Por um Fla-Flu bem jogado

Bicha, mil vezes bicha


Não tem jeito, só mesmo o ego inflado e uma clara tendência para o autoritarismo podem explicar a pachorra do sujeito em iniciar uma campanha tão conservadora.

Por Mario Vitor Rodrigues
Arquivo: @RioAntigo Foto: Estadão

 

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Da operação Carne Fraca à Lava-Jato, de políticos que tentam descriminalizar o caixa 2 à cassação da chapa Dilma-Temer. A saraivada de pesadelos é tamanha que talvez justifique nossa tendência a tergiversar. É como se, inconscientemente, buscássemos fugir das agruras que nos assombram. Se faz sentido? Obviamente. Mas não deixa de ser tolice.

Pior mesmo, contudo, é testemunhar tão primal escapismo indo ao encontro de uma sanha cada vez mais comum: a de patrulhar a moralidade alheia.

Bom exemplo disso ocorreu quarta-feira passada, precisamente após o jogo da seleção brasileira no Itaquerão, quando parte da imprensa desandou a criticar um coro entoado em uníssono pela torcida. E o que a massa gritava? Um prosaico "BICHA!", sempre que o goleiro paraguaio engatilhava o tiro de meta.

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Insisto, dado o momento delicado pelo qual o país atravessa, problematizar alaridos em um estádio de futebol extrapola qualquer escala de patetice, mas a verdade é que mesmo se morássemos em Genebra tal debate não faria sentido.

Fato é que, durante um jogo de futebol, tanto no Brasil quanto na maioria dos estádios pelo mundo afora, cânticos muito mais cabeludos são recitados com o intuito de desestabilizar o time adversário. É assim desde sempre e espero sinceramente que não mude.

O que me leva a fazer essa defesa? O encanto pela catarse que o jogo proporciona. Um espécie de tácito parênteses temporal entre todos os que acompanham a disputa, dentro do qual, sim senhor, as ofensas mais escabrosas são de mentirinha. Quando os palavrões mais grotescos, indizíveis à luz do dia, são práticos na hora de atazanar o craque adversário e imprescindíveis para coroar o gol derradeiro.

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Não tenho a menor dúvida em afirmar: no dia em que esta ditadura politicamente correta se estabelecer de vez (aliás, trata-se da mesma que ousa reescrever marchinhas de Carnaval), será o começo do fim para o esporte mais popular do Brasil. Será a vitória de uma turma que, tenho a mais absoluta certeza, em algum momento de suas impolutas existências deve ter frequentado estádios de futebol e se comportado da mesmíssima forma que agora tanto recrimina.

Afinal de contas, quem eles pensam que são para, ignorando contextos e suprimindo o bom senso, castrar assim a emoção alheia? Como podem sugerir comportamentos racistas e homofóbicos de multidões inteiras, quando, no fundo, o indivíduo está somente farreando em meio aos seus?

Não tem jeito, só mesmo o ego inflado e uma clara tendência para o autoritarismo podem explicar a pachorra do sujeito em iniciar uma campanha tão conservadora.

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Em tempo: assisti ao jogo na casa de um grande amigo, que por acaso é gay, e ele logo fez uma expressão de preguiça, mal o narrador começou a instrumentalizar a algazarra da massa para falar em homofobia.

Na opinião dele, o preconceito sofrido pelos homossexuais não passa por nada daquilo. Argumentou, inclusive, que provavelmente os homossexuais presentes no estádio também estariam provocado o goleiro, se fossem suficientemente inteligentes para discernir a situação.

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Na certa ele estava errado. Sabedoria e bom senso, no fim das contas, só quem tem são os baluartes morais.

Arquivo: @RioAntigo Foto: Estadão

 

Da operação Carne Fraca à Lava-Jato, de políticos que tentam descriminalizar o caixa 2 à cassação da chapa Dilma-Temer. A saraivada de pesadelos é tamanha que talvez justifique nossa tendência a tergiversar. É como se, inconscientemente, buscássemos fugir das agruras que nos assombram. Se faz sentido? Obviamente. Mas não deixa de ser tolice.

Pior mesmo, contudo, é testemunhar tão primal escapismo indo ao encontro de uma sanha cada vez mais comum: a de patrulhar a moralidade alheia.

Bom exemplo disso ocorreu quarta-feira passada, precisamente após o jogo da seleção brasileira no Itaquerão, quando parte da imprensa desandou a criticar um coro entoado em uníssono pela torcida. E o que a massa gritava? Um prosaico "BICHA!", sempre que o goleiro paraguaio engatilhava o tiro de meta.

Insisto, dado o momento delicado pelo qual o país atravessa, problematizar alaridos em um estádio de futebol extrapola qualquer escala de patetice, mas a verdade é que mesmo se morássemos em Genebra tal debate não faria sentido.

Fato é que, durante um jogo de futebol, tanto no Brasil quanto na maioria dos estádios pelo mundo afora, cânticos muito mais cabeludos são recitados com o intuito de desestabilizar o time adversário. É assim desde sempre e espero sinceramente que não mude.

O que me leva a fazer essa defesa? O encanto pela catarse que o jogo proporciona. Um espécie de tácito parênteses temporal entre todos os que acompanham a disputa, dentro do qual, sim senhor, as ofensas mais escabrosas são de mentirinha. Quando os palavrões mais grotescos, indizíveis à luz do dia, são práticos na hora de atazanar o craque adversário e imprescindíveis para coroar o gol derradeiro.

Não tenho a menor dúvida em afirmar: no dia em que esta ditadura politicamente correta se estabelecer de vez (aliás, trata-se da mesma que ousa reescrever marchinhas de Carnaval), será o começo do fim para o esporte mais popular do Brasil. Será a vitória de uma turma que, tenho a mais absoluta certeza, em algum momento de suas impolutas existências deve ter frequentado estádios de futebol e se comportado da mesmíssima forma que agora tanto recrimina.

Afinal de contas, quem eles pensam que são para, ignorando contextos e suprimindo o bom senso, castrar assim a emoção alheia? Como podem sugerir comportamentos racistas e homofóbicos de multidões inteiras, quando, no fundo, o indivíduo está somente farreando em meio aos seus?

Não tem jeito, só mesmo o ego inflado e uma clara tendência para o autoritarismo podem explicar a pachorra do sujeito em iniciar uma campanha tão conservadora.

 

Em tempo: assisti ao jogo na casa de um grande amigo, que por acaso é gay, e ele logo fez uma expressão de preguiça, mal o narrador começou a instrumentalizar a algazarra da massa para falar em homofobia.

Na opinião dele, o preconceito sofrido pelos homossexuais não passa por nada daquilo. Argumentou, inclusive, que provavelmente os homossexuais presentes no estádio também estariam provocado o goleiro, se fossem suficientemente inteligentes para discernir a situação.

Na certa ele estava errado. Sabedoria e bom senso, no fim das contas, só quem tem são os baluartes morais.

Arquivo: @RioAntigo Foto: Estadão

 

Da operação Carne Fraca à Lava-Jato, de políticos que tentam descriminalizar o caixa 2 à cassação da chapa Dilma-Temer. A saraivada de pesadelos é tamanha que talvez justifique nossa tendência a tergiversar. É como se, inconscientemente, buscássemos fugir das agruras que nos assombram. Se faz sentido? Obviamente. Mas não deixa de ser tolice.

Pior mesmo, contudo, é testemunhar tão primal escapismo indo ao encontro de uma sanha cada vez mais comum: a de patrulhar a moralidade alheia.

Bom exemplo disso ocorreu quarta-feira passada, precisamente após o jogo da seleção brasileira no Itaquerão, quando parte da imprensa desandou a criticar um coro entoado em uníssono pela torcida. E o que a massa gritava? Um prosaico "BICHA!", sempre que o goleiro paraguaio engatilhava o tiro de meta.

Insisto, dado o momento delicado pelo qual o país atravessa, problematizar alaridos em um estádio de futebol extrapola qualquer escala de patetice, mas a verdade é que mesmo se morássemos em Genebra tal debate não faria sentido.

Fato é que, durante um jogo de futebol, tanto no Brasil quanto na maioria dos estádios pelo mundo afora, cânticos muito mais cabeludos são recitados com o intuito de desestabilizar o time adversário. É assim desde sempre e espero sinceramente que não mude.

O que me leva a fazer essa defesa? O encanto pela catarse que o jogo proporciona. Um espécie de tácito parênteses temporal entre todos os que acompanham a disputa, dentro do qual, sim senhor, as ofensas mais escabrosas são de mentirinha. Quando os palavrões mais grotescos, indizíveis à luz do dia, são práticos na hora de atazanar o craque adversário e imprescindíveis para coroar o gol derradeiro.

Não tenho a menor dúvida em afirmar: no dia em que esta ditadura politicamente correta se estabelecer de vez (aliás, trata-se da mesma que ousa reescrever marchinhas de Carnaval), será o começo do fim para o esporte mais popular do Brasil. Será a vitória de uma turma que, tenho a mais absoluta certeza, em algum momento de suas impolutas existências deve ter frequentado estádios de futebol e se comportado da mesmíssima forma que agora tanto recrimina.

Afinal de contas, quem eles pensam que são para, ignorando contextos e suprimindo o bom senso, castrar assim a emoção alheia? Como podem sugerir comportamentos racistas e homofóbicos de multidões inteiras, quando, no fundo, o indivíduo está somente farreando em meio aos seus?

Não tem jeito, só mesmo o ego inflado e uma clara tendência para o autoritarismo podem explicar a pachorra do sujeito em iniciar uma campanha tão conservadora.

 

Em tempo: assisti ao jogo na casa de um grande amigo, que por acaso é gay, e ele logo fez uma expressão de preguiça, mal o narrador começou a instrumentalizar a algazarra da massa para falar em homofobia.

Na opinião dele, o preconceito sofrido pelos homossexuais não passa por nada daquilo. Argumentou, inclusive, que provavelmente os homossexuais presentes no estádio também estariam provocado o goleiro, se fossem suficientemente inteligentes para discernir a situação.

Na certa ele estava errado. Sabedoria e bom senso, no fim das contas, só quem tem são os baluartes morais.

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