O papa Francisco exigiu e vai subir no papamóvel aberto e percorrer trajetos sem a proteção de vidros blindados em 16 ocasiões em apenas uma semana no Brasil. Pelos planos, o pontífice ficará mais de três horas exposto à multidão, caso não haja chuva nem manifestações que obriguem mudanças da agenda. As informações foram divulgadas pelo Vaticano, em seu programa oficial em Roma.
A decisão de manter o contato direto com o povo foi do papa, que insiste que chegou o momento de a Igreja “sair” para as ruas. Em maio, o Vaticano chegou a divulgar que o veículo seria blindado, mas, ao saber, Francisco ordenou a mudança. Será a primeira vez que um papa circulará fora de Roma no jipe aberto em mais de 30 anos.
Na sexta-feira, 19, organizadores da viagem do papa no Vaticano se mostraram surpresos com as informações divulgadas anteontem no Rio pelas autoridades de que a chegada do pontífice havia sofrido mudanças e que, por exigência do papa, o carro fechado seria trocado por um aberto.
O Vaticano negou que tenha havido mudanças e, para provar, mostrou que em seu guia - pronto há uma semana - o trajeto em carro aberto sempre esteve previsto.
Procurados pela reportagem, os responsáveis no Rio pela organização do trânsito e da segurança durante a Jornada insistiram que houve, sim, alteração. Segundo eles, o passeio do papa pelo centro em carro aberto não estava previsto na agenda oficial do Vaticano enviada às autoridades brasileiras.
A agenda oficial no site do Vaticano não menciona nenhum roteiro de papamóvel. As informações sobre esses trajetos sempre foram extraoficiais.
Embate. A segurança do papa tem colocado o Vaticano e as autoridades brasileiras em lados opostos. Nos últimos dias, os responsáveis pela segurança se esforçaram para convencer a Santa Sé a modificar os planos. Mas não houve sucesso.
“Quem achar que pode decidir o que o papa fará está muito enganado”, declarou um dos principais chefes de protocolo da organização da viagem.
Os 16 trajetos que Francisco fará durante a Jornada em seu papamóvel aberto terão durações diferentes. Alguns serão curtos, mas outros vão se prolongar por mais de 30 minutos.
Um deles será entre o aeroporto de Aparecida e a Basílica, na quarta-feira. Serão 20 minutos de percurso em carro aberto. No mesmo dia, o papa estará uma vez mais em carro aberto, nos 3 km entre a Basílica e o Seminário Bom Jesus, com mais 15 minutos. Uma hora depois, mais uma transferência em carro aberto até seu helicóptero, com um trajeto de mais 4 km.
Para as autoridades, o momento mais delicado poderá ser os 40 minutos que levarão o deslocamento em Copacabana, no dia 25. Francisco passará pela multidão antes de chegar à cerimônia, que será realizada em um palco montado na praia.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, manteve a posição nos últimos dias de que não há mudanças e que cabe às autoridades se adaptarem aos desejos do papa - e não o contrário. “Elas (as autoridades) precisam entender a natureza da missão dessa viagem.” / COLABOROU LUCIANA NUNES LEAL