Paternidade negra: como os homens podem conduzir essa educação antirracista?


Grupo reúne pais e mães pretos e oferece apoio às famílias em diferentes frentes de atuação, como letramento racial e educação parental

Por Igor de Souza Soares
Atualização:

Foi em 2018 que Humberto Baltar descobriu que seria pai. Sua esposa, Thainá, deu a notícia um dia antes do Dia dos Pais. Com a novidade, veio a ansiedade sobre como criar uma criança negra no Brasil. Ele decidiu procurar por outros pais para conversar sobre paternidade negra. Numa busca por uma rede social, percebeu que não havia grupos para debater o assunto. Com esta lacuna, no mesmo ano criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem, reunindo pais negros de todo o País.

O coletivo Pais Pretos Presentes atua em diferentes frentes, como aquilombamento, letramento racial, educação parental, representatividade e consultoria étnico-racial. Combater o racismo no Brasil também perpassa pela criação dos filhos, segundo o consultor, palestrante e pai do Apolo, de 4 anos.

“O grande desafio no Brasil é viver a nossa ancestralidade. Como a referência que a gente tem é toda racista, de que o preto está nesse lugar do alcoolismo, do abuso, do abandono, não temos referências positivas nem de paternidade preta nem de masculinidade. A ancestralidade africana surge como possibilidade de contranarrativa”, ressalta Baltar. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Ou seja, eu não posso ser um pai sem estar conectado a outros pais.”

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'Fui buscar entender como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação', diz Humberto Baltar Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O professor também sinaliza aspectos entre paternidade e masculinidade negras. “A ancestralidade africana traz a masculinidade diferente do ocidente. A maioria dos povos africanos é quase maternal, em que as mulheres têm uma posição central na sociedade, e o homem caminha junto com elas. É uma outra concepção”, diz.

“Eu fui buscar entender como eu poderia ser um pai afetuoso, como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação e não houve nenhuma fala sobre a questão africana e racial”, conta Baltar. “O meu pai, como era o provedor, não era esse pai carinhoso, não falava ‘eu te amo’. Eu tinha muito medo de não ser afetuoso com o meu filho. No entanto, você pode dar o que não recebeu, gerando por meio do aquilombamento, que te permite criar futuros”, completa.

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De acordo com o I Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil, que contou com 270 entrevistados e foi realizado pelo Instituto Promundo, os homens negros têm suas distinções quando o assunto é o cuidado da criança.

“Nós quisemos olhar para esta realidade, tendo em vista a maioria da população. Era olhar para os homens negros exercendo o cuidado, o que diz muito sobre uma prática antirracista. É humanizar socialmente esses homens negros”, explica Luciano Ramos, especialista em Paternidades, Masculinidades e Antirracismo, e diretor-adjunto do Instituto Promundo.

Baltar criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem reunindo pais negros de todo o País Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Ainda segundo o levantamento, mais de 30% dos respondentes têm ensino superior completo e pós-graduação; quase a metade (48,1%) estão na faixa etária entre 30 e 39 anos. Além disso, 31,6% recebem de 4 a 10 salários mínimos.

O diretor do instituto aponta uma diferença no modelo de paternidade entre os homens negros. “Há algumas camadas. São homens negros que passaram pela academia (ensino superior), com fator de renda diferenciado, e isso faz com que eles sejam mais participativos no seu desenvolvimento de paternidade. Por outro lado, os outros homens não estão, não por falta de desejo de participar, mas existe um impedimento social. Eles vivem no aspecto da subalternidade e isso faz com que eles não tenham oportunidade de paternar, assim como os homens brancos.”

Os especialistas concordam que é necessário criar os filhos em um ambiente de diversidade. Listamos algumas dicas para ser um pai antirracista:

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  • É importante que o pai busque letramento racial;
  • Literatura antirracista: apresente livros infantis com protagonistas negros ou que indiquem o antirracismo;
  • Apresente a música e a culinária africanas;
  • Se você mora em um lugar com muitas pessoas brancas, leve seu filho a um shopping ou a um parquinho com crianças pretas.

O coletivo Pais Pretos Presentes conta, atualmente, com uma equipe de dez pessoas, de diferentes áreas e que prestam apoio às famílias: psiquiatras, psicólogos e advogados fazem atendimentos gratuitos ou com baixo custo. No Instagram, somam mais de 50 mil seguidores, que acompanham o trabalho e participam dos encontros presenciais em diferentes lugares do País.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo Pais Pretos Presentes e o Instituto Promundo

Foi em 2018 que Humberto Baltar descobriu que seria pai. Sua esposa, Thainá, deu a notícia um dia antes do Dia dos Pais. Com a novidade, veio a ansiedade sobre como criar uma criança negra no Brasil. Ele decidiu procurar por outros pais para conversar sobre paternidade negra. Numa busca por uma rede social, percebeu que não havia grupos para debater o assunto. Com esta lacuna, no mesmo ano criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem, reunindo pais negros de todo o País.

O coletivo Pais Pretos Presentes atua em diferentes frentes, como aquilombamento, letramento racial, educação parental, representatividade e consultoria étnico-racial. Combater o racismo no Brasil também perpassa pela criação dos filhos, segundo o consultor, palestrante e pai do Apolo, de 4 anos.

“O grande desafio no Brasil é viver a nossa ancestralidade. Como a referência que a gente tem é toda racista, de que o preto está nesse lugar do alcoolismo, do abuso, do abandono, não temos referências positivas nem de paternidade preta nem de masculinidade. A ancestralidade africana surge como possibilidade de contranarrativa”, ressalta Baltar. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Ou seja, eu não posso ser um pai sem estar conectado a outros pais.”

'Fui buscar entender como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação', diz Humberto Baltar Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O professor também sinaliza aspectos entre paternidade e masculinidade negras. “A ancestralidade africana traz a masculinidade diferente do ocidente. A maioria dos povos africanos é quase maternal, em que as mulheres têm uma posição central na sociedade, e o homem caminha junto com elas. É uma outra concepção”, diz.

“Eu fui buscar entender como eu poderia ser um pai afetuoso, como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação e não houve nenhuma fala sobre a questão africana e racial”, conta Baltar. “O meu pai, como era o provedor, não era esse pai carinhoso, não falava ‘eu te amo’. Eu tinha muito medo de não ser afetuoso com o meu filho. No entanto, você pode dar o que não recebeu, gerando por meio do aquilombamento, que te permite criar futuros”, completa.

De acordo com o I Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil, que contou com 270 entrevistados e foi realizado pelo Instituto Promundo, os homens negros têm suas distinções quando o assunto é o cuidado da criança.

“Nós quisemos olhar para esta realidade, tendo em vista a maioria da população. Era olhar para os homens negros exercendo o cuidado, o que diz muito sobre uma prática antirracista. É humanizar socialmente esses homens negros”, explica Luciano Ramos, especialista em Paternidades, Masculinidades e Antirracismo, e diretor-adjunto do Instituto Promundo.

Baltar criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem reunindo pais negros de todo o País Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ainda segundo o levantamento, mais de 30% dos respondentes têm ensino superior completo e pós-graduação; quase a metade (48,1%) estão na faixa etária entre 30 e 39 anos. Além disso, 31,6% recebem de 4 a 10 salários mínimos.

O diretor do instituto aponta uma diferença no modelo de paternidade entre os homens negros. “Há algumas camadas. São homens negros que passaram pela academia (ensino superior), com fator de renda diferenciado, e isso faz com que eles sejam mais participativos no seu desenvolvimento de paternidade. Por outro lado, os outros homens não estão, não por falta de desejo de participar, mas existe um impedimento social. Eles vivem no aspecto da subalternidade e isso faz com que eles não tenham oportunidade de paternar, assim como os homens brancos.”

Os especialistas concordam que é necessário criar os filhos em um ambiente de diversidade. Listamos algumas dicas para ser um pai antirracista:

  • É importante que o pai busque letramento racial;
  • Literatura antirracista: apresente livros infantis com protagonistas negros ou que indiquem o antirracismo;
  • Apresente a música e a culinária africanas;
  • Se você mora em um lugar com muitas pessoas brancas, leve seu filho a um shopping ou a um parquinho com crianças pretas.

O coletivo Pais Pretos Presentes conta, atualmente, com uma equipe de dez pessoas, de diferentes áreas e que prestam apoio às famílias: psiquiatras, psicólogos e advogados fazem atendimentos gratuitos ou com baixo custo. No Instagram, somam mais de 50 mil seguidores, que acompanham o trabalho e participam dos encontros presenciais em diferentes lugares do País.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo Pais Pretos Presentes e o Instituto Promundo

Foi em 2018 que Humberto Baltar descobriu que seria pai. Sua esposa, Thainá, deu a notícia um dia antes do Dia dos Pais. Com a novidade, veio a ansiedade sobre como criar uma criança negra no Brasil. Ele decidiu procurar por outros pais para conversar sobre paternidade negra. Numa busca por uma rede social, percebeu que não havia grupos para debater o assunto. Com esta lacuna, no mesmo ano criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem, reunindo pais negros de todo o País.

O coletivo Pais Pretos Presentes atua em diferentes frentes, como aquilombamento, letramento racial, educação parental, representatividade e consultoria étnico-racial. Combater o racismo no Brasil também perpassa pela criação dos filhos, segundo o consultor, palestrante e pai do Apolo, de 4 anos.

“O grande desafio no Brasil é viver a nossa ancestralidade. Como a referência que a gente tem é toda racista, de que o preto está nesse lugar do alcoolismo, do abuso, do abandono, não temos referências positivas nem de paternidade preta nem de masculinidade. A ancestralidade africana surge como possibilidade de contranarrativa”, ressalta Baltar. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Ou seja, eu não posso ser um pai sem estar conectado a outros pais.”

'Fui buscar entender como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação', diz Humberto Baltar Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O professor também sinaliza aspectos entre paternidade e masculinidade negras. “A ancestralidade africana traz a masculinidade diferente do ocidente. A maioria dos povos africanos é quase maternal, em que as mulheres têm uma posição central na sociedade, e o homem caminha junto com elas. É uma outra concepção”, diz.

“Eu fui buscar entender como eu poderia ser um pai afetuoso, como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação e não houve nenhuma fala sobre a questão africana e racial”, conta Baltar. “O meu pai, como era o provedor, não era esse pai carinhoso, não falava ‘eu te amo’. Eu tinha muito medo de não ser afetuoso com o meu filho. No entanto, você pode dar o que não recebeu, gerando por meio do aquilombamento, que te permite criar futuros”, completa.

De acordo com o I Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil, que contou com 270 entrevistados e foi realizado pelo Instituto Promundo, os homens negros têm suas distinções quando o assunto é o cuidado da criança.

“Nós quisemos olhar para esta realidade, tendo em vista a maioria da população. Era olhar para os homens negros exercendo o cuidado, o que diz muito sobre uma prática antirracista. É humanizar socialmente esses homens negros”, explica Luciano Ramos, especialista em Paternidades, Masculinidades e Antirracismo, e diretor-adjunto do Instituto Promundo.

Baltar criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem reunindo pais negros de todo o País Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ainda segundo o levantamento, mais de 30% dos respondentes têm ensino superior completo e pós-graduação; quase a metade (48,1%) estão na faixa etária entre 30 e 39 anos. Além disso, 31,6% recebem de 4 a 10 salários mínimos.

O diretor do instituto aponta uma diferença no modelo de paternidade entre os homens negros. “Há algumas camadas. São homens negros que passaram pela academia (ensino superior), com fator de renda diferenciado, e isso faz com que eles sejam mais participativos no seu desenvolvimento de paternidade. Por outro lado, os outros homens não estão, não por falta de desejo de participar, mas existe um impedimento social. Eles vivem no aspecto da subalternidade e isso faz com que eles não tenham oportunidade de paternar, assim como os homens brancos.”

Os especialistas concordam que é necessário criar os filhos em um ambiente de diversidade. Listamos algumas dicas para ser um pai antirracista:

  • É importante que o pai busque letramento racial;
  • Literatura antirracista: apresente livros infantis com protagonistas negros ou que indiquem o antirracismo;
  • Apresente a música e a culinária africanas;
  • Se você mora em um lugar com muitas pessoas brancas, leve seu filho a um shopping ou a um parquinho com crianças pretas.

O coletivo Pais Pretos Presentes conta, atualmente, com uma equipe de dez pessoas, de diferentes áreas e que prestam apoio às famílias: psiquiatras, psicólogos e advogados fazem atendimentos gratuitos ou com baixo custo. No Instagram, somam mais de 50 mil seguidores, que acompanham o trabalho e participam dos encontros presenciais em diferentes lugares do País.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo Pais Pretos Presentes e o Instituto Promundo

Foi em 2018 que Humberto Baltar descobriu que seria pai. Sua esposa, Thainá, deu a notícia um dia antes do Dia dos Pais. Com a novidade, veio a ansiedade sobre como criar uma criança negra no Brasil. Ele decidiu procurar por outros pais para conversar sobre paternidade negra. Numa busca por uma rede social, percebeu que não havia grupos para debater o assunto. Com esta lacuna, no mesmo ano criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem, reunindo pais negros de todo o País.

O coletivo Pais Pretos Presentes atua em diferentes frentes, como aquilombamento, letramento racial, educação parental, representatividade e consultoria étnico-racial. Combater o racismo no Brasil também perpassa pela criação dos filhos, segundo o consultor, palestrante e pai do Apolo, de 4 anos.

“O grande desafio no Brasil é viver a nossa ancestralidade. Como a referência que a gente tem é toda racista, de que o preto está nesse lugar do alcoolismo, do abuso, do abandono, não temos referências positivas nem de paternidade preta nem de masculinidade. A ancestralidade africana surge como possibilidade de contranarrativa”, ressalta Baltar. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Ou seja, eu não posso ser um pai sem estar conectado a outros pais.”

'Fui buscar entender como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação', diz Humberto Baltar Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O professor também sinaliza aspectos entre paternidade e masculinidade negras. “A ancestralidade africana traz a masculinidade diferente do ocidente. A maioria dos povos africanos é quase maternal, em que as mulheres têm uma posição central na sociedade, e o homem caminha junto com elas. É uma outra concepção”, diz.

“Eu fui buscar entender como eu poderia ser um pai afetuoso, como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação e não houve nenhuma fala sobre a questão africana e racial”, conta Baltar. “O meu pai, como era o provedor, não era esse pai carinhoso, não falava ‘eu te amo’. Eu tinha muito medo de não ser afetuoso com o meu filho. No entanto, você pode dar o que não recebeu, gerando por meio do aquilombamento, que te permite criar futuros”, completa.

De acordo com o I Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil, que contou com 270 entrevistados e foi realizado pelo Instituto Promundo, os homens negros têm suas distinções quando o assunto é o cuidado da criança.

“Nós quisemos olhar para esta realidade, tendo em vista a maioria da população. Era olhar para os homens negros exercendo o cuidado, o que diz muito sobre uma prática antirracista. É humanizar socialmente esses homens negros”, explica Luciano Ramos, especialista em Paternidades, Masculinidades e Antirracismo, e diretor-adjunto do Instituto Promundo.

Baltar criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem reunindo pais negros de todo o País Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ainda segundo o levantamento, mais de 30% dos respondentes têm ensino superior completo e pós-graduação; quase a metade (48,1%) estão na faixa etária entre 30 e 39 anos. Além disso, 31,6% recebem de 4 a 10 salários mínimos.

O diretor do instituto aponta uma diferença no modelo de paternidade entre os homens negros. “Há algumas camadas. São homens negros que passaram pela academia (ensino superior), com fator de renda diferenciado, e isso faz com que eles sejam mais participativos no seu desenvolvimento de paternidade. Por outro lado, os outros homens não estão, não por falta de desejo de participar, mas existe um impedimento social. Eles vivem no aspecto da subalternidade e isso faz com que eles não tenham oportunidade de paternar, assim como os homens brancos.”

Os especialistas concordam que é necessário criar os filhos em um ambiente de diversidade. Listamos algumas dicas para ser um pai antirracista:

  • É importante que o pai busque letramento racial;
  • Literatura antirracista: apresente livros infantis com protagonistas negros ou que indiquem o antirracismo;
  • Apresente a música e a culinária africanas;
  • Se você mora em um lugar com muitas pessoas brancas, leve seu filho a um shopping ou a um parquinho com crianças pretas.

O coletivo Pais Pretos Presentes conta, atualmente, com uma equipe de dez pessoas, de diferentes áreas e que prestam apoio às famílias: psiquiatras, psicólogos e advogados fazem atendimentos gratuitos ou com baixo custo. No Instagram, somam mais de 50 mil seguidores, que acompanham o trabalho e participam dos encontros presenciais em diferentes lugares do País.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo Pais Pretos Presentes e o Instituto Promundo

Foi em 2018 que Humberto Baltar descobriu que seria pai. Sua esposa, Thainá, deu a notícia um dia antes do Dia dos Pais. Com a novidade, veio a ansiedade sobre como criar uma criança negra no Brasil. Ele decidiu procurar por outros pais para conversar sobre paternidade negra. Numa busca por uma rede social, percebeu que não havia grupos para debater o assunto. Com esta lacuna, no mesmo ano criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem, reunindo pais negros de todo o País.

O coletivo Pais Pretos Presentes atua em diferentes frentes, como aquilombamento, letramento racial, educação parental, representatividade e consultoria étnico-racial. Combater o racismo no Brasil também perpassa pela criação dos filhos, segundo o consultor, palestrante e pai do Apolo, de 4 anos.

“O grande desafio no Brasil é viver a nossa ancestralidade. Como a referência que a gente tem é toda racista, de que o preto está nesse lugar do alcoolismo, do abuso, do abandono, não temos referências positivas nem de paternidade preta nem de masculinidade. A ancestralidade africana surge como possibilidade de contranarrativa”, ressalta Baltar. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Ou seja, eu não posso ser um pai sem estar conectado a outros pais.”

'Fui buscar entender como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação', diz Humberto Baltar Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O professor também sinaliza aspectos entre paternidade e masculinidade negras. “A ancestralidade africana traz a masculinidade diferente do ocidente. A maioria dos povos africanos é quase maternal, em que as mulheres têm uma posição central na sociedade, e o homem caminha junto com elas. É uma outra concepção”, diz.

“Eu fui buscar entender como eu poderia ser um pai afetuoso, como empoderar meu filho racialmente, já que não tive isso na minha criação e não houve nenhuma fala sobre a questão africana e racial”, conta Baltar. “O meu pai, como era o provedor, não era esse pai carinhoso, não falava ‘eu te amo’. Eu tinha muito medo de não ser afetuoso com o meu filho. No entanto, você pode dar o que não recebeu, gerando por meio do aquilombamento, que te permite criar futuros”, completa.

De acordo com o I Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil, que contou com 270 entrevistados e foi realizado pelo Instituto Promundo, os homens negros têm suas distinções quando o assunto é o cuidado da criança.

“Nós quisemos olhar para esta realidade, tendo em vista a maioria da população. Era olhar para os homens negros exercendo o cuidado, o que diz muito sobre uma prática antirracista. É humanizar socialmente esses homens negros”, explica Luciano Ramos, especialista em Paternidades, Masculinidades e Antirracismo, e diretor-adjunto do Instituto Promundo.

Baltar criou uma comunidade em um aplicativo de mensagem reunindo pais negros de todo o País Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Ainda segundo o levantamento, mais de 30% dos respondentes têm ensino superior completo e pós-graduação; quase a metade (48,1%) estão na faixa etária entre 30 e 39 anos. Além disso, 31,6% recebem de 4 a 10 salários mínimos.

O diretor do instituto aponta uma diferença no modelo de paternidade entre os homens negros. “Há algumas camadas. São homens negros que passaram pela academia (ensino superior), com fator de renda diferenciado, e isso faz com que eles sejam mais participativos no seu desenvolvimento de paternidade. Por outro lado, os outros homens não estão, não por falta de desejo de participar, mas existe um impedimento social. Eles vivem no aspecto da subalternidade e isso faz com que eles não tenham oportunidade de paternar, assim como os homens brancos.”

Os especialistas concordam que é necessário criar os filhos em um ambiente de diversidade. Listamos algumas dicas para ser um pai antirracista:

  • É importante que o pai busque letramento racial;
  • Literatura antirracista: apresente livros infantis com protagonistas negros ou que indiquem o antirracismo;
  • Apresente a música e a culinária africanas;
  • Se você mora em um lugar com muitas pessoas brancas, leve seu filho a um shopping ou a um parquinho com crianças pretas.

O coletivo Pais Pretos Presentes conta, atualmente, com uma equipe de dez pessoas, de diferentes áreas e que prestam apoio às famílias: psiquiatras, psicólogos e advogados fazem atendimentos gratuitos ou com baixo custo. No Instagram, somam mais de 50 mil seguidores, que acompanham o trabalho e participam dos encontros presenciais em diferentes lugares do País.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o coletivo Pais Pretos Presentes e o Instituto Promundo

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