprodução  

Depois do ataque terrorista na casa de espetáculos Crocus City Hall, na Grande Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, se apressou a dizer que "islamistas radicais a mando do governo ucraniano" foram os responsáveis pelo maior atentado na Rússia em 20 anos, que deixou 139 mortos e 182 feridos até o momento. Mas não há indícios de que a acusação tenha fundamento, sendo que a célula do grupo terrorista Estado Islâmico no Afeganistão já reivindicou a autoria do ataque.

Então por que Putin insiste nessa tese macabra?

No jornalismo, dizemos que "a verdade é a primeira vítima em uma guerra". Isso é um fato desde sempre, mas, sob o manto das redes sociais, a desinformação ganhou status de uma poderosa arma.

A Rússia sempre foi eficientíssima nesse crime. Agora, com o apoio da inteligência artificial, as fake news se tornam ainda mais críveis.

Putin espalha mentiras sobre a Ucrânia desde antes de sua abominável e sangrenta invasão no vizinho, já no seu terceiro ano. O objetivo é legitimar suas intenções junto aos russos e a grupos da opinião pública internacional.

O autocrata esperava que a invasão terminasse logo. Mas diante da resistência ucraniana e do apoio ocidental, suas mentiras ficaram ainda mais importantes para ele.

Além dos objetivos acima, Putin tenta plantar dúvidas na população e em políticos ocidentais, para que a ajuda a Kiev seja reduzida, e ele possa finalmente incorporar a Ucrânia ao território russo. Alguns congressistas americanos já acreditam nele.

O general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), considerado um dos maiores estrategistas militares da história, já sabia do poder disso tudo. Em sua clássica obra "A Arte da Guerra", ele escreveu: "Toda guerra é baseada em dissimulação. Por isso, quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja grande desespero; quando perto, finja estar longe; quando longe, faça acreditar que está próximo."

De fato, enganar tropas ou populações (inimigas ou aliadas) rendeu grandes vitórias na história. Talvez o episódio a mais memorável seja o do Cavalo de Troia, que levou, em seu interior, soldados gregos para dentro das muralhas inimigas, encerrando a Guerra de Troia (século XII a.C.).

Em 1879, o marechal peruano Cáceres resistiu ao exército chileno vestindo rebanhos de lhamas com ponchos e chapéus, para que o inimigo achasse que suas tropas eram muito mais numerosas. No Brasil, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, soldados paulistas usaram o barulho de matracas para que as tropas federais pensassem que tinham muitas metralhadoras.

O futuro dos conflitos pode ser uma combinação de desinformação com invasão de sistemas digitais. O filme "O Mundo Depois de Nós" (2023, Netflix) usa a ficção para ilustrar essa tese. Na história, todos os sistemas dos EUA são desabilitados ou controlados por um invasor desconhecido. O filme termina como começa: sem que ninguém saiba o que ou por que aquilo está acontecendo. E isso é suficiente para colocar a maior potência do mundo de joelhos em poucos dias.

A chance de algo assim acontecer hoje é virtualmente nula. Mas a inteligência artificial já se tornou uma ferramenta de generais, em suas estratégias, e da indústria, que cria armas capazes de executar suas ações se intervenção humana. Isso abre sérias questões éticas: afinal, uma máquina pode decidir sobre a vida ou a morte de pessoas, e ainda executar ações letais?

De qualquer forma, isso ficaria pequeno diante de um ataque hacker massivo, que desabilitasse toda a infraestrutura e serviços essenciais de um país ao mesmo tempo, como naquele filme. E isso já aconteceu contra organizações pontuais, mesmo nos Estados Unidos.

Diante da nossa incapacidade de abandonar nosso instinto primitivo que nos leva a guerras, talvez seja hora de criar outra força armada, responsável pela guerra cibernética, abocanhando parte dos orçamentos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Afinal, podemos estar rumando para uma guerra travada sem nenhum disparo, apenas com ataques digitais e disseminação de fake news, potencializados pela IA.

Vídeo relacionado:

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.