Há quase trinta anos, em 28 de dezembro de 1992, Daniella Perez, filha da escritora Glória Perez, foi assassinada por Guilherme de Pádua e a sua então mulher, Paula Nogueira Thomaz. Na época do crime, que causou enorme comoção popular, Daniella, que tinha apenas 22 anos, protagonizava um par romântico com Pádua na novela De Corpo e Alma, escrita por sua mãe. O ex-ator e atual pastor morreu neste domingo, 7, vítima de infarto em casa, aos 53 anos.
As autoridades policiais descobriram que o ator e a esposa estavam envolvidos no assassinato da jovem atriz graças a uma testemunha que anotou a placa do carro que foi visto no local do crime.
Relembre a seguir o assassinato de Daniella Perez:
Por que o casal matou a atriz?
Segundo a acusação, o crime cometido por Pádua e a sua então esposa, Paula Nogueira Thomaz, em 28 de dezembro de 1992, teria sido motivado por inveja, cobiça e vingança, pois o ator assediava Daniella em busca de uma maior participação de seu personagem na novela De Corpo e Alma, escrita pela mãe da jovem atriz.
Como foi descoberto o envolvimento do casal na morte de Daniella?
Antes de descobrirem que ele tinha participado do crime, Pádua se encontrou com Glória na delegacia para prestar condolências, assim como também esteve com o ator Raul Gazolla, o então marido de Daniella, que chorava e lamentava a perda da esposa.
As autoridades policiais acabaram descobrindo o envolvimento do casal no assassinato, pois uma testemunha anotou a placa do veículo, que foi visto no local do crime.
Ainda segundo as investigações, Daniella teria sido confrontada por Pádua após deixar os estúdios de gravação. Depois de abordá-la, ele a colocou dentro do seu carro, dirigido por Paula até o local do crime.
Como o corpo da jovem atriz foi encontrado?
O corpo da atriz foi encontrado em um matagal na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. De acordo com os legistas, ela foi golpeada com 18 facadas de punhal, que atingiram seu pulmão, coração e pescoço.
Qual foi a condenação do casal?
Cinco anos após o crime, em janeiro de 1997, o julgamento aconteceu e ambos foram condenados por homicídio qualificado por motivo torpe, com impossibilidade de defesa da vítima. Pádua foi condenado a 19 anos, e Paula, a 18 anos e seis meses. Grávida durante o assassinato, Paula deu à luz ao filho do casal em maio de 1993, enquanto estava presa. Ela e o ator se separaram pouco depois.
Pádua cumpriu um terço da pena e foi solto em 14 de outubro de 1999, após ficar 6 anos e 9 meses na cadeia. Já separado de Paula, ele se casou, em março de 2006, com a produtora de moda Paula Maia, 14 anos mais nova e que havia conhecido na igreja que ambos frequentavam. O casamento chegou ao fim em 2014. Três anos depois, em março de 2017, Pádua se casou pela terceira vez. Desta vez, com a estilista Juliana Lacerda, com quem vivia até hoje. Em dezembro do mesmo ano, se tornou pastor na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, sua cidade natal.
Como a morte da atriz alterou a Lei de Crimes Hediondos?
A repercussão do caso e a indignação das pessoas contribuíram para que Glória Perez conseguisse levantar um abaixo-assinado com 1,3 milhão de assinaturas, pedindo a inclusão do homicídio qualificado na lista de crimes hediondos.
Em 1994, a Lei 8.930/1994 alterou a legislação brasileira e incluiu o homicídio qualificado, tipo de crime no qual se enquadra o assassinato da atriz, no rol de crimes hediondos.
Qual a participação de Glória na resolução do crime da filha?
Glória Perez foi persistente e não mediu esforços para que a justiça fosse feita e os assassinos de sua filha fossem julgados e presos. Sua luta foi intensa. Ela rastreou testemunhas, identificou evidências e ajudou a expor erros das autoridades. Desta forma, teve atuação fundamental na resolução do caso.
Como foi o pedido de perdão de Pádua para Glória Perez?
Em agosto deste ano, Pádua publicou um vídeo em seu canal do YouTube no qual pedia perdão para Glória. Na ocasião, ele afirmou que “muitas pessoas, inclusive algumas que se dizem cristãs”, o teriam julgado e dito que não acreditariam em sua conversão pela falta de um pedido de perdão. “Ainda que pareça estranho para mim, um ‘cristão’, lacrar ao julgar que uma outra pessoa não é cristã de verdade, eu não tiro a razão de quem duvida da minha conversão, porque eu mesmo duvido muitas vezes”, disse.
“Eu não sou uma pessoa normal, é óbvio. Alguém que cometeu um crime tem mil pensamentos que não são comuns. Eu já fui uma pessoa normal, e eu sei a diferença entre alguém que não cometeu um crime e o que eu me tornei depois de cometer”, continuou.
Pádua questionou se um vídeo teria “o peso que precisaria ter”, mas então prosseguiu: “Talvez eu nunca vá ter uma oportunidade real de pedir perdão. Por isso, Glória Perez, eu te peço perdão por todo o sofrimento que eu te causei. Eu jamais esqueci daquele encontro na carceragem”.
Ele também se dirigiu ao ator Raul Gazolla, o então marido de Daniella: “Eu te peço perdão, eu nunca esqueci do dia em que fui chamado na delegacia e você estava lá e se arrastou até mim. Me abraçou chorando. E ali eu vi que eu era a pior pessoa do mundo. Nunca na minha vida eu senti algo igual ao que eu senti naquele momento. Peço perdão aos familiares, aos amigos e a todos que se envolveram com essa história”, publicou.
O que disse Glória sobre o pedido de perdão?
Pouco tempo depois, Glória afirmou que não acredita que os assassinos de sua filha são capazes de se regenerar. “É claro que as pessoas podem ser recuperadas. Mas isso não inclui os psicopatas. Não se tem notícia de psicopata recuperado. E Paula e Guilherme são psicopatas de carteirinha”, disse a escritora em entrevista à Marie Claire.
Morte de Pádua
O assassino de Daniella morreu, devido a um infarto, no último domingo à noite.
Nascido em Belo Horizonte, em 2 de novembro de 1969, Pádua se mudou para o Rio de Janeiro para tentar a carreira artística. Em 1989, ele atuou no filme alemão Via Appia. Em 1990, teve curta participação na telenovela Mico Preto. Em 1992, aos 23 anos, interpretava na novela De Corpo e Alma o motorista de ônibus Ubirajara Rodrigues, o Bira, quando matou Daniella, sua colega de elenco e par romântico. Os dois últimos folhetins foram veiculados pela TV Globo.
Recentemente, o caso voltou à tona com o lançamento da série Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, da HBO Max, que traz relatos inéditos da escritora e mãe da atriz. A produção reconstitui o processo envolvendo um dos crimes mais brutais vistos no Brasil. Composta de cinco episódios, conta com direção de Tatiana Issa e Guto Barra, que assina o roteiro.