Mais tiroteio, mais chacina: zona oeste do Rio vê intensificação de disputa entre facções e milícias


Região concentra registros de troca de tiros e viu número de homicídios saltar em relação ao ano passado. Nova dinâmica entre grupos criminosos pode explicar violência em área onde médicos foram assassinados

Por Marcio Dolzan

O assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na semana passada, evidenciou a escalada da violência vista na zona oeste do Rio. A polícia acredita que os profissionais foram vitimados por engano em meio a uma disputa entre traficantes e milicianos na região, onde saltaram os registros de troca de tiros, chacinas e homicídios ao longo deste ano.

Em janeiro, confrontos entre grupos rivais levaram pânico a moradores da Muzema, Gardênia Azul e Cidade de Deus. Foram mais de dez dias ininterruptos de tiroteios entre milicianos e traficantes. Dois meses mais tarde, quatro pessoas foram mortas a tiros de fuzil em frente a uma padaria no Anil, que fica na mesma região. Um dos mortos era suspeito de chefiar uma milícia.

Dados compilados pelo Instituto Fogo Cruzado mostram que, até a semana passada, o número de tiroteios na zona oeste aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado. O instituto registrou ao menos 693 trocas de tiros, ante 448 nos dez primeiros meses de 2022. Em comparação, a zona sul carioca teve 44 tiroteios este ano, e a região central, 69. Além disso, com a morte dos médicos a zona oeste fluminense chegou a 13 chacinas apenas este ano.

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O Instituto de Segurança Pública (ISP) registra um crescimento de 150% no número de homicídios dolosos na região que engloba a Barra da Tijuca. Entre janeiro e agosto deste ano - último mês disponível - o total de homicídios saltou de 24 para 60, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio, Carlos Nhanga afirma que o atentado no quiosque não é um caso isolado. “Sozinha, a zona oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos”, ressalta.

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O aumento da violência está diretamente ligado a uma disputa entre diferentes grupos milicianos, mas que desta vez traz um componente novo: uma aliança com o Comando Vermelho, principal facção carioca.

“Foi uma novidade muito surpreendente. Historicamente, o Comando Vermelho (CV) sempre teve uma postura mais de confronto”, explica Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ela diz que alianças entre milícias e facções que atuam no tráfico de drogas já existem, sobretudo com o Terceiro Comando Puro (TCP). O caso envolvendo o CV, contudo, é inédito.

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“No contexto relacionado a esse homicídio dos médicos, você tem em jogo a comunidade da Gardênia Azul, que tradicionalmente foi espaço ocupado pela milícia e que recentemente se aliou ao Comando Vermelho. Aquela milícia está em conflito aberto com a milícia que atua na Muzema e em Rio das Pedras”, diz Carolina.

Todas as comunidades citadas pela pesquisadora ficam na zona oeste do Rio. A Gardênia Azul fica ao lado da Cidade de Deus, favela que é reduto do Comando Vermelho. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) também indicam um aumento de violência na região.

Atentado em área nobre

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Chamou a atenção o fato de os médicos terem sido assassinados na orla da Barra da Tijuca, uma área nobre da cidade. Segundo a coordenadora do Geni, contudo, isso não é tão incomum.

Médicos foram assassinados em na orla da Barra da Tijuca, região nobre do Rio Foto: PEDRO KIRILOS

“A praia da Barra é endereço nobre, mas está muito próxima de áreas dominadas pelo tráfico e por milicianos”, lembra Carolina Grillo. O quiosque onde os médicos foram mortos fica a pouco mais de dez quilômetros da Cidade de Deus ou da Gardênia Azul.

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Conforme informações da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, quarto profissional foi socorrido para uma unidade de saúde da região

Levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que as estatísticas também traduzem essa violência nas áreas nobres da capital fluminense. A Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca somou entre janeiro e agosto deste ano 22 homicídios, ante 8 em 2022 (aumento de 175%).

“E esse tipo de atuação, de assassinatos contra rivais, é algo que sempre ocorreu. Acontece muito, por exemplo, com morador de uma favela que vai visitar parentes em outra e acaba sendo identificado por traficantes de lá como sendo de uma área rival. Sempre houve vítimas inocentes”, ressalta a pesquisadora.

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Assassinato amplia crise de segurança

O Estadão mostrou que o assassinato de três médicos na semana passada ampliou a crise de segurança vivida pelo Estado.

Um exemplo recente de que a violência também parte da polícia no Rio foi o caso da Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos, que morreu em setembro depois ser atingida por uma bala, na coluna e na nuca, disparada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela estava no carro junto com a sua família, que foi abordada pela PRF na rodovia que liga Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada Fluminense. Ele foi socorrida, ficou internada por nove dias, mas não resistiu.

Segundo a ONG Rio de Paz, Heloísa foi 11ª criança vítima de bala perdida no Rio de Janeiro, quase o triplo de casos registrados no ano passado, quando foram contabilizadas quatro vítimas, segundo a organização. A ong acompanha os casos de crianças mortas por armas de fogo, em operações policiais, nas favelas do Rio desde 2007.

Em agosto, Eloah Passos, de 5 anos, morreu depois de ser atingida por uma bala quando estava dentro de casa, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em caso que contou com a manifestação de indignação do presidente Lula. No mesmo dia e local, um jovem de 17 anos foi atingido durante uma abordagem policial e morreu depois de ser socorrido. A polícia disse que o garoto teria reagido à abordagem da PM e estava armado, o que foi contestado por testemunhas.

“Temos um conflito armado que vitima pessoas todos os dias no Rio de Janeiro. A questão principal é que essas vítimas normalmente residem em favelas, conjuntos habitacionais, em periferias urbanas e, em sua maioria, são negras e jovens, mas não ganha tanta repercussão como quando pessoas mais abastadas sofrem esse tipo de violência”, disse na oportunidade o sociólogo Daniel Hirata, professor e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A escalada de criminalidade levou o governador Claudio Castro (PL) pedir ao Governo Federal o envio de 300 agentes da Força Nacional para auxiliar a polícia do Rio de Janeiro no combate ao crime organizado, em especial no complexo de favelas da Maré, na zona norte. A solicitação foi atendida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Flávio Dino.

Alta reflete ‘disputas territoriais entre grupos rivais’, diz polícia; corporação diz adotar ações conjuntas

O Estadão pediu posicionamento ao governo do Estado. Em nota encaminhada pela Polícia Militar, a corporação informou que considera apenas os dados oficiais, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, que apontam que “desde 2017 a corporação vem reduzindo os índices de letalidade em todo o território fluminense”.

“O aumento detectado nos dados relativos à letalidade nos últimos meses está diretamente ligado às disputas territoriais entre grupos criminosos rivais, principalmente na zona oeste da cidade do Rio. Nesse contexto, a corporação destaca as incessantes ações conjuntas com a Secretaria de Estado de Polícia Civil para estabilizar as localidades, assim como para localizar e retirar de circulação os marginais envolvidos em tais mobilizações”, diz o texto.

“O saldo operacional da Polícia Militar revela o grau de complexidade enfrentado diariamente pelos policiais militares. Somente no ano de 2023, a corporação prendeu mais de 25 mil criminosos, apreendeu mais de 3.200 adolescentes envolvidos com a criminalidade, e retirou das ruas mais de 4.700 armas de fogo, entre as quais 396 fuzis idênticos aos utilizados em guerras convencionais”, sustenta a PM fluminense.

O assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na semana passada, evidenciou a escalada da violência vista na zona oeste do Rio. A polícia acredita que os profissionais foram vitimados por engano em meio a uma disputa entre traficantes e milicianos na região, onde saltaram os registros de troca de tiros, chacinas e homicídios ao longo deste ano.

Em janeiro, confrontos entre grupos rivais levaram pânico a moradores da Muzema, Gardênia Azul e Cidade de Deus. Foram mais de dez dias ininterruptos de tiroteios entre milicianos e traficantes. Dois meses mais tarde, quatro pessoas foram mortas a tiros de fuzil em frente a uma padaria no Anil, que fica na mesma região. Um dos mortos era suspeito de chefiar uma milícia.

Dados compilados pelo Instituto Fogo Cruzado mostram que, até a semana passada, o número de tiroteios na zona oeste aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado. O instituto registrou ao menos 693 trocas de tiros, ante 448 nos dez primeiros meses de 2022. Em comparação, a zona sul carioca teve 44 tiroteios este ano, e a região central, 69. Além disso, com a morte dos médicos a zona oeste fluminense chegou a 13 chacinas apenas este ano.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) registra um crescimento de 150% no número de homicídios dolosos na região que engloba a Barra da Tijuca. Entre janeiro e agosto deste ano - último mês disponível - o total de homicídios saltou de 24 para 60, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio, Carlos Nhanga afirma que o atentado no quiosque não é um caso isolado. “Sozinha, a zona oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos”, ressalta.

O aumento da violência está diretamente ligado a uma disputa entre diferentes grupos milicianos, mas que desta vez traz um componente novo: uma aliança com o Comando Vermelho, principal facção carioca.

“Foi uma novidade muito surpreendente. Historicamente, o Comando Vermelho (CV) sempre teve uma postura mais de confronto”, explica Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ela diz que alianças entre milícias e facções que atuam no tráfico de drogas já existem, sobretudo com o Terceiro Comando Puro (TCP). O caso envolvendo o CV, contudo, é inédito.

“No contexto relacionado a esse homicídio dos médicos, você tem em jogo a comunidade da Gardênia Azul, que tradicionalmente foi espaço ocupado pela milícia e que recentemente se aliou ao Comando Vermelho. Aquela milícia está em conflito aberto com a milícia que atua na Muzema e em Rio das Pedras”, diz Carolina.

Todas as comunidades citadas pela pesquisadora ficam na zona oeste do Rio. A Gardênia Azul fica ao lado da Cidade de Deus, favela que é reduto do Comando Vermelho. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) também indicam um aumento de violência na região.

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Chamou a atenção o fato de os médicos terem sido assassinados na orla da Barra da Tijuca, uma área nobre da cidade. Segundo a coordenadora do Geni, contudo, isso não é tão incomum.

Médicos foram assassinados em na orla da Barra da Tijuca, região nobre do Rio Foto: PEDRO KIRILOS

“A praia da Barra é endereço nobre, mas está muito próxima de áreas dominadas pelo tráfico e por milicianos”, lembra Carolina Grillo. O quiosque onde os médicos foram mortos fica a pouco mais de dez quilômetros da Cidade de Deus ou da Gardênia Azul.

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Levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que as estatísticas também traduzem essa violência nas áreas nobres da capital fluminense. A Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca somou entre janeiro e agosto deste ano 22 homicídios, ante 8 em 2022 (aumento de 175%).

“E esse tipo de atuação, de assassinatos contra rivais, é algo que sempre ocorreu. Acontece muito, por exemplo, com morador de uma favela que vai visitar parentes em outra e acaba sendo identificado por traficantes de lá como sendo de uma área rival. Sempre houve vítimas inocentes”, ressalta a pesquisadora.

Assassinato amplia crise de segurança

O Estadão mostrou que o assassinato de três médicos na semana passada ampliou a crise de segurança vivida pelo Estado.

Um exemplo recente de que a violência também parte da polícia no Rio foi o caso da Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos, que morreu em setembro depois ser atingida por uma bala, na coluna e na nuca, disparada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela estava no carro junto com a sua família, que foi abordada pela PRF na rodovia que liga Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada Fluminense. Ele foi socorrida, ficou internada por nove dias, mas não resistiu.

Segundo a ONG Rio de Paz, Heloísa foi 11ª criança vítima de bala perdida no Rio de Janeiro, quase o triplo de casos registrados no ano passado, quando foram contabilizadas quatro vítimas, segundo a organização. A ong acompanha os casos de crianças mortas por armas de fogo, em operações policiais, nas favelas do Rio desde 2007.

Em agosto, Eloah Passos, de 5 anos, morreu depois de ser atingida por uma bala quando estava dentro de casa, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em caso que contou com a manifestação de indignação do presidente Lula. No mesmo dia e local, um jovem de 17 anos foi atingido durante uma abordagem policial e morreu depois de ser socorrido. A polícia disse que o garoto teria reagido à abordagem da PM e estava armado, o que foi contestado por testemunhas.

“Temos um conflito armado que vitima pessoas todos os dias no Rio de Janeiro. A questão principal é que essas vítimas normalmente residem em favelas, conjuntos habitacionais, em periferias urbanas e, em sua maioria, são negras e jovens, mas não ganha tanta repercussão como quando pessoas mais abastadas sofrem esse tipo de violência”, disse na oportunidade o sociólogo Daniel Hirata, professor e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A escalada de criminalidade levou o governador Claudio Castro (PL) pedir ao Governo Federal o envio de 300 agentes da Força Nacional para auxiliar a polícia do Rio de Janeiro no combate ao crime organizado, em especial no complexo de favelas da Maré, na zona norte. A solicitação foi atendida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Flávio Dino.

Alta reflete ‘disputas territoriais entre grupos rivais’, diz polícia; corporação diz adotar ações conjuntas

O Estadão pediu posicionamento ao governo do Estado. Em nota encaminhada pela Polícia Militar, a corporação informou que considera apenas os dados oficiais, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, que apontam que “desde 2017 a corporação vem reduzindo os índices de letalidade em todo o território fluminense”.

“O aumento detectado nos dados relativos à letalidade nos últimos meses está diretamente ligado às disputas territoriais entre grupos criminosos rivais, principalmente na zona oeste da cidade do Rio. Nesse contexto, a corporação destaca as incessantes ações conjuntas com a Secretaria de Estado de Polícia Civil para estabilizar as localidades, assim como para localizar e retirar de circulação os marginais envolvidos em tais mobilizações”, diz o texto.

“O saldo operacional da Polícia Militar revela o grau de complexidade enfrentado diariamente pelos policiais militares. Somente no ano de 2023, a corporação prendeu mais de 25 mil criminosos, apreendeu mais de 3.200 adolescentes envolvidos com a criminalidade, e retirou das ruas mais de 4.700 armas de fogo, entre as quais 396 fuzis idênticos aos utilizados em guerras convencionais”, sustenta a PM fluminense.

O assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na semana passada, evidenciou a escalada da violência vista na zona oeste do Rio. A polícia acredita que os profissionais foram vitimados por engano em meio a uma disputa entre traficantes e milicianos na região, onde saltaram os registros de troca de tiros, chacinas e homicídios ao longo deste ano.

Em janeiro, confrontos entre grupos rivais levaram pânico a moradores da Muzema, Gardênia Azul e Cidade de Deus. Foram mais de dez dias ininterruptos de tiroteios entre milicianos e traficantes. Dois meses mais tarde, quatro pessoas foram mortas a tiros de fuzil em frente a uma padaria no Anil, que fica na mesma região. Um dos mortos era suspeito de chefiar uma milícia.

Dados compilados pelo Instituto Fogo Cruzado mostram que, até a semana passada, o número de tiroteios na zona oeste aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado. O instituto registrou ao menos 693 trocas de tiros, ante 448 nos dez primeiros meses de 2022. Em comparação, a zona sul carioca teve 44 tiroteios este ano, e a região central, 69. Além disso, com a morte dos médicos a zona oeste fluminense chegou a 13 chacinas apenas este ano.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) registra um crescimento de 150% no número de homicídios dolosos na região que engloba a Barra da Tijuca. Entre janeiro e agosto deste ano - último mês disponível - o total de homicídios saltou de 24 para 60, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio, Carlos Nhanga afirma que o atentado no quiosque não é um caso isolado. “Sozinha, a zona oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos”, ressalta.

O aumento da violência está diretamente ligado a uma disputa entre diferentes grupos milicianos, mas que desta vez traz um componente novo: uma aliança com o Comando Vermelho, principal facção carioca.

“Foi uma novidade muito surpreendente. Historicamente, o Comando Vermelho (CV) sempre teve uma postura mais de confronto”, explica Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ela diz que alianças entre milícias e facções que atuam no tráfico de drogas já existem, sobretudo com o Terceiro Comando Puro (TCP). O caso envolvendo o CV, contudo, é inédito.

“No contexto relacionado a esse homicídio dos médicos, você tem em jogo a comunidade da Gardênia Azul, que tradicionalmente foi espaço ocupado pela milícia e que recentemente se aliou ao Comando Vermelho. Aquela milícia está em conflito aberto com a milícia que atua na Muzema e em Rio das Pedras”, diz Carolina.

Todas as comunidades citadas pela pesquisadora ficam na zona oeste do Rio. A Gardênia Azul fica ao lado da Cidade de Deus, favela que é reduto do Comando Vermelho. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) também indicam um aumento de violência na região.

Atentado em área nobre

Chamou a atenção o fato de os médicos terem sido assassinados na orla da Barra da Tijuca, uma área nobre da cidade. Segundo a coordenadora do Geni, contudo, isso não é tão incomum.

Médicos foram assassinados em na orla da Barra da Tijuca, região nobre do Rio Foto: PEDRO KIRILOS

“A praia da Barra é endereço nobre, mas está muito próxima de áreas dominadas pelo tráfico e por milicianos”, lembra Carolina Grillo. O quiosque onde os médicos foram mortos fica a pouco mais de dez quilômetros da Cidade de Deus ou da Gardênia Azul.

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Conforme informações da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, quarto profissional foi socorrido para uma unidade de saúde da região

Levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que as estatísticas também traduzem essa violência nas áreas nobres da capital fluminense. A Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca somou entre janeiro e agosto deste ano 22 homicídios, ante 8 em 2022 (aumento de 175%).

“E esse tipo de atuação, de assassinatos contra rivais, é algo que sempre ocorreu. Acontece muito, por exemplo, com morador de uma favela que vai visitar parentes em outra e acaba sendo identificado por traficantes de lá como sendo de uma área rival. Sempre houve vítimas inocentes”, ressalta a pesquisadora.

Assassinato amplia crise de segurança

O Estadão mostrou que o assassinato de três médicos na semana passada ampliou a crise de segurança vivida pelo Estado.

Um exemplo recente de que a violência também parte da polícia no Rio foi o caso da Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos, que morreu em setembro depois ser atingida por uma bala, na coluna e na nuca, disparada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela estava no carro junto com a sua família, que foi abordada pela PRF na rodovia que liga Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada Fluminense. Ele foi socorrida, ficou internada por nove dias, mas não resistiu.

Segundo a ONG Rio de Paz, Heloísa foi 11ª criança vítima de bala perdida no Rio de Janeiro, quase o triplo de casos registrados no ano passado, quando foram contabilizadas quatro vítimas, segundo a organização. A ong acompanha os casos de crianças mortas por armas de fogo, em operações policiais, nas favelas do Rio desde 2007.

Em agosto, Eloah Passos, de 5 anos, morreu depois de ser atingida por uma bala quando estava dentro de casa, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em caso que contou com a manifestação de indignação do presidente Lula. No mesmo dia e local, um jovem de 17 anos foi atingido durante uma abordagem policial e morreu depois de ser socorrido. A polícia disse que o garoto teria reagido à abordagem da PM e estava armado, o que foi contestado por testemunhas.

“Temos um conflito armado que vitima pessoas todos os dias no Rio de Janeiro. A questão principal é que essas vítimas normalmente residem em favelas, conjuntos habitacionais, em periferias urbanas e, em sua maioria, são negras e jovens, mas não ganha tanta repercussão como quando pessoas mais abastadas sofrem esse tipo de violência”, disse na oportunidade o sociólogo Daniel Hirata, professor e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A escalada de criminalidade levou o governador Claudio Castro (PL) pedir ao Governo Federal o envio de 300 agentes da Força Nacional para auxiliar a polícia do Rio de Janeiro no combate ao crime organizado, em especial no complexo de favelas da Maré, na zona norte. A solicitação foi atendida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Flávio Dino.

Alta reflete ‘disputas territoriais entre grupos rivais’, diz polícia; corporação diz adotar ações conjuntas

O Estadão pediu posicionamento ao governo do Estado. Em nota encaminhada pela Polícia Militar, a corporação informou que considera apenas os dados oficiais, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, que apontam que “desde 2017 a corporação vem reduzindo os índices de letalidade em todo o território fluminense”.

“O aumento detectado nos dados relativos à letalidade nos últimos meses está diretamente ligado às disputas territoriais entre grupos criminosos rivais, principalmente na zona oeste da cidade do Rio. Nesse contexto, a corporação destaca as incessantes ações conjuntas com a Secretaria de Estado de Polícia Civil para estabilizar as localidades, assim como para localizar e retirar de circulação os marginais envolvidos em tais mobilizações”, diz o texto.

“O saldo operacional da Polícia Militar revela o grau de complexidade enfrentado diariamente pelos policiais militares. Somente no ano de 2023, a corporação prendeu mais de 25 mil criminosos, apreendeu mais de 3.200 adolescentes envolvidos com a criminalidade, e retirou das ruas mais de 4.700 armas de fogo, entre as quais 396 fuzis idênticos aos utilizados em guerras convencionais”, sustenta a PM fluminense.

O assassinato de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, na semana passada, evidenciou a escalada da violência vista na zona oeste do Rio. A polícia acredita que os profissionais foram vitimados por engano em meio a uma disputa entre traficantes e milicianos na região, onde saltaram os registros de troca de tiros, chacinas e homicídios ao longo deste ano.

Em janeiro, confrontos entre grupos rivais levaram pânico a moradores da Muzema, Gardênia Azul e Cidade de Deus. Foram mais de dez dias ininterruptos de tiroteios entre milicianos e traficantes. Dois meses mais tarde, quatro pessoas foram mortas a tiros de fuzil em frente a uma padaria no Anil, que fica na mesma região. Um dos mortos era suspeito de chefiar uma milícia.

Dados compilados pelo Instituto Fogo Cruzado mostram que, até a semana passada, o número de tiroteios na zona oeste aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado. O instituto registrou ao menos 693 trocas de tiros, ante 448 nos dez primeiros meses de 2022. Em comparação, a zona sul carioca teve 44 tiroteios este ano, e a região central, 69. Além disso, com a morte dos médicos a zona oeste fluminense chegou a 13 chacinas apenas este ano.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) registra um crescimento de 150% no número de homicídios dolosos na região que engloba a Barra da Tijuca. Entre janeiro e agosto deste ano - último mês disponível - o total de homicídios saltou de 24 para 60, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio, Carlos Nhanga afirma que o atentado no quiosque não é um caso isolado. “Sozinha, a zona oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos”, ressalta.

O aumento da violência está diretamente ligado a uma disputa entre diferentes grupos milicianos, mas que desta vez traz um componente novo: uma aliança com o Comando Vermelho, principal facção carioca.

“Foi uma novidade muito surpreendente. Historicamente, o Comando Vermelho (CV) sempre teve uma postura mais de confronto”, explica Carolina Grillo, coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ela diz que alianças entre milícias e facções que atuam no tráfico de drogas já existem, sobretudo com o Terceiro Comando Puro (TCP). O caso envolvendo o CV, contudo, é inédito.

“No contexto relacionado a esse homicídio dos médicos, você tem em jogo a comunidade da Gardênia Azul, que tradicionalmente foi espaço ocupado pela milícia e que recentemente se aliou ao Comando Vermelho. Aquela milícia está em conflito aberto com a milícia que atua na Muzema e em Rio das Pedras”, diz Carolina.

Todas as comunidades citadas pela pesquisadora ficam na zona oeste do Rio. A Gardênia Azul fica ao lado da Cidade de Deus, favela que é reduto do Comando Vermelho. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) também indicam um aumento de violência na região.

Atentado em área nobre

Chamou a atenção o fato de os médicos terem sido assassinados na orla da Barra da Tijuca, uma área nobre da cidade. Segundo a coordenadora do Geni, contudo, isso não é tão incomum.

Médicos foram assassinados em na orla da Barra da Tijuca, região nobre do Rio Foto: PEDRO KIRILOS

“A praia da Barra é endereço nobre, mas está muito próxima de áreas dominadas pelo tráfico e por milicianos”, lembra Carolina Grillo. O quiosque onde os médicos foram mortos fica a pouco mais de dez quilômetros da Cidade de Deus ou da Gardênia Azul.

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Conforme informações da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, quarto profissional foi socorrido para uma unidade de saúde da região

Levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que as estatísticas também traduzem essa violência nas áreas nobres da capital fluminense. A Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca somou entre janeiro e agosto deste ano 22 homicídios, ante 8 em 2022 (aumento de 175%).

“E esse tipo de atuação, de assassinatos contra rivais, é algo que sempre ocorreu. Acontece muito, por exemplo, com morador de uma favela que vai visitar parentes em outra e acaba sendo identificado por traficantes de lá como sendo de uma área rival. Sempre houve vítimas inocentes”, ressalta a pesquisadora.

Assassinato amplia crise de segurança

O Estadão mostrou que o assassinato de três médicos na semana passada ampliou a crise de segurança vivida pelo Estado.

Um exemplo recente de que a violência também parte da polícia no Rio foi o caso da Heloisa dos Santos Silva, de 3 anos, que morreu em setembro depois ser atingida por uma bala, na coluna e na nuca, disparada por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ela estava no carro junto com a sua família, que foi abordada pela PRF na rodovia que liga Duque de Caxias a Itaguaí, na Baixada Fluminense. Ele foi socorrida, ficou internada por nove dias, mas não resistiu.

Segundo a ONG Rio de Paz, Heloísa foi 11ª criança vítima de bala perdida no Rio de Janeiro, quase o triplo de casos registrados no ano passado, quando foram contabilizadas quatro vítimas, segundo a organização. A ong acompanha os casos de crianças mortas por armas de fogo, em operações policiais, nas favelas do Rio desde 2007.

Em agosto, Eloah Passos, de 5 anos, morreu depois de ser atingida por uma bala quando estava dentro de casa, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em caso que contou com a manifestação de indignação do presidente Lula. No mesmo dia e local, um jovem de 17 anos foi atingido durante uma abordagem policial e morreu depois de ser socorrido. A polícia disse que o garoto teria reagido à abordagem da PM e estava armado, o que foi contestado por testemunhas.

“Temos um conflito armado que vitima pessoas todos os dias no Rio de Janeiro. A questão principal é que essas vítimas normalmente residem em favelas, conjuntos habitacionais, em periferias urbanas e, em sua maioria, são negras e jovens, mas não ganha tanta repercussão como quando pessoas mais abastadas sofrem esse tipo de violência”, disse na oportunidade o sociólogo Daniel Hirata, professor e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A escalada de criminalidade levou o governador Claudio Castro (PL) pedir ao Governo Federal o envio de 300 agentes da Força Nacional para auxiliar a polícia do Rio de Janeiro no combate ao crime organizado, em especial no complexo de favelas da Maré, na zona norte. A solicitação foi atendida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Flávio Dino.

Alta reflete ‘disputas territoriais entre grupos rivais’, diz polícia; corporação diz adotar ações conjuntas

O Estadão pediu posicionamento ao governo do Estado. Em nota encaminhada pela Polícia Militar, a corporação informou que considera apenas os dados oficiais, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, que apontam que “desde 2017 a corporação vem reduzindo os índices de letalidade em todo o território fluminense”.

“O aumento detectado nos dados relativos à letalidade nos últimos meses está diretamente ligado às disputas territoriais entre grupos criminosos rivais, principalmente na zona oeste da cidade do Rio. Nesse contexto, a corporação destaca as incessantes ações conjuntas com a Secretaria de Estado de Polícia Civil para estabilizar as localidades, assim como para localizar e retirar de circulação os marginais envolvidos em tais mobilizações”, diz o texto.

“O saldo operacional da Polícia Militar revela o grau de complexidade enfrentado diariamente pelos policiais militares. Somente no ano de 2023, a corporação prendeu mais de 25 mil criminosos, apreendeu mais de 3.200 adolescentes envolvidos com a criminalidade, e retirou das ruas mais de 4.700 armas de fogo, entre as quais 396 fuzis idênticos aos utilizados em guerras convencionais”, sustenta a PM fluminense.

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