Páscoa: você sabe como é definida a data? Feriado pode passar a ser fixo


Alteração planejada em uma possível reunificação de datas entre católicos e ortodoxos afetaria ainda carnaval e Corpus Christi, se aceito por autoridades civis

Por Cláudio Vieira
Atualização:

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta pode mudar, e ficar “fixa” em 2025, exatamente 1.700 anos depois de se definir uma data para a ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos podem voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

Fiés, turistas, comunidade e membros da Irmandade Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição acompanham a missa presidida pelo padre Gilson no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A Semana Santa de Ouro Preto é considerada uma das mais belas tradições.  Foto: Ane Souz/PMOP - 24/3/2024
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O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, o que é ainda compartilhado pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu também em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

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Vale ressaltar que o patriarca se aproximou ainda mais de Francisco durante a guerra entre Ucrânia e Rússia - até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver esta questão e realizar uma celebração comum. O único obstáculo até agora é o Patriarcado de Moscou, mas que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

  • Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.
  • E, indagado a respeito mais de uma vez, Francisco não negou - e até destacou sempre querer ­- um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.
  • Embora ninguém tenha nada certo a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro, que seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado que muitos creem impossível: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.
Papa Francisco, usando uma bengala, chega para dirigir a sua audiência geral semanal na Sala Paulo VI na Cidade do Vaticano nesta quarta-feira, 27.  Foto: Alessandro Di Meo/EFE
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A mudança e os primórdios

Ao contrário do que ocorreu no passado, a data em análise não envolveria apenas questões científicas, mas seria o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

Já o carnaval seria “fixo”, 47 dias antes da Páscoa, assim como Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), 60 dias depois da Páscoa, considerando a manutenção das demais regras.

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O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que seria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”.

Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte dessas datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações ainda congregam bilhões - incluindo os evangélicos, na definição sobretudo de Quinta e Sexta-Feira Santa e de Corpus Christi.

Essa discussão, vale dizer, começou quase que ao mesmo tempo da chamada era cristã.

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  • Até o fim do século 2, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação do Egito, na época do patriarca Moisés - que teria ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan (calendário próprio), há cerca de 3,5 mil anos.
  • Nesse calendário, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte.

Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores na primeira década de 30 cristã.

  • Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse após o equinócio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equinócio ocorressem no mesmo dia). Por esse critério, a data sempre cai entre 22 de março e 25 de abril.
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Para entender

Mas, se houve essa unificação, por que hoje existem datas diferentes para a comemoração dentro do cristianismo? Há dois fatos históricos nesse caminho: o cisma entre católicos e ortodoxos, em 1054, e a troca do calendário pelo papa Gregório XIII em 1582.

Antes do século 16, o calendário que valia era o que foi instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Ele, por sua vez, usou o calendário egípcio de cálculo dos dias para conseguir acertar o fato de que as festas do verão começavam a ocorrer no inverno, por uma falha na contagem.

Mas seu calendário também tinha imprecisões: não contemplava o movimento de translação da Terra, ou seja, o tempo que o planeta demora para circular o Sol.

Para arrumar essa imprecisão, Gregório XIII omitiu da história os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582, seguindo o poder que já havia sido dado a ele pelo Concílio de Trento, em 1545. Mas houve um problema: nem todos aceitaram o novo calendário (Grécia e Turquia mesmo só o fizeram há cerca de cem anos). E este foi o caso, mais geral, dos ortodoxos na definição de datas religiosas.

Na prática, como o ano calculado pelo calendário juliano é um pouco mais longo e acumula 13 dias de atraso em relação ao gregoriano, as datas da Páscoa raramente coincidem hoje para católicos e ortodoxos - 2025, como foi dito, é exceção.

Mas a mudança é automática?

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta pode mudar, e ficar “fixa” em 2025, exatamente 1.700 anos depois de se definir uma data para a ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos podem voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

Fiés, turistas, comunidade e membros da Irmandade Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição acompanham a missa presidida pelo padre Gilson no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A Semana Santa de Ouro Preto é considerada uma das mais belas tradições.  Foto: Ane Souz/PMOP - 24/3/2024

O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, o que é ainda compartilhado pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu também em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

Vale ressaltar que o patriarca se aproximou ainda mais de Francisco durante a guerra entre Ucrânia e Rússia - até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver esta questão e realizar uma celebração comum. O único obstáculo até agora é o Patriarcado de Moscou, mas que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

  • Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.
  • E, indagado a respeito mais de uma vez, Francisco não negou - e até destacou sempre querer ­- um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.
  • Embora ninguém tenha nada certo a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro, que seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado que muitos creem impossível: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.
Papa Francisco, usando uma bengala, chega para dirigir a sua audiência geral semanal na Sala Paulo VI na Cidade do Vaticano nesta quarta-feira, 27.  Foto: Alessandro Di Meo/EFE

A mudança e os primórdios

Ao contrário do que ocorreu no passado, a data em análise não envolveria apenas questões científicas, mas seria o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

Já o carnaval seria “fixo”, 47 dias antes da Páscoa, assim como Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), 60 dias depois da Páscoa, considerando a manutenção das demais regras.

O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que seria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”.

Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte dessas datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações ainda congregam bilhões - incluindo os evangélicos, na definição sobretudo de Quinta e Sexta-Feira Santa e de Corpus Christi.

Essa discussão, vale dizer, começou quase que ao mesmo tempo da chamada era cristã.

  • Até o fim do século 2, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação do Egito, na época do patriarca Moisés - que teria ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan (calendário próprio), há cerca de 3,5 mil anos.
  • Nesse calendário, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte.

Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores na primeira década de 30 cristã.

  • Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse após o equinócio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equinócio ocorressem no mesmo dia). Por esse critério, a data sempre cai entre 22 de março e 25 de abril.

Para entender

Mas, se houve essa unificação, por que hoje existem datas diferentes para a comemoração dentro do cristianismo? Há dois fatos históricos nesse caminho: o cisma entre católicos e ortodoxos, em 1054, e a troca do calendário pelo papa Gregório XIII em 1582.

Antes do século 16, o calendário que valia era o que foi instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Ele, por sua vez, usou o calendário egípcio de cálculo dos dias para conseguir acertar o fato de que as festas do verão começavam a ocorrer no inverno, por uma falha na contagem.

Mas seu calendário também tinha imprecisões: não contemplava o movimento de translação da Terra, ou seja, o tempo que o planeta demora para circular o Sol.

Para arrumar essa imprecisão, Gregório XIII omitiu da história os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582, seguindo o poder que já havia sido dado a ele pelo Concílio de Trento, em 1545. Mas houve um problema: nem todos aceitaram o novo calendário (Grécia e Turquia mesmo só o fizeram há cerca de cem anos). E este foi o caso, mais geral, dos ortodoxos na definição de datas religiosas.

Na prática, como o ano calculado pelo calendário juliano é um pouco mais longo e acumula 13 dias de atraso em relação ao gregoriano, as datas da Páscoa raramente coincidem hoje para católicos e ortodoxos - 2025, como foi dito, é exceção.

Mas a mudança é automática?

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta pode mudar, e ficar “fixa” em 2025, exatamente 1.700 anos depois de se definir uma data para a ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos podem voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

Fiés, turistas, comunidade e membros da Irmandade Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição acompanham a missa presidida pelo padre Gilson no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A Semana Santa de Ouro Preto é considerada uma das mais belas tradições.  Foto: Ane Souz/PMOP - 24/3/2024

O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, o que é ainda compartilhado pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu também em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

Vale ressaltar que o patriarca se aproximou ainda mais de Francisco durante a guerra entre Ucrânia e Rússia - até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver esta questão e realizar uma celebração comum. O único obstáculo até agora é o Patriarcado de Moscou, mas que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

  • Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.
  • E, indagado a respeito mais de uma vez, Francisco não negou - e até destacou sempre querer ­- um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.
  • Embora ninguém tenha nada certo a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro, que seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado que muitos creem impossível: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.
Papa Francisco, usando uma bengala, chega para dirigir a sua audiência geral semanal na Sala Paulo VI na Cidade do Vaticano nesta quarta-feira, 27.  Foto: Alessandro Di Meo/EFE

A mudança e os primórdios

Ao contrário do que ocorreu no passado, a data em análise não envolveria apenas questões científicas, mas seria o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

Já o carnaval seria “fixo”, 47 dias antes da Páscoa, assim como Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), 60 dias depois da Páscoa, considerando a manutenção das demais regras.

O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que seria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”.

Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte dessas datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações ainda congregam bilhões - incluindo os evangélicos, na definição sobretudo de Quinta e Sexta-Feira Santa e de Corpus Christi.

Essa discussão, vale dizer, começou quase que ao mesmo tempo da chamada era cristã.

  • Até o fim do século 2, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação do Egito, na época do patriarca Moisés - que teria ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan (calendário próprio), há cerca de 3,5 mil anos.
  • Nesse calendário, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte.

Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores na primeira década de 30 cristã.

  • Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse após o equinócio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equinócio ocorressem no mesmo dia). Por esse critério, a data sempre cai entre 22 de março e 25 de abril.

Para entender

Mas, se houve essa unificação, por que hoje existem datas diferentes para a comemoração dentro do cristianismo? Há dois fatos históricos nesse caminho: o cisma entre católicos e ortodoxos, em 1054, e a troca do calendário pelo papa Gregório XIII em 1582.

Antes do século 16, o calendário que valia era o que foi instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Ele, por sua vez, usou o calendário egípcio de cálculo dos dias para conseguir acertar o fato de que as festas do verão começavam a ocorrer no inverno, por uma falha na contagem.

Mas seu calendário também tinha imprecisões: não contemplava o movimento de translação da Terra, ou seja, o tempo que o planeta demora para circular o Sol.

Para arrumar essa imprecisão, Gregório XIII omitiu da história os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582, seguindo o poder que já havia sido dado a ele pelo Concílio de Trento, em 1545. Mas houve um problema: nem todos aceitaram o novo calendário (Grécia e Turquia mesmo só o fizeram há cerca de cem anos). E este foi o caso, mais geral, dos ortodoxos na definição de datas religiosas.

Na prática, como o ano calculado pelo calendário juliano é um pouco mais longo e acumula 13 dias de atraso em relação ao gregoriano, as datas da Páscoa raramente coincidem hoje para católicos e ortodoxos - 2025, como foi dito, é exceção.

Mas a mudança é automática?

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta pode mudar, e ficar “fixa” em 2025, exatamente 1.700 anos depois de se definir uma data para a ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos podem voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

Fiés, turistas, comunidade e membros da Irmandade Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição acompanham a missa presidida pelo padre Gilson no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A Semana Santa de Ouro Preto é considerada uma das mais belas tradições.  Foto: Ane Souz/PMOP - 24/3/2024

O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, o que é ainda compartilhado pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu também em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

Vale ressaltar que o patriarca se aproximou ainda mais de Francisco durante a guerra entre Ucrânia e Rússia - até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver esta questão e realizar uma celebração comum. O único obstáculo até agora é o Patriarcado de Moscou, mas que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

  • Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.
  • E, indagado a respeito mais de uma vez, Francisco não negou - e até destacou sempre querer ­- um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.
  • Embora ninguém tenha nada certo a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro, que seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado que muitos creem impossível: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.
Papa Francisco, usando uma bengala, chega para dirigir a sua audiência geral semanal na Sala Paulo VI na Cidade do Vaticano nesta quarta-feira, 27.  Foto: Alessandro Di Meo/EFE

A mudança e os primórdios

Ao contrário do que ocorreu no passado, a data em análise não envolveria apenas questões científicas, mas seria o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

Já o carnaval seria “fixo”, 47 dias antes da Páscoa, assim como Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), 60 dias depois da Páscoa, considerando a manutenção das demais regras.

O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que seria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”.

Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte dessas datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações ainda congregam bilhões - incluindo os evangélicos, na definição sobretudo de Quinta e Sexta-Feira Santa e de Corpus Christi.

Essa discussão, vale dizer, começou quase que ao mesmo tempo da chamada era cristã.

  • Até o fim do século 2, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação do Egito, na época do patriarca Moisés - que teria ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan (calendário próprio), há cerca de 3,5 mil anos.
  • Nesse calendário, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte.

Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores na primeira década de 30 cristã.

  • Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse após o equinócio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equinócio ocorressem no mesmo dia). Por esse critério, a data sempre cai entre 22 de março e 25 de abril.

Para entender

Mas, se houve essa unificação, por que hoje existem datas diferentes para a comemoração dentro do cristianismo? Há dois fatos históricos nesse caminho: o cisma entre católicos e ortodoxos, em 1054, e a troca do calendário pelo papa Gregório XIII em 1582.

Antes do século 16, o calendário que valia era o que foi instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Ele, por sua vez, usou o calendário egípcio de cálculo dos dias para conseguir acertar o fato de que as festas do verão começavam a ocorrer no inverno, por uma falha na contagem.

Mas seu calendário também tinha imprecisões: não contemplava o movimento de translação da Terra, ou seja, o tempo que o planeta demora para circular o Sol.

Para arrumar essa imprecisão, Gregório XIII omitiu da história os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582, seguindo o poder que já havia sido dado a ele pelo Concílio de Trento, em 1545. Mas houve um problema: nem todos aceitaram o novo calendário (Grécia e Turquia mesmo só o fizeram há cerca de cem anos). E este foi o caso, mais geral, dos ortodoxos na definição de datas religiosas.

Na prática, como o ano calculado pelo calendário juliano é um pouco mais longo e acumula 13 dias de atraso em relação ao gregoriano, as datas da Páscoa raramente coincidem hoje para católicos e ortodoxos - 2025, como foi dito, é exceção.

Mas a mudança é automática?

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

Entra ano, sai ano e fica a pergunta: quando caem os feriados móveis de carnaval, Páscoa e Corpus Christi? A resposta pode mudar, e ficar “fixa” em 2025, exatamente 1.700 anos depois de se definir uma data para a ressurreição de Jesus Cristo. Isso porque católicos e ortodoxos podem voltar a reunificar a data comemorativa.

“Tenhamos a coragem de acabar com esta divisão, que às vezes nos faz rir… ‘O seu Cristo ressuscita quando? E o seu Cristo, quando ressuscita?’ Não. O sinal é um só Cristo para todos nós”, disse o papa Francisco, em novembro de 2022, após receber no Vaticano o patriarca Mar Awa III, da Igreja Assíria do Oriente, a quem pediu “uma data comum para os cristãos celebrarem juntos a Páscoa”.

Fiés, turistas, comunidade e membros da Irmandade Santíssimo Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição acompanham a missa presidida pelo padre Gilson no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A Semana Santa de Ouro Preto é considerada uma das mais belas tradições.  Foto: Ane Souz/PMOP - 24/3/2024

O líder dos cristãos ortodoxos orientais, patriarca Bartolomeu de Constantinopla, também se declarou favorável a fixar a data comum a partir de 2025, o que é ainda compartilhado pelo arcebispo ortodoxo Job Getcha de Telmessos. A mais longa defesa da mudança ocorreu também em 2022, quando Bartolomeu I visitou Francisco.

“O Concílio Ecumênico de Niceia foi muito importante para fixar o conteúdo de nossa fé cristã, mas também para fixar a data da Páscoa, como e quando ela deve ser celebrada. Infelizmente, não a celebramos juntos há muitos anos, há muitos séculos. Portanto, no contexto deste aniversário, o objetivo de nossos esforços compartilhados com o papa (católico) é encontrar uma solução para isto”, disse o ortodoxo.

“Talvez agora não seja o momento de dar detalhes, mas quero enfatizar que tanto do lado ortodoxo como do católico há esta boa intenção de finalmente fixar uma data comum para a celebração da Ressurreição de Cristo. Esperemos alcançar um bom resultado desta vez.”

Vale ressaltar que o patriarca se aproximou ainda mais de Francisco durante a guerra entre Ucrânia e Rússia - até por dissociação, vale lembrar, os ucranianos passaram a festejar datas do ciclo natalino seguindo Roma e não mais Moscou. Tanto a Igreja Anglicana como a Luterana manifestaram o seu interesse em resolver esta questão e realizar uma celebração comum. O único obstáculo até agora é o Patriarcado de Moscou, mas que pode, apesar de sua clara importância no Oriente, acabar isolado na discussão.

  • Curiosamente, 2025 será um raro momento em que os calendários católico e ortodoxo terão a Páscoa na mesma data, 20 de abril.
  • E, indagado a respeito mais de uma vez, Francisco não negou - e até destacou sempre querer ­- um encontro ecumênico para celebrar Niceia e retomar uma data unificada para a celebração.
  • Embora ninguém tenha nada certo a respeito, fala-se em Jerusalém ou Niceia como possíveis sedes desse encontro, que seria um primeiro passo, na visão do próprio Francisco, para um objetivo bem maior de seu pontificado que muitos creem impossível: uma reunificação gradual entre católicos e ortodoxos.
Papa Francisco, usando uma bengala, chega para dirigir a sua audiência geral semanal na Sala Paulo VI na Cidade do Vaticano nesta quarta-feira, 27.  Foto: Alessandro Di Meo/EFE

A mudança e os primórdios

Ao contrário do que ocorreu no passado, a data em análise não envolveria apenas questões científicas, mas seria o segundo ou o terceiro domingo de abril, conforme adiantaram alguns canais católicos nos últimos meses.

Já o carnaval seria “fixo”, 47 dias antes da Páscoa, assim como Corpus Christi (festa católica inserida pelo papa Urbano IV em 1264), 60 dias depois da Páscoa, considerando a manutenção das demais regras.

O efeito prático da mudança seria enorme. Basta notar que seria bem mais fácil estabelecer calendários escolares e definir férias ou outras atividades “civis”.

Apesar da diversidade religiosa atual, grande parte dessas datas comemorativas no Ocidente tem por base o calendário cristão, cujas denominações ainda congregam bilhões - incluindo os evangélicos, na definição sobretudo de Quinta e Sexta-Feira Santa e de Corpus Christi.

Essa discussão, vale dizer, começou quase que ao mesmo tempo da chamada era cristã.

  • Até o fim do século 2, muitos seguidores de Jesus de Nazaré, um judeu praticante, celebravam a data conforme o calendário hebraico, que tem como marco a libertação do Egito, na época do patriarca Moisés - que teria ocorrido nos dias 14 e 15 de nissan (calendário próprio), há cerca de 3,5 mil anos.
  • Nesse calendário, a celebração ocorre na primeira lua cheia depois do equinócio (início) da primavera no Hemisfério Norte.

Os eventos do julgamento e morte de Jesus coincidem com esse período, conforme a maior parte dos historiadores na primeira década de 30 cristã.

  • Foi só no Concílio de Niceia, em 325, que os sucessores dos apóstolos (os bispos) definiram que a Páscoa cristã seria festejada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse após o equinócio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equinócio ocorressem no mesmo dia). Por esse critério, a data sempre cai entre 22 de março e 25 de abril.

Para entender

Mas, se houve essa unificação, por que hoje existem datas diferentes para a comemoração dentro do cristianismo? Há dois fatos históricos nesse caminho: o cisma entre católicos e ortodoxos, em 1054, e a troca do calendário pelo papa Gregório XIII em 1582.

Antes do século 16, o calendário que valia era o que foi instituído pelo imperador romano Júlio César em 46 a.C. Ele, por sua vez, usou o calendário egípcio de cálculo dos dias para conseguir acertar o fato de que as festas do verão começavam a ocorrer no inverno, por uma falha na contagem.

Mas seu calendário também tinha imprecisões: não contemplava o movimento de translação da Terra, ou seja, o tempo que o planeta demora para circular o Sol.

Para arrumar essa imprecisão, Gregório XIII omitiu da história os dias entre 5 e 14 de outubro de 1582, seguindo o poder que já havia sido dado a ele pelo Concílio de Trento, em 1545. Mas houve um problema: nem todos aceitaram o novo calendário (Grécia e Turquia mesmo só o fizeram há cerca de cem anos). E este foi o caso, mais geral, dos ortodoxos na definição de datas religiosas.

Na prática, como o ano calculado pelo calendário juliano é um pouco mais longo e acumula 13 dias de atraso em relação ao gregoriano, as datas da Páscoa raramente coincidem hoje para católicos e ortodoxos - 2025, como foi dito, é exceção.

Mas a mudança é automática?

Vale ressaltar, por fim, que se os feriados hoje têm origem “religiosa”, sua determinação agora cabe totalmente a autoridades civis. Os feriados nacionais são definidos pelas Lei 662 de 1949 (com as alterações dadas pela Lei 10.607 de 2002 e pela Lei 6.802 de 1980). É o caso da Sexta-Feira Santa.

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