Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo conseguiram chegar a uma posição comum neste fim de semana sobre a melhor forma de enfrentar a atual crise financeira: problemas globais precisam de respostas mundiais coordenadas. Mas o cronograma de ações só deve ser conhecido no início do próximo ano. Depois de três dias de reuniões em São Paulo, os líderes financeiros de países como Brasil, China, Estados Unidos e da União Européia foram unânimes ao defender que "uma crise global requer soluções globais e um conjunto comum de princípios", mas o anfitrião do encontro --o ministro da Fazenda Guido Mantega-- deixou claro que o plano de ação poderá levar até três meses para ser efetivamente estabelecido. No comunicado oficial, os líderes enfatizaram a importância de se implementar uma ampla reforma das instituições criadas durante o encontro de Bretton Woods, no final da Segunda Guerra Mundial, para garantir maior "legitimidade e eficiência" destes organismos internacionais no sistema financeiro global. Mas Mantega reconheceu que medidas mais pontuais terão que ser tomadas no curto prazo, já que a ambiciosa reforma defendida pelos representantes financeiros do chamado G20 levará um bom tempo. "A crise financeira internacional não pode esperar a reforma do sistema para ter soluções. As soluções têm que ser muito mais rápidas... um novo Bretton Woods demora mais tempo", disse o ministro, durante entrevista coletiva no encerramento do encontro. "Vamos ter que trocar a roda do carro com o carro em movimento", resumiu. PREPARANDO A AGENDA O encontro deste fim de semana acabou servindo para que os ministros e presidentes de bancos centrais estabelecessem as bases para o encontro de chefes de Estado do G20 que acontecerá no próximo fim de semana, em Washington, nos Estados Unidos. Mantega fez questão de enfatizar, porém, que propostas concretas para debelar a crise só deverão ser conhecidas no início do próximo ano. "O que deve ser levado ao summit da próxima semana são sugestões, indicações, e de lá deve sair uma pauta concreta para que essas questões sejam aprofundadas, para em um, dois ou três meses termos uma agenda com um cronograma que vai apresentar soluções concretas", disse o ministro. Outro resultado do encontro foi o fortalecimento da idéia de que o G20 precisa ter um papel mais ativo no processo decisório das finanças internacionais, que atualmente se concentra no grupo dos sete países mais industrializados, o G7. "Concordamos que o G20 tem um papel vital em responder os desafios que a economia mundial enfrenta e deve maximizar sua efetividade", disseram os ministros no comunicado. Brasil, Rússia, China e Índia, que formam o chamado grupo dos Bric, também conseguiram realizar sua primeira reunião formal, e defenderam, em uníssono, a reforma de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. No domingo, Mantega afirmou que uma reestruturação destes organismos pode ser um caminho mais rápido para iniciar o processo de redesenho da arquitetura financeira global. "Não é necessário criar novas instituições, podemos transformar as instituições que já temos, é um caminho mais rápido, transformar o G20 em uma instituição mais forte, depois o FMI, o Banco Mundial e o FSF (Financial Stability Forum)", afirmou. ESTÍMULO FISCAL A adoção de políticas fiscal e monetária mais flexíveis também foi defendida pelos membros do G20, mas os presidentes de bancos centrais presentes fizeram questão de frisar que estas medidas não podem comprometer a estabilidade da inflação em cada país. O pacote anunciado pelo governo chinês no domingo foi bastante comemorado por Mantega e pelo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan. "Estou bastante satisfeito em ver a decisão que foi tomada pelos chineses. É um pacote enorme. Este terá influência não apenas na economia mundial, dando suporte à demanda, mas também uma grande influência na economia da própria China", disse Strauss-Khan à Reuters. Os principais bancos centrais do mundo fizeram um corte coordenado de juro no início de outubro, seguido por outras reduções na sequência. No Brasil, entretanto, o BC apenas interrompeu o ciclo de aperto do juro e mostrou que se a alta dos preços persistir, o aumento da Selic será retomado. Para os ministros do G20, o quadro traçado para 2009 é de uma desaceleração da atividade econômica, que deve forçar uma queda dos preços. "O perigo maior é de uma deflação e não de uma inflação maior", disse Mantega. No quadro local, porém, Mantega preferiu sair pela tangente: "Aqui no Brasil, as autoridades monetárias saberão regular a política de juros para enfrentar este novo cenário". (Reportagem adicional de Anna Willard e Louise Egan)