Na sexta-feira, 26, a chuva foi grande revés para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Depois da festa, Thomas Jolly, o diretor artístico do espetáculo, se viu diante de outro problema. Concebida para ser inovadora ao levar os desfiles das delegações de atletas para o Rio Sena (em vez de um estádio), grande parte da repercussão do espetáculo foi uma forte reação contrária a um trecho associado a uma passagem bíblica.
Na seção que homenageava a moda francesa, drag queens à frente de um banquete foram interpretadas como uma sátira à última ceia de Jesus Cristo, cuja representação mais famosa está na pintura de mesmo nome, do italiano Leonardo Da Vinci.
No dia seguinte, a conferência dos bispos da Igreja Católica Francesa descreveu a passagem como “escárnio” e “zombaria com o cristianismo”. Disseram ainda lamentar por “todos os cristãos” que foram “feridos pela ofensa e provocação”.
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Nos últimos dias, Jolly tem negado intenção de zombar do cristianismo. Afirma também que seu objetivo era passar uma mensagem de diversidade e inclusão. Ele disse ainda que a referência para a cena era dos deuses pagãos do Olimpo.
“Tem Dionísio, que chega nessa mesa. Está lá, porque é deus da festa (...), do vinho, e pai de Sequana, deusa aparentada ao rio (...) A ideia era antes ter um grande festival pagão ligado aos deuses do Olimpo... Olimpo... Olimpíadas”, afirmou ele, no sábado.
Jolly, de 42 anos, tem carreira no teatro. Fundou a companhia La Piccola Familia, que montou após concluir seus estudos universitários. Depois, ficou conhecido pela grandiosidade de suas montagens.
Ele ficou conhecido em 2014 com a trilogia Henrique VI, de Shakespeare, uma obra de 18 horas que apresentou no Festival de Avignon. A cerimônia dos Jogos, embora longa, foi um tanto menor: cerca de 3 horas e 45 minutos.
Entre as óperas que dirigiu, estão os clássicos de William Shakespeare, como Romeu e Julieta e Macbeth. Já na ópera-rock Starmania, que ele redesenhou em 2022, usou recursos de luzes de neon brancas e laser vermelho.
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Foi em dezembro daquele ano que ele foi escolhido para a missão de conceber a festa da primeira edição dos Jogos Olímpicos pós-pandemia, depois da atípica experiência de Tóquio em 2021.
Diretor chegou a falar em veículos anfíbios e bandeiras na Torre Eiffel
Foi uma entrevista descontraída para o jornal L’Equipe, quando chefiava o Centro Dramático Nacional de Angers, que o lançou ao primeiro plano da cena olímpica.
Perguntado ao lado de outros dois artistas sobre o que esta cerimônia poderia ser, mencionou a chegada dos atletas em carros que se transformariam em veículos anfíbios, as bandeiras dos países cravadas na Torre Eiffel e a atriz Catherine Deneuve como Olímpia de Gouges - considerada uma das pioneiras do feminismo francês.
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Suas ideias peculiares não puderam se concretizar, mas garantiram a ele a vaga de diretor artístico do projeto. Ao longo de 18 meses, ele esteve envolvido na idealização da festa, cujos detalhes foram mantidos em segredo.
Sua primeira decisão foi cercar-se de quatro autores, entre eles a romancista Leila Slimani e a roteirista da bem-sucedida série te TV francesa Dix pour cent, Fanny Herrero, para conceber “um grande relato” a partir do cenário no coração de Paris: o rio e seus monumentos.
Assim, foram criadas 12 cenas ou quadros artísticos ao longo do percurso de 6 quilômetros. O produto final “coincide com a minha ideia inicial”, afirmou, antes da cerimônia.
Originário de Rouen, na Normandia, norte da França, Jolly é filho de um tipógrafo e uma enfermeira. Gay, o diretor teatral também se apresenta como defensor incansável da diversidade e conta que o bullying que sofreu na infância por ser afeminado o mostrou desde cedo o peso do preconceito.
A próxima missão olímpica será o espetáculo de abertura dos Jogos Paralímpicos, em 28 de agosto.
E depois? “Gostaria de atuar para outros no teatro, no cinema”, disse à agência de notícias AFP, deixando escapar que tem “um roteiro em preparação”. Por enquanto, ele conta ter reservado uma casa para tirar “um mês” de férias para descansar. / COM AP E AFP