Música toda prosa


Três novos livros atestam o poder das letras de sambas e canções em retratar determinados períodos e servir como verdadeiros documentos históricos

Por Lucas Nobile

"Não deixe o samba morrer/ Não deixe o samba acabar." Faltando duas semanas para a maior festa popular do planeta, o carnaval, parece que dois amigos resolveram levar ao pé da letra a tão executada composição de Edson Conceição e Aloísio. Diversos gêneros da música popular nacional já tiveram sua estrutura e história esmiuçadas por especialistas. Livros sobre bossa nova, choro, marchinha e samba pululam no mercado a torto e a direito. Com um trabalho de fôlego, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas lançam agora Samba de Enredo - História e Arte (Civilização Brasileira, 240 págs., R$ 34,90), eternizando o gênero com um verdadeiro documento para a posteridade.Fala-se de um imortalizar justamente pelo fato de ser a primeira vez que se realiza um mergulho tão vertical e profundo especificamente sobre os sambas de enredo do Rio. Um livro repleto de méritos por lançar mão de ser pretensioso, daqueles que querem tratar de tudo, mas, no fim das contas, não dizem nada. Partindo dessa premissa, a dupla optou por contar a história do gênero samba de enredo, e não das escolas cariocas ou do carnaval como um todo. "A nossa pretensão era falar daquilo que conhecíamos bem, não quisemos entrar na discussão sobre qual foi o primeiro samba da história ou a primeira escola fundada no Rio. Quisemos fazer um apanhado básico", explica Alberto Mussa.E esse discorrer relativo à matéria com a qual se tem familiaridade no caso dos dois autores refere-se exatamente aos sambas de enredo compostos no Rio. A elaboração do livro - contando desde as primeiras conversas de Mussa e Simas em botequins acerca do projeto - levou aproximadamente três anos. Para se ter uma ideia da envergadura e do alcance da investigação histórica e da entrega dos autores, a dupla ouviu 1.324 composições para escrever Samba de Enredo. Um trabalho desgastante para quem observa à distância. Mas, engana-se quem pensa que Mussa e Simas sentaram para escrever e posteriormente saíram à cata de gravações raras como subsídio para a feitura do livro. Era uma bagagem que ambos carregavam de longa estrada. "Não foi um trabalho de pesquisa deliberada, nós já conhecíamos todo o acervo. Mais de 90% dos discos de sambas de enredo nós já tínhamos", diz Mussa. "Não houve esse processo vertiginoso de pesquisa. Já existia uma vivência por termos famílias vinculadas ao samba. Dos LPs de escolas de samba, que começaram a ser gravados no fim da década de 1960, nós temos todos, sem contar, por exemplo, registros de sambas de enredo de Jamelão e Jorge Veiga em seus discos de carreira mesmo", conta Simas.Um dos pontos positivos do livro é contar com a verve literária do escritor Alberto Mussa e com a fidelidade aos fatos do historiador Luiz Antonio Simas, justificando o título Samba de Enredo - História e Arte. No fim das contas, o que se vê é uma obra elaborada a quatro mãos, apostando que a música tem o poder de traçar um retrato ao mesmo tempo fiel e artístico de um período que vai desde o fim do século 19 até o início do atual. "Você não consegue desvincular o samba do que acontecia na época, retratando o panorama político de determinados momentos, como, por exemplo, da Era Vargas. O samba de enredo é um documento", defende Simas.Mesmo, às vezes, com o livro embarcando em uma linguagem densa e laudatória, não se perde o prazer da leitura. Muito se deve ao fato de os autores não se aterem apenas a relatar a história, mas também de analisarem aspectos relativos às composições, como a superioridade dos sambas de enredo "graves e pesados" da Beija-Flor de Nilópolis - citando a belíssima composição O Mundo Místico dos Caruanas nas Águas do Patu Anu, de 1998 - e criticarem o andamento cada vez mais acelerado dos sambas. Algo louvável, que Cartola já fazia na década de 1950. "Ele já achava 135 batidas por minuto algo demasiado. Hoje, as escolas chegam a 150. Perdem a cadência, empobrecem o gênero, sem terem condições de fazer melodias sofisticadas como antigamente", diz Simas.O fim do livro ainda apresenta todos os sambas, de 1939 a 2009, catalogados, sem contar os mini perfis de compositores como Cartola, Carlos Cachaça, Candeia, Silas de Oliveira e Nei Lopes.

"Não deixe o samba morrer/ Não deixe o samba acabar." Faltando duas semanas para a maior festa popular do planeta, o carnaval, parece que dois amigos resolveram levar ao pé da letra a tão executada composição de Edson Conceição e Aloísio. Diversos gêneros da música popular nacional já tiveram sua estrutura e história esmiuçadas por especialistas. Livros sobre bossa nova, choro, marchinha e samba pululam no mercado a torto e a direito. Com um trabalho de fôlego, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas lançam agora Samba de Enredo - História e Arte (Civilização Brasileira, 240 págs., R$ 34,90), eternizando o gênero com um verdadeiro documento para a posteridade.Fala-se de um imortalizar justamente pelo fato de ser a primeira vez que se realiza um mergulho tão vertical e profundo especificamente sobre os sambas de enredo do Rio. Um livro repleto de méritos por lançar mão de ser pretensioso, daqueles que querem tratar de tudo, mas, no fim das contas, não dizem nada. Partindo dessa premissa, a dupla optou por contar a história do gênero samba de enredo, e não das escolas cariocas ou do carnaval como um todo. "A nossa pretensão era falar daquilo que conhecíamos bem, não quisemos entrar na discussão sobre qual foi o primeiro samba da história ou a primeira escola fundada no Rio. Quisemos fazer um apanhado básico", explica Alberto Mussa.E esse discorrer relativo à matéria com a qual se tem familiaridade no caso dos dois autores refere-se exatamente aos sambas de enredo compostos no Rio. A elaboração do livro - contando desde as primeiras conversas de Mussa e Simas em botequins acerca do projeto - levou aproximadamente três anos. Para se ter uma ideia da envergadura e do alcance da investigação histórica e da entrega dos autores, a dupla ouviu 1.324 composições para escrever Samba de Enredo. Um trabalho desgastante para quem observa à distância. Mas, engana-se quem pensa que Mussa e Simas sentaram para escrever e posteriormente saíram à cata de gravações raras como subsídio para a feitura do livro. Era uma bagagem que ambos carregavam de longa estrada. "Não foi um trabalho de pesquisa deliberada, nós já conhecíamos todo o acervo. Mais de 90% dos discos de sambas de enredo nós já tínhamos", diz Mussa. "Não houve esse processo vertiginoso de pesquisa. Já existia uma vivência por termos famílias vinculadas ao samba. Dos LPs de escolas de samba, que começaram a ser gravados no fim da década de 1960, nós temos todos, sem contar, por exemplo, registros de sambas de enredo de Jamelão e Jorge Veiga em seus discos de carreira mesmo", conta Simas.Um dos pontos positivos do livro é contar com a verve literária do escritor Alberto Mussa e com a fidelidade aos fatos do historiador Luiz Antonio Simas, justificando o título Samba de Enredo - História e Arte. No fim das contas, o que se vê é uma obra elaborada a quatro mãos, apostando que a música tem o poder de traçar um retrato ao mesmo tempo fiel e artístico de um período que vai desde o fim do século 19 até o início do atual. "Você não consegue desvincular o samba do que acontecia na época, retratando o panorama político de determinados momentos, como, por exemplo, da Era Vargas. O samba de enredo é um documento", defende Simas.Mesmo, às vezes, com o livro embarcando em uma linguagem densa e laudatória, não se perde o prazer da leitura. Muito se deve ao fato de os autores não se aterem apenas a relatar a história, mas também de analisarem aspectos relativos às composições, como a superioridade dos sambas de enredo "graves e pesados" da Beija-Flor de Nilópolis - citando a belíssima composição O Mundo Místico dos Caruanas nas Águas do Patu Anu, de 1998 - e criticarem o andamento cada vez mais acelerado dos sambas. Algo louvável, que Cartola já fazia na década de 1950. "Ele já achava 135 batidas por minuto algo demasiado. Hoje, as escolas chegam a 150. Perdem a cadência, empobrecem o gênero, sem terem condições de fazer melodias sofisticadas como antigamente", diz Simas.O fim do livro ainda apresenta todos os sambas, de 1939 a 2009, catalogados, sem contar os mini perfis de compositores como Cartola, Carlos Cachaça, Candeia, Silas de Oliveira e Nei Lopes.

"Não deixe o samba morrer/ Não deixe o samba acabar." Faltando duas semanas para a maior festa popular do planeta, o carnaval, parece que dois amigos resolveram levar ao pé da letra a tão executada composição de Edson Conceição e Aloísio. Diversos gêneros da música popular nacional já tiveram sua estrutura e história esmiuçadas por especialistas. Livros sobre bossa nova, choro, marchinha e samba pululam no mercado a torto e a direito. Com um trabalho de fôlego, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas lançam agora Samba de Enredo - História e Arte (Civilização Brasileira, 240 págs., R$ 34,90), eternizando o gênero com um verdadeiro documento para a posteridade.Fala-se de um imortalizar justamente pelo fato de ser a primeira vez que se realiza um mergulho tão vertical e profundo especificamente sobre os sambas de enredo do Rio. Um livro repleto de méritos por lançar mão de ser pretensioso, daqueles que querem tratar de tudo, mas, no fim das contas, não dizem nada. Partindo dessa premissa, a dupla optou por contar a história do gênero samba de enredo, e não das escolas cariocas ou do carnaval como um todo. "A nossa pretensão era falar daquilo que conhecíamos bem, não quisemos entrar na discussão sobre qual foi o primeiro samba da história ou a primeira escola fundada no Rio. Quisemos fazer um apanhado básico", explica Alberto Mussa.E esse discorrer relativo à matéria com a qual se tem familiaridade no caso dos dois autores refere-se exatamente aos sambas de enredo compostos no Rio. A elaboração do livro - contando desde as primeiras conversas de Mussa e Simas em botequins acerca do projeto - levou aproximadamente três anos. Para se ter uma ideia da envergadura e do alcance da investigação histórica e da entrega dos autores, a dupla ouviu 1.324 composições para escrever Samba de Enredo. Um trabalho desgastante para quem observa à distância. Mas, engana-se quem pensa que Mussa e Simas sentaram para escrever e posteriormente saíram à cata de gravações raras como subsídio para a feitura do livro. Era uma bagagem que ambos carregavam de longa estrada. "Não foi um trabalho de pesquisa deliberada, nós já conhecíamos todo o acervo. Mais de 90% dos discos de sambas de enredo nós já tínhamos", diz Mussa. "Não houve esse processo vertiginoso de pesquisa. Já existia uma vivência por termos famílias vinculadas ao samba. Dos LPs de escolas de samba, que começaram a ser gravados no fim da década de 1960, nós temos todos, sem contar, por exemplo, registros de sambas de enredo de Jamelão e Jorge Veiga em seus discos de carreira mesmo", conta Simas.Um dos pontos positivos do livro é contar com a verve literária do escritor Alberto Mussa e com a fidelidade aos fatos do historiador Luiz Antonio Simas, justificando o título Samba de Enredo - História e Arte. No fim das contas, o que se vê é uma obra elaborada a quatro mãos, apostando que a música tem o poder de traçar um retrato ao mesmo tempo fiel e artístico de um período que vai desde o fim do século 19 até o início do atual. "Você não consegue desvincular o samba do que acontecia na época, retratando o panorama político de determinados momentos, como, por exemplo, da Era Vargas. O samba de enredo é um documento", defende Simas.Mesmo, às vezes, com o livro embarcando em uma linguagem densa e laudatória, não se perde o prazer da leitura. Muito se deve ao fato de os autores não se aterem apenas a relatar a história, mas também de analisarem aspectos relativos às composições, como a superioridade dos sambas de enredo "graves e pesados" da Beija-Flor de Nilópolis - citando a belíssima composição O Mundo Místico dos Caruanas nas Águas do Patu Anu, de 1998 - e criticarem o andamento cada vez mais acelerado dos sambas. Algo louvável, que Cartola já fazia na década de 1950. "Ele já achava 135 batidas por minuto algo demasiado. Hoje, as escolas chegam a 150. Perdem a cadência, empobrecem o gênero, sem terem condições de fazer melodias sofisticadas como antigamente", diz Simas.O fim do livro ainda apresenta todos os sambas, de 1939 a 2009, catalogados, sem contar os mini perfis de compositores como Cartola, Carlos Cachaça, Candeia, Silas de Oliveira e Nei Lopes.

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