A cobertura policial mudou muito nas últimas décadas, assim como o próprio fenômeno do crime. Nos anos 60, os homicídios em São Paulo eram raros e os jornalistas faziam plantão dentro da antiga Central de Polícia, no Pátio do Colégio, à espera das ocorrências. Se houvesse um homicídio no raio de 100 km da capital, todos iam. E muitas vezes a população ligava primeiro para a imprensa, que ia ao local, fazia as fotos e, só depois, avisava a polícia. Naquela época, um mesmo homicídio rendia matérias para mais de uma semana nos jornais, que exploravam as nuances do caso e do trabalho policial.
Hoje os jornalistas ficam nas redações, falando ao telefone com a polícia e os bombeiros, antes de enviar os repórteres ao local do fato. Homicídios ocorrem praticamente todas as noites - em geral, mais de um. São tantos que alguns nem são registrados pela imprensa. Na noite seguinte, outras mortes violentas ocorrerão e as da noite passada já estarão praticamente esquecidas, salvo raríssimas exceções.
À primeira vista, a realidade atual parece menos interessante, mas o trabalho da imprensa na cobertura dos crimes tem avançado muito. É o que mostra o estudo "Mídia e Violência - Novas Tendências na Cobertura de Criminalidade e Segurança no Brasil" de autoria de Silvia Ramos e Anabela Paiva, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro.
O livro foi publicado em 2007, mas é muito atual e vale ser compartilhado. Ele mostra que a mídia, hoje, está mais preparada para cobrir o crime não como evento isolado, praticado por pessoas atormentadas, mas como fenômeno complexo que demanda políticas coordenadas de segurança pública.
Vale a pena ler o Capítulo 5, "Avalia aí - A segurança do profissional de imprensa", que aborda em detalhes o cotidiano do repórter, como o medo de entrar em favelas, a relação contraditória com a polícia, a pressão psicológica no cotidiano, os laços de apoio entre funcionários de empresas concorrentes e até a importância de contar com um motorista sintonizado no ritmo da notícia.
Para baixar a obra clique aqui.