"Nossa, Sideral?", se surpreendeu a agente do Aeroporto de Guarulhos ao ler nosso cartão no portal amarelinho do embarque nacional. "Só vi o aviãozinho deles aí, mas essa é nova", ouviu como resposta do colega. Estávamos ali justamente para conhecer a novidade. Mais do que a aeronave, a experiência completa criada pela operadora ViagensPromo: pacotes de luxo para 2 resorts do Nordeste a bordo de um Boeing 737-500 apenas com assentos de classe executiva, algo inédito no Brasil.
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Previstas para a alta temporada, as viagens para o Transamerica, resort na Ilha de Comandatuba (Bahia), ou para o hotel Nannai, Porto de Galinhas com luxo, em Muro Alto (Pernambuco), serão realizadas no verão, começando com o Réveillon disponível no primeiro resort e seguindo com saídas para ambos até o Carnaval.
O luxo no produto chamado de VP Premium começa na saída de casa, com um motorista particular buscando o passageiro para levar a Guarulhos. Na chegada ao aeroporto, o check-in já está feito, basta eventualmente despachar a mala. Comissários com taças de espumante e chocolates recebem os passageiros. Sobre o assento, com 95 cm de largura e 1,30 m de comprimento, uma bolsa guarda mimos, como travesseirinho e necessaire com creme de mãos e hidratante labial L'Occitane.
"Aquele brasileiro de alto poder aquisitivo que tem seu jato vai viajar com ele. Mas e a pessoa que tem um bom poder aquisitivo, quer mais conforto, só que não tem esse tipo de serviço? Como dentro do Brasil hoje ainda não existe, é isso que estou tentando mostrar. Pode existir, mas ainda não existe, e eu espero que exista cada vez mais. A gente está tentando fazer algo diferente sempre", afirmou Renato Kido, sócio da ViagensPromo, ao lado de Renato Alves.
A operadora, que vende seus pacotes apenas por meio de agências de viagem, propôs a novidade à companhia aérea do Sul do Brasil, depois de investir em fretamentos e crescer vertiginosamente durante a pandemia. Em 5 anos de existência, a ViagensPromo saiu de 12 funcionários para quase 150 atualmente.
Os sócios começaram a fechar contratos e a vender pacotes em voos fretados em 2020, apostando que as pessoas voltariam a viajar, só que as passagens em voos regulares estariam caras. A possibilidade de lançar um produto inédito para o viajante no Brasil levou a dupla ao luxo.
"Foi uma oportunidade que a gente viu na aeronave. Nada mais fácil do que casar esse equipamento com um produto de luxo", explicou Alves. Desconhecida pela maior parte das pessoas, assim como era para nós, a Sideral é historicamente uma empresa cargueira, mas acumula experiência de décadas e transporta VIPs, como artistas e times de futebol, em seus aviões de passageiros.
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Os pacotes por pessoa, que podem ser divididos em até 10 vezes sem juros, custam a partir de R$ 10.042,60 (preço da viagem entre 3 e 7/1/24) para o Comandatuba, com all inclusive; e desde R$ 14.474,41 (roteiro de 9 a 14/2) para o Nannai, com meia pensão.
Fernando Victorino, meu sócio no Como Viaja, e eu fomos convidados pela ViagensPromo a experimentar em primeira mão esses 2 roteiros na mesma semana. De segunda a quarta, estivemos no resort de Comandatuba. Saímos do avião, mas não do Aeroporto de Guarulhos, e embarcamos novamente rumo ao Nordeste. Desta vez, até sexta conhecemos o Nannai Muro Alto.
"Estamos tentando mudar um pouco o jeito de trabalhar do nosso segmento, que sempre fez as coisas da mesma maneira", afirmou Kido. "Esse Brasil todo tem muito para explorar. Vocês não imaginam o tamanho da diversidade. Eu sonho em fazer voo para o Pantanal, para Chapada, sonho levar produtos para a Amazônia, em Alter do Chão, em Belém. Tudo isso é um desejo meu. E vai se concretizar."
Tanto no VP Premium quanto nas viagens com aviões normais, a dupla faz mistério sobre novos pacotes, mas garante futuras novidades, e não apenas no mercado de luxo. "Estou tentando criar esse mesmo tipo de produto em (turismo) rodoviário, em uma outra aeronave com outra configuração", contou Kido.
Neste ano, a empresa vendeu pacotes em voos fretados para a temporada de neve de Bariloche, na Argentina. Para 2023, a ViagensPromo tem mais de 250 fretamentos previstos para a alta temporada e em torno de 160 na baixa para destinos nacionais.
Nesta Entrevista da Semana, reproduzo o bate-papo que Fernando e eu tivemos com a dupla à frente da ViagensPromo. Na Bahia, falamos com Alves; em Pernambuco, com Kido. Leia a seguir o que eles contaram sobre a ideia, as primeiras saídas, os pacotes para o verão e o futuro.
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No Comandatuba, com Alves:
NM - Por que entrar no mercado de luxo? RA - O mercado de luxo foi uma oportunidade que a gente viu da aeronave. Nada mais fácil do que casar esse equipamento com um produto de luxo. Mas a ViagensPromo tem 5 anos de idade, tanto eu como o Kido a gente é jovem, a gente tem de fazer coisas diferentes. Porque se a gente continuar com o mesmo turismo de sempre... Na pandemia, a gente fez voo fretado, e o pessoal falou que a gente era louco. A consequência é que hoje a gente tem 3 voos semanais fretados e, na alta temporada, opera um monte. Então, a gente tem de fazer alguma coisa diferente para o mercado mudar. A gente não quer ser mais do mesmo.
FV - Nasceu de uma ideia de vocês ou da percepção de que um público queria algo totalmente inédito? RA - O passageiro de luxo que gasta R$ 30 mil gasta R$ 33 mil, R$ 35 mil. Quando a gente pensa em fazer algo diferente, no primeiro momento a gente falou 'vamos fazer essa aeronave ser uma extensão do all inclusive do hotel'. Mas o X da questão foi falar: 'passageiro de alta renda, tem esse equipamento aqui em que você pode pagar um pouco a mais e ter mais conforto'. Hoje ele gasta os mesmos R$ 30 mil no pacote, mas está indo num voo regular, num comboio, digamos assim. Esse voo dá essa privacidade.
FV - Vocês não quiseram antecipar, mas disseram que vem novidade por aí. Vai continuar sendo Nordeste? RA - Não, a gente vem com mais rotas, com outras coisas referente a aéreo.
NM - Não é esse mesmo avião? RA - Não. Outros resorts já nos procuraram para fazer alguma coisa, mas vai da nossa disponibilidade, do resultado, do que isso vai dar antes de partir para outras coisas. Essa é uma aeronave que já tem habilitação para ir direto para a América do Sul. Então, se eu quisesse vender Bariloche hoje, a gente já consegue. Se eu quiser fazer uma experiência de vinho com passageiros de luxo, essa aeronave vai direto para Mendoza.
NM - Ou seja, não é à toa que você está citando a Argentina. RA - (risos) Eu citei Argentina porque é um voo direto. Porque, se for um voo para o Caribe, ele tem de fazer uma escala em Manaus (por causa da autonomia).
NM - Mas isso está sendo considerado? RA - Está sendo. Tem várias coisas que a gente pode fazer. É um céu azul para a gente.
NM - Sobre os fretamentos em aviões normais, que vocês fazem 3 vezes por semana, muitos saem de Confins. Vocês estão apostando no aeroporto? RA - O mercado mineiro sempre foi bom para a gente. Os voos fretados que a gente fez durante a pandemia e esses que a gente tem semanalmente saem de Confins. A gente fez um trabalho com o mercado mineiro, não com a capital mineira. São coisas completamente diferentes. Nos nossos fretamentos de Confins, para o passageiro que está em Divinópolis ou Conselheiro Lafaiete, a gente põe transfers gratuitos para ele chegar até o aeroporto. É um diferencial enorme. São seis cidades atendidas. Se tem alguém próximo, tem de ir até um ponto de encontro para pegar esse transfer de ida e volta.
NM - O fretamento foi a tacada de mestre de vocês? RA - Não só o fretamento, a gente treina e conversa com os nossos colaboradores que não é só vender. Todo mundo vende, mas a gente tem de ter um relacionamento, chamar a pessoa pelo nome. Se ela tem um problema, atender. A gente só faz B2B, só vende para agência de viagem.
FV - Trazer o cliente para perto é uma tendência? Pensar no consumidor e diminuir essa impessoalidade é o caminho do turismo, especialmente no Brasil? RA - Eu digo que a ViagensPromo é uma empresa humanizada. Alguns anos atrás, uma grande empresa disse que o agente de viagem iria acabar. Eu penso o contrário: se o agente se especializar, se ele estudar, se se profissionalizar, a pandemia mostrou que ele não vai acabar nunca. Porque empresas grandes entraram em colapso quando teve um problema porque não tinham gente para atender. E a gente fez o reverso. Claro, a gente teve sorte de crescer na pandemia, mas teve também muito pedido de reembolso, muito agente de viagem ligou pedindo ajuda. Pela lei, a gente poderia pagar os passageiros até o fim de 2023, mas a gente tomou a decisão de reembolsar em 15 dias. Foram essas decisões que hoje a gente colhe.
NM - Você tem uma rede de agentes em que o consumidor final vai encontrar esse produto e os próximos? RA - A gente tem mais de 10 mil cadastros de agências que já compraram com a ViagensPromo e são homologadas para vender os produtos. Não só esse fretamento de luxo, o VP Premium, mas todos os outros.
NM - Principalmente no Sudeste ou no Brasil todo? RA - Por enquanto, esse produto sai de Guarulhos. Mas a gente já tem um trabalho para fazer alguma coisa mais para o Sul. Em Confins, a gente tem os semanais. Mas, durante a temporada de verão, aumenta essa demanda. Então tem voo de Brasília para Maceió, que começa no Réveillon e vai até o fim de janeiro, e de Porto Alegre para Porto Seguro também.
NM - Dos grandes mercados emissores: Sul, Sudeste e Brasília? Sim, mas a gente faz Campo Grande, por exemplo. E sempre nesse esquema de sair da capital. Hoje a gente está bem em algumas capitais, mas não abre base lá.
No Nannai, com Kido:
NM - Notamos algumas diferenças do primeiro para o segundo voo. Já foram melhorias? RK - Existem melhorias nossas e mimos que o hotel quer proporcionar aos passageiros. O Nannai quis embarcar com o champanhe da sua marca. Eles pediram para o passageiro vivenciar a experiência do hotel desde o voo. Da minha parte, senti falta de um cardápio impresso e pedi para fazer. Para o próximo, a gente pensou em colocar um tapete no check in, um totem de identificação nosso. Tem uma coisa mais difícil porque envolve outras regras, dos aeroportos, que é facilitar um pouco a vistoria. Quando você pega o aeroporto muito lotado, é desgastante ficar naquela fila. Isso é uma tentativa, depende de autorizações, vou ver se consigo fazer de outra maneira para facilitar. A gente também está em negociação com uma sala VIP.
FV - Na apresentação do Comandatuba, vocês disseram que tem mais coisa vindo por aí. O que a gente pode esperar: é mais Brasil, Nordeste, os nossos vizinhos? RK - Meu canal só vende somente para agências de viagens. A concorrência está cada vez mais difícil, concorrer com OTA (sigla em inglês para agência de viagens online), com o site da companhia, porque eles induzem o passageiro a comprar diretamente e não por um agente de viagens. O que a gente fez? Criou um produto que a companhia aérea não vai vender, a OTA não vai vender. Teoricamente eu criei uma blindagem para o agente de viagem. Seu passageiro vai querer? Então ele vai comprar de você. Eu não vendo direito, então ele também não pode comprar de mim. Quando falo que vem mais por aí, quero dizer que hoje a gente é muito refém de três companhias aéreas. E cada vez mais eles vêm elevando os preços, o que é natural. Para quem ficou dois anos e pouco parado na pandemia, a conta chega, então é normal irem subindo gradativamente os preços. Não vai mais existir um patamar de companhia que vai praticar preço baixo.
NM - Assim como os hotéis no Brasil? RK - Assim como os hotéis. Então o que na verdade a gente está montando? Para criar mais ferramentas para blindar o agente de viagem, hoje estou criando um produto premium, de luxo. Estou tentando criar esse mesmo tipo de produto em (turismo) rodoviário, em uma outra aeronave com outra configuração.
NM - Tudo com a Sideral? RK - Nem sempre. As companhias têm de ter estrutura. O movimento que fiz com a Sideral levou quase quatro meses, estudando, indo toda hora para Curitiba, conversando com o presidente.
FV - Mas foi rápido, até pelas demandas que você fez para eles. RK - Foi uma coisa super rápida. Até porque você começa a ganhar uma confiança. A primeira vez em que eu fui lá e visitei a empresa comecei a me sentir mais confortável. Porque quem conhece a Sideral sabe que é uma empresa cargueira. Ninguém sabia que ela transportava passageiros.
FV - Vocês começaram com o luxo porque está mais aquecido? A preocupação é criar pacotes em todos os segmentos no Brasil? RK - As pessoas me perguntaram se faço internacional com essa aeronave. Faço. Quero fazer nesse momento? Não. Lá fora já existe classe executiva, a companhia que faz esse tipo de serviço. Teoricamente eu seria mais um nesse mercado.
NM - Não se você voar diretamente para Bariloche, como ontem a gente estava falando com o Alves... RK - Existem algumas alternativas. Aquele brasileiro de alto poder aquisitivo que tem seu jato vai viajar com ele. Mas e a pessoa que tem um bom poder aquisitivo, quer mais conforto, só que não tem esse tipo de serviço? Como dentro do Brasil hoje ainda não existe, é isso que estou tentando mostrar. Pode existir, mas ainda não existe, e eu espero que exista cada vez mais. A gente está tentando fazer algo diferente sempre. Como intermediador entre companhia aérea, hotel, receptivo, locação, passeios, tudo, fica cada vez mais difícil competir no mercado como intermediário, que pode ser eu ou uma agência de viagens. Você poderia comprar o Nannai comigo, mas poderia comprar ligando aqui no hotel. Estou criando esse tipo de produto para quê? Se você for numa agência e ela pedir esse produto, ela vai falar comigo. A gente está criando produtos para que eu consiga me blindar do mercado porque a tendência é ir diretamente no consumidor final. E todos os intermediários que existem no meio deixam de existir? Quando falo que vem mais por aí, a gente está criando outros produtos, mas não necessariamente é luxo. Vem novidade maior do essa? Pode apostar.
NM - Em termos de aperfeiçoamento do VP Premium, existem demandas que o mercado de luxo exige, como wifi a bordo. É difícil implantar? O custo é muito alto? RK - Não, às vezes, depende do modelo do equipamento só. Isso já foi um pedido meu para a Sideral, e eles já estão revendo. O problema é que essas aeronaves não ficam paradas muito tempo porque atendem a times de futebol, bandas, CBF... Elas não têm muito tempo de parar para fazer essa instalação.
NM - E a quantidade de plástico a bordo? Os tamanhos das porções podem ser menores, mas em potinho de louça, por exemplo. RK - Como o mercado de companhias aéreas não trabalha mais esse tipo de serviço, são adaptações que a gente vai fazendo aos poucos. Teoricamente, esse contato é da companhia aérea com a empresa de catering. Não é uma coisa minha, só intermedio. Mas, por exemplo, o talher de aço fui eu que pedi para eles. Servir em copo de vidro e não de plástico fui eu que pedi para eles.
FV - É um retorno ao que foi nas décadas de 50 e 60, quando era glamuroso viajar. RK - Estamos tentando mudar um pouco o jeito de trabalhar do nosso segmento, que sempre fez as coisas da mesma maneira. Esse Brasil todo tem muito para explorar, vocês não imaginam o tamanho da diversidade. Eu sonho em fazer voo para o Pantanal, para Chapada, sonho levar produtos para a Amazônia, em Alter do Chão, em Belém. Tudo isso é um desejo meu. E vai se concretizar.