Artigo publicado originalmente no Estadão Noite O maior partido político brasileiro na atualidade e legenda central para garantir governabilidade ou mesmo promover crises políticas, o PMDB, já dirigiu o País por duas vezes durante a nossa recente redemocratização. E chegou ao poder assumindo o lugar dos titulares, em que pese em uma das vezes o titular, Tancredo Neves, também ter sido um importante quadro do partido. Eleito presidente da República pelo PMDB por meio do colégio eleitoral em 1984, Tancredo Neves faleceu sem tomar posse e foi substituído pelo seu então vice José Sarney. Vale lembrar que Sarney, egresso do PDS onde participou de uma dissidência contra a candidatura Paulo Maluf, assinou ficha de filiação ao PMDB apenas para ser vice na chapa de Tancredo, e exerceu o mandato de presidente da República entre 1985 e 1990. Itamar Franco, antes de assumir a presidência da República em outubro de 1993, após o impeachment de Fernando Collor, esteve filiado ao partido até o ano de 1986 como senador eleito por Minas Gerais. Naquele mesmo ano ingressou no Partido Liberal (PL) para ser vice na chapa de Fernando Collor, de quem herdou o mandato e ficou presidente da Repúblico entre o final de 1992 e 1994. Vale lembrar que Itamar teve papel central na construção da era FHC quando deu sinal verde ao Plano Real e deu a Fernando Henrique a função de cuidar da economia do País. Não por caso muitos chamavam FHC de primeiro-ministro durante a gestão Itamar Franco. Agora, vemos novamente a possibilidade de o PMDB voltar ao Palácio do Planalto de forma acidental, mas dentro da normalidade do ritual da democracia. Michel Temer, vice de Dilma pela segunda vez, pode herdar o mandato se o impeachment da petista prosperar. Isso talvez explique o silêncio de Temer e sua pouca ênfase na defesa do governo desde que o PMDB foi tomado por um espírito majoritariamente oposicionista liderado por Eduardo Cunha e, mais recentemente, pela neo-peemedebista Marta Suplicy. Entretanto, mais do que isso, o atual momento também ajuda a entender que por mais que este seja o maior e mais importante partido para a governabilidade no Brasil, ele dificilmente, num curto prazo e com as atuais lideranças, terá condições de chegar à Presidência do Brasil pela via do voto direto por, pelo menos, duas razões básicas: 1) não possui uma liderança com credibilidade nacional que unifique partido e; 2) não desperta a confiança necessária em aliados de peso justamente pela ambiguidade do comportamento do partido em momentos centrais da recente história política brasileira.* Marco Antonio Carvalho Teixeira é professor de Ciência Política na FGV-SP