BRASÍLIAA maioria do mercado financeiro já prevê que a inflação de 2010 deve superar o centro da meta prevista pelo governo. Pesquisa do Banco Central mostra que as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano subiram de 4,5% para 4,6% em uma semana. É a primeira vez que analistas esperam que a inflação de 2010 supere o centro da meta, de 4,5%. Mesmo com esse cenário, foi mantida a previsão de que a taxa Selic deve permanecer em 8,75% na primeira decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, que será anunciada amanhã à noite.O levantamento divulgado ontem mostra que a aceleração da atividade econômica já começa a pressionar os preços mês a mês. Nos últimos dias, analistas ajustaram para cima a previsão para o IPCA dos meses de janeiro e fevereiro. Para o primeiro mês de 2010, a estimativa para a inflação subiu de 0,55% para 0,62% em apenas uma semana. A alta ocorre na esteira da divulgação do dado preliminar do IPCA, o chamado IPCA-15, que registra a variação dos preços na primeira quinzena do mês. Nesse período, o índice avançou 0,52%, em ritmo bem mais acelerado que os 0,38% de dezembro e acima do teto das previsões dos analistas, que esperam alta entre 0,30% e 0,51%.Mas esses ajustes não foram suficientes para mudar as previsões para o juro. Talvez porque a meta de inflação tem margem de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos, o que permite inflação entre 2,5% e 6,5%. Na avaliação dos analistas, o Copom manterá o juro básico da economia em 8,75%. No encontro, a decisão será tomada por sete votos ? um a menos que o normal ? já que a ex-diretora de Assuntos Internacionais, Maria Celina Arraes, deixou o BC e seu substituto, Carlos Hamilton Araujo, espera sabatina no Senado para tomar posse.Mas o juro deve começar a subir em abril, quando é esperada alta de 0,5 ponto porcentual, o que elevaria a Selic a 9,25%. Depois, são previstas novas altas em junho, julho e setembro. Em cada uma das três decisões, haveria elevação de 0,5 ponto. Depois, o ritmo do aperto monetário seria reduzido, com altas de 0,25 ponto nos encontros de outubro e dezembro. Assim, a taxa Selic terminaria o ano em 11,25%, prevê o mercado.O aperto monetário é uma resposta à reação da economia esperada para os próximos meses. Na avaliação do mercado, a economia deve crescer 5,3% em 2010. O número mostra expressiva recuperação ante a retração prevista de 0,26% em 2009, número que será conhecido nas próximas semanas.A pesquisa do BC também mostra que as previsões para as contas externas continuam em franca deterioração. Para 2010, a estimativa de déficit em transações correntes passou de US$ 45,5 bilhões para US$ 47,5 bilhões. Para 2011, já é esperado rombo de US$ 59,47 bilhões e superávit comercial de apenas US$ 2,8 bilhões.