A Assembleia Nacional francesa propôs ontem, em Paris, a proibição o uso do véu islâmico que cobre o rosto das mulheres em prédios de administração pública da França. A proposta vinha sendo estudada havia seis meses e, se aprovada, restringirá o uso da burca ou do niqab (que cobrem a mulher da cabeça aos pés) em escolas, universidades, hospitais e meios de transporte coletivo, mas não nas ruas.Há seis anos, o Estado francês proibiu o uso de véus que cobrem o rosto ou a cabeça em escolas públicas. Embora seja bem mais amplo, o projeto da missão parlamentar da Assembleia Nacional foi avaliado como "um meio termo" entre os que querem banir totalmente o véu e os que defendem a liberdade de escolha das muçulmanas. O relatório que propõe o banimento do adereço em edifícios públicos é intitulado Véu, a negação da República. Embora os argumentos do documento tenham como base a defesa da "laicidade" da França, o texto não faz nenhuma alusão a símbolos de outras religiões, concentrando-se apenas nos véus islâmicos como a burca, que cobre todo o rosto das mulheres, ou o niqab, que deixa apenas os olhos à mostra. Segundo levantamentos do Ministério do Interior há entre 300 e 1,9 mil pessoas que usam esse tipo de veste na França. "O uso do véu é a ponta de um iceberg", disse André Gérin, deputado comunista e presidente da missão parlamentar. O projeto de lei também dificulta a concessão de vistos de entrada e de permanência no país para quem "dissimular o rosto" - uma tentativa de impedir o ingresso legal na França de mulheres muçulmanas adeptas do uso da burca ou do niqab. A comissão parlamentar foi criada em junho de 2009, um dia após o presidente francês, Nicolas Sarkozy, fazer um discurso no qual anunciou que "a burca não é bem-vinda" na França. Apesar do apoio de parte dos políticos, de intelectuais e da opinião pública, a medida também tem ferozes opositores. Ontem, o Partido Socialista, líder da oposição, anunciou que não apoiará a iniciativa. Além disso, mesmo se aprovado - em data não estipulada -, o projeto pode ser barrado pelo Conselho Constitucional e levado para a Corte Europeia de Direitos Humanos.