O que fez o governo fracassar na caçada aos fugitivos de Mossoró? E o que deve ser feito agora?


Após 45 dias, Força Nacional é desmobilizada na região e PF assumirá os trabalhos focados em ‘inteligência’: especialistas veem falta de coordenação

Por Giovanna Castro
Atualização:

A fuga de dois presos da Penitenciária Federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, chegou aos 45 dias nesta semana. A caçada mobilizou centenas de policiais estaduais e federais, mas não conseguiu atingir, até aqui, o objetivo principal de recaptura de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, ligados ao Comando Vermelho (CV). Para especialistas em segurança pública, houve falha na condução e falta de comando coeso na operação, que teve de enfrentar também dificuldades da geografia da região e a visibilidade do caso.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou nesta quinta-feira, 28, que a Força Nacional será desmobilizada nesta sexta-feira da operação de busca.

  • A pasta diz que a missão entra agora em uma nova fase, focada em “ações de inteligência”. Questionado pela reportagem, o ministério não detalhou no que consistem especificamente as citadas ações, resumindo-se a dizer que o mais importante no momento são as investigações da Polícia Federal.
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“Seguimos no esforço concentrado para a recaptura”, declarou em nota André Garcia, secretário Nacional de Políticas Penais do ministério.

“As ações de inteligência ocorrem no âmbito da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), composta pelas Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Penal. A Polícia Rodoviária Federal também segue na cidade potiguar no apoio das operações de buscas, com reforço operacional”, informou a pasta.

Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, esteve em Mossoró em duas oportunidades para acompanhar a operação Foto: Jamile Ferraris/MJSP - 18/2/2024
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Para especialistas, a condução da operação teve falhas. “Tudo leva a crer que houve falhas na execução da operação, possivelmente na condução do cerco aos fugitivos. É fato que eles tiveram ajuda externa e souberam se esconder numa região repleta de cavernas”, diz Luís Flávio Sapori, professor da PUC Minas, onde coordena o Centro de Estudos em Segurança Pública. Ele se refere às cavernas do Parque Nacional da Furna Feia, vizinho à região do presídio.

Na opinião do professor, com os recursos policiais adequados, agilidade e o uso de tecnologias de ponta, teria sido possível encontrar os fugitivos. O coronel da reserva Benedito Roberto Meira, ex-comandante da PM de São Paulo, acredita que os criminosos saíram da região. “Com todo o aparato policial para recapturar os presos, eles teriam sido localizados caso estivessem na região do presídio”, afirmou.

A operação chegou a contar com cerca de 500 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Força Nacional, Corpo de Bombeiros, além de policiais militares dos Estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Paraíba e Goiás, se revezando em turnos de dia e noite.

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Já houve seis presos sob a acusação de ajudarem na fuga de alguma forma; as prisões foram em cidades do Ceará e do Rio Grande do Norte.

Jacqueline Muniz, antropóloga, cientista política e professora de segurança pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que é necessário um relatório de prestação de contas que apresente em detalhes as missões atribuídas, os meios logísticos empregados e os modos táticos adotados a luz dos custos. Dessa forma, seria possível analisar como se deu a falha na operação.

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  • A especialista acredita que pode ter havido falta de protocolo para esse tipo de busca, sem um comando coeso das forças policiais. “O que se pode observar foi um ajuntamento de recursos policiais estaduais e federais sem uma doutrina policial comum clara de busca e captura em cenários adversos”, diz.

Segundo ela, houve “sobreposição de meios onde cada um fazia o que sabia, em uma lógica reativa de pronto-emprego”.

Jacqueline também relembra o desafio imposto pelo território e a elevada visibilidade da operação, que foi amplamente coberta pelos meios de comunicação, resultando em “desvantagem tática” para a polícia. Como mostrou o Estadão, na região há mais de 200 cavernas de diferentes profundidades e dimensões, além de vegetação e vias rurais que dificultam as buscas.

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Rogério e Deibson foram os primeiros a escaparem de unidade penitenciária federal Foto: Iapen-AC

“Quanto mais uma operação se arrasta no tempo mais ela vai perdendo fôlego e aumentando suas desvantagens tático-operacionais, pois se esgotam os meios policiais empregados, sem possibilidade de complementação e suplementação de recursos”, diz Jacqueline.

Com mais de um mês de procura, é preciso considerar também o custo benefício da operação, analisou o coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, da PM de SP, em entrevista quando a caçada completou 30 dias. É prejudicial manter policiais fora das atividades para as quais as PMs originalmente devem se dedicar, avaliou o oficial. “O trabalho da polícia, em geral, não é prender criminosos (nessas circunstâncias); é proteção com patrulhamento, policiamento”, disse na oportunidade.

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Simulações mostram possíveis disfarces e mudanças de aparência dos fugitivos de Mossoró. Foto: Divulgação/PF

Fugitivos retomarão ‘atividades criminosas’, avalia professor

A mudança de estratégia anunciada pelo ministério é algo condizente com o contexto, avalia Sapori.

“Se não houver indícios de movimentação deles nos próximos dias, a operação policial deve ser desmobilizada. A tarefa passa a ser a obtenção de informações de inteligência para monitorar para onde estão se deslocando, de volta ao Acre ou outro Estado das regiões Norte e Nordeste”, diz o professor, que foi secretário adjunto de Segurança em Minas de 2003 a 2007.

“Não há dúvida que eles retomarão suas atividades criminosas mais cedo ou mais tarde, de modo que será possível com o tempo a prisão deles num contexto bem diferente do atual”, afirma o professor. “Entendo que agora os comparsas dos foragidos e familiares devem ser monitorados com objetivo de serem localizados”, diz o coronel Meira.

A fuga de dois presos da Penitenciária Federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, chegou aos 45 dias nesta semana. A caçada mobilizou centenas de policiais estaduais e federais, mas não conseguiu atingir, até aqui, o objetivo principal de recaptura de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, ligados ao Comando Vermelho (CV). Para especialistas em segurança pública, houve falha na condução e falta de comando coeso na operação, que teve de enfrentar também dificuldades da geografia da região e a visibilidade do caso.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou nesta quinta-feira, 28, que a Força Nacional será desmobilizada nesta sexta-feira da operação de busca.

  • A pasta diz que a missão entra agora em uma nova fase, focada em “ações de inteligência”. Questionado pela reportagem, o ministério não detalhou no que consistem especificamente as citadas ações, resumindo-se a dizer que o mais importante no momento são as investigações da Polícia Federal.

“Seguimos no esforço concentrado para a recaptura”, declarou em nota André Garcia, secretário Nacional de Políticas Penais do ministério.

“As ações de inteligência ocorrem no âmbito da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), composta pelas Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Penal. A Polícia Rodoviária Federal também segue na cidade potiguar no apoio das operações de buscas, com reforço operacional”, informou a pasta.

Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, esteve em Mossoró em duas oportunidades para acompanhar a operação Foto: Jamile Ferraris/MJSP - 18/2/2024

Para especialistas, a condução da operação teve falhas. “Tudo leva a crer que houve falhas na execução da operação, possivelmente na condução do cerco aos fugitivos. É fato que eles tiveram ajuda externa e souberam se esconder numa região repleta de cavernas”, diz Luís Flávio Sapori, professor da PUC Minas, onde coordena o Centro de Estudos em Segurança Pública. Ele se refere às cavernas do Parque Nacional da Furna Feia, vizinho à região do presídio.

Na opinião do professor, com os recursos policiais adequados, agilidade e o uso de tecnologias de ponta, teria sido possível encontrar os fugitivos. O coronel da reserva Benedito Roberto Meira, ex-comandante da PM de São Paulo, acredita que os criminosos saíram da região. “Com todo o aparato policial para recapturar os presos, eles teriam sido localizados caso estivessem na região do presídio”, afirmou.

A operação chegou a contar com cerca de 500 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Força Nacional, Corpo de Bombeiros, além de policiais militares dos Estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Paraíba e Goiás, se revezando em turnos de dia e noite.

Já houve seis presos sob a acusação de ajudarem na fuga de alguma forma; as prisões foram em cidades do Ceará e do Rio Grande do Norte.

Jacqueline Muniz, antropóloga, cientista política e professora de segurança pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que é necessário um relatório de prestação de contas que apresente em detalhes as missões atribuídas, os meios logísticos empregados e os modos táticos adotados a luz dos custos. Dessa forma, seria possível analisar como se deu a falha na operação.

  • A especialista acredita que pode ter havido falta de protocolo para esse tipo de busca, sem um comando coeso das forças policiais. “O que se pode observar foi um ajuntamento de recursos policiais estaduais e federais sem uma doutrina policial comum clara de busca e captura em cenários adversos”, diz.

Segundo ela, houve “sobreposição de meios onde cada um fazia o que sabia, em uma lógica reativa de pronto-emprego”.

Jacqueline também relembra o desafio imposto pelo território e a elevada visibilidade da operação, que foi amplamente coberta pelos meios de comunicação, resultando em “desvantagem tática” para a polícia. Como mostrou o Estadão, na região há mais de 200 cavernas de diferentes profundidades e dimensões, além de vegetação e vias rurais que dificultam as buscas.

Rogério e Deibson foram os primeiros a escaparem de unidade penitenciária federal Foto: Iapen-AC

“Quanto mais uma operação se arrasta no tempo mais ela vai perdendo fôlego e aumentando suas desvantagens tático-operacionais, pois se esgotam os meios policiais empregados, sem possibilidade de complementação e suplementação de recursos”, diz Jacqueline.

Com mais de um mês de procura, é preciso considerar também o custo benefício da operação, analisou o coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, da PM de SP, em entrevista quando a caçada completou 30 dias. É prejudicial manter policiais fora das atividades para as quais as PMs originalmente devem se dedicar, avaliou o oficial. “O trabalho da polícia, em geral, não é prender criminosos (nessas circunstâncias); é proteção com patrulhamento, policiamento”, disse na oportunidade.

Simulações mostram possíveis disfarces e mudanças de aparência dos fugitivos de Mossoró. Foto: Divulgação/PF

Fugitivos retomarão ‘atividades criminosas’, avalia professor

A mudança de estratégia anunciada pelo ministério é algo condizente com o contexto, avalia Sapori.

“Se não houver indícios de movimentação deles nos próximos dias, a operação policial deve ser desmobilizada. A tarefa passa a ser a obtenção de informações de inteligência para monitorar para onde estão se deslocando, de volta ao Acre ou outro Estado das regiões Norte e Nordeste”, diz o professor, que foi secretário adjunto de Segurança em Minas de 2003 a 2007.

“Não há dúvida que eles retomarão suas atividades criminosas mais cedo ou mais tarde, de modo que será possível com o tempo a prisão deles num contexto bem diferente do atual”, afirma o professor. “Entendo que agora os comparsas dos foragidos e familiares devem ser monitorados com objetivo de serem localizados”, diz o coronel Meira.

A fuga de dois presos da Penitenciária Federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, chegou aos 45 dias nesta semana. A caçada mobilizou centenas de policiais estaduais e federais, mas não conseguiu atingir, até aqui, o objetivo principal de recaptura de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça, ligados ao Comando Vermelho (CV). Para especialistas em segurança pública, houve falha na condução e falta de comando coeso na operação, que teve de enfrentar também dificuldades da geografia da região e a visibilidade do caso.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou nesta quinta-feira, 28, que a Força Nacional será desmobilizada nesta sexta-feira da operação de busca.

  • A pasta diz que a missão entra agora em uma nova fase, focada em “ações de inteligência”. Questionado pela reportagem, o ministério não detalhou no que consistem especificamente as citadas ações, resumindo-se a dizer que o mais importante no momento são as investigações da Polícia Federal.

“Seguimos no esforço concentrado para a recaptura”, declarou em nota André Garcia, secretário Nacional de Políticas Penais do ministério.

“As ações de inteligência ocorrem no âmbito da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), composta pelas Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Penal. A Polícia Rodoviária Federal também segue na cidade potiguar no apoio das operações de buscas, com reforço operacional”, informou a pasta.

Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, esteve em Mossoró em duas oportunidades para acompanhar a operação Foto: Jamile Ferraris/MJSP - 18/2/2024

Para especialistas, a condução da operação teve falhas. “Tudo leva a crer que houve falhas na execução da operação, possivelmente na condução do cerco aos fugitivos. É fato que eles tiveram ajuda externa e souberam se esconder numa região repleta de cavernas”, diz Luís Flávio Sapori, professor da PUC Minas, onde coordena o Centro de Estudos em Segurança Pública. Ele se refere às cavernas do Parque Nacional da Furna Feia, vizinho à região do presídio.

Na opinião do professor, com os recursos policiais adequados, agilidade e o uso de tecnologias de ponta, teria sido possível encontrar os fugitivos. O coronel da reserva Benedito Roberto Meira, ex-comandante da PM de São Paulo, acredita que os criminosos saíram da região. “Com todo o aparato policial para recapturar os presos, eles teriam sido localizados caso estivessem na região do presídio”, afirmou.

A operação chegou a contar com cerca de 500 agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Força Nacional, Corpo de Bombeiros, além de policiais militares dos Estados de Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Paraíba e Goiás, se revezando em turnos de dia e noite.

Já houve seis presos sob a acusação de ajudarem na fuga de alguma forma; as prisões foram em cidades do Ceará e do Rio Grande do Norte.

Jacqueline Muniz, antropóloga, cientista política e professora de segurança pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que é necessário um relatório de prestação de contas que apresente em detalhes as missões atribuídas, os meios logísticos empregados e os modos táticos adotados a luz dos custos. Dessa forma, seria possível analisar como se deu a falha na operação.

  • A especialista acredita que pode ter havido falta de protocolo para esse tipo de busca, sem um comando coeso das forças policiais. “O que se pode observar foi um ajuntamento de recursos policiais estaduais e federais sem uma doutrina policial comum clara de busca e captura em cenários adversos”, diz.

Segundo ela, houve “sobreposição de meios onde cada um fazia o que sabia, em uma lógica reativa de pronto-emprego”.

Jacqueline também relembra o desafio imposto pelo território e a elevada visibilidade da operação, que foi amplamente coberta pelos meios de comunicação, resultando em “desvantagem tática” para a polícia. Como mostrou o Estadão, na região há mais de 200 cavernas de diferentes profundidades e dimensões, além de vegetação e vias rurais que dificultam as buscas.

Rogério e Deibson foram os primeiros a escaparem de unidade penitenciária federal Foto: Iapen-AC

“Quanto mais uma operação se arrasta no tempo mais ela vai perdendo fôlego e aumentando suas desvantagens tático-operacionais, pois se esgotam os meios policiais empregados, sem possibilidade de complementação e suplementação de recursos”, diz Jacqueline.

Com mais de um mês de procura, é preciso considerar também o custo benefício da operação, analisou o coronel da reserva José Vicente da Silva Filho, da PM de SP, em entrevista quando a caçada completou 30 dias. É prejudicial manter policiais fora das atividades para as quais as PMs originalmente devem se dedicar, avaliou o oficial. “O trabalho da polícia, em geral, não é prender criminosos (nessas circunstâncias); é proteção com patrulhamento, policiamento”, disse na oportunidade.

Simulações mostram possíveis disfarces e mudanças de aparência dos fugitivos de Mossoró. Foto: Divulgação/PF

Fugitivos retomarão ‘atividades criminosas’, avalia professor

A mudança de estratégia anunciada pelo ministério é algo condizente com o contexto, avalia Sapori.

“Se não houver indícios de movimentação deles nos próximos dias, a operação policial deve ser desmobilizada. A tarefa passa a ser a obtenção de informações de inteligência para monitorar para onde estão se deslocando, de volta ao Acre ou outro Estado das regiões Norte e Nordeste”, diz o professor, que foi secretário adjunto de Segurança em Minas de 2003 a 2007.

“Não há dúvida que eles retomarão suas atividades criminosas mais cedo ou mais tarde, de modo que será possível com o tempo a prisão deles num contexto bem diferente do atual”, afirma o professor. “Entendo que agora os comparsas dos foragidos e familiares devem ser monitorados com objetivo de serem localizados”, diz o coronel Meira.

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