Nova batida de RZA: fazer filmes


Com apoio de diretores como Tarantino, rapper está pronto para levar seu estilo contundente à telona

Por Chris Lee

LOS ANGELES TIMES Chamem o mais proeminente alquimista do hip-hop de RZA. O autodeclarado ex-traficante de drogas que se tornou produtor de rapper vencedor do Grammy contrariou todas as probabilidades para transformar não chumbo em ouro, mas cultura pop obsoleta e crenças filosóficas ancestrais em um disco de platina após outro.E agora, após anos sob a tutela de vários cineastas badalados, entre os quais Quentin Tarantino, ele se prepara para mostrar sua sensibilidade única na telona, num projeto que será em parte um policial de pancadaria oriental, em parte spaghetti western.Como pai fundador do coletivo de rap da pesada de Staten Island, Wu-Tang Clan, RZA (pronuncia-se "rizza"; ele se chama Robert Diggs) combina a iluminação espiritual encontrada em filmes de kung fu dos anos 70 com ensinamentos racialmente incendiários do Five-Percent Nation of Islam, acrescentando à mistura referências ao taoismo e a histórias em quadrinho, numerologia e fragmentos de diálogos de filmes sobre chefões da máfia, articulando um contundente grito de protesto de gueto.O resultado foi uma enfiada de hits quase sem paralelo que começou com o LP de estreia do Clan de 1993, Enter the Wu-Tang (36 Chambers), e abarcou lançamentos como os sucessos estrondosos de vendas (disco de platina) Tical de Method Man, Only Built 4 Cuban Linx... de Raekwon the Chef"s (considerado um dos melhores álbuns de hip-hop) e Return to the 36 Chambers: The Dirty Version do Ol" Dirty Bastard, vencedor do disco de ouro, outro clássico do rap.Mas depois que o tecido de Wu começou a esgarçar em 2004, RZA começou a se concentrar mais no cinema. Nos últimos anos, ele fez a trilha para filmes como Blade:Trinity e aparições breves em Ghost Dog: The Way of the Samurai de Jim Jarmusch, e outros filmes. A despeito de seu conhecimento enciclopédico do cinema de Hong Kong, o produtor não tinha nenhuma ambição particular de causar alvoroço no cinema. Melhor dizendo, até receber uma telefonema do então copresidente da Miramax, Harvey Weinstein."Oi RZA, aqui é o Harvey", RZA recordou. "Quero você no meu filme. Você tem uma nova carreira agora." Desde esse aparecimento com Clive Owen em Fora de Rumo, de 2005, RZA começou a construir uma filmografia respeitável com pequenos papéis e alguns filmes de estúdio de grande orçamento, entre eles Gente Engraçada de Judd Apatow e O Gângster de Ridley Scott, além de uma participação na comédia Due Date do diretor de Se Beber, Não Case, Todd Phillips, a sair em breve, e The Next Three Days de Paul Haggis - um papel que o reuniu com um dos astros de O Gângster, Russell Crowe. "Estou trabalhando no cinema e talvez esteja ganhando menos. Em quanto tempo se pode ser uma celebridade? Gosto da sensação de atuar", afirma RZA. O mesmo ocorre com outros rappers que viraram atores como LL Cool J, Common, Xzibit, Ludacris, DMX, Ice Cube e até Snoop Dogg. RZA diz que seus esforços como ator estão a serviço de seu próximo ato: um filme atrás da câmera.Com uma quantidade não desprezível de respaldo de uma leva de cineastas de alto coturno - incluindo o luminar do cinema independente Jarmusch e o ás dos filmes de ação de Hong Kong, John Woo, mas mais significativamente, Tarantino - o RZA-rector, como ele é conhecido às vezes, está fazendo os preparativos finais para sua estreia como escritor-diretor, The Man With the Iron Fist (o homem com o punho de ferro, em tradução literal). E diferentemente dos destinos de alguns esforços na direção de alguns músicos (como Madonna), os apoiadores de RZA no meio cinematográfico juram que ele tem a combinação certa de criatividade, coragem, e disciplina para obter sucesso na bilheteria.O filme está sendo produzido pelo ícone da "tortura pornô", Eli Roth, o escritor-diretor de filmes de horror de baixo custo como O Albergue e O Albergue: Parte 2.Roth afirma que Man With the Iron Fist deve atrair "um público que é faminto por kung fu mas não por violência gratuita mal filmada. Algo que seja moderno, como Blade - O Caçador de Vampiros". "RZA é uma fonte muito criativa. O enredo é ótimo, ele tem personagens, piadas. O que ele faz com letras de música, faz com diálogos", disse Roth. "E fez uma grande mistura: spaghetti western, kung fu, combate moderno impregnados de hip-hop e multicultura. Ele tem todo aquele universo de quadrinhos equacionado. Sei que ele fará um filme brilhante." É claro, nada disso seria possível sem Tarantino, que apadrinhou a produção de "O Albergue" de Roth e apresentou o cineasta a RZA. Um antigo admirador da mistura sonora do Wu-Tang Clan, com sua própria admiração profunda pelos filmes do monge de Shaolin, Tarantino primeiro contratou RZA para criar a trilha musical de ambiente eletro, quase hip-hop, para seu drama de kung fu em dois volumes, Kill Bill. Mas sua relação de trabalho não terminou aí. Tarantino permitiu que RZA absorvesse o know-how da produção no set de cada filme que realizou desde 2003.Tarantino disse que se identifica com a habilidade do produtor de hip-hop de administrar as energias desmedidas dos nove membros do Clan de uma forma coesa. "É preciso compreender que apesar das diferenças, ser um produtor de disco não é muito diferente de ser diretor de um filme - especialmente com algo como o Wu-Tang Clan", garante Tarantino."Todos esses caras têm suas contribuições diferentes. Todos têm alguma coisa a dizer. Em última instância, porém, a decisão é de RZA. Isso se parece muito com o que um diretor faz", afirma ainda. Mas RZA tem certeza de que não faria a transição para o cinema sem a bênção de Tarantino."É meu professor", ressalta. "Assisti a centenas de filmes com ele e gastei centenas de horas aprendendo o ofício com ele. Sou um discípulo de Tarantino." E continuou: "Quando o Eli disse que queria me ajudar a fazer um filme, nós fomos procurar Quentin. O professor. Ele nos garantiu que estávamos prontos e nos deu sua bênção."Passando uma tarde com RZA, e qualquer consultor de cinema dele atestará, será difícil não se espantar com os seus conhecimentos. A conversa vai do cientista elétrico Nikola Tesla a uma extensa recitação do que seguidores da Five-Percent Nation of Islam chamam de "o conhecimento", dos sofrimentos de Jó à recordação de RZA da fuga nas ruas mais pobres de Nova York com um colar de ouro roubado, um Alcorão e um revólver - uma história que o produtor conta em seu recém-publicado guia de iluminação espiritual, The Tao of Wu."O Alcorão diz que encontramos oito pecados a cada dia", informa no terraço ensolarado de sua minimansão em San Fernando Valley. "Mas a maioria das pessoas não é sábia o bastante para percebê-los." Assim, quando surgiu a chance de se enturmar com Woo em 1997 - época em que a Wu-Tang Clan estava com seu álbum Wu-Tang Forever em primeiro lugar nas paradas e indicado para o Grammy -, RZA agarrou a oportunidade. O produtor ganhou pontos com Woo ao fazer uma amostragem de diálogos para seu épico operístico estilo manda-bala, Only Built 4 Cuban Linx... E Woo era um grande fã do cinema de Shaolin responsável pelo amuleto criativo de RZA. Ademais, RZA apresentou o diretor a seu mestre, Shi Yan Ming, fundador do USA Shaolin Temple em Nova York. Woo e RZA permaneceram companheiros regulares de jantar entre 1997 e 2000, precipitando uma proposta de negócio mutuamente benéfica. "Durante muitos anos, eu recebi lições de John", recordou RZA. "Ele disse que eu poderia dirigir o seu filme Bala na Cabeça."Nesse ínterim, Jarmusch (a força por trás de filmes independentes como Estranhos no Paraíso) indicou RZA para criar a trilha musical para seu drama criminal de samurai de 1999, Matador Implacável, quando descobriu que o produtor começava a preparar o terreno para uma carreira no cinema."Ele veio vários dias ao set só para absorver como era fazer filmes", lembrou Jarmusch. "Ele estava interessado em quais lentes faziam o que e como estávamos pensando em captar as imagens. Ele estava ruminando as coisas. Quase se podia ouvir as engrenagens do seu cérebro girando." Jarmusch continuou acompanhando os esforços cinematográficos de RZA nos anos seguintes, sendo um dos poucos a assistir ao curta-metragem do produtor, Domestic Violence, e dois segmentos de 45 minutos de filmes associados sobre o álbum-solo de RZA (com o nome de rap Bobby Digital) Digital Bullet - embora não tenham sido lançados ainda.Após ler vários esboços iniciais para Man With the Iron Fist, Jarmusch está otimista com as perspectivas cinematográficas de RZA. "Os talentos do sujeito são tão amplos", adiantou ele. Tarantino também trouxe RZA para compor a música original para Kill Bill: Vol. 1. Mas quando convidou o produtor para vê-lo filmar, percebeu que os interesses de RZA iam além do trabalho para o qual fora contratado. "Comecei a notar que ele estava verificando como fazer as coisas: eu trabalhando com diretor de fotografia, como se faz uma cena de luta num sentido prático", disse Tarantino. "Ele ficava fazendo esboços e absorvendo tudo. Passando duas semanas na China só para captar a vibração - isso não é só para uma contribuição musical." A amizade deles floresceu, porém, com os dois "disputando" quem tinha visto mais filmes obscuros de kung fu. Por fim, o "professor" de RZA o agraciou com um conhecimento mais completo de cinema. "Ele trazia um filme que eu nem pensava em assistir", lembrou RZA. "Imaginei que assistiríamos ao filme pela ação. Mas ele dizia, "ouça o diálogo". Assistir junto com ele é diferente." Tempos depois, Tarantino convidou RZA para uma viagem na véspera de ano-novo com ele e Roth à Islândia, onde Tarantino seria o anfitrião de uma sessão tripla de filmes raros de kung fu. A viagem de volta de Roth e RZA a Los Angeles incluiu uma passagem pela casa de Roth, em Boston. O mestre do horror fez a coisa certa do ponto de vista social e convidou seu novo parceiro de hip-hop para um jantar com sua família. E no curso de sua estada forçada, RZA detalhou o longa que estava pensando. "Afinal, éramos como uma família", recordou Roth.Quando o escritor-diretor lançou a Arcade, sua companhia de produção de cinema dedicada a produtos de gênero como horror e ficção científica, em 2007, seu primeiro pensamento foi se informar sobre Man With the Iron Fist, de RZA."Roth leu o roteiro e disse: "Isso é grande, mas podemos deixar mais forte ainda. Tudo que você tem - a ideia central, os personagens - é muito bom, podemos remontar isso. Posso fazer por você o que o Tarantino fez por mim em O Albergue."" A única coisa que sobrou para Roth e RZA fazerem foi conseguir a bênção de seu professor."Quentin afirmou: "Vocês estão prontos, só não comecem muito alto"", recordou RZA. "Isso significava que não deveríamos estourar o orçamento de US$ 10 milhões. Não comecem assim! Se começarem assim, a expectativa vai ser muito alta, vocês poderão não conseguir de novo. É um grande conselho." Embora Roth e RZA digam que já tinham financiamento independente para Man With the Iron Fist e que um esboço de filmagem fora escrito, o cronograma de produção do filme ainda não foi estabelecido.Com cautela, RZA explicou aos fãs do Wu que esperam que o produtor faça o papel principal em seu filme. "Não sei se vou ser a estrela", admitiu ele, rindo. "As mulheres vão ser a estrela. Há uma porção delas neste filme." TRADUÇÃO DE CELSO MAURO PACIORNIK

LOS ANGELES TIMES Chamem o mais proeminente alquimista do hip-hop de RZA. O autodeclarado ex-traficante de drogas que se tornou produtor de rapper vencedor do Grammy contrariou todas as probabilidades para transformar não chumbo em ouro, mas cultura pop obsoleta e crenças filosóficas ancestrais em um disco de platina após outro.E agora, após anos sob a tutela de vários cineastas badalados, entre os quais Quentin Tarantino, ele se prepara para mostrar sua sensibilidade única na telona, num projeto que será em parte um policial de pancadaria oriental, em parte spaghetti western.Como pai fundador do coletivo de rap da pesada de Staten Island, Wu-Tang Clan, RZA (pronuncia-se "rizza"; ele se chama Robert Diggs) combina a iluminação espiritual encontrada em filmes de kung fu dos anos 70 com ensinamentos racialmente incendiários do Five-Percent Nation of Islam, acrescentando à mistura referências ao taoismo e a histórias em quadrinho, numerologia e fragmentos de diálogos de filmes sobre chefões da máfia, articulando um contundente grito de protesto de gueto.O resultado foi uma enfiada de hits quase sem paralelo que começou com o LP de estreia do Clan de 1993, Enter the Wu-Tang (36 Chambers), e abarcou lançamentos como os sucessos estrondosos de vendas (disco de platina) Tical de Method Man, Only Built 4 Cuban Linx... de Raekwon the Chef"s (considerado um dos melhores álbuns de hip-hop) e Return to the 36 Chambers: The Dirty Version do Ol" Dirty Bastard, vencedor do disco de ouro, outro clássico do rap.Mas depois que o tecido de Wu começou a esgarçar em 2004, RZA começou a se concentrar mais no cinema. Nos últimos anos, ele fez a trilha para filmes como Blade:Trinity e aparições breves em Ghost Dog: The Way of the Samurai de Jim Jarmusch, e outros filmes. A despeito de seu conhecimento enciclopédico do cinema de Hong Kong, o produtor não tinha nenhuma ambição particular de causar alvoroço no cinema. Melhor dizendo, até receber uma telefonema do então copresidente da Miramax, Harvey Weinstein."Oi RZA, aqui é o Harvey", RZA recordou. "Quero você no meu filme. Você tem uma nova carreira agora." Desde esse aparecimento com Clive Owen em Fora de Rumo, de 2005, RZA começou a construir uma filmografia respeitável com pequenos papéis e alguns filmes de estúdio de grande orçamento, entre eles Gente Engraçada de Judd Apatow e O Gângster de Ridley Scott, além de uma participação na comédia Due Date do diretor de Se Beber, Não Case, Todd Phillips, a sair em breve, e The Next Three Days de Paul Haggis - um papel que o reuniu com um dos astros de O Gângster, Russell Crowe. "Estou trabalhando no cinema e talvez esteja ganhando menos. Em quanto tempo se pode ser uma celebridade? Gosto da sensação de atuar", afirma RZA. O mesmo ocorre com outros rappers que viraram atores como LL Cool J, Common, Xzibit, Ludacris, DMX, Ice Cube e até Snoop Dogg. RZA diz que seus esforços como ator estão a serviço de seu próximo ato: um filme atrás da câmera.Com uma quantidade não desprezível de respaldo de uma leva de cineastas de alto coturno - incluindo o luminar do cinema independente Jarmusch e o ás dos filmes de ação de Hong Kong, John Woo, mas mais significativamente, Tarantino - o RZA-rector, como ele é conhecido às vezes, está fazendo os preparativos finais para sua estreia como escritor-diretor, The Man With the Iron Fist (o homem com o punho de ferro, em tradução literal). E diferentemente dos destinos de alguns esforços na direção de alguns músicos (como Madonna), os apoiadores de RZA no meio cinematográfico juram que ele tem a combinação certa de criatividade, coragem, e disciplina para obter sucesso na bilheteria.O filme está sendo produzido pelo ícone da "tortura pornô", Eli Roth, o escritor-diretor de filmes de horror de baixo custo como O Albergue e O Albergue: Parte 2.Roth afirma que Man With the Iron Fist deve atrair "um público que é faminto por kung fu mas não por violência gratuita mal filmada. Algo que seja moderno, como Blade - O Caçador de Vampiros". "RZA é uma fonte muito criativa. O enredo é ótimo, ele tem personagens, piadas. O que ele faz com letras de música, faz com diálogos", disse Roth. "E fez uma grande mistura: spaghetti western, kung fu, combate moderno impregnados de hip-hop e multicultura. Ele tem todo aquele universo de quadrinhos equacionado. Sei que ele fará um filme brilhante." É claro, nada disso seria possível sem Tarantino, que apadrinhou a produção de "O Albergue" de Roth e apresentou o cineasta a RZA. Um antigo admirador da mistura sonora do Wu-Tang Clan, com sua própria admiração profunda pelos filmes do monge de Shaolin, Tarantino primeiro contratou RZA para criar a trilha musical de ambiente eletro, quase hip-hop, para seu drama de kung fu em dois volumes, Kill Bill. Mas sua relação de trabalho não terminou aí. Tarantino permitiu que RZA absorvesse o know-how da produção no set de cada filme que realizou desde 2003.Tarantino disse que se identifica com a habilidade do produtor de hip-hop de administrar as energias desmedidas dos nove membros do Clan de uma forma coesa. "É preciso compreender que apesar das diferenças, ser um produtor de disco não é muito diferente de ser diretor de um filme - especialmente com algo como o Wu-Tang Clan", garante Tarantino."Todos esses caras têm suas contribuições diferentes. Todos têm alguma coisa a dizer. Em última instância, porém, a decisão é de RZA. Isso se parece muito com o que um diretor faz", afirma ainda. Mas RZA tem certeza de que não faria a transição para o cinema sem a bênção de Tarantino."É meu professor", ressalta. "Assisti a centenas de filmes com ele e gastei centenas de horas aprendendo o ofício com ele. Sou um discípulo de Tarantino." E continuou: "Quando o Eli disse que queria me ajudar a fazer um filme, nós fomos procurar Quentin. O professor. Ele nos garantiu que estávamos prontos e nos deu sua bênção."Passando uma tarde com RZA, e qualquer consultor de cinema dele atestará, será difícil não se espantar com os seus conhecimentos. A conversa vai do cientista elétrico Nikola Tesla a uma extensa recitação do que seguidores da Five-Percent Nation of Islam chamam de "o conhecimento", dos sofrimentos de Jó à recordação de RZA da fuga nas ruas mais pobres de Nova York com um colar de ouro roubado, um Alcorão e um revólver - uma história que o produtor conta em seu recém-publicado guia de iluminação espiritual, The Tao of Wu."O Alcorão diz que encontramos oito pecados a cada dia", informa no terraço ensolarado de sua minimansão em San Fernando Valley. "Mas a maioria das pessoas não é sábia o bastante para percebê-los." Assim, quando surgiu a chance de se enturmar com Woo em 1997 - época em que a Wu-Tang Clan estava com seu álbum Wu-Tang Forever em primeiro lugar nas paradas e indicado para o Grammy -, RZA agarrou a oportunidade. O produtor ganhou pontos com Woo ao fazer uma amostragem de diálogos para seu épico operístico estilo manda-bala, Only Built 4 Cuban Linx... E Woo era um grande fã do cinema de Shaolin responsável pelo amuleto criativo de RZA. Ademais, RZA apresentou o diretor a seu mestre, Shi Yan Ming, fundador do USA Shaolin Temple em Nova York. Woo e RZA permaneceram companheiros regulares de jantar entre 1997 e 2000, precipitando uma proposta de negócio mutuamente benéfica. "Durante muitos anos, eu recebi lições de John", recordou RZA. "Ele disse que eu poderia dirigir o seu filme Bala na Cabeça."Nesse ínterim, Jarmusch (a força por trás de filmes independentes como Estranhos no Paraíso) indicou RZA para criar a trilha musical para seu drama criminal de samurai de 1999, Matador Implacável, quando descobriu que o produtor começava a preparar o terreno para uma carreira no cinema."Ele veio vários dias ao set só para absorver como era fazer filmes", lembrou Jarmusch. "Ele estava interessado em quais lentes faziam o que e como estávamos pensando em captar as imagens. Ele estava ruminando as coisas. Quase se podia ouvir as engrenagens do seu cérebro girando." Jarmusch continuou acompanhando os esforços cinematográficos de RZA nos anos seguintes, sendo um dos poucos a assistir ao curta-metragem do produtor, Domestic Violence, e dois segmentos de 45 minutos de filmes associados sobre o álbum-solo de RZA (com o nome de rap Bobby Digital) Digital Bullet - embora não tenham sido lançados ainda.Após ler vários esboços iniciais para Man With the Iron Fist, Jarmusch está otimista com as perspectivas cinematográficas de RZA. "Os talentos do sujeito são tão amplos", adiantou ele. Tarantino também trouxe RZA para compor a música original para Kill Bill: Vol. 1. Mas quando convidou o produtor para vê-lo filmar, percebeu que os interesses de RZA iam além do trabalho para o qual fora contratado. "Comecei a notar que ele estava verificando como fazer as coisas: eu trabalhando com diretor de fotografia, como se faz uma cena de luta num sentido prático", disse Tarantino. "Ele ficava fazendo esboços e absorvendo tudo. Passando duas semanas na China só para captar a vibração - isso não é só para uma contribuição musical." A amizade deles floresceu, porém, com os dois "disputando" quem tinha visto mais filmes obscuros de kung fu. Por fim, o "professor" de RZA o agraciou com um conhecimento mais completo de cinema. "Ele trazia um filme que eu nem pensava em assistir", lembrou RZA. "Imaginei que assistiríamos ao filme pela ação. Mas ele dizia, "ouça o diálogo". Assistir junto com ele é diferente." Tempos depois, Tarantino convidou RZA para uma viagem na véspera de ano-novo com ele e Roth à Islândia, onde Tarantino seria o anfitrião de uma sessão tripla de filmes raros de kung fu. A viagem de volta de Roth e RZA a Los Angeles incluiu uma passagem pela casa de Roth, em Boston. O mestre do horror fez a coisa certa do ponto de vista social e convidou seu novo parceiro de hip-hop para um jantar com sua família. E no curso de sua estada forçada, RZA detalhou o longa que estava pensando. "Afinal, éramos como uma família", recordou Roth.Quando o escritor-diretor lançou a Arcade, sua companhia de produção de cinema dedicada a produtos de gênero como horror e ficção científica, em 2007, seu primeiro pensamento foi se informar sobre Man With the Iron Fist, de RZA."Roth leu o roteiro e disse: "Isso é grande, mas podemos deixar mais forte ainda. Tudo que você tem - a ideia central, os personagens - é muito bom, podemos remontar isso. Posso fazer por você o que o Tarantino fez por mim em O Albergue."" A única coisa que sobrou para Roth e RZA fazerem foi conseguir a bênção de seu professor."Quentin afirmou: "Vocês estão prontos, só não comecem muito alto"", recordou RZA. "Isso significava que não deveríamos estourar o orçamento de US$ 10 milhões. Não comecem assim! Se começarem assim, a expectativa vai ser muito alta, vocês poderão não conseguir de novo. É um grande conselho." Embora Roth e RZA digam que já tinham financiamento independente para Man With the Iron Fist e que um esboço de filmagem fora escrito, o cronograma de produção do filme ainda não foi estabelecido.Com cautela, RZA explicou aos fãs do Wu que esperam que o produtor faça o papel principal em seu filme. "Não sei se vou ser a estrela", admitiu ele, rindo. "As mulheres vão ser a estrela. Há uma porção delas neste filme." TRADUÇÃO DE CELSO MAURO PACIORNIK

LOS ANGELES TIMES Chamem o mais proeminente alquimista do hip-hop de RZA. O autodeclarado ex-traficante de drogas que se tornou produtor de rapper vencedor do Grammy contrariou todas as probabilidades para transformar não chumbo em ouro, mas cultura pop obsoleta e crenças filosóficas ancestrais em um disco de platina após outro.E agora, após anos sob a tutela de vários cineastas badalados, entre os quais Quentin Tarantino, ele se prepara para mostrar sua sensibilidade única na telona, num projeto que será em parte um policial de pancadaria oriental, em parte spaghetti western.Como pai fundador do coletivo de rap da pesada de Staten Island, Wu-Tang Clan, RZA (pronuncia-se "rizza"; ele se chama Robert Diggs) combina a iluminação espiritual encontrada em filmes de kung fu dos anos 70 com ensinamentos racialmente incendiários do Five-Percent Nation of Islam, acrescentando à mistura referências ao taoismo e a histórias em quadrinho, numerologia e fragmentos de diálogos de filmes sobre chefões da máfia, articulando um contundente grito de protesto de gueto.O resultado foi uma enfiada de hits quase sem paralelo que começou com o LP de estreia do Clan de 1993, Enter the Wu-Tang (36 Chambers), e abarcou lançamentos como os sucessos estrondosos de vendas (disco de platina) Tical de Method Man, Only Built 4 Cuban Linx... de Raekwon the Chef"s (considerado um dos melhores álbuns de hip-hop) e Return to the 36 Chambers: The Dirty Version do Ol" Dirty Bastard, vencedor do disco de ouro, outro clássico do rap.Mas depois que o tecido de Wu começou a esgarçar em 2004, RZA começou a se concentrar mais no cinema. Nos últimos anos, ele fez a trilha para filmes como Blade:Trinity e aparições breves em Ghost Dog: The Way of the Samurai de Jim Jarmusch, e outros filmes. A despeito de seu conhecimento enciclopédico do cinema de Hong Kong, o produtor não tinha nenhuma ambição particular de causar alvoroço no cinema. Melhor dizendo, até receber uma telefonema do então copresidente da Miramax, Harvey Weinstein."Oi RZA, aqui é o Harvey", RZA recordou. "Quero você no meu filme. Você tem uma nova carreira agora." Desde esse aparecimento com Clive Owen em Fora de Rumo, de 2005, RZA começou a construir uma filmografia respeitável com pequenos papéis e alguns filmes de estúdio de grande orçamento, entre eles Gente Engraçada de Judd Apatow e O Gângster de Ridley Scott, além de uma participação na comédia Due Date do diretor de Se Beber, Não Case, Todd Phillips, a sair em breve, e The Next Three Days de Paul Haggis - um papel que o reuniu com um dos astros de O Gângster, Russell Crowe. "Estou trabalhando no cinema e talvez esteja ganhando menos. Em quanto tempo se pode ser uma celebridade? Gosto da sensação de atuar", afirma RZA. O mesmo ocorre com outros rappers que viraram atores como LL Cool J, Common, Xzibit, Ludacris, DMX, Ice Cube e até Snoop Dogg. RZA diz que seus esforços como ator estão a serviço de seu próximo ato: um filme atrás da câmera.Com uma quantidade não desprezível de respaldo de uma leva de cineastas de alto coturno - incluindo o luminar do cinema independente Jarmusch e o ás dos filmes de ação de Hong Kong, John Woo, mas mais significativamente, Tarantino - o RZA-rector, como ele é conhecido às vezes, está fazendo os preparativos finais para sua estreia como escritor-diretor, The Man With the Iron Fist (o homem com o punho de ferro, em tradução literal). E diferentemente dos destinos de alguns esforços na direção de alguns músicos (como Madonna), os apoiadores de RZA no meio cinematográfico juram que ele tem a combinação certa de criatividade, coragem, e disciplina para obter sucesso na bilheteria.O filme está sendo produzido pelo ícone da "tortura pornô", Eli Roth, o escritor-diretor de filmes de horror de baixo custo como O Albergue e O Albergue: Parte 2.Roth afirma que Man With the Iron Fist deve atrair "um público que é faminto por kung fu mas não por violência gratuita mal filmada. Algo que seja moderno, como Blade - O Caçador de Vampiros". "RZA é uma fonte muito criativa. O enredo é ótimo, ele tem personagens, piadas. O que ele faz com letras de música, faz com diálogos", disse Roth. "E fez uma grande mistura: spaghetti western, kung fu, combate moderno impregnados de hip-hop e multicultura. Ele tem todo aquele universo de quadrinhos equacionado. Sei que ele fará um filme brilhante." É claro, nada disso seria possível sem Tarantino, que apadrinhou a produção de "O Albergue" de Roth e apresentou o cineasta a RZA. Um antigo admirador da mistura sonora do Wu-Tang Clan, com sua própria admiração profunda pelos filmes do monge de Shaolin, Tarantino primeiro contratou RZA para criar a trilha musical de ambiente eletro, quase hip-hop, para seu drama de kung fu em dois volumes, Kill Bill. Mas sua relação de trabalho não terminou aí. Tarantino permitiu que RZA absorvesse o know-how da produção no set de cada filme que realizou desde 2003.Tarantino disse que se identifica com a habilidade do produtor de hip-hop de administrar as energias desmedidas dos nove membros do Clan de uma forma coesa. "É preciso compreender que apesar das diferenças, ser um produtor de disco não é muito diferente de ser diretor de um filme - especialmente com algo como o Wu-Tang Clan", garante Tarantino."Todos esses caras têm suas contribuições diferentes. Todos têm alguma coisa a dizer. Em última instância, porém, a decisão é de RZA. Isso se parece muito com o que um diretor faz", afirma ainda. Mas RZA tem certeza de que não faria a transição para o cinema sem a bênção de Tarantino."É meu professor", ressalta. "Assisti a centenas de filmes com ele e gastei centenas de horas aprendendo o ofício com ele. Sou um discípulo de Tarantino." E continuou: "Quando o Eli disse que queria me ajudar a fazer um filme, nós fomos procurar Quentin. O professor. Ele nos garantiu que estávamos prontos e nos deu sua bênção."Passando uma tarde com RZA, e qualquer consultor de cinema dele atestará, será difícil não se espantar com os seus conhecimentos. A conversa vai do cientista elétrico Nikola Tesla a uma extensa recitação do que seguidores da Five-Percent Nation of Islam chamam de "o conhecimento", dos sofrimentos de Jó à recordação de RZA da fuga nas ruas mais pobres de Nova York com um colar de ouro roubado, um Alcorão e um revólver - uma história que o produtor conta em seu recém-publicado guia de iluminação espiritual, The Tao of Wu."O Alcorão diz que encontramos oito pecados a cada dia", informa no terraço ensolarado de sua minimansão em San Fernando Valley. "Mas a maioria das pessoas não é sábia o bastante para percebê-los." Assim, quando surgiu a chance de se enturmar com Woo em 1997 - época em que a Wu-Tang Clan estava com seu álbum Wu-Tang Forever em primeiro lugar nas paradas e indicado para o Grammy -, RZA agarrou a oportunidade. O produtor ganhou pontos com Woo ao fazer uma amostragem de diálogos para seu épico operístico estilo manda-bala, Only Built 4 Cuban Linx... E Woo era um grande fã do cinema de Shaolin responsável pelo amuleto criativo de RZA. Ademais, RZA apresentou o diretor a seu mestre, Shi Yan Ming, fundador do USA Shaolin Temple em Nova York. Woo e RZA permaneceram companheiros regulares de jantar entre 1997 e 2000, precipitando uma proposta de negócio mutuamente benéfica. "Durante muitos anos, eu recebi lições de John", recordou RZA. "Ele disse que eu poderia dirigir o seu filme Bala na Cabeça."Nesse ínterim, Jarmusch (a força por trás de filmes independentes como Estranhos no Paraíso) indicou RZA para criar a trilha musical para seu drama criminal de samurai de 1999, Matador Implacável, quando descobriu que o produtor começava a preparar o terreno para uma carreira no cinema."Ele veio vários dias ao set só para absorver como era fazer filmes", lembrou Jarmusch. "Ele estava interessado em quais lentes faziam o que e como estávamos pensando em captar as imagens. Ele estava ruminando as coisas. Quase se podia ouvir as engrenagens do seu cérebro girando." Jarmusch continuou acompanhando os esforços cinematográficos de RZA nos anos seguintes, sendo um dos poucos a assistir ao curta-metragem do produtor, Domestic Violence, e dois segmentos de 45 minutos de filmes associados sobre o álbum-solo de RZA (com o nome de rap Bobby Digital) Digital Bullet - embora não tenham sido lançados ainda.Após ler vários esboços iniciais para Man With the Iron Fist, Jarmusch está otimista com as perspectivas cinematográficas de RZA. "Os talentos do sujeito são tão amplos", adiantou ele. Tarantino também trouxe RZA para compor a música original para Kill Bill: Vol. 1. Mas quando convidou o produtor para vê-lo filmar, percebeu que os interesses de RZA iam além do trabalho para o qual fora contratado. "Comecei a notar que ele estava verificando como fazer as coisas: eu trabalhando com diretor de fotografia, como se faz uma cena de luta num sentido prático", disse Tarantino. "Ele ficava fazendo esboços e absorvendo tudo. Passando duas semanas na China só para captar a vibração - isso não é só para uma contribuição musical." A amizade deles floresceu, porém, com os dois "disputando" quem tinha visto mais filmes obscuros de kung fu. Por fim, o "professor" de RZA o agraciou com um conhecimento mais completo de cinema. "Ele trazia um filme que eu nem pensava em assistir", lembrou RZA. "Imaginei que assistiríamos ao filme pela ação. Mas ele dizia, "ouça o diálogo". Assistir junto com ele é diferente." Tempos depois, Tarantino convidou RZA para uma viagem na véspera de ano-novo com ele e Roth à Islândia, onde Tarantino seria o anfitrião de uma sessão tripla de filmes raros de kung fu. A viagem de volta de Roth e RZA a Los Angeles incluiu uma passagem pela casa de Roth, em Boston. O mestre do horror fez a coisa certa do ponto de vista social e convidou seu novo parceiro de hip-hop para um jantar com sua família. E no curso de sua estada forçada, RZA detalhou o longa que estava pensando. "Afinal, éramos como uma família", recordou Roth.Quando o escritor-diretor lançou a Arcade, sua companhia de produção de cinema dedicada a produtos de gênero como horror e ficção científica, em 2007, seu primeiro pensamento foi se informar sobre Man With the Iron Fist, de RZA."Roth leu o roteiro e disse: "Isso é grande, mas podemos deixar mais forte ainda. Tudo que você tem - a ideia central, os personagens - é muito bom, podemos remontar isso. Posso fazer por você o que o Tarantino fez por mim em O Albergue."" A única coisa que sobrou para Roth e RZA fazerem foi conseguir a bênção de seu professor."Quentin afirmou: "Vocês estão prontos, só não comecem muito alto"", recordou RZA. "Isso significava que não deveríamos estourar o orçamento de US$ 10 milhões. Não comecem assim! Se começarem assim, a expectativa vai ser muito alta, vocês poderão não conseguir de novo. É um grande conselho." Embora Roth e RZA digam que já tinham financiamento independente para Man With the Iron Fist e que um esboço de filmagem fora escrito, o cronograma de produção do filme ainda não foi estabelecido.Com cautela, RZA explicou aos fãs do Wu que esperam que o produtor faça o papel principal em seu filme. "Não sei se vou ser a estrela", admitiu ele, rindo. "As mulheres vão ser a estrela. Há uma porção delas neste filme." TRADUÇÃO DE CELSO MAURO PACIORNIK

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