O fenômeno do exorcismo praticado nas igrejas neopentecostais


Por Dr. Joel Rennó

AUTORES: Joel Rennó Jr e Sérgio de Oliveira Pedro (aluno do último semestre de psicologia e estagiário do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP). Esse artigo foi elaborado a partir de um Seminário realizado na Faculdade de Medicina da USP.

ARTIGO

Numa prevalência do pragmatismo religioso, sobretudo, nas igrejas neopentecostais, crê-se na existência atual e ativa de todos os dons espirituais, principalmente os intitulados dons de libertação.

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Os meios de comunicação social estão cheios de testemunhos de curas de enfermidades, sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais. As divulgações dessas curas são observadas, não apenas na televisão, rádio ou internet, como também nos ritos e cultos que as abordam como tema principal.

Os líderes desse segmento religioso utilizam as mídias impressas, televisivas ou digitais, advertindo para os sinais da possessão demoníaca, constantemente identificada e/ou reconhecida pela manifestação de sintomas, tais como: irritabilidade, insônia, ideações suicidas, alucinações auditivas e visuais, desmaios, aumento da agressividade, depressão, cefaleia, doenças de difícil diagnóstico, dentre outros.

Para compreender os possíveis efeitos desse fenômeno nos chamados "cultos de libertação", é importante entendê-lo em analogia aos métodos de exorcismo, muito comuns em igrejas neopentecostais, especialmente porque na teologia dessas igrejas há uma lógica causal entre enfermidades e possessão demoníaca.

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A libertação ou cura das prováveis doenças adota o formato de uma ação pública (culto), ou seja, de expulsão da ação demoníaca, permitindo o acesso do doente ao ambiente sistemático da Igreja. O cerimonial de exorcismo é, portanto o ingresso para uma vida profícua e bem-sucedida.

A intensa participação do demônio na teologia das igrejas neopentecostais, se justifica pela distinção entre o bem e o mal, determinando um novo modelo religioso, ou seja, de conferir significado a vivência sob a ótica da dúvida, numa sociedade na qual as desigualdades cooperam para o surgimento das somatizações originárias dos processos de manipulações dos conteúdos psíquicos.

O questionamento que decorre a partir das complexidades que permeiam o universo das crendices religiosas é de como acontece o simbolismo da certeza e da expectativa nos cultos de libertação? A resposta talvez esteja na compreensão de que os cultos de libertação ou exorcismo são ensaios da capacidade do sujeito em atingir, por si mesmo, as transformações imprescindíveis ao seu processo de evolução enquanto indivíduo social, permitindo deste modo o aparecimento de novas vivências.

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A manifestação demoníaca pode ser compreendida como um meio de reordenar o contexto social, e, além disso, como uma forma de transformar as disposições físicas e psíquicas dos indivíduos em contextos sociais desfavorecidos.

As diferentes abordagens sob a égide da Psicologia sugerem o compartilhamento da evidência na capacidade que os ritos de exorcismo possuem na reestruturação das vivências em indivíduos que frequentam os cognominados cultos de libertação, interagindo com o mundo a sua volta através da subjetividade.

Normalmente "recheado" de manifestações coletivas e individuais das mais variadas formas. Os cultos de libertação oferecem aos fiéis à oportunidade de relatarem as suas histórias de modo particular possibilitando uma escuta "terapêutica" por meio da possessão demoníaca, ou melhor, o demônio se transforma em porta voz das necessidades alheias. Tais manifestações propiciam uma catarse coletiva de novas possibilidades, frente às limitações impostas pelo cotidiano difuso e injusto. Diante desse quadro o sentimento de mudança é idealizado não como algo distante, mas plenamente atingível.

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Nas relações existentes entre o sofrimento e o contexto social, a subjetividade dos demônios pode cooperar para o alívio dos possíveis prejuízos nos aspectos emocionais, físicos e psicológicos, constituindo a crença de que a partir da libertação dos demônios a cura será alcançada.

As igrejas neopentecostais transformam os ambientes litúrgicos em esconderijos das frustrações emocionais.Crer nas manifestações demoníacas pode sugerir um conceito de fantasia, pois transfere ao "demônio" a responsabilidade pelos prejuízos físicos e/ou psicológicos, entretanto, é necessário observar que muitos membros de igrejas neopentecostais obtêm novas vivências a partir da crença em "fenômenos sobrenaturais".

Ante essas reflexões, nota-se que o alívio das prováveis debilidades emocionais e/ou psíquicas após a libertação dos demônios provém do consolo e da reinserção social oferecido pelos locais de culto. Enfim, estes experimentos de exercício da fé insinuam uma reorganização cognitiva e afetiva do sujeito, conectando a catarse coletiva à restauração da saúde pessoal corroborando, deste modo, para que esse fenômeno seja pensado de modo expandido.

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Referência:

Texto baseado no artigo intitulado: Celebração da fé: Rituais de exorcismo, esperança e confiança, na IURD.

Publicado na: Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 12, volume 19(1): 91-122 (2008).

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 Autores: Roberta Bivar C. Campos & Eduardo Henrique Gusmão.

AUTORES: Joel Rennó Jr e Sérgio de Oliveira Pedro (aluno do último semestre de psicologia e estagiário do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP). Esse artigo foi elaborado a partir de um Seminário realizado na Faculdade de Medicina da USP.

ARTIGO

Numa prevalência do pragmatismo religioso, sobretudo, nas igrejas neopentecostais, crê-se na existência atual e ativa de todos os dons espirituais, principalmente os intitulados dons de libertação.

Os meios de comunicação social estão cheios de testemunhos de curas de enfermidades, sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais. As divulgações dessas curas são observadas, não apenas na televisão, rádio ou internet, como também nos ritos e cultos que as abordam como tema principal.

Os líderes desse segmento religioso utilizam as mídias impressas, televisivas ou digitais, advertindo para os sinais da possessão demoníaca, constantemente identificada e/ou reconhecida pela manifestação de sintomas, tais como: irritabilidade, insônia, ideações suicidas, alucinações auditivas e visuais, desmaios, aumento da agressividade, depressão, cefaleia, doenças de difícil diagnóstico, dentre outros.

Para compreender os possíveis efeitos desse fenômeno nos chamados "cultos de libertação", é importante entendê-lo em analogia aos métodos de exorcismo, muito comuns em igrejas neopentecostais, especialmente porque na teologia dessas igrejas há uma lógica causal entre enfermidades e possessão demoníaca.

A libertação ou cura das prováveis doenças adota o formato de uma ação pública (culto), ou seja, de expulsão da ação demoníaca, permitindo o acesso do doente ao ambiente sistemático da Igreja. O cerimonial de exorcismo é, portanto o ingresso para uma vida profícua e bem-sucedida.

A intensa participação do demônio na teologia das igrejas neopentecostais, se justifica pela distinção entre o bem e o mal, determinando um novo modelo religioso, ou seja, de conferir significado a vivência sob a ótica da dúvida, numa sociedade na qual as desigualdades cooperam para o surgimento das somatizações originárias dos processos de manipulações dos conteúdos psíquicos.

O questionamento que decorre a partir das complexidades que permeiam o universo das crendices religiosas é de como acontece o simbolismo da certeza e da expectativa nos cultos de libertação? A resposta talvez esteja na compreensão de que os cultos de libertação ou exorcismo são ensaios da capacidade do sujeito em atingir, por si mesmo, as transformações imprescindíveis ao seu processo de evolução enquanto indivíduo social, permitindo deste modo o aparecimento de novas vivências.

A manifestação demoníaca pode ser compreendida como um meio de reordenar o contexto social, e, além disso, como uma forma de transformar as disposições físicas e psíquicas dos indivíduos em contextos sociais desfavorecidos.

As diferentes abordagens sob a égide da Psicologia sugerem o compartilhamento da evidência na capacidade que os ritos de exorcismo possuem na reestruturação das vivências em indivíduos que frequentam os cognominados cultos de libertação, interagindo com o mundo a sua volta através da subjetividade.

Normalmente "recheado" de manifestações coletivas e individuais das mais variadas formas. Os cultos de libertação oferecem aos fiéis à oportunidade de relatarem as suas histórias de modo particular possibilitando uma escuta "terapêutica" por meio da possessão demoníaca, ou melhor, o demônio se transforma em porta voz das necessidades alheias. Tais manifestações propiciam uma catarse coletiva de novas possibilidades, frente às limitações impostas pelo cotidiano difuso e injusto. Diante desse quadro o sentimento de mudança é idealizado não como algo distante, mas plenamente atingível.

Nas relações existentes entre o sofrimento e o contexto social, a subjetividade dos demônios pode cooperar para o alívio dos possíveis prejuízos nos aspectos emocionais, físicos e psicológicos, constituindo a crença de que a partir da libertação dos demônios a cura será alcançada.

As igrejas neopentecostais transformam os ambientes litúrgicos em esconderijos das frustrações emocionais.Crer nas manifestações demoníacas pode sugerir um conceito de fantasia, pois transfere ao "demônio" a responsabilidade pelos prejuízos físicos e/ou psicológicos, entretanto, é necessário observar que muitos membros de igrejas neopentecostais obtêm novas vivências a partir da crença em "fenômenos sobrenaturais".

Ante essas reflexões, nota-se que o alívio das prováveis debilidades emocionais e/ou psíquicas após a libertação dos demônios provém do consolo e da reinserção social oferecido pelos locais de culto. Enfim, estes experimentos de exercício da fé insinuam uma reorganização cognitiva e afetiva do sujeito, conectando a catarse coletiva à restauração da saúde pessoal corroborando, deste modo, para que esse fenômeno seja pensado de modo expandido.

Referência:

Texto baseado no artigo intitulado: Celebração da fé: Rituais de exorcismo, esperança e confiança, na IURD.

Publicado na: Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 12, volume 19(1): 91-122 (2008).

 Autores: Roberta Bivar C. Campos & Eduardo Henrique Gusmão.

AUTORES: Joel Rennó Jr e Sérgio de Oliveira Pedro (aluno do último semestre de psicologia e estagiário do Programa de Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP). Esse artigo foi elaborado a partir de um Seminário realizado na Faculdade de Medicina da USP.

ARTIGO

Numa prevalência do pragmatismo religioso, sobretudo, nas igrejas neopentecostais, crê-se na existência atual e ativa de todos os dons espirituais, principalmente os intitulados dons de libertação.

Os meios de comunicação social estão cheios de testemunhos de curas de enfermidades, sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais. As divulgações dessas curas são observadas, não apenas na televisão, rádio ou internet, como também nos ritos e cultos que as abordam como tema principal.

Os líderes desse segmento religioso utilizam as mídias impressas, televisivas ou digitais, advertindo para os sinais da possessão demoníaca, constantemente identificada e/ou reconhecida pela manifestação de sintomas, tais como: irritabilidade, insônia, ideações suicidas, alucinações auditivas e visuais, desmaios, aumento da agressividade, depressão, cefaleia, doenças de difícil diagnóstico, dentre outros.

Para compreender os possíveis efeitos desse fenômeno nos chamados "cultos de libertação", é importante entendê-lo em analogia aos métodos de exorcismo, muito comuns em igrejas neopentecostais, especialmente porque na teologia dessas igrejas há uma lógica causal entre enfermidades e possessão demoníaca.

A libertação ou cura das prováveis doenças adota o formato de uma ação pública (culto), ou seja, de expulsão da ação demoníaca, permitindo o acesso do doente ao ambiente sistemático da Igreja. O cerimonial de exorcismo é, portanto o ingresso para uma vida profícua e bem-sucedida.

A intensa participação do demônio na teologia das igrejas neopentecostais, se justifica pela distinção entre o bem e o mal, determinando um novo modelo religioso, ou seja, de conferir significado a vivência sob a ótica da dúvida, numa sociedade na qual as desigualdades cooperam para o surgimento das somatizações originárias dos processos de manipulações dos conteúdos psíquicos.

O questionamento que decorre a partir das complexidades que permeiam o universo das crendices religiosas é de como acontece o simbolismo da certeza e da expectativa nos cultos de libertação? A resposta talvez esteja na compreensão de que os cultos de libertação ou exorcismo são ensaios da capacidade do sujeito em atingir, por si mesmo, as transformações imprescindíveis ao seu processo de evolução enquanto indivíduo social, permitindo deste modo o aparecimento de novas vivências.

A manifestação demoníaca pode ser compreendida como um meio de reordenar o contexto social, e, além disso, como uma forma de transformar as disposições físicas e psíquicas dos indivíduos em contextos sociais desfavorecidos.

As diferentes abordagens sob a égide da Psicologia sugerem o compartilhamento da evidência na capacidade que os ritos de exorcismo possuem na reestruturação das vivências em indivíduos que frequentam os cognominados cultos de libertação, interagindo com o mundo a sua volta através da subjetividade.

Normalmente "recheado" de manifestações coletivas e individuais das mais variadas formas. Os cultos de libertação oferecem aos fiéis à oportunidade de relatarem as suas histórias de modo particular possibilitando uma escuta "terapêutica" por meio da possessão demoníaca, ou melhor, o demônio se transforma em porta voz das necessidades alheias. Tais manifestações propiciam uma catarse coletiva de novas possibilidades, frente às limitações impostas pelo cotidiano difuso e injusto. Diante desse quadro o sentimento de mudança é idealizado não como algo distante, mas plenamente atingível.

Nas relações existentes entre o sofrimento e o contexto social, a subjetividade dos demônios pode cooperar para o alívio dos possíveis prejuízos nos aspectos emocionais, físicos e psicológicos, constituindo a crença de que a partir da libertação dos demônios a cura será alcançada.

As igrejas neopentecostais transformam os ambientes litúrgicos em esconderijos das frustrações emocionais.Crer nas manifestações demoníacas pode sugerir um conceito de fantasia, pois transfere ao "demônio" a responsabilidade pelos prejuízos físicos e/ou psicológicos, entretanto, é necessário observar que muitos membros de igrejas neopentecostais obtêm novas vivências a partir da crença em "fenômenos sobrenaturais".

Ante essas reflexões, nota-se que o alívio das prováveis debilidades emocionais e/ou psíquicas após a libertação dos demônios provém do consolo e da reinserção social oferecido pelos locais de culto. Enfim, estes experimentos de exercício da fé insinuam uma reorganização cognitiva e afetiva do sujeito, conectando a catarse coletiva à restauração da saúde pessoal corroborando, deste modo, para que esse fenômeno seja pensado de modo expandido.

Referência:

Texto baseado no artigo intitulado: Celebração da fé: Rituais de exorcismo, esperança e confiança, na IURD.

Publicado na: Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 12, volume 19(1): 91-122 (2008).

 Autores: Roberta Bivar C. Campos & Eduardo Henrique Gusmão.

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