Novas espécies de algas são batizadas por brasileira em homenagem a personalidades negras


A filósofa Djamila Ribeiro, a escritora Conceição Evaristo e a ativista Angela Davis viraram nomes de espécies recém-descobertas. ‘Deixa o legado dessas pessoas vivo para sempre’, diz pesquisadora

Por Beatriz Bulhões

Um grupo de biólogos descobriu três novas espécies de algas vermelhas do tipo Hypnea e decidiu nomeá-las em homenagem a três mulheres pretas: a filósofa Djamila Ribeiro, a escritora Conceição Evaristo e a ativista Angela Davis. Tendo a pós-doutora Priscila Barreto de Jesus como autora principal, uma mulher preta nascida em uma comunidade de Salvador, o nome das espécies leva em conta a trajetória dela em sua jornada identitária.

As Hypnea davisiana, Hypnea djamilae e Hypnea evaristoae foram descobertas após a sequenciamento do genoma de cada uma delas, em parceria com a Universidade de Harvard, pois a aparência e o formato são muito comuns entre as algas. Munidos com a informação genética, foi possível confirmar que cada uma delas era diferente entre si e em relação as outras Hypnea.

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Pesquisadora Priscila Barreto, da UFABC, batizou espécies de algas vermelhas com o nome de mulheres negras de destaque, como Djamila Ribeiro, Angela Davis e Conceição Evaristo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora, que hoje é professora adjunta da Universidade Federal do ABC (UFABC), conta que só se atentou as suas origens ao começar a estudar na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). “Foi na faculdade que eu me descobri negra, quando saí da periferia de Salvador e fui estudar em um ambiente repleto de homens brancos”, conta.

Para ajudar na descoberta da sua identidade, passou a ler sobre o racismo. Os três primeiros livros lidos por ela foram “Pequeno Manual Anti-racista”, de Djamila, e “Olhos D’água”, de Conceição Evaristo, ao mesmo tempo em que era apresentada ao pensamento de Angela Davis.

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Mesmo sendo a única negra da equipe, quando contou a ideia da homenagem às coautoras, em sua maioria mulheres (a também baiana Goia Lyra, as asiáticas Hongrui Zhang e Mutue Toyota Fujii, e sob a orientação da professora Mariana Cabral Oliveira) todas concordaram com a homenagem. Completam a lista de autores Fábio Nauer, José Marcos de Castro Nunes e Charles C. Davis.

A pesquisa foi publicada no dia 7 de março, um dia antes do Dia Internacional da Mulher.

Homenagem a mulheres negras

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A prática de nomear novas espécies de fauna, flora e corpos celestes homenageando pessoas não é nova, embora costume encontrar alguma resistência no meio acadêmico, que prefere nomenclaturas relacionadas a forma ou local de encontro da espécie. “Eu mesmo já fui uma dessas que não gostava, mas depois percebi que essas homenagens são representativas e deixa o legado dessas pessoas vivo para sempre”, relata a pós-doutora.

Para a pesquisadora, batizar as espécies com o nome de personalidades é uma forma de preservar o legado construído por essas pessoas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades fora do Brasil. A H davisiana, por exemplo, se trata de um exemplar retirado da ilha do Tahiti, na Polinésia Francesa, perto da cidade de Faarapa em 19 de junho de 1922. “Nomeado em homenagem à Angela Davis, uma mulher negra americana, filósofa e ativista exemplar pela abordagem interseccional do movimento feminista negro”, diz a descrição do artigo.

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A alga foi preservada em estado vegetativo dentro de um herbário da Universidade de Harvard e, passados 100 anos, pode estar extinta. “A gente não sabe se ainda existe essa espécie, teremos que fazer uma coleta lá no Tahiti, de onde veio a amostra, e ver se ainda a encontramos”, explica.

O exemplar “nomeado em homenagem a Djamila Taís Ribeiro dos Santos, filósofa negra brasileira e importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres” é mais recente. Coletada na Praia Sacheonjin, em Gangneung, Coréia do Sul, em 20 de julho de 2017, ela estava guardada em um herbário de Londres confundida com outra espécie.

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A homenageada postou sobre a nova espécie em uma rede social. “Muito obrigada pelo reconhecimento tão especial! Nunca imaginei viver algo assim, fiquei muito tocada. Viva as nossas pesquisadoras”, escreveu Djamila.

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades da Polinésia Francesa, Índia e Coréia do Sul Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Já a alga “nomeada em homenagem à Dra. Maria da Conceição Evaristo de Brito, importante escritora, literária e educadora brasileira, que destaca a condição da mulher negra em uma sociedade marcada pelo preconceito” foi encontrada na Índia. O exemplar analisado foi encontrado em 28 de outubro de 2018, em Tamil Nadu.

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Coautora do estudo, a também pós-doutora em biologia Goia Lyra explica que essas espécies são bem distribuídas na região tropical, inclusive com grande ocorrência no litoral do Nordeste brasileiro. “Elas ocorrem na região chamada entremarés, a área que fica descoberta quando a maré esvazia e coberta quando ela enche, nas pedras da praia. Então você pode estar andando pela praia e não saber que está pisando numa H. djamilae ou numa H. davisiana”, brinca a pesquisadora.

As três novas espécies são algas vermelhas e produzem carragenina ou carragenano. “Essas substâncias são muito utilizadas como espessantes e estabilizante, em géis, creme dental e geleias, mas também em indústrias farmacêuticas e laboratoriais”, resume Lyra.

Um grupo de biólogos descobriu três novas espécies de algas vermelhas do tipo Hypnea e decidiu nomeá-las em homenagem a três mulheres pretas: a filósofa Djamila Ribeiro, a escritora Conceição Evaristo e a ativista Angela Davis. Tendo a pós-doutora Priscila Barreto de Jesus como autora principal, uma mulher preta nascida em uma comunidade de Salvador, o nome das espécies leva em conta a trajetória dela em sua jornada identitária.

As Hypnea davisiana, Hypnea djamilae e Hypnea evaristoae foram descobertas após a sequenciamento do genoma de cada uma delas, em parceria com a Universidade de Harvard, pois a aparência e o formato são muito comuns entre as algas. Munidos com a informação genética, foi possível confirmar que cada uma delas era diferente entre si e em relação as outras Hypnea.

Pesquisadora Priscila Barreto, da UFABC, batizou espécies de algas vermelhas com o nome de mulheres negras de destaque, como Djamila Ribeiro, Angela Davis e Conceição Evaristo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora, que hoje é professora adjunta da Universidade Federal do ABC (UFABC), conta que só se atentou as suas origens ao começar a estudar na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). “Foi na faculdade que eu me descobri negra, quando saí da periferia de Salvador e fui estudar em um ambiente repleto de homens brancos”, conta.

Para ajudar na descoberta da sua identidade, passou a ler sobre o racismo. Os três primeiros livros lidos por ela foram “Pequeno Manual Anti-racista”, de Djamila, e “Olhos D’água”, de Conceição Evaristo, ao mesmo tempo em que era apresentada ao pensamento de Angela Davis.

Mesmo sendo a única negra da equipe, quando contou a ideia da homenagem às coautoras, em sua maioria mulheres (a também baiana Goia Lyra, as asiáticas Hongrui Zhang e Mutue Toyota Fujii, e sob a orientação da professora Mariana Cabral Oliveira) todas concordaram com a homenagem. Completam a lista de autores Fábio Nauer, José Marcos de Castro Nunes e Charles C. Davis.

A pesquisa foi publicada no dia 7 de março, um dia antes do Dia Internacional da Mulher.

Homenagem a mulheres negras

A prática de nomear novas espécies de fauna, flora e corpos celestes homenageando pessoas não é nova, embora costume encontrar alguma resistência no meio acadêmico, que prefere nomenclaturas relacionadas a forma ou local de encontro da espécie. “Eu mesmo já fui uma dessas que não gostava, mas depois percebi que essas homenagens são representativas e deixa o legado dessas pessoas vivo para sempre”, relata a pós-doutora.

Para a pesquisadora, batizar as espécies com o nome de personalidades é uma forma de preservar o legado construído por essas pessoas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades fora do Brasil. A H davisiana, por exemplo, se trata de um exemplar retirado da ilha do Tahiti, na Polinésia Francesa, perto da cidade de Faarapa em 19 de junho de 1922. “Nomeado em homenagem à Angela Davis, uma mulher negra americana, filósofa e ativista exemplar pela abordagem interseccional do movimento feminista negro”, diz a descrição do artigo.

A alga foi preservada em estado vegetativo dentro de um herbário da Universidade de Harvard e, passados 100 anos, pode estar extinta. “A gente não sabe se ainda existe essa espécie, teremos que fazer uma coleta lá no Tahiti, de onde veio a amostra, e ver se ainda a encontramos”, explica.

O exemplar “nomeado em homenagem a Djamila Taís Ribeiro dos Santos, filósofa negra brasileira e importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres” é mais recente. Coletada na Praia Sacheonjin, em Gangneung, Coréia do Sul, em 20 de julho de 2017, ela estava guardada em um herbário de Londres confundida com outra espécie.

A homenageada postou sobre a nova espécie em uma rede social. “Muito obrigada pelo reconhecimento tão especial! Nunca imaginei viver algo assim, fiquei muito tocada. Viva as nossas pesquisadoras”, escreveu Djamila.

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades da Polinésia Francesa, Índia e Coréia do Sul Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Já a alga “nomeada em homenagem à Dra. Maria da Conceição Evaristo de Brito, importante escritora, literária e educadora brasileira, que destaca a condição da mulher negra em uma sociedade marcada pelo preconceito” foi encontrada na Índia. O exemplar analisado foi encontrado em 28 de outubro de 2018, em Tamil Nadu.

Coautora do estudo, a também pós-doutora em biologia Goia Lyra explica que essas espécies são bem distribuídas na região tropical, inclusive com grande ocorrência no litoral do Nordeste brasileiro. “Elas ocorrem na região chamada entremarés, a área que fica descoberta quando a maré esvazia e coberta quando ela enche, nas pedras da praia. Então você pode estar andando pela praia e não saber que está pisando numa H. djamilae ou numa H. davisiana”, brinca a pesquisadora.

As três novas espécies são algas vermelhas e produzem carragenina ou carragenano. “Essas substâncias são muito utilizadas como espessantes e estabilizante, em géis, creme dental e geleias, mas também em indústrias farmacêuticas e laboratoriais”, resume Lyra.

Um grupo de biólogos descobriu três novas espécies de algas vermelhas do tipo Hypnea e decidiu nomeá-las em homenagem a três mulheres pretas: a filósofa Djamila Ribeiro, a escritora Conceição Evaristo e a ativista Angela Davis. Tendo a pós-doutora Priscila Barreto de Jesus como autora principal, uma mulher preta nascida em uma comunidade de Salvador, o nome das espécies leva em conta a trajetória dela em sua jornada identitária.

As Hypnea davisiana, Hypnea djamilae e Hypnea evaristoae foram descobertas após a sequenciamento do genoma de cada uma delas, em parceria com a Universidade de Harvard, pois a aparência e o formato são muito comuns entre as algas. Munidos com a informação genética, foi possível confirmar que cada uma delas era diferente entre si e em relação as outras Hypnea.

Pesquisadora Priscila Barreto, da UFABC, batizou espécies de algas vermelhas com o nome de mulheres negras de destaque, como Djamila Ribeiro, Angela Davis e Conceição Evaristo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

A autora, que hoje é professora adjunta da Universidade Federal do ABC (UFABC), conta que só se atentou as suas origens ao começar a estudar na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). “Foi na faculdade que eu me descobri negra, quando saí da periferia de Salvador e fui estudar em um ambiente repleto de homens brancos”, conta.

Para ajudar na descoberta da sua identidade, passou a ler sobre o racismo. Os três primeiros livros lidos por ela foram “Pequeno Manual Anti-racista”, de Djamila, e “Olhos D’água”, de Conceição Evaristo, ao mesmo tempo em que era apresentada ao pensamento de Angela Davis.

Mesmo sendo a única negra da equipe, quando contou a ideia da homenagem às coautoras, em sua maioria mulheres (a também baiana Goia Lyra, as asiáticas Hongrui Zhang e Mutue Toyota Fujii, e sob a orientação da professora Mariana Cabral Oliveira) todas concordaram com a homenagem. Completam a lista de autores Fábio Nauer, José Marcos de Castro Nunes e Charles C. Davis.

A pesquisa foi publicada no dia 7 de março, um dia antes do Dia Internacional da Mulher.

Homenagem a mulheres negras

A prática de nomear novas espécies de fauna, flora e corpos celestes homenageando pessoas não é nova, embora costume encontrar alguma resistência no meio acadêmico, que prefere nomenclaturas relacionadas a forma ou local de encontro da espécie. “Eu mesmo já fui uma dessas que não gostava, mas depois percebi que essas homenagens são representativas e deixa o legado dessas pessoas vivo para sempre”, relata a pós-doutora.

Para a pesquisadora, batizar as espécies com o nome de personalidades é uma forma de preservar o legado construído por essas pessoas. Foto: Taba Benedicto/Estadão

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades fora do Brasil. A H davisiana, por exemplo, se trata de um exemplar retirado da ilha do Tahiti, na Polinésia Francesa, perto da cidade de Faarapa em 19 de junho de 1922. “Nomeado em homenagem à Angela Davis, uma mulher negra americana, filósofa e ativista exemplar pela abordagem interseccional do movimento feminista negro”, diz a descrição do artigo.

A alga foi preservada em estado vegetativo dentro de um herbário da Universidade de Harvard e, passados 100 anos, pode estar extinta. “A gente não sabe se ainda existe essa espécie, teremos que fazer uma coleta lá no Tahiti, de onde veio a amostra, e ver se ainda a encontramos”, explica.

O exemplar “nomeado em homenagem a Djamila Taís Ribeiro dos Santos, filósofa negra brasileira e importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres” é mais recente. Coletada na Praia Sacheonjin, em Gangneung, Coréia do Sul, em 20 de julho de 2017, ela estava guardada em um herbário de Londres confundida com outra espécie.

A homenageada postou sobre a nova espécie em uma rede social. “Muito obrigada pelo reconhecimento tão especial! Nunca imaginei viver algo assim, fiquei muito tocada. Viva as nossas pesquisadoras”, escreveu Djamila.

As três novas espécies foram encontradas em herbários de universidades da Polinésia Francesa, Índia e Coréia do Sul Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Já a alga “nomeada em homenagem à Dra. Maria da Conceição Evaristo de Brito, importante escritora, literária e educadora brasileira, que destaca a condição da mulher negra em uma sociedade marcada pelo preconceito” foi encontrada na Índia. O exemplar analisado foi encontrado em 28 de outubro de 2018, em Tamil Nadu.

Coautora do estudo, a também pós-doutora em biologia Goia Lyra explica que essas espécies são bem distribuídas na região tropical, inclusive com grande ocorrência no litoral do Nordeste brasileiro. “Elas ocorrem na região chamada entremarés, a área que fica descoberta quando a maré esvazia e coberta quando ela enche, nas pedras da praia. Então você pode estar andando pela praia e não saber que está pisando numa H. djamilae ou numa H. davisiana”, brinca a pesquisadora.

As três novas espécies são algas vermelhas e produzem carragenina ou carragenano. “Essas substâncias são muito utilizadas como espessantes e estabilizante, em géis, creme dental e geleias, mas também em indústrias farmacêuticas e laboratoriais”, resume Lyra.

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