Na sexta-feira, o Papa Francisco reverteu uma decisão do antigo papa Bento 16 e restringiu vigorosamente a celebração da missa em Latim, despertando a cólera dos tradicionalistas da igreja.
O Papa, cujo mandato tem sido caracterizado pelas profundas divisões dentro da igreja e por uma oposição conservadora, disse em carta que seu novo decreto é uma medida “em defesa da unidade do Corpo de Cristo”. E sugeriu que aqueles que defendem a celebração da missa em Latim vêm explorando o rito como uma maneira de “reforçar as divergências e incentivar desacordos que ferem a Igreja”.
O decreto não mudará os serviços religiosos para a maioria dos 1,3 bilhão de católicos no mundo, já familiarizados com a Missa moderna - que foi criada no âmbito das reformas realizadas na década de 1960 - que é celebrada na língua vernácula, e não em Latim.
Mas muitos tradicionalistas continuam a defender a velha missa em Latim, que data de mais de um milênio e se tornou ponto central das divisões dentro da Igreja após o Concílio Vaticano II, encerrado em 1965.
A decisão do Papa Francisco foi algo surpreendente uma vez que ele deu um importante passo nas guerras litúrgicas dentro da Igreja e basicamente anulou a decisão do seu predecessor, o Papa Emérito Bento 16, um conservador, que continua a viver no Vaticano. Em 2007, Bento removeu norma que exigia permissão de um bispo local para a celebração da missa em Latim. Francisco não só restabelece essa regra, mas também impõe outras restrições.
Nas dioceses onde grupos celebram o velho rito, conhecido como Missa Tridentina, os bispos também devem determinar que os celebrantes “não neguem a validade e a legitimidade” do Concílio Vaticano II, responsável pela definição de muitas reformas dentro da igreja, entre elas a popularização da missa na língua do país onde é celebrada, de modo a tornar o ritual mais acessível aos católicos comuns.
Na carta que acompanhou sua decisão, Francisco disse estar “entristecido” que o uso instrumental da antiga missa em Latim com frequência se caracteriza por uma rejeição do Concílio Vaticano II, com o argumento de que suas reformas “traíram” as verdadeiras tradições da Igreja. Mas Francisco disse que duvidar do Concílio é “duvidar do próprio Espírito Santo”.
“O grande problema para a Igreja Católica sempre foi a questão da mudança”, disse David Gibson, diretor do Center on Religion and Culture da Fordham University. A antiga celebração da missa em Latim se tornou “um tema controverso, para dividir, elevar uma parte da Igreja como se fosse superior a outras", disse Gibson. "E isso é intolerável.”
Na celebração da missa em Latim, o padre frequentemente fica distante da congregação. O rito inclui também o uso de vestimentas particulares, frequentemente mais elaboradas.
A decisão do Papa Francisco, anunciada dois dias depois de ele sair do hospital após uma cirurgia de cólon, entrou em vigor imediatamente. E deixou irritados os conservadores que há muito tempo se opõem a outros aspectos do papado de Francisco. Eles o acusam de debilitar tradições da igreja e dar mais atenção a questões culturais do que à doutrina da Igreja.
Em um comunicado, Bill Donahue, presidente conservador da Liga Católica com sede em Nova York, afirmou que as restrições estabelecidas pelo Papa Francisco “exigem que seus seguidores reconheçam a legitimidade das reformas aprovadas no Concílio Vaticano II nos anos 1960”. Donahue afirmou também que o Papa pode ter agido por temor de muitos católicos preferirem a antiga missa em Latim”.
“A missa em Latim é especialmente popular entre os jovens católicos e é tarde demais para impedi-los de encontrar paróquias que permitirão que ela continue a ser celebrada nessa língua”.
Segundo Roberto de Mattei, presidente da Lepando Foundation, em Roma, a antiga celebração da missa em Latim tem grande atração porque os tradicionalistas acham que não se deve apenas “comemorar” o sacrifício de Jesus, mas também torná-lo presente e ao mesmo tempo transmitir para os fiéis “a ideia de um mistério sagrado, pronunciado em Latim, que é a língua sagrada da Igreja”.
Roberto de Mattei disse que a decisão do Papa Francisco é similar a “uma declaração de guerra” contra as próprias tradições da Igreja
“Ele está se distanciando, não dos grupos ou movimentos tradicionalistas, mas indo contra uma tradição interminável de papas, santos e doutores da Igreja”, afirmou.
Tradução de Terezinha Martino