No ano que ficou marcado pela veiculação recorde de notícias falsas na internet, a confiança dos brasileiros nos jornais cresceu. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia 2016, feita pelo Ibope, 60% dos entrevistados afirmaram confiar sempre ou muitas vezes nos jornais. Em 2015, o porcentual foi de 58% e em 2014, de 53%.
A pesquisa revelou também um aumento no índice de leitura dos jornais. Em 2016, 32% dos entrevistados responderam que, ao menos uma vez por semana, leram algum jornal. No ano anterior, o índice foi de 21%. “Há claros sinais de revitalização do meio jornal, e a alta credibilidade conferida pelo público é a maior demonstração disso”, afirmou o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, ao comentar a pesquisa do Ibope.
Outro dado captado pela enquete foi o aumento da leitura do jornal na versão digital. Entre os leitores habituais de jornal, o porcentual de pessoas que afirmaram ler mais na versão digital subiu de 10% para 30%, entre 2015 e 2016.
Além dos jornais, outros meios de comunicação que fazem jornalismo profissional também têm boas taxas de confiança. Por exemplo, 57% dos entrevistados afirmaram confiar no rádio; 54%, na TV; e 40%, nas revistas.
Em contrapartida, cresceu a desconfiança nas redes sociais. Segundo a pesquisa do Ibope, 84% dos brasileiros confiam poucas vezes ou nunca confiam nas informações obtidas por meio das redes sociais. No estudo anterior, o índice de desconfiança era de 71%. Também se observou um aumento da desconfiança em relação aos blogs – de 69% para 83% – e aos sites – de 67% para 78%.
Os dados mostram que o público consegue distinguir, na mesma plataforma digital, as diferentes fontes de informação e perceber que cada uma merece um específico grau de confiança. Tal discernimento é de grande importância para a vida social e política.
De fato, o novo relatório Digital News Project 2017, do Reuters Institute, alerta para os efeitos das novas tecnologias sobre a qualidade da informação e da democracia. Ainda que sempre tenham existido notícias falsas, o fenômeno ganhou com as redes sociais uma nova proporção, com novos efeitos. Como lembra o relatório, citando Mark Thompson, “nossos ecossistemas digitais desenvolveram um ambiente quase perfeito para que notícias falsas ou distorcidas prosperem”.
A fragilidade do sistema informativo das redes sociais ficou evidente nas semanas prévias às eleições norte-americanas, quando houve um boom de compartilhamento de notícias falsas, dizendo, por exemplo, que o papa Francisco apoiava o então candidato Donald Trump ou que Hilary Clinton teria vendido armas ao Estado Islâmico. Nesse contexto, a vitória de Trump só fez crescer os temores em relação aos algoritmos utilizados pelas redes sociais para definir quais informações terão maior visibilidade.
É simplesmente impossível que a informação qualificada, com sólido suporte em fontes confiáveis, seja produto tão somente de uma fórmula matemática, necessariamente limitada ao aspecto quantitativo da realidade. Na apuração da notícia, continua sendo necessário o elemento humano, com seu olhar a captar aspectos imperceptíveis ao computador.
O funcionamento da democracia depende da qualidade da informação. Opiniões políticas baseadas em mentiras nada mais são do que uma perversa manipulação das vontades. Por isso, é tão importante que a população seja capaz de discernir entre o que é jornalismo e o que não é. Só assim ela não estará vulnerável aos aproveitadores de plantão, que manobram com destreza as fragilidades do mundo digital em benefício próprio.
Notícia não é mero conjunto de caracteres, nem tampouco uma commodity. Ela tem muitas e graves consequências sociais e políticas. É por isso que a internet só fez aumentar a responsabilidade democrática do jornalismo. Mais do que nunca, cabe a ele prover à sociedade uma informação que vá além dos interesses dos poderosos.