A Bolívia começou a semana em meio a uma forte tensão entre governo e oposição, ameaças de bloqueios de estradas e outras medidas de pressão. Os líderes opositores de três das nove regiões do país anunciaram para esta segunda-feira o início do bloqueio de estradas que cruzam áreas petrolíferas e levam à Argentina e ao Paraguai. Eles exigem que o governo volte atrás na decisão de cortar repasses da receita obtida com a exploração de hidrocarbonetos, hoje destinadas a financiar um programa de auxílio a maiores de 60 anos. O governo informou que tem planos para combater o bloqueio e assegurar o fluxo de gás natural aos mercados da Argentina e do Brasil, já que os adversários não descartaram a tomada de campos de petróleo e o fechamento de válvulas dos oleodutos. Os opositores anunciaram também que vão começar uma batalha para impedir o presidente, Evo Morales, de realizar um referendo para aprovar seu projeto de Constituição Política do Estado (CPE). 'Mobilização permanente' No fim de semana, movimentos sociais ligados ao governo, reunidos no chamado Conselho Nacional para a Mudança (Conalcam, sigla em espanhol), se declararam em mobilização permanente e pediram ao presidente que convoque o referendo constitucional por meio de decreto. Em declaração, o Conselho pediu "a refundação da Bolívia, através da adoção da nova Constituição Política do Estado que requer a convocação de um referendo por decreto supremo". Os setores sociais em torno do presidente se declararam "em mobilização permanente em nível nacional, departamental, municipal e comunitário para aprofundar e consolidar a unidade da Bolívia e da revolução democrática e cultural liderada pelo presidente Evo Morales". Além disso, os movimentos exigiram a convocação, também por decreto, de eleições para substituir dois prefeitos (o equivalente a governadores no Brasil) que tiveram seus mandatos revogados em La Paz e Cochabamba, e para escolher vereadores e conselheiros regionais. Eles pedem a emissão de um decreto para redistribuir recursos de impostos sobre a exploração de hidrocarbonetos, o que afetaria ainda mais os cofres das regiões opositoras. Militarização São justamente esses recursos que as regiões opositoras reclamam. Os críticos do presidente Morales afirmam que o governo ordenou, sem que fosse necessário, um corte de 30% nos repasses aos governos regionais para destinar o dinheiro ao pagamento de um auxílio a pessoas com mais de 60 anos. Os líderes cívicos dos três Departamentos (Estados) produtores de gás - Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca - se adiantaram às resoluções do governo e anunciaram o bloqueio de estradas. O presidente do Comitê Cívico de Tarija, Reynaldo Bayard, acrescentou que a mobilização também pretende impedir "qualquer tentativa" do governo de aprovar uma nova Constituição. No domingo, os prefeitos opositores se reuniram em Tarija, no chamado Conselho Nacional Democrático (Conalde), para analisar a decisão do governo de emitir pelo menos três decretos para levar adiante o seu projeto político. Nenhuma comunicação foi feita sobre o encontro. Segundo a agência oficial de notícias, o presidente Evo Morales instruiu as Forças Armadas a patrulhar campos de gás e evitar que a oposição os ocupe. Entretanto, segundo a mesma agência, o ministro de Governo, Alfredo Rada, descartou a militarização e advertiu que "se aplicará o emprego legal da força pública que grupos cívicos desenfreados realizem suas ameaças". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.