BRUMADINHO - A busca é feita pelo cheiro, pelo olhar atento que percorre a superfície da lama fétida, em busca de algum sinal de corpo humano, ou do que restou dele. Os brigadistas apontam para algo no meio do barro. Acompanho de longe, ao lado da casa que foi engolida pelo rejeito. Dali, não consigo ver nada além de entulho. “É um corpo. Vamos até lá”, diz um deles.
Na equipe, são 11 brigadistas em operação. Dois deles entram no mato e voltam carregados de galhos para lançar sobre o barro mole. Vão fazendo uma ponte improvisada até chegar ao que parece ser parte de alguém. Um brigadista se volta para mim. Penso que serei expulso. A área foi isolada e não há mais ninguém ali. Ele pede ajuda. “Ei, você, me dá essa madeira aí no canto, rápido”, diz ele, apontando um pedaço da porta que restou de um guarda-roupas. Entrego a madeira. Eles lançam sobre o barro.
Caminhar na lama ainda é impossível. Dois dias depois da enxurrada de rejeito da Vale varrer o Córrego do Feijão e estraçalhar tudo o que encontrou pela frente, o barro ainda segue mole. Um passo em falso e você afunda até as canelas, sem conseguir sair. Para a equipe de brigadistas que trabalha nas margens do desastre, nesta região de Brumadinho conhecida conhecida como “Berço Alberto Flores”, o limite do salvamento são cinco, seis metros lama adentro. “Qualquer coisa para além disso, é risco de não conseguir voltar”, me diz um deles. “Procuramos sobreviventes, sempre. Mas aqui, a verdade é que estamos nos guiando pelo cheiro dos corpos ou pelo o que conseguimos ver.”
Veja imagens do rompimento de barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho
Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Moradores
Foto: Mauro Pimentel/AFP ▲Catástrofe ambiental e humana
Foto: Adriano Machado/Reuters ▲Animais
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Dificuldade no resgate
Foto: Douglas Magno/AFP ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Douglas Magno/AFP ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Catástrofe ambiental e humana
Foto: Adriano Machado/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Douglas Magno/AFP ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão ▲Presidente Bolsonaro
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Paulo Fonseca/EFE ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Tragédia em Minas Gerais
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Batalha pela Vida
▲Estrada
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Carro atolado
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Helicoptero
Foto: Wilton Junior/Estadão ▲Bombeiros tentam encontrar sobreviventes em Brumadinho
Foto: Washington Alves/Reuters ▲Corpo encontrado
Foto: Wilton Júnior/Estadão ▲Ponte
Foto: Antonio Lacerta/EFE ▲Área devastada
Foto: Wilton Júnior/Estadão ▲Equipe de resgate
Foto: Antonio Lacerda/EFE ▲Resgate aéreo
Foto: Giazi Cavalcante/Código 19 ▲Andando sobre as madeiras, eles chegam ao que seria um corpo humano. É. Com luvas, um deles se abaixa e passa a recolher órgão de alguém. Vísceras, estômago, fígado. Roupa. Em fila indiana, passam de mão em mão o que encontraram pela frente, até depositar as partes sobre uma manta metálica no chão.
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Rapidamente recolhem o material e somem pela mata. O deslocamento de vítimas que têm sido encontradas próximas de estradas é feito por meio de ambulâncias. Em áreas mais remotas, o trabalho é apoiado pelo helicópteros, que não param de cruzar o céu.
Olho para o horizonte do mar de lama que se abriu na mata. Ao longe, nos cantos da vegetação, é possível ver mais mantas metálicas espalhadas, aguardando para serem recolhidas.
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Uma barragem de contenção da mineradora Vale rompeu nesta sexta-feira em Minas Gerais, deixando vários desaparecidos. A informação é do Corpo de Bombeiros, citando testemunhas no local
“É melhor você ir agora”, me diz um dos brigadistas. “Essa região ainda não está segura e foi isolada, o solo ainda está muito movediço.”
Me despeço e saio pela mata. Toda a região foi cercada pela polícia e os acessos pelas estradas estão proibidos. Meu acesso à equipe de brigadeiros se deu casualmente, quando decidi entrar por uma estrada de terras que seguia até o curso do Rio Paraopeba, outra vítima fatal da catástrofe. Sítios e chácaras que não foram inundados estão vazios, com as portas trancadas. A polícia ronda a região, por causa de saques que ocorreram em algumas áreas.
Uma dessas casas é a chácara “Recanto Feliz”, número 126, bem na beira da estrada que foi interditada pelo mar de rejeitos de minério de ferro. Sobraram sinais da felicidade por ali. Brinquedos de crianças largados no sofá. Na pia, louça suja de um almoço feito dois dias atrás. Na varanda, uma casinha de madeira para as crianças com vista para o que era o córrego. Não há mais vista. Nem crianças.