Um vídeo em que pacientes de um hospital parecem ser torturados, exibido por uma emissora britânica, contribui com as suspeitas de crimes contra a humanidade na Síria, disse na terça-feira o relator especial da ONU para casos de tortura. Juan Mendez disse que, embora não tivesse visto o vídeo do Channel 4, ele parece de acordo com os recentes relatos sobre torturas cometidas por membros das forças de segurança contra adversários do regime de Bashar al Assad. "Infelizmente essa nova acusação é consistente com o que meu mandato (departamento) tem recebido nos últimos meses. A nova acusação só se soma à gravidade da situação", disse Mendez à Reuters em Genebra. O Channel 4 exibiu na segunda-feira o vídeo, que teria sido gravado secretamente em um hospital público de Homs. Supostos funcionários do hospital aparecem torturando pacientes, alguns dos quais são vistos amarrados aos leitos, feridos e vendados. Um chicote de borracha e um fio elétrico aparecem sobre uma mesa. A emissora disse que não podia verificar a autenticidade do vídeo. Na terça-feira, o governo sírio enfrenta a indignação mundial por barrar a entrada de ajuda humanitária no bairro de Baba Amr, em Homs, que ficou devastado após quase um mês de cerco a forças rebeldes que fugiram de lá na semana passada. Mendez, jurista argentino radicado nos EUA - ele próprio vítima de tortura em seu país natal durante a ditadura militar da década de 1970 - assumiu em outubro de 2010 o cargo de relator especial, e se reporta diretamente ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ele disse que no ano passado já havia recebido denúncias de uso excessivo da força contra manifestantes que pedem a renúncia de Assad. Agora, segundo ele, há relatos de abusos contra presidiários. Mendez recomendou que o Tribunal Penal Internacional investigue se há casos de crimes contra a humanidade ocorrendo na Síria. A alta-comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, já havia defendido o mesmo. Também na terça-feira, o porta-voz de direitos humanos da ONU, Rupert Colville, disse que a entidade possuía gravações semelhantes à transmitida pelo Channel 4. "Pode até ser a mesma gravação que foi enviada à comissão de inquérito sobre a Síria", afirmou ele a jornalistas. "As imagens são realmente chocantes." Essas imagens, segundo Colville, foram usadas na elaboração de um relatório sobre a Síria que serviu de base para um relatório da ONU, divulgado em fevereiro, que acusava as forças sírias de cometerem crimes contra a humanidade, incluindo torturas. Segundo Colville, os autores das agressões seriam "forças de segurança vestidas como médicos, e supostamente agindo com a cumplicidade do pessoal médico".