O que fazer se for cancelado nas redes sociais? Especialistas dão dicas


Psicólogos apontam que linchamentos virtuais, cada vez mais comuns, têm impactos severos na saúde mental das vítimas

Por Roberta Jansen
Atualização:

Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

Ser linchado virtualmente é uma experiência traumática, que pode levar a tristeza profunda, crises de ansiedade, depressão e, em casos extremos, até a morte. As principais vítimas da chamada cultura do cancelamento costumam ser figuras públicas, mas pessoas comuns também podem, facilmente, se tornar alvo do ódio implacável que domina as redes sociais, na maior parte das vezes sob anonimato.

Esse ataque em escala pode ocorrer por um erro real, mas também por uma declaração infeliz, um gesto ambíguo, uma frase mal interpretada e até sem motivo aparente. A defesa é praticamente impossível. Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam o quanto o discurso de ódio ampliado pelas redes sociais é danoso e dão dicas de como se proteger emocionalmente dos linchamentos virtuais.

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Para superar um linchamento virtual, é importante é a rede real de apoio com a qual a pessoa pode contar, dizem especialistas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Penso que, na origem, houve boa intenção de mostrar que comportamentos considerados antissociais ou preconceituosos podem ter consequências”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Fiocruz. “Mas vemos agora linchamentos virtuais diante de qualquer coisa, muitos sem provas, tsunami. A pessoa não tem capacidade de aprender com aquilo, de se desconstruir, se defender. Simplesmente se afoga”, avalia.

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Em dezembro, com um intervalo de menos de uma semana, duas pessoas tiraram a própria vida em casos ligados a episódios de repercussão virtual: o youtuber PC Siqueira, de 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória Canedo, de apenas 22 anos.

Siqueira chegou a ser investigado por suspeita de compartilhamento de pornografia infantil. Ele negava as acusações e a polícia não encontrou provas de crime após investigação.

Já a jovem, que não era famosa, se viu envolvida na repercussão de uma notícia falsa. Entre os perfis de grande número de seguidores, o conteúdo foi publicado originalmente na página “Garoto do Blog” e replicado pelo perfil “Choquei” com prints que simulavam uma conversa da moça com o humorista Whindersson Nunes. A fake news levou a uma onda de ataques à jovem.

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O Estadão procurou o perfil “Garoto do Blog”, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. Já a página Choquei afirmou que assim que foi identificado que se tratava de notícia falsa, o conteúdo foi retirado. “Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para impedir que episódios dessa natureza voltem a acontecer”, diz um trecho da nota.

Segundo especialistas, linchamentos virtuais têm impacto severo na saúde mental das vítimas e podem provocar graves danos, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão profunda e suicídio.

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Mas por que as palavras de desconhecidos têm impacto tão grande?

“No caso das celebridades, eles vivem disso (exposição online): uma opinião social negativa é ruim para a carreira, pode acarretar perdas. Para pessoas comuns, o volume do ódio, da difamação, adquire proporções grandes. Muitas pessoas falando coisas negativas, escondidas pelo anonimato da rede. Isso tem efeito psicológico deletério”, explica Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.

“Além disso, cada vez mais contamos com os relacionamentos para-sociais, em que não há interação real, mas apenas virtual”, acrescenta o professor. “Quando somos cancelados, tomamos um gelo, ou somos agredidos. Isso tem peso cada vez maior.”

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Segundo as teorias psicanalíticas sobre a construção da identidade, o indivíduo desenvolve sua personalidade a partir da relação com as outras pessoas. O feedback sobre quem somos vem do convívio, da interação com os demais e, atualmente, também das conexões virtuais.

“A sensação de não ser mais aceito por ninguém, de que a sociedade o rejeita, é poderosa. Precisa ter base emocional boa para lidar com isso”, afirma Ilana. “É preciso saber esperar passar a onda, ter consciência de que é passageiro, será esquecido diante de uma nova vítima. Estar cercado de pessoas que podem apoiá-lo é importante.”

A defesa é praticamente impossível, como diz a consultora e gestora de crise Elis Monteiro. Não há espaço nas redes para troca real de ideias e opiniões. A saída possível é pedir desculpas, fechar o espaço para comentários e, se for o caso, se afastar um tempo das redes.

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“É um julgamento sumário, a vítima não tem como se defender”, lembra Elis, também professora de marketing digital. Muitas vezes, segundo ela, a pessoa sofre armação ou é atacada por gesto ou fala mal interpretada.

‘Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada’

Para quem não depende das redes para viver, como influenciadores, ignorar a campanha de ódio pode ser saudável. Foi o caso do fotógrafo André Arruda, responsável por um trabalho com mulheres fisiculturistas e por uma série de nus artísticos de pessoas comuns. Ele foi alvo de ataques virtuais pelo conteúdo.

“Muitas ofensas, xingamentos inacreditáveis, ameaças de morte”, conta Arruda. “Tentaram invadir e derrubar minhas contas em várias redes. A maioria dos ataques vinha de perfis falsos. É uma máquina de ódio. No começo, fiquei ressabiado, mas nunca respondi. Hoje lido bem, não ligo”, afirma.

O caso de Arruda é exceção.

Sofia Albuquerque, de 20 anos, teve uma experiência de cancelamento virtual em contexto diferente. Foi em 2020, na pandemia, quando começou a ter aulas online. Ela estava no 3º ano do ensino médio e a discussão em classe era justamente sobre o cancelamento de um colega que teria assediado uma aluna.

Sofia defendeu a posição de que o rapaz deveria ser ouvido, para que pudesse dar os argumentos em sua defesa. E acabou sendo cancelada também.

“Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada”, conta. “Fizeram memes com fotos minhas, não se falava o meu nome em sala de aula. Nem meu então namorado me defendeu”, diz ela.

“Tinha um aluno que me derrubava toda vez que eu entrava online, me tirava da ligação. Eu me sentia absolutamente impotente, não podia explicar meu lado, dizer o que achava. E também desamparada porque não tive o apoio de ninguém”, relembra a estudante.

“Imagine um milhão de pessoas te xingando, ameaçando de estupro, de morte?”, diz a consultora Elis Monteiro. “Como processar um milhão de pessoas? Em geral, perde-se o equilíbrio emocional, para de trabalhar, paga um preço alto.” Para ela, falta à maioria conscientização sobre o alcance das redes sociais.

“As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que escrevem é público, mesmo no perfil privado. Não há privacidade na internet”, alerta. “A internet não é mesa de bar com três amigos onde podem debater um assunto.”

Para o professor Rodrigo Martins Leite, o mais importante para superar o linchamento virtual é a rede real de apoio. “Buscar interações presenciais, com pessoas da rede social real, não da virtual. É o grande fator protetor para a saúde mental”, orienta.

“Dependendo da situação, pode-se buscar apoio de profissionais de saúde mental, psicólogos e até psiquiatras, se há necessidade de medicação.”

O que fazer após o cancelamento?

  • Manter a calma e entender que a onda costuma ser passageira
  • Escute antes de falar; se estiver errado, peça desculpas
  • Busque apoio de contatos do mundo real, não do virtual, para dar ajuda
  • Não brigue com as massas nas redes sociais tentando se explicar ou se defender
  • Lembre-se do potencial de alcance da rede social: tudo o que for escrito ou falado pode chegar a milhares e até milhões de pessoas
  • Se a repercussão é grande ou se envolve um negócio ou sua atividade profissional, pode ser útil um especialista em gestão de crise
  • Nos casos de atividade profissional, também é importante já preparar políticas de prevenção e reação antes das crises
  • Em caso de sofrimento mental mais grave, busque um especialista da área de psicologia

As estratégias contra essa tendência passam também por educação, desde os níveis básicos até a universidade. “O primeiro ponto é se falar sobre esse comportamento como o que é, nocivo. Em longo prazo, queremos que as pessoas percebam que é algo que não funciona e só deixa a irracionalidade tomar conta das discordâncias”, diz Ilana Pinsky, da Fiocruz.

“Tem de se poder ampliar, paradoxalmente, a tolerância a discursos opostos ao nosso pensamento. Nos vários espaços: escola, trabalho, comunidades, família. O caminho é ampliar a liberdade de expressão. Sobre tudo. Não pode haver liberdade de expressão só para o politicamente correto”, afirma ela.

Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1873/23 que pretende incluir no Código Penal os crimes de “cancelamento virtual” e “linchamento virtual”, punidos com detenção e multa.

O texto define cancelamento como a prática que viola a honra ou imagem de alguém por meio das redes sociais ou qualquer outra interação virtual. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. Se praticado por meio de perfis falsos, a punição é de nove meses a três anos de detenção.

O linchamento virtual, por sua vez, é definido como ameaçar alguém pelas redes ou outro meio virtual. A pena de detenção é de um a três anos. São previstas três agravantes: prejuízo econômico à vítima, ação praticada por duas ou mais pessoas ou se há desdobramento em violência física real.

Na avaliação de Ilana, o problema dificilmente será controlado por uma legislação única, mas uma possibilidade é a criação de mais regras de convívio para os espaços de interação virtual.

No exterior, algumas universidades criaram conselhos em defesa da liberdade acadêmica, após pressões lideradas por ativistas que reagiam à discussão sobre alguns temas. Um exemplo é a prestigiada Harvard, nos Estados Unidos, onde é dado apoio a acadêmicos vítimas de ataques por suas pesquisas.

“Quando os ativistas gritam no ouvido de um gestor, falaremos com calma, mas vigorosamente no outro (ouvido), o que exigirá que tomem o caminho racional, e não a saída mais fácil”, diz o texto que explica a criação do conselho em Harvard, que teve a adesão inicial de 70 professores.

Um conselho semelhante foi criado para universidades de Londres, entre elas a King’s College e a Imperial College. A ideia é também estimular as instituições a criarem seus protocolos que melhorem o ambiente de debate acadêmico.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

Ser linchado virtualmente é uma experiência traumática, que pode levar a tristeza profunda, crises de ansiedade, depressão e, em casos extremos, até a morte. As principais vítimas da chamada cultura do cancelamento costumam ser figuras públicas, mas pessoas comuns também podem, facilmente, se tornar alvo do ódio implacável que domina as redes sociais, na maior parte das vezes sob anonimato.

Esse ataque em escala pode ocorrer por um erro real, mas também por uma declaração infeliz, um gesto ambíguo, uma frase mal interpretada e até sem motivo aparente. A defesa é praticamente impossível. Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam o quanto o discurso de ódio ampliado pelas redes sociais é danoso e dão dicas de como se proteger emocionalmente dos linchamentos virtuais.

Para superar um linchamento virtual, é importante é a rede real de apoio com a qual a pessoa pode contar, dizem especialistas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Penso que, na origem, houve boa intenção de mostrar que comportamentos considerados antissociais ou preconceituosos podem ter consequências”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Fiocruz. “Mas vemos agora linchamentos virtuais diante de qualquer coisa, muitos sem provas, tsunami. A pessoa não tem capacidade de aprender com aquilo, de se desconstruir, se defender. Simplesmente se afoga”, avalia.

Em dezembro, com um intervalo de menos de uma semana, duas pessoas tiraram a própria vida em casos ligados a episódios de repercussão virtual: o youtuber PC Siqueira, de 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória Canedo, de apenas 22 anos.

Siqueira chegou a ser investigado por suspeita de compartilhamento de pornografia infantil. Ele negava as acusações e a polícia não encontrou provas de crime após investigação.

Já a jovem, que não era famosa, se viu envolvida na repercussão de uma notícia falsa. Entre os perfis de grande número de seguidores, o conteúdo foi publicado originalmente na página “Garoto do Blog” e replicado pelo perfil “Choquei” com prints que simulavam uma conversa da moça com o humorista Whindersson Nunes. A fake news levou a uma onda de ataques à jovem.

O Estadão procurou o perfil “Garoto do Blog”, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. Já a página Choquei afirmou que assim que foi identificado que se tratava de notícia falsa, o conteúdo foi retirado. “Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para impedir que episódios dessa natureza voltem a acontecer”, diz um trecho da nota.

Segundo especialistas, linchamentos virtuais têm impacto severo na saúde mental das vítimas e podem provocar graves danos, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão profunda e suicídio.

Mas por que as palavras de desconhecidos têm impacto tão grande?

“No caso das celebridades, eles vivem disso (exposição online): uma opinião social negativa é ruim para a carreira, pode acarretar perdas. Para pessoas comuns, o volume do ódio, da difamação, adquire proporções grandes. Muitas pessoas falando coisas negativas, escondidas pelo anonimato da rede. Isso tem efeito psicológico deletério”, explica Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.

“Além disso, cada vez mais contamos com os relacionamentos para-sociais, em que não há interação real, mas apenas virtual”, acrescenta o professor. “Quando somos cancelados, tomamos um gelo, ou somos agredidos. Isso tem peso cada vez maior.”

Segundo as teorias psicanalíticas sobre a construção da identidade, o indivíduo desenvolve sua personalidade a partir da relação com as outras pessoas. O feedback sobre quem somos vem do convívio, da interação com os demais e, atualmente, também das conexões virtuais.

“A sensação de não ser mais aceito por ninguém, de que a sociedade o rejeita, é poderosa. Precisa ter base emocional boa para lidar com isso”, afirma Ilana. “É preciso saber esperar passar a onda, ter consciência de que é passageiro, será esquecido diante de uma nova vítima. Estar cercado de pessoas que podem apoiá-lo é importante.”

A defesa é praticamente impossível, como diz a consultora e gestora de crise Elis Monteiro. Não há espaço nas redes para troca real de ideias e opiniões. A saída possível é pedir desculpas, fechar o espaço para comentários e, se for o caso, se afastar um tempo das redes.

“É um julgamento sumário, a vítima não tem como se defender”, lembra Elis, também professora de marketing digital. Muitas vezes, segundo ela, a pessoa sofre armação ou é atacada por gesto ou fala mal interpretada.

‘Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada’

Para quem não depende das redes para viver, como influenciadores, ignorar a campanha de ódio pode ser saudável. Foi o caso do fotógrafo André Arruda, responsável por um trabalho com mulheres fisiculturistas e por uma série de nus artísticos de pessoas comuns. Ele foi alvo de ataques virtuais pelo conteúdo.

“Muitas ofensas, xingamentos inacreditáveis, ameaças de morte”, conta Arruda. “Tentaram invadir e derrubar minhas contas em várias redes. A maioria dos ataques vinha de perfis falsos. É uma máquina de ódio. No começo, fiquei ressabiado, mas nunca respondi. Hoje lido bem, não ligo”, afirma.

O caso de Arruda é exceção.

Sofia Albuquerque, de 20 anos, teve uma experiência de cancelamento virtual em contexto diferente. Foi em 2020, na pandemia, quando começou a ter aulas online. Ela estava no 3º ano do ensino médio e a discussão em classe era justamente sobre o cancelamento de um colega que teria assediado uma aluna.

Sofia defendeu a posição de que o rapaz deveria ser ouvido, para que pudesse dar os argumentos em sua defesa. E acabou sendo cancelada também.

“Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada”, conta. “Fizeram memes com fotos minhas, não se falava o meu nome em sala de aula. Nem meu então namorado me defendeu”, diz ela.

“Tinha um aluno que me derrubava toda vez que eu entrava online, me tirava da ligação. Eu me sentia absolutamente impotente, não podia explicar meu lado, dizer o que achava. E também desamparada porque não tive o apoio de ninguém”, relembra a estudante.

“Imagine um milhão de pessoas te xingando, ameaçando de estupro, de morte?”, diz a consultora Elis Monteiro. “Como processar um milhão de pessoas? Em geral, perde-se o equilíbrio emocional, para de trabalhar, paga um preço alto.” Para ela, falta à maioria conscientização sobre o alcance das redes sociais.

“As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que escrevem é público, mesmo no perfil privado. Não há privacidade na internet”, alerta. “A internet não é mesa de bar com três amigos onde podem debater um assunto.”

Para o professor Rodrigo Martins Leite, o mais importante para superar o linchamento virtual é a rede real de apoio. “Buscar interações presenciais, com pessoas da rede social real, não da virtual. É o grande fator protetor para a saúde mental”, orienta.

“Dependendo da situação, pode-se buscar apoio de profissionais de saúde mental, psicólogos e até psiquiatras, se há necessidade de medicação.”

O que fazer após o cancelamento?

  • Manter a calma e entender que a onda costuma ser passageira
  • Escute antes de falar; se estiver errado, peça desculpas
  • Busque apoio de contatos do mundo real, não do virtual, para dar ajuda
  • Não brigue com as massas nas redes sociais tentando se explicar ou se defender
  • Lembre-se do potencial de alcance da rede social: tudo o que for escrito ou falado pode chegar a milhares e até milhões de pessoas
  • Se a repercussão é grande ou se envolve um negócio ou sua atividade profissional, pode ser útil um especialista em gestão de crise
  • Nos casos de atividade profissional, também é importante já preparar políticas de prevenção e reação antes das crises
  • Em caso de sofrimento mental mais grave, busque um especialista da área de psicologia

As estratégias contra essa tendência passam também por educação, desde os níveis básicos até a universidade. “O primeiro ponto é se falar sobre esse comportamento como o que é, nocivo. Em longo prazo, queremos que as pessoas percebam que é algo que não funciona e só deixa a irracionalidade tomar conta das discordâncias”, diz Ilana Pinsky, da Fiocruz.

“Tem de se poder ampliar, paradoxalmente, a tolerância a discursos opostos ao nosso pensamento. Nos vários espaços: escola, trabalho, comunidades, família. O caminho é ampliar a liberdade de expressão. Sobre tudo. Não pode haver liberdade de expressão só para o politicamente correto”, afirma ela.

Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1873/23 que pretende incluir no Código Penal os crimes de “cancelamento virtual” e “linchamento virtual”, punidos com detenção e multa.

O texto define cancelamento como a prática que viola a honra ou imagem de alguém por meio das redes sociais ou qualquer outra interação virtual. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. Se praticado por meio de perfis falsos, a punição é de nove meses a três anos de detenção.

O linchamento virtual, por sua vez, é definido como ameaçar alguém pelas redes ou outro meio virtual. A pena de detenção é de um a três anos. São previstas três agravantes: prejuízo econômico à vítima, ação praticada por duas ou mais pessoas ou se há desdobramento em violência física real.

Na avaliação de Ilana, o problema dificilmente será controlado por uma legislação única, mas uma possibilidade é a criação de mais regras de convívio para os espaços de interação virtual.

No exterior, algumas universidades criaram conselhos em defesa da liberdade acadêmica, após pressões lideradas por ativistas que reagiam à discussão sobre alguns temas. Um exemplo é a prestigiada Harvard, nos Estados Unidos, onde é dado apoio a acadêmicos vítimas de ataques por suas pesquisas.

“Quando os ativistas gritam no ouvido de um gestor, falaremos com calma, mas vigorosamente no outro (ouvido), o que exigirá que tomem o caminho racional, e não a saída mais fácil”, diz o texto que explica a criação do conselho em Harvard, que teve a adesão inicial de 70 professores.

Um conselho semelhante foi criado para universidades de Londres, entre elas a King’s College e a Imperial College. A ideia é também estimular as instituições a criarem seus protocolos que melhorem o ambiente de debate acadêmico.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

Ser linchado virtualmente é uma experiência traumática, que pode levar a tristeza profunda, crises de ansiedade, depressão e, em casos extremos, até a morte. As principais vítimas da chamada cultura do cancelamento costumam ser figuras públicas, mas pessoas comuns também podem, facilmente, se tornar alvo do ódio implacável que domina as redes sociais, na maior parte das vezes sob anonimato.

Esse ataque em escala pode ocorrer por um erro real, mas também por uma declaração infeliz, um gesto ambíguo, uma frase mal interpretada e até sem motivo aparente. A defesa é praticamente impossível. Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam o quanto o discurso de ódio ampliado pelas redes sociais é danoso e dão dicas de como se proteger emocionalmente dos linchamentos virtuais.

Para superar um linchamento virtual, é importante é a rede real de apoio com a qual a pessoa pode contar, dizem especialistas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Penso que, na origem, houve boa intenção de mostrar que comportamentos considerados antissociais ou preconceituosos podem ter consequências”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Fiocruz. “Mas vemos agora linchamentos virtuais diante de qualquer coisa, muitos sem provas, tsunami. A pessoa não tem capacidade de aprender com aquilo, de se desconstruir, se defender. Simplesmente se afoga”, avalia.

Em dezembro, com um intervalo de menos de uma semana, duas pessoas tiraram a própria vida em casos ligados a episódios de repercussão virtual: o youtuber PC Siqueira, de 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória Canedo, de apenas 22 anos.

Siqueira chegou a ser investigado por suspeita de compartilhamento de pornografia infantil. Ele negava as acusações e a polícia não encontrou provas de crime após investigação.

Já a jovem, que não era famosa, se viu envolvida na repercussão de uma notícia falsa. Entre os perfis de grande número de seguidores, o conteúdo foi publicado originalmente na página “Garoto do Blog” e replicado pelo perfil “Choquei” com prints que simulavam uma conversa da moça com o humorista Whindersson Nunes. A fake news levou a uma onda de ataques à jovem.

O Estadão procurou o perfil “Garoto do Blog”, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. Já a página Choquei afirmou que assim que foi identificado que se tratava de notícia falsa, o conteúdo foi retirado. “Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para impedir que episódios dessa natureza voltem a acontecer”, diz um trecho da nota.

Segundo especialistas, linchamentos virtuais têm impacto severo na saúde mental das vítimas e podem provocar graves danos, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão profunda e suicídio.

Mas por que as palavras de desconhecidos têm impacto tão grande?

“No caso das celebridades, eles vivem disso (exposição online): uma opinião social negativa é ruim para a carreira, pode acarretar perdas. Para pessoas comuns, o volume do ódio, da difamação, adquire proporções grandes. Muitas pessoas falando coisas negativas, escondidas pelo anonimato da rede. Isso tem efeito psicológico deletério”, explica Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.

“Além disso, cada vez mais contamos com os relacionamentos para-sociais, em que não há interação real, mas apenas virtual”, acrescenta o professor. “Quando somos cancelados, tomamos um gelo, ou somos agredidos. Isso tem peso cada vez maior.”

Segundo as teorias psicanalíticas sobre a construção da identidade, o indivíduo desenvolve sua personalidade a partir da relação com as outras pessoas. O feedback sobre quem somos vem do convívio, da interação com os demais e, atualmente, também das conexões virtuais.

“A sensação de não ser mais aceito por ninguém, de que a sociedade o rejeita, é poderosa. Precisa ter base emocional boa para lidar com isso”, afirma Ilana. “É preciso saber esperar passar a onda, ter consciência de que é passageiro, será esquecido diante de uma nova vítima. Estar cercado de pessoas que podem apoiá-lo é importante.”

A defesa é praticamente impossível, como diz a consultora e gestora de crise Elis Monteiro. Não há espaço nas redes para troca real de ideias e opiniões. A saída possível é pedir desculpas, fechar o espaço para comentários e, se for o caso, se afastar um tempo das redes.

“É um julgamento sumário, a vítima não tem como se defender”, lembra Elis, também professora de marketing digital. Muitas vezes, segundo ela, a pessoa sofre armação ou é atacada por gesto ou fala mal interpretada.

‘Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada’

Para quem não depende das redes para viver, como influenciadores, ignorar a campanha de ódio pode ser saudável. Foi o caso do fotógrafo André Arruda, responsável por um trabalho com mulheres fisiculturistas e por uma série de nus artísticos de pessoas comuns. Ele foi alvo de ataques virtuais pelo conteúdo.

“Muitas ofensas, xingamentos inacreditáveis, ameaças de morte”, conta Arruda. “Tentaram invadir e derrubar minhas contas em várias redes. A maioria dos ataques vinha de perfis falsos. É uma máquina de ódio. No começo, fiquei ressabiado, mas nunca respondi. Hoje lido bem, não ligo”, afirma.

O caso de Arruda é exceção.

Sofia Albuquerque, de 20 anos, teve uma experiência de cancelamento virtual em contexto diferente. Foi em 2020, na pandemia, quando começou a ter aulas online. Ela estava no 3º ano do ensino médio e a discussão em classe era justamente sobre o cancelamento de um colega que teria assediado uma aluna.

Sofia defendeu a posição de que o rapaz deveria ser ouvido, para que pudesse dar os argumentos em sua defesa. E acabou sendo cancelada também.

“Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada”, conta. “Fizeram memes com fotos minhas, não se falava o meu nome em sala de aula. Nem meu então namorado me defendeu”, diz ela.

“Tinha um aluno que me derrubava toda vez que eu entrava online, me tirava da ligação. Eu me sentia absolutamente impotente, não podia explicar meu lado, dizer o que achava. E também desamparada porque não tive o apoio de ninguém”, relembra a estudante.

“Imagine um milhão de pessoas te xingando, ameaçando de estupro, de morte?”, diz a consultora Elis Monteiro. “Como processar um milhão de pessoas? Em geral, perde-se o equilíbrio emocional, para de trabalhar, paga um preço alto.” Para ela, falta à maioria conscientização sobre o alcance das redes sociais.

“As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que escrevem é público, mesmo no perfil privado. Não há privacidade na internet”, alerta. “A internet não é mesa de bar com três amigos onde podem debater um assunto.”

Para o professor Rodrigo Martins Leite, o mais importante para superar o linchamento virtual é a rede real de apoio. “Buscar interações presenciais, com pessoas da rede social real, não da virtual. É o grande fator protetor para a saúde mental”, orienta.

“Dependendo da situação, pode-se buscar apoio de profissionais de saúde mental, psicólogos e até psiquiatras, se há necessidade de medicação.”

O que fazer após o cancelamento?

  • Manter a calma e entender que a onda costuma ser passageira
  • Escute antes de falar; se estiver errado, peça desculpas
  • Busque apoio de contatos do mundo real, não do virtual, para dar ajuda
  • Não brigue com as massas nas redes sociais tentando se explicar ou se defender
  • Lembre-se do potencial de alcance da rede social: tudo o que for escrito ou falado pode chegar a milhares e até milhões de pessoas
  • Se a repercussão é grande ou se envolve um negócio ou sua atividade profissional, pode ser útil um especialista em gestão de crise
  • Nos casos de atividade profissional, também é importante já preparar políticas de prevenção e reação antes das crises
  • Em caso de sofrimento mental mais grave, busque um especialista da área de psicologia

As estratégias contra essa tendência passam também por educação, desde os níveis básicos até a universidade. “O primeiro ponto é se falar sobre esse comportamento como o que é, nocivo. Em longo prazo, queremos que as pessoas percebam que é algo que não funciona e só deixa a irracionalidade tomar conta das discordâncias”, diz Ilana Pinsky, da Fiocruz.

“Tem de se poder ampliar, paradoxalmente, a tolerância a discursos opostos ao nosso pensamento. Nos vários espaços: escola, trabalho, comunidades, família. O caminho é ampliar a liberdade de expressão. Sobre tudo. Não pode haver liberdade de expressão só para o politicamente correto”, afirma ela.

Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1873/23 que pretende incluir no Código Penal os crimes de “cancelamento virtual” e “linchamento virtual”, punidos com detenção e multa.

O texto define cancelamento como a prática que viola a honra ou imagem de alguém por meio das redes sociais ou qualquer outra interação virtual. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. Se praticado por meio de perfis falsos, a punição é de nove meses a três anos de detenção.

O linchamento virtual, por sua vez, é definido como ameaçar alguém pelas redes ou outro meio virtual. A pena de detenção é de um a três anos. São previstas três agravantes: prejuízo econômico à vítima, ação praticada por duas ou mais pessoas ou se há desdobramento em violência física real.

Na avaliação de Ilana, o problema dificilmente será controlado por uma legislação única, mas uma possibilidade é a criação de mais regras de convívio para os espaços de interação virtual.

No exterior, algumas universidades criaram conselhos em defesa da liberdade acadêmica, após pressões lideradas por ativistas que reagiam à discussão sobre alguns temas. Um exemplo é a prestigiada Harvard, nos Estados Unidos, onde é dado apoio a acadêmicos vítimas de ataques por suas pesquisas.

“Quando os ativistas gritam no ouvido de um gestor, falaremos com calma, mas vigorosamente no outro (ouvido), o que exigirá que tomem o caminho racional, e não a saída mais fácil”, diz o texto que explica a criação do conselho em Harvard, que teve a adesão inicial de 70 professores.

Um conselho semelhante foi criado para universidades de Londres, entre elas a King’s College e a Imperial College. A ideia é também estimular as instituições a criarem seus protocolos que melhorem o ambiente de debate acadêmico.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

Ser linchado virtualmente é uma experiência traumática, que pode levar a tristeza profunda, crises de ansiedade, depressão e, em casos extremos, até a morte. As principais vítimas da chamada cultura do cancelamento costumam ser figuras públicas, mas pessoas comuns também podem, facilmente, se tornar alvo do ódio implacável que domina as redes sociais, na maior parte das vezes sob anonimato.

Esse ataque em escala pode ocorrer por um erro real, mas também por uma declaração infeliz, um gesto ambíguo, uma frase mal interpretada e até sem motivo aparente. A defesa é praticamente impossível. Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam o quanto o discurso de ódio ampliado pelas redes sociais é danoso e dão dicas de como se proteger emocionalmente dos linchamentos virtuais.

Para superar um linchamento virtual, é importante é a rede real de apoio com a qual a pessoa pode contar, dizem especialistas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Penso que, na origem, houve boa intenção de mostrar que comportamentos considerados antissociais ou preconceituosos podem ter consequências”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Fiocruz. “Mas vemos agora linchamentos virtuais diante de qualquer coisa, muitos sem provas, tsunami. A pessoa não tem capacidade de aprender com aquilo, de se desconstruir, se defender. Simplesmente se afoga”, avalia.

Em dezembro, com um intervalo de menos de uma semana, duas pessoas tiraram a própria vida em casos ligados a episódios de repercussão virtual: o youtuber PC Siqueira, de 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória Canedo, de apenas 22 anos.

Siqueira chegou a ser investigado por suspeita de compartilhamento de pornografia infantil. Ele negava as acusações e a polícia não encontrou provas de crime após investigação.

Já a jovem, que não era famosa, se viu envolvida na repercussão de uma notícia falsa. Entre os perfis de grande número de seguidores, o conteúdo foi publicado originalmente na página “Garoto do Blog” e replicado pelo perfil “Choquei” com prints que simulavam uma conversa da moça com o humorista Whindersson Nunes. A fake news levou a uma onda de ataques à jovem.

O Estadão procurou o perfil “Garoto do Blog”, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. Já a página Choquei afirmou que assim que foi identificado que se tratava de notícia falsa, o conteúdo foi retirado. “Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para impedir que episódios dessa natureza voltem a acontecer”, diz um trecho da nota.

Segundo especialistas, linchamentos virtuais têm impacto severo na saúde mental das vítimas e podem provocar graves danos, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão profunda e suicídio.

Mas por que as palavras de desconhecidos têm impacto tão grande?

“No caso das celebridades, eles vivem disso (exposição online): uma opinião social negativa é ruim para a carreira, pode acarretar perdas. Para pessoas comuns, o volume do ódio, da difamação, adquire proporções grandes. Muitas pessoas falando coisas negativas, escondidas pelo anonimato da rede. Isso tem efeito psicológico deletério”, explica Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.

“Além disso, cada vez mais contamos com os relacionamentos para-sociais, em que não há interação real, mas apenas virtual”, acrescenta o professor. “Quando somos cancelados, tomamos um gelo, ou somos agredidos. Isso tem peso cada vez maior.”

Segundo as teorias psicanalíticas sobre a construção da identidade, o indivíduo desenvolve sua personalidade a partir da relação com as outras pessoas. O feedback sobre quem somos vem do convívio, da interação com os demais e, atualmente, também das conexões virtuais.

“A sensação de não ser mais aceito por ninguém, de que a sociedade o rejeita, é poderosa. Precisa ter base emocional boa para lidar com isso”, afirma Ilana. “É preciso saber esperar passar a onda, ter consciência de que é passageiro, será esquecido diante de uma nova vítima. Estar cercado de pessoas que podem apoiá-lo é importante.”

A defesa é praticamente impossível, como diz a consultora e gestora de crise Elis Monteiro. Não há espaço nas redes para troca real de ideias e opiniões. A saída possível é pedir desculpas, fechar o espaço para comentários e, se for o caso, se afastar um tempo das redes.

“É um julgamento sumário, a vítima não tem como se defender”, lembra Elis, também professora de marketing digital. Muitas vezes, segundo ela, a pessoa sofre armação ou é atacada por gesto ou fala mal interpretada.

‘Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada’

Para quem não depende das redes para viver, como influenciadores, ignorar a campanha de ódio pode ser saudável. Foi o caso do fotógrafo André Arruda, responsável por um trabalho com mulheres fisiculturistas e por uma série de nus artísticos de pessoas comuns. Ele foi alvo de ataques virtuais pelo conteúdo.

“Muitas ofensas, xingamentos inacreditáveis, ameaças de morte”, conta Arruda. “Tentaram invadir e derrubar minhas contas em várias redes. A maioria dos ataques vinha de perfis falsos. É uma máquina de ódio. No começo, fiquei ressabiado, mas nunca respondi. Hoje lido bem, não ligo”, afirma.

O caso de Arruda é exceção.

Sofia Albuquerque, de 20 anos, teve uma experiência de cancelamento virtual em contexto diferente. Foi em 2020, na pandemia, quando começou a ter aulas online. Ela estava no 3º ano do ensino médio e a discussão em classe era justamente sobre o cancelamento de um colega que teria assediado uma aluna.

Sofia defendeu a posição de que o rapaz deveria ser ouvido, para que pudesse dar os argumentos em sua defesa. E acabou sendo cancelada também.

“Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada”, conta. “Fizeram memes com fotos minhas, não se falava o meu nome em sala de aula. Nem meu então namorado me defendeu”, diz ela.

“Tinha um aluno que me derrubava toda vez que eu entrava online, me tirava da ligação. Eu me sentia absolutamente impotente, não podia explicar meu lado, dizer o que achava. E também desamparada porque não tive o apoio de ninguém”, relembra a estudante.

“Imagine um milhão de pessoas te xingando, ameaçando de estupro, de morte?”, diz a consultora Elis Monteiro. “Como processar um milhão de pessoas? Em geral, perde-se o equilíbrio emocional, para de trabalhar, paga um preço alto.” Para ela, falta à maioria conscientização sobre o alcance das redes sociais.

“As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que escrevem é público, mesmo no perfil privado. Não há privacidade na internet”, alerta. “A internet não é mesa de bar com três amigos onde podem debater um assunto.”

Para o professor Rodrigo Martins Leite, o mais importante para superar o linchamento virtual é a rede real de apoio. “Buscar interações presenciais, com pessoas da rede social real, não da virtual. É o grande fator protetor para a saúde mental”, orienta.

“Dependendo da situação, pode-se buscar apoio de profissionais de saúde mental, psicólogos e até psiquiatras, se há necessidade de medicação.”

O que fazer após o cancelamento?

  • Manter a calma e entender que a onda costuma ser passageira
  • Escute antes de falar; se estiver errado, peça desculpas
  • Busque apoio de contatos do mundo real, não do virtual, para dar ajuda
  • Não brigue com as massas nas redes sociais tentando se explicar ou se defender
  • Lembre-se do potencial de alcance da rede social: tudo o que for escrito ou falado pode chegar a milhares e até milhões de pessoas
  • Se a repercussão é grande ou se envolve um negócio ou sua atividade profissional, pode ser útil um especialista em gestão de crise
  • Nos casos de atividade profissional, também é importante já preparar políticas de prevenção e reação antes das crises
  • Em caso de sofrimento mental mais grave, busque um especialista da área de psicologia

As estratégias contra essa tendência passam também por educação, desde os níveis básicos até a universidade. “O primeiro ponto é se falar sobre esse comportamento como o que é, nocivo. Em longo prazo, queremos que as pessoas percebam que é algo que não funciona e só deixa a irracionalidade tomar conta das discordâncias”, diz Ilana Pinsky, da Fiocruz.

“Tem de se poder ampliar, paradoxalmente, a tolerância a discursos opostos ao nosso pensamento. Nos vários espaços: escola, trabalho, comunidades, família. O caminho é ampliar a liberdade de expressão. Sobre tudo. Não pode haver liberdade de expressão só para o politicamente correto”, afirma ela.

Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1873/23 que pretende incluir no Código Penal os crimes de “cancelamento virtual” e “linchamento virtual”, punidos com detenção e multa.

O texto define cancelamento como a prática que viola a honra ou imagem de alguém por meio das redes sociais ou qualquer outra interação virtual. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. Se praticado por meio de perfis falsos, a punição é de nove meses a três anos de detenção.

O linchamento virtual, por sua vez, é definido como ameaçar alguém pelas redes ou outro meio virtual. A pena de detenção é de um a três anos. São previstas três agravantes: prejuízo econômico à vítima, ação praticada por duas ou mais pessoas ou se há desdobramento em violência física real.

Na avaliação de Ilana, o problema dificilmente será controlado por uma legislação única, mas uma possibilidade é a criação de mais regras de convívio para os espaços de interação virtual.

No exterior, algumas universidades criaram conselhos em defesa da liberdade acadêmica, após pressões lideradas por ativistas que reagiam à discussão sobre alguns temas. Um exemplo é a prestigiada Harvard, nos Estados Unidos, onde é dado apoio a acadêmicos vítimas de ataques por suas pesquisas.

“Quando os ativistas gritam no ouvido de um gestor, falaremos com calma, mas vigorosamente no outro (ouvido), o que exigirá que tomem o caminho racional, e não a saída mais fácil”, diz o texto que explica a criação do conselho em Harvard, que teve a adesão inicial de 70 professores.

Um conselho semelhante foi criado para universidades de Londres, entre elas a King’s College e a Imperial College. A ideia é também estimular as instituições a criarem seus protocolos que melhorem o ambiente de debate acadêmico.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.

Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

Ser linchado virtualmente é uma experiência traumática, que pode levar a tristeza profunda, crises de ansiedade, depressão e, em casos extremos, até a morte. As principais vítimas da chamada cultura do cancelamento costumam ser figuras públicas, mas pessoas comuns também podem, facilmente, se tornar alvo do ódio implacável que domina as redes sociais, na maior parte das vezes sob anonimato.

Esse ataque em escala pode ocorrer por um erro real, mas também por uma declaração infeliz, um gesto ambíguo, uma frase mal interpretada e até sem motivo aparente. A defesa é praticamente impossível. Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam o quanto o discurso de ódio ampliado pelas redes sociais é danoso e dão dicas de como se proteger emocionalmente dos linchamentos virtuais.

Para superar um linchamento virtual, é importante é a rede real de apoio com a qual a pessoa pode contar, dizem especialistas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Penso que, na origem, houve boa intenção de mostrar que comportamentos considerados antissociais ou preconceituosos podem ter consequências”, diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Fiocruz. “Mas vemos agora linchamentos virtuais diante de qualquer coisa, muitos sem provas, tsunami. A pessoa não tem capacidade de aprender com aquilo, de se desconstruir, se defender. Simplesmente se afoga”, avalia.

Em dezembro, com um intervalo de menos de uma semana, duas pessoas tiraram a própria vida em casos ligados a episódios de repercussão virtual: o youtuber PC Siqueira, de 37 anos, e a jovem Jéssica Vitória Canedo, de apenas 22 anos.

Siqueira chegou a ser investigado por suspeita de compartilhamento de pornografia infantil. Ele negava as acusações e a polícia não encontrou provas de crime após investigação.

Já a jovem, que não era famosa, se viu envolvida na repercussão de uma notícia falsa. Entre os perfis de grande número de seguidores, o conteúdo foi publicado originalmente na página “Garoto do Blog” e replicado pelo perfil “Choquei” com prints que simulavam uma conversa da moça com o humorista Whindersson Nunes. A fake news levou a uma onda de ataques à jovem.

O Estadão procurou o perfil “Garoto do Blog”, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem. Já a página Choquei afirmou que assim que foi identificado que se tratava de notícia falsa, o conteúdo foi retirado. “Neste momento, a Choquei passa por um profundo processo de reavaliação interna dos métodos adotados visando a implementação de filtros e códigos de conduta para impedir que episódios dessa natureza voltem a acontecer”, diz um trecho da nota.

Segundo especialistas, linchamentos virtuais têm impacto severo na saúde mental das vítimas e podem provocar graves danos, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão profunda e suicídio.

Mas por que as palavras de desconhecidos têm impacto tão grande?

“No caso das celebridades, eles vivem disso (exposição online): uma opinião social negativa é ruim para a carreira, pode acarretar perdas. Para pessoas comuns, o volume do ódio, da difamação, adquire proporções grandes. Muitas pessoas falando coisas negativas, escondidas pelo anonimato da rede. Isso tem efeito psicológico deletério”, explica Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP.

“Além disso, cada vez mais contamos com os relacionamentos para-sociais, em que não há interação real, mas apenas virtual”, acrescenta o professor. “Quando somos cancelados, tomamos um gelo, ou somos agredidos. Isso tem peso cada vez maior.”

Segundo as teorias psicanalíticas sobre a construção da identidade, o indivíduo desenvolve sua personalidade a partir da relação com as outras pessoas. O feedback sobre quem somos vem do convívio, da interação com os demais e, atualmente, também das conexões virtuais.

“A sensação de não ser mais aceito por ninguém, de que a sociedade o rejeita, é poderosa. Precisa ter base emocional boa para lidar com isso”, afirma Ilana. “É preciso saber esperar passar a onda, ter consciência de que é passageiro, será esquecido diante de uma nova vítima. Estar cercado de pessoas que podem apoiá-lo é importante.”

A defesa é praticamente impossível, como diz a consultora e gestora de crise Elis Monteiro. Não há espaço nas redes para troca real de ideias e opiniões. A saída possível é pedir desculpas, fechar o espaço para comentários e, se for o caso, se afastar um tempo das redes.

“É um julgamento sumário, a vítima não tem como se defender”, lembra Elis, também professora de marketing digital. Muitas vezes, segundo ela, a pessoa sofre armação ou é atacada por gesto ou fala mal interpretada.

‘Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada’

Para quem não depende das redes para viver, como influenciadores, ignorar a campanha de ódio pode ser saudável. Foi o caso do fotógrafo André Arruda, responsável por um trabalho com mulheres fisiculturistas e por uma série de nus artísticos de pessoas comuns. Ele foi alvo de ataques virtuais pelo conteúdo.

“Muitas ofensas, xingamentos inacreditáveis, ameaças de morte”, conta Arruda. “Tentaram invadir e derrubar minhas contas em várias redes. A maioria dos ataques vinha de perfis falsos. É uma máquina de ódio. No começo, fiquei ressabiado, mas nunca respondi. Hoje lido bem, não ligo”, afirma.

O caso de Arruda é exceção.

Sofia Albuquerque, de 20 anos, teve uma experiência de cancelamento virtual em contexto diferente. Foi em 2020, na pandemia, quando começou a ter aulas online. Ela estava no 3º ano do ensino médio e a discussão em classe era justamente sobre o cancelamento de um colega que teria assediado uma aluna.

Sofia defendeu a posição de que o rapaz deveria ser ouvido, para que pudesse dar os argumentos em sua defesa. E acabou sendo cancelada também.

“Todo mundo parou de falar comigo, fui completamente silenciada”, conta. “Fizeram memes com fotos minhas, não se falava o meu nome em sala de aula. Nem meu então namorado me defendeu”, diz ela.

“Tinha um aluno que me derrubava toda vez que eu entrava online, me tirava da ligação. Eu me sentia absolutamente impotente, não podia explicar meu lado, dizer o que achava. E também desamparada porque não tive o apoio de ninguém”, relembra a estudante.

“Imagine um milhão de pessoas te xingando, ameaçando de estupro, de morte?”, diz a consultora Elis Monteiro. “Como processar um milhão de pessoas? Em geral, perde-se o equilíbrio emocional, para de trabalhar, paga um preço alto.” Para ela, falta à maioria conscientização sobre o alcance das redes sociais.

“As pessoas precisam se conscientizar de que tudo o que escrevem é público, mesmo no perfil privado. Não há privacidade na internet”, alerta. “A internet não é mesa de bar com três amigos onde podem debater um assunto.”

Para o professor Rodrigo Martins Leite, o mais importante para superar o linchamento virtual é a rede real de apoio. “Buscar interações presenciais, com pessoas da rede social real, não da virtual. É o grande fator protetor para a saúde mental”, orienta.

“Dependendo da situação, pode-se buscar apoio de profissionais de saúde mental, psicólogos e até psiquiatras, se há necessidade de medicação.”

O que fazer após o cancelamento?

  • Manter a calma e entender que a onda costuma ser passageira
  • Escute antes de falar; se estiver errado, peça desculpas
  • Busque apoio de contatos do mundo real, não do virtual, para dar ajuda
  • Não brigue com as massas nas redes sociais tentando se explicar ou se defender
  • Lembre-se do potencial de alcance da rede social: tudo o que for escrito ou falado pode chegar a milhares e até milhões de pessoas
  • Se a repercussão é grande ou se envolve um negócio ou sua atividade profissional, pode ser útil um especialista em gestão de crise
  • Nos casos de atividade profissional, também é importante já preparar políticas de prevenção e reação antes das crises
  • Em caso de sofrimento mental mais grave, busque um especialista da área de psicologia

As estratégias contra essa tendência passam também por educação, desde os níveis básicos até a universidade. “O primeiro ponto é se falar sobre esse comportamento como o que é, nocivo. Em longo prazo, queremos que as pessoas percebam que é algo que não funciona e só deixa a irracionalidade tomar conta das discordâncias”, diz Ilana Pinsky, da Fiocruz.

“Tem de se poder ampliar, paradoxalmente, a tolerância a discursos opostos ao nosso pensamento. Nos vários espaços: escola, trabalho, comunidades, família. O caminho é ampliar a liberdade de expressão. Sobre tudo. Não pode haver liberdade de expressão só para o politicamente correto”, afirma ela.

Tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1873/23 que pretende incluir no Código Penal os crimes de “cancelamento virtual” e “linchamento virtual”, punidos com detenção e multa.

O texto define cancelamento como a prática que viola a honra ou imagem de alguém por meio das redes sociais ou qualquer outra interação virtual. A pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. Se praticado por meio de perfis falsos, a punição é de nove meses a três anos de detenção.

O linchamento virtual, por sua vez, é definido como ameaçar alguém pelas redes ou outro meio virtual. A pena de detenção é de um a três anos. São previstas três agravantes: prejuízo econômico à vítima, ação praticada por duas ou mais pessoas ou se há desdobramento em violência física real.

Na avaliação de Ilana, o problema dificilmente será controlado por uma legislação única, mas uma possibilidade é a criação de mais regras de convívio para os espaços de interação virtual.

No exterior, algumas universidades criaram conselhos em defesa da liberdade acadêmica, após pressões lideradas por ativistas que reagiam à discussão sobre alguns temas. Um exemplo é a prestigiada Harvard, nos Estados Unidos, onde é dado apoio a acadêmicos vítimas de ataques por suas pesquisas.

“Quando os ativistas gritam no ouvido de um gestor, falaremos com calma, mas vigorosamente no outro (ouvido), o que exigirá que tomem o caminho racional, e não a saída mais fácil”, diz o texto que explica a criação do conselho em Harvard, que teve a adesão inicial de 70 professores.

Um conselho semelhante foi criado para universidades de Londres, entre elas a King’s College e a Imperial College. A ideia é também estimular as instituições a criarem seus protocolos que melhorem o ambiente de debate acadêmico.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

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