O mundo das viagens e as minhas viagens pelo mundo

Aula de esqui em Whistler, no Canadá: eu fiz na estação e conto como é


Na estação de esqui de Whistler no Canadá, mostro como é a aula para iniciante. Se eu fiz, você também consegue deslizar na neve!

Por Nathalia Molina

A promessa estava feita ao meu filho de 7 anos: se eu caísse de bunda na neve, tiraria uma foto para ele ver. Afinal, depois de uns dez anos sem subir num par de esquis, eu ia para a principal estação do Canadá, em Whistler. Tinha medo de tentar de novo, mas não podia ir ao centro de esqui sem dar uma chance a mim mesma de sentir a neve como os locais fazem, deslizando. A vontade era maior que a vergonha de fazer feio. Então aceitei o convite feito por Whistler Blackcomb para experimentar uma aula com professores da estação.

Em Whistler, fazendo pose e caindo na aula de esqui - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Seria minha primeira vez em Whistler. Iria sair de Toronto, voar até Vancouver (no outro lado do país, já no Pacífico) e depois subir as montanhas da província de British Columbia até a vila, distante cerca de 120 quilômetros. Sabia que, quando estivesse lá, me arrependeria de nem ao menos ter tentado.

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Whistler Blackcomb foi eleita três anos pelos leitores da revista Ski Magazine como a melhor estação da América do Norte, na qual já detém o título de maior área esquiável, com cerca de 33 quilômetros quadrados (ou 8.100 acres). Os números da estação canadense incluem ainda 37 meios de elevação e cerca de 200 pistas. Com 50 anos de existência, o centro de esqui de Whistler foi comprado pela americana Vail Resorts em outubro do ano passado.

Na aula de esqui na estação Whistler Blackcomb  - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Convite aceito, viagem feita, vi que tinha sido a escolha certa. Whistler realmente é um destino para quem não esquia também -- como descrevi, fiquei encantada com as opções de programas em Whistler com ou sem esqui. Mas também foi surpreendente ver que as aulas da estação servem mesmo para qualquer nível de esquiador.

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Preparativos para a classe

Não pense que o exercício começa quando se está sobre os esquis. Começa na loja de roupas e acessórios, de preferência no fim do dia anterior à prática, para evitar filas e atrasos à aula. Passo aqui a recomendação que me fizeram. E, devo dizer, siga à risca. Também garanta com antecedência seu passe para a aula e para os meios de elevação da estação porque o centro de visitantes na vila costuma ficar cheio.

Na loja de aluguel de equipamento, ainda que você não encontrasse ninguém à frente para ser atendido, algo quase impossível durante a temporada de inverno, teria de preencher o cadastro e dificilmente acertaria de cara o tamanho da roupa, do capacete e das botas. Tem de experimentar até se sentir bem. As botas, assim como os sapatos, mudam de forma conforme o fabricante. Devem ficar justas aos pés para evitar que eles se movimentem durante a prática e isso possa levar a torções, por exemplo. Mas também não podem estar apertadas.

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Vai no fim do dia anterior porque tem fila  

Passei, então, para resgatar os esquis. O funcionário da área de armazenamento do Crystal Lodge me ensinou como apoiar o par no ombro e prendeu meu capacete à mochila. Ainda me tirou esta foto, que eu adorei! Depois, segui em direção à base da estação. Prepare os braços porque os esquis não são levinhos.

Check-list: tudo pronto  
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Como não estou acostumada a caminhar no gelo, a usar botas de esqui e a carregar esse equipamento todo, me senti bem engraçada. Andava passo por passo, deslocando o pé de modo bem marcado, ficando um pé inteiro no chão, depois outro. Era algo no melhor estilo boneco de neve ou astronauta com pés de chumbo! ?

Como e onde começa a aula

Chegando à entrada do centro de visitantes na vila, professores com uniforme de Whistler Blackcomb aguardavam os alunos em barracas, numeradas de acordo com o nível do esquiador. Após uma breve conversa, eles avaliaram se todo mundo estava na classe certa ou se a pessoa era mais ou menos avançada do que imaginava. Como eu já sabia o que se tem de fazer para frear na neve e para fazer curva, me promoveram ao nível 2.

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Me gelou por dentro a possibilidade de passar vergonha por atrasar o restante dos alunos, mas a estrutura que vi montada ali e a leveza dos professores no trato com todos me passaram muita confiança. Eles não seriam doidos de me mudar se não achassem que dava, me convenci. Ajudou também o fato de a turma ser pequena: no programa MAX4, como o nome diz, a classe tem no máximo quatro pessoas. A aula pode ser de half day (meio dia) ou full day (dia inteiro). Eu estava inscrita na segunda opção.

A turma no início da classe  

Éramos todas mulheres, com uma simpática professora, Dawn. Tomamos o bondinho para subir a montanha de Whistler. Os esquis vão do lado de fora, numa espécie de canaleta para acomodá-los. A área de iniciantes fica numa parada antes do meio de elevação seguir em direção ao topo. Para esta temporada, a estação investiu 2,4 milhões de dólares canadenses em melhorias nesse espaço para principiantes.

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No lugar certo: a área de inciiantes  
Estação na área de principantes  

Na proporção em que subíamos a excitação de me ver na neve aumentava. Dawn fez uma breve pesquisa sobre o histórico e os hábitos esportivos atuais de cada uma. Meio sem jeito, respondi que tinha feito dez anos de balé durante a infância e a adolescência, porém, atualmente mantenho apenas meia hora de caminhada diária. Ela garantiu que, juntando isso ao fato de que já tinha esquiado (mesmo que há dez anos), eu me sairia bem.

Assim que descemos na área de principiantes, Dawn nos mostrou onde ficava o banheiro e avisou que lá dentro havia um bebedouro, que poderíamos usar durante a prática. Ok, visto isso, fomos para neve (oba!). Tudo branquinho em volta, até em nossos rostos, que insistiam em mostrar todos os dentes em largos sorrisos. Todas quiseram fotos sozinhas e com o grupo. Quem me vê nessa pose, segurando os esquis, até pensa que sou profissional...

Lição com flocos de neve

O céu não estava mais azul, como no dia anterior, mas o cinza sumia no horizonte com a visão dos flocos que caíam. Sim, eu estava na aula de esqui e nevava! Cena típica dos sonhos de quem é de um país dos Trópicos e vai para um destino de neve. O cenário estava todo lá, parecia encomendado. Não conseguia parar de fotografar e filmar.

Quem vê pensa...  

Não faça como eu, aliás, que quis registrar tudo para mostrar junto com os textos e acabei ficando com duas bolhas terríveis nos mindinhos. Terríveis mesmo. Infeccionaram e levaram um mês para secar. Isso porque, aprenda, bota de esqui é para esquiar. Eu caminhei horrores no gelo e não alarguei a fivela da frente do calçado quando os pés começaram a inchar com o passar das horas. Só me dei conta do estrago no fim do dia, de tão hipnotizada que fiquei com tudo aquilo.

Andei bem. Além de ter a aula na área da base da montanha Whistler, subi até o topo. De lá, é possível chegar à outra montanha da estação, Blackcomb, tomando a gôndola Peak 2 Peak. Faça isso: essa foi uma das experiências mais sensacionais da minha última viagem ao Canadá. Com 4,4 quilômetros de comprimento, é o mais longo meio de elevação contínuo do mundo. Juntos, a floresta de pinheiros à frente, os lagos lá longe, os morros cobertos de neve em volta e o horizonte esbranquiçado formavam uma pintura.

Um dia quem sabe  
Esquiadores deslizando do topo da montanha de Whistler  

Lá embaixo, durante a aula, esse tom me cercou. Fui parte do quadro. Meu olhar acompanhou o desenho montanha acima. Parecia gigante. Eu pequenina. Como criança, aprendendo a andar. De esqui. Bem, como criança não. Porque elas dão de dez a zero emnós, adultos principiantes!

Como é bom ser criança  

A prática na pista

Dawn treinou com a gente como fazer curva. Primeiramente, usando uma perna de cada vez. Depois, praticou como parar, fazendo um V com os esquis com as pontas juntas na frente. Estava desequilibrando? Era só flexionar os joelhos, pôr as mãos nas coxas e projetar o corpo um pouco para frente para retomar o controle.

Fomos para a esteira que leva os iniciantes até a parte mais alta de um plano suavemente inclinado. Chance de praticar a descida de leve. Dei uma patinada com os esquis para subir até a entrada do tapete deslizante. Mas chegguei. Me posicionei e lá fui euuuu!!

A cena era de filme de Natal. Enquanto a esteira me transportava, os floquinhos tocavam meu rosto. Impossível conter meu deslumbramento. A esta altura, o medo de não conseguir já tinha sido esquecido. Eu estava lá, e a professora acompanhava a turma de perto, observando os limites e as habilidades de cada aluna.

Sob meus pés (esquis)  

Lindo. Mas como sair da esteira? Ai, tem uma ladeirinha na neve... Uoooooooouuu!! Seria hora da tal foto para o meu filho? Frio na barriga. Uhuulll, deslizei e fiz a curva. Alcancei a pista. Desci o morrinho sem percalços. Só cansaço. Quem faz qualquer tipo de esporte deve aguentar bem mais, pensei. Minha meia hora de caminhada diária não parecia bastar. Mas fui adiante. Repeti o exercício, com mais uma voltinha no tapete com floquinhos.

A neve e o suadouro da aula me deram muita sede. Pedi à Dawn para parar para tomar água e para descansar um pouco. Quem sabe, depois disso aguentaria até de tarde. Voltei à neve e tentei mais umas descidas. A sensação de leveza ao deslizar no gelo é muito boa. Estava curtindo muito, mas faltou perna. Não caí. Joguei o corpo na neve.

Para conseguir seguir por mais tempo, não pegou a inexperiência com esportes de neve (com isso me virei bem), mas, sim, o condicionamento físico. Aguentei meio dia de aula, mas o restante não deu. Expliquei a Dawn que tinha atingido meu limite. Como tenho fibromialgia (síndrome de dor crônica), minha percepção de dor é mais intensa que a média. Ao saber disso, ela se mostrou ainda mais surpresa com a minha desenvoltura na pista.

A simpática e paciente Dawn  

Em relação à parte de saúde, meu médico tinha me dito que eu poderia esquiar. Mas, considerando minha falta de familiaridade com o assunto, me restavam dúvidas. Não mais. Eu tinha conseguido. E tinha gostado muito.

Ao me levar até perto do meio de elevação, na saída, Dawn me perguntou com o que eu tinha me surpreendido mais naquela manhã de aula. Antes da minha resposta, concluiu: "Você se surpreendeu com você mesma, certo?" Estar num lugar daqueles, tão maçicamente bonito, e enfrentar o medo de esquiar me fizeram sentir ainda mais viva.

QUEM FAZ

Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja, no grupo gratuito no WhatsApp e em comoviaja.com.br

 

A promessa estava feita ao meu filho de 7 anos: se eu caísse de bunda na neve, tiraria uma foto para ele ver. Afinal, depois de uns dez anos sem subir num par de esquis, eu ia para a principal estação do Canadá, em Whistler. Tinha medo de tentar de novo, mas não podia ir ao centro de esqui sem dar uma chance a mim mesma de sentir a neve como os locais fazem, deslizando. A vontade era maior que a vergonha de fazer feio. Então aceitei o convite feito por Whistler Blackcomb para experimentar uma aula com professores da estação.

Em Whistler, fazendo pose e caindo na aula de esqui - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Seria minha primeira vez em Whistler. Iria sair de Toronto, voar até Vancouver (no outro lado do país, já no Pacífico) e depois subir as montanhas da província de British Columbia até a vila, distante cerca de 120 quilômetros. Sabia que, quando estivesse lá, me arrependeria de nem ao menos ter tentado.

Whistler Blackcomb foi eleita três anos pelos leitores da revista Ski Magazine como a melhor estação da América do Norte, na qual já detém o título de maior área esquiável, com cerca de 33 quilômetros quadrados (ou 8.100 acres). Os números da estação canadense incluem ainda 37 meios de elevação e cerca de 200 pistas. Com 50 anos de existência, o centro de esqui de Whistler foi comprado pela americana Vail Resorts em outubro do ano passado.

Na aula de esqui na estação Whistler Blackcomb  - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Convite aceito, viagem feita, vi que tinha sido a escolha certa. Whistler realmente é um destino para quem não esquia também -- como descrevi, fiquei encantada com as opções de programas em Whistler com ou sem esqui. Mas também foi surpreendente ver que as aulas da estação servem mesmo para qualquer nível de esquiador.

Preparativos para a classe

Não pense que o exercício começa quando se está sobre os esquis. Começa na loja de roupas e acessórios, de preferência no fim do dia anterior à prática, para evitar filas e atrasos à aula. Passo aqui a recomendação que me fizeram. E, devo dizer, siga à risca. Também garanta com antecedência seu passe para a aula e para os meios de elevação da estação porque o centro de visitantes na vila costuma ficar cheio.

Na loja de aluguel de equipamento, ainda que você não encontrasse ninguém à frente para ser atendido, algo quase impossível durante a temporada de inverno, teria de preencher o cadastro e dificilmente acertaria de cara o tamanho da roupa, do capacete e das botas. Tem de experimentar até se sentir bem. As botas, assim como os sapatos, mudam de forma conforme o fabricante. Devem ficar justas aos pés para evitar que eles se movimentem durante a prática e isso possa levar a torções, por exemplo. Mas também não podem estar apertadas.

Vai no fim do dia anterior porque tem fila  

Passei, então, para resgatar os esquis. O funcionário da área de armazenamento do Crystal Lodge me ensinou como apoiar o par no ombro e prendeu meu capacete à mochila. Ainda me tirou esta foto, que eu adorei! Depois, segui em direção à base da estação. Prepare os braços porque os esquis não são levinhos.

Check-list: tudo pronto  

Como não estou acostumada a caminhar no gelo, a usar botas de esqui e a carregar esse equipamento todo, me senti bem engraçada. Andava passo por passo, deslocando o pé de modo bem marcado, ficando um pé inteiro no chão, depois outro. Era algo no melhor estilo boneco de neve ou astronauta com pés de chumbo! ?

Como e onde começa a aula

Chegando à entrada do centro de visitantes na vila, professores com uniforme de Whistler Blackcomb aguardavam os alunos em barracas, numeradas de acordo com o nível do esquiador. Após uma breve conversa, eles avaliaram se todo mundo estava na classe certa ou se a pessoa era mais ou menos avançada do que imaginava. Como eu já sabia o que se tem de fazer para frear na neve e para fazer curva, me promoveram ao nível 2.

Me gelou por dentro a possibilidade de passar vergonha por atrasar o restante dos alunos, mas a estrutura que vi montada ali e a leveza dos professores no trato com todos me passaram muita confiança. Eles não seriam doidos de me mudar se não achassem que dava, me convenci. Ajudou também o fato de a turma ser pequena: no programa MAX4, como o nome diz, a classe tem no máximo quatro pessoas. A aula pode ser de half day (meio dia) ou full day (dia inteiro). Eu estava inscrita na segunda opção.

A turma no início da classe  

Éramos todas mulheres, com uma simpática professora, Dawn. Tomamos o bondinho para subir a montanha de Whistler. Os esquis vão do lado de fora, numa espécie de canaleta para acomodá-los. A área de iniciantes fica numa parada antes do meio de elevação seguir em direção ao topo. Para esta temporada, a estação investiu 2,4 milhões de dólares canadenses em melhorias nesse espaço para principiantes.

No lugar certo: a área de inciiantes  
Estação na área de principantes  

Na proporção em que subíamos a excitação de me ver na neve aumentava. Dawn fez uma breve pesquisa sobre o histórico e os hábitos esportivos atuais de cada uma. Meio sem jeito, respondi que tinha feito dez anos de balé durante a infância e a adolescência, porém, atualmente mantenho apenas meia hora de caminhada diária. Ela garantiu que, juntando isso ao fato de que já tinha esquiado (mesmo que há dez anos), eu me sairia bem.

Assim que descemos na área de principiantes, Dawn nos mostrou onde ficava o banheiro e avisou que lá dentro havia um bebedouro, que poderíamos usar durante a prática. Ok, visto isso, fomos para neve (oba!). Tudo branquinho em volta, até em nossos rostos, que insistiam em mostrar todos os dentes em largos sorrisos. Todas quiseram fotos sozinhas e com o grupo. Quem me vê nessa pose, segurando os esquis, até pensa que sou profissional...

Lição com flocos de neve

O céu não estava mais azul, como no dia anterior, mas o cinza sumia no horizonte com a visão dos flocos que caíam. Sim, eu estava na aula de esqui e nevava! Cena típica dos sonhos de quem é de um país dos Trópicos e vai para um destino de neve. O cenário estava todo lá, parecia encomendado. Não conseguia parar de fotografar e filmar.

Quem vê pensa...  

Não faça como eu, aliás, que quis registrar tudo para mostrar junto com os textos e acabei ficando com duas bolhas terríveis nos mindinhos. Terríveis mesmo. Infeccionaram e levaram um mês para secar. Isso porque, aprenda, bota de esqui é para esquiar. Eu caminhei horrores no gelo e não alarguei a fivela da frente do calçado quando os pés começaram a inchar com o passar das horas. Só me dei conta do estrago no fim do dia, de tão hipnotizada que fiquei com tudo aquilo.

Andei bem. Além de ter a aula na área da base da montanha Whistler, subi até o topo. De lá, é possível chegar à outra montanha da estação, Blackcomb, tomando a gôndola Peak 2 Peak. Faça isso: essa foi uma das experiências mais sensacionais da minha última viagem ao Canadá. Com 4,4 quilômetros de comprimento, é o mais longo meio de elevação contínuo do mundo. Juntos, a floresta de pinheiros à frente, os lagos lá longe, os morros cobertos de neve em volta e o horizonte esbranquiçado formavam uma pintura.

Um dia quem sabe  
Esquiadores deslizando do topo da montanha de Whistler  

Lá embaixo, durante a aula, esse tom me cercou. Fui parte do quadro. Meu olhar acompanhou o desenho montanha acima. Parecia gigante. Eu pequenina. Como criança, aprendendo a andar. De esqui. Bem, como criança não. Porque elas dão de dez a zero emnós, adultos principiantes!

Como é bom ser criança  

A prática na pista

Dawn treinou com a gente como fazer curva. Primeiramente, usando uma perna de cada vez. Depois, praticou como parar, fazendo um V com os esquis com as pontas juntas na frente. Estava desequilibrando? Era só flexionar os joelhos, pôr as mãos nas coxas e projetar o corpo um pouco para frente para retomar o controle.

Fomos para a esteira que leva os iniciantes até a parte mais alta de um plano suavemente inclinado. Chance de praticar a descida de leve. Dei uma patinada com os esquis para subir até a entrada do tapete deslizante. Mas chegguei. Me posicionei e lá fui euuuu!!

A cena era de filme de Natal. Enquanto a esteira me transportava, os floquinhos tocavam meu rosto. Impossível conter meu deslumbramento. A esta altura, o medo de não conseguir já tinha sido esquecido. Eu estava lá, e a professora acompanhava a turma de perto, observando os limites e as habilidades de cada aluna.

Sob meus pés (esquis)  

Lindo. Mas como sair da esteira? Ai, tem uma ladeirinha na neve... Uoooooooouuu!! Seria hora da tal foto para o meu filho? Frio na barriga. Uhuulll, deslizei e fiz a curva. Alcancei a pista. Desci o morrinho sem percalços. Só cansaço. Quem faz qualquer tipo de esporte deve aguentar bem mais, pensei. Minha meia hora de caminhada diária não parecia bastar. Mas fui adiante. Repeti o exercício, com mais uma voltinha no tapete com floquinhos.

A neve e o suadouro da aula me deram muita sede. Pedi à Dawn para parar para tomar água e para descansar um pouco. Quem sabe, depois disso aguentaria até de tarde. Voltei à neve e tentei mais umas descidas. A sensação de leveza ao deslizar no gelo é muito boa. Estava curtindo muito, mas faltou perna. Não caí. Joguei o corpo na neve.

Para conseguir seguir por mais tempo, não pegou a inexperiência com esportes de neve (com isso me virei bem), mas, sim, o condicionamento físico. Aguentei meio dia de aula, mas o restante não deu. Expliquei a Dawn que tinha atingido meu limite. Como tenho fibromialgia (síndrome de dor crônica), minha percepção de dor é mais intensa que a média. Ao saber disso, ela se mostrou ainda mais surpresa com a minha desenvoltura na pista.

A simpática e paciente Dawn  

Em relação à parte de saúde, meu médico tinha me dito que eu poderia esquiar. Mas, considerando minha falta de familiaridade com o assunto, me restavam dúvidas. Não mais. Eu tinha conseguido. E tinha gostado muito.

Ao me levar até perto do meio de elevação, na saída, Dawn me perguntou com o que eu tinha me surpreendido mais naquela manhã de aula. Antes da minha resposta, concluiu: "Você se surpreendeu com você mesma, certo?" Estar num lugar daqueles, tão maçicamente bonito, e enfrentar o medo de esquiar me fizeram sentir ainda mais viva.

QUEM FAZ

Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja, no grupo gratuito no WhatsApp e em comoviaja.com.br

 

A promessa estava feita ao meu filho de 7 anos: se eu caísse de bunda na neve, tiraria uma foto para ele ver. Afinal, depois de uns dez anos sem subir num par de esquis, eu ia para a principal estação do Canadá, em Whistler. Tinha medo de tentar de novo, mas não podia ir ao centro de esqui sem dar uma chance a mim mesma de sentir a neve como os locais fazem, deslizando. A vontade era maior que a vergonha de fazer feio. Então aceitei o convite feito por Whistler Blackcomb para experimentar uma aula com professores da estação.

Em Whistler, fazendo pose e caindo na aula de esqui - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Seria minha primeira vez em Whistler. Iria sair de Toronto, voar até Vancouver (no outro lado do país, já no Pacífico) e depois subir as montanhas da província de British Columbia até a vila, distante cerca de 120 quilômetros. Sabia que, quando estivesse lá, me arrependeria de nem ao menos ter tentado.

Whistler Blackcomb foi eleita três anos pelos leitores da revista Ski Magazine como a melhor estação da América do Norte, na qual já detém o título de maior área esquiável, com cerca de 33 quilômetros quadrados (ou 8.100 acres). Os números da estação canadense incluem ainda 37 meios de elevação e cerca de 200 pistas. Com 50 anos de existência, o centro de esqui de Whistler foi comprado pela americana Vail Resorts em outubro do ano passado.

Na aula de esqui na estação Whistler Blackcomb  - Foto: Nathalia Molina @ComoViaja

Convite aceito, viagem feita, vi que tinha sido a escolha certa. Whistler realmente é um destino para quem não esquia também -- como descrevi, fiquei encantada com as opções de programas em Whistler com ou sem esqui. Mas também foi surpreendente ver que as aulas da estação servem mesmo para qualquer nível de esquiador.

Preparativos para a classe

Não pense que o exercício começa quando se está sobre os esquis. Começa na loja de roupas e acessórios, de preferência no fim do dia anterior à prática, para evitar filas e atrasos à aula. Passo aqui a recomendação que me fizeram. E, devo dizer, siga à risca. Também garanta com antecedência seu passe para a aula e para os meios de elevação da estação porque o centro de visitantes na vila costuma ficar cheio.

Na loja de aluguel de equipamento, ainda que você não encontrasse ninguém à frente para ser atendido, algo quase impossível durante a temporada de inverno, teria de preencher o cadastro e dificilmente acertaria de cara o tamanho da roupa, do capacete e das botas. Tem de experimentar até se sentir bem. As botas, assim como os sapatos, mudam de forma conforme o fabricante. Devem ficar justas aos pés para evitar que eles se movimentem durante a prática e isso possa levar a torções, por exemplo. Mas também não podem estar apertadas.

Vai no fim do dia anterior porque tem fila  

Passei, então, para resgatar os esquis. O funcionário da área de armazenamento do Crystal Lodge me ensinou como apoiar o par no ombro e prendeu meu capacete à mochila. Ainda me tirou esta foto, que eu adorei! Depois, segui em direção à base da estação. Prepare os braços porque os esquis não são levinhos.

Check-list: tudo pronto  

Como não estou acostumada a caminhar no gelo, a usar botas de esqui e a carregar esse equipamento todo, me senti bem engraçada. Andava passo por passo, deslocando o pé de modo bem marcado, ficando um pé inteiro no chão, depois outro. Era algo no melhor estilo boneco de neve ou astronauta com pés de chumbo! ?

Como e onde começa a aula

Chegando à entrada do centro de visitantes na vila, professores com uniforme de Whistler Blackcomb aguardavam os alunos em barracas, numeradas de acordo com o nível do esquiador. Após uma breve conversa, eles avaliaram se todo mundo estava na classe certa ou se a pessoa era mais ou menos avançada do que imaginava. Como eu já sabia o que se tem de fazer para frear na neve e para fazer curva, me promoveram ao nível 2.

Me gelou por dentro a possibilidade de passar vergonha por atrasar o restante dos alunos, mas a estrutura que vi montada ali e a leveza dos professores no trato com todos me passaram muita confiança. Eles não seriam doidos de me mudar se não achassem que dava, me convenci. Ajudou também o fato de a turma ser pequena: no programa MAX4, como o nome diz, a classe tem no máximo quatro pessoas. A aula pode ser de half day (meio dia) ou full day (dia inteiro). Eu estava inscrita na segunda opção.

A turma no início da classe  

Éramos todas mulheres, com uma simpática professora, Dawn. Tomamos o bondinho para subir a montanha de Whistler. Os esquis vão do lado de fora, numa espécie de canaleta para acomodá-los. A área de iniciantes fica numa parada antes do meio de elevação seguir em direção ao topo. Para esta temporada, a estação investiu 2,4 milhões de dólares canadenses em melhorias nesse espaço para principiantes.

No lugar certo: a área de inciiantes  
Estação na área de principantes  

Na proporção em que subíamos a excitação de me ver na neve aumentava. Dawn fez uma breve pesquisa sobre o histórico e os hábitos esportivos atuais de cada uma. Meio sem jeito, respondi que tinha feito dez anos de balé durante a infância e a adolescência, porém, atualmente mantenho apenas meia hora de caminhada diária. Ela garantiu que, juntando isso ao fato de que já tinha esquiado (mesmo que há dez anos), eu me sairia bem.

Assim que descemos na área de principiantes, Dawn nos mostrou onde ficava o banheiro e avisou que lá dentro havia um bebedouro, que poderíamos usar durante a prática. Ok, visto isso, fomos para neve (oba!). Tudo branquinho em volta, até em nossos rostos, que insistiam em mostrar todos os dentes em largos sorrisos. Todas quiseram fotos sozinhas e com o grupo. Quem me vê nessa pose, segurando os esquis, até pensa que sou profissional...

Lição com flocos de neve

O céu não estava mais azul, como no dia anterior, mas o cinza sumia no horizonte com a visão dos flocos que caíam. Sim, eu estava na aula de esqui e nevava! Cena típica dos sonhos de quem é de um país dos Trópicos e vai para um destino de neve. O cenário estava todo lá, parecia encomendado. Não conseguia parar de fotografar e filmar.

Quem vê pensa...  

Não faça como eu, aliás, que quis registrar tudo para mostrar junto com os textos e acabei ficando com duas bolhas terríveis nos mindinhos. Terríveis mesmo. Infeccionaram e levaram um mês para secar. Isso porque, aprenda, bota de esqui é para esquiar. Eu caminhei horrores no gelo e não alarguei a fivela da frente do calçado quando os pés começaram a inchar com o passar das horas. Só me dei conta do estrago no fim do dia, de tão hipnotizada que fiquei com tudo aquilo.

Andei bem. Além de ter a aula na área da base da montanha Whistler, subi até o topo. De lá, é possível chegar à outra montanha da estação, Blackcomb, tomando a gôndola Peak 2 Peak. Faça isso: essa foi uma das experiências mais sensacionais da minha última viagem ao Canadá. Com 4,4 quilômetros de comprimento, é o mais longo meio de elevação contínuo do mundo. Juntos, a floresta de pinheiros à frente, os lagos lá longe, os morros cobertos de neve em volta e o horizonte esbranquiçado formavam uma pintura.

Um dia quem sabe  
Esquiadores deslizando do topo da montanha de Whistler  

Lá embaixo, durante a aula, esse tom me cercou. Fui parte do quadro. Meu olhar acompanhou o desenho montanha acima. Parecia gigante. Eu pequenina. Como criança, aprendendo a andar. De esqui. Bem, como criança não. Porque elas dão de dez a zero emnós, adultos principiantes!

Como é bom ser criança  

A prática na pista

Dawn treinou com a gente como fazer curva. Primeiramente, usando uma perna de cada vez. Depois, praticou como parar, fazendo um V com os esquis com as pontas juntas na frente. Estava desequilibrando? Era só flexionar os joelhos, pôr as mãos nas coxas e projetar o corpo um pouco para frente para retomar o controle.

Fomos para a esteira que leva os iniciantes até a parte mais alta de um plano suavemente inclinado. Chance de praticar a descida de leve. Dei uma patinada com os esquis para subir até a entrada do tapete deslizante. Mas chegguei. Me posicionei e lá fui euuuu!!

A cena era de filme de Natal. Enquanto a esteira me transportava, os floquinhos tocavam meu rosto. Impossível conter meu deslumbramento. A esta altura, o medo de não conseguir já tinha sido esquecido. Eu estava lá, e a professora acompanhava a turma de perto, observando os limites e as habilidades de cada aluna.

Sob meus pés (esquis)  

Lindo. Mas como sair da esteira? Ai, tem uma ladeirinha na neve... Uoooooooouuu!! Seria hora da tal foto para o meu filho? Frio na barriga. Uhuulll, deslizei e fiz a curva. Alcancei a pista. Desci o morrinho sem percalços. Só cansaço. Quem faz qualquer tipo de esporte deve aguentar bem mais, pensei. Minha meia hora de caminhada diária não parecia bastar. Mas fui adiante. Repeti o exercício, com mais uma voltinha no tapete com floquinhos.

A neve e o suadouro da aula me deram muita sede. Pedi à Dawn para parar para tomar água e para descansar um pouco. Quem sabe, depois disso aguentaria até de tarde. Voltei à neve e tentei mais umas descidas. A sensação de leveza ao deslizar no gelo é muito boa. Estava curtindo muito, mas faltou perna. Não caí. Joguei o corpo na neve.

Para conseguir seguir por mais tempo, não pegou a inexperiência com esportes de neve (com isso me virei bem), mas, sim, o condicionamento físico. Aguentei meio dia de aula, mas o restante não deu. Expliquei a Dawn que tinha atingido meu limite. Como tenho fibromialgia (síndrome de dor crônica), minha percepção de dor é mais intensa que a média. Ao saber disso, ela se mostrou ainda mais surpresa com a minha desenvoltura na pista.

A simpática e paciente Dawn  

Em relação à parte de saúde, meu médico tinha me dito que eu poderia esquiar. Mas, considerando minha falta de familiaridade com o assunto, me restavam dúvidas. Não mais. Eu tinha conseguido. E tinha gostado muito.

Ao me levar até perto do meio de elevação, na saída, Dawn me perguntou com o que eu tinha me surpreendido mais naquela manhã de aula. Antes da minha resposta, concluiu: "Você se surpreendeu com você mesma, certo?" Estar num lugar daqueles, tão maçicamente bonito, e enfrentar o medo de esquiar me fizeram sentir ainda mais viva.

QUEM FAZ

Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja, no grupo gratuito no WhatsApp e em comoviaja.com.br

 

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