Por que Balneário Camboriú vai rever regras para construir prédios no meio do período eleitoral


Lei que impedia discussão foi derrubada pela Câmara Municipal na semana passada. Grupos questionam momento para mudanças e prefeitura diz que medida atende determinação judicial

Por José Maria Tomazela

Acatando proposta da prefeitura, a Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina, revogou na semana passada uma lei que impedia a discussão do Plano Diretor durante o período eleitoral.

O projeto de revogação foi enviado no último dia 7 pelo prefeito Fabrício Oliveira (PL) com pedido de urgência na votação. Representantes da sociedade civil e especialistas afirmam que as alterações exigem debate amplo com participação de setores técnicos e produtivos da cidade, além do envolvimento dos moradores.

A cidade, conhecida como “capital dos arranha-céus” por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País, passa por forte pressão imobiliária.

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  • A prefeitura alega que a revisão do plano foi discutida com a sociedade e que o envio do projeto à Câmara atende a uma determinação judicial, após ação do Ministério Público de Santa Catarina. Já o MP afirma que a ação civil pública ainda não teve julgamento definitivo.

Um manifesto assinado por 21 representantes da sociedade civil que integram os grupos de discussão do novo plano diretor coloca em dúvida a oportunidade da revisão. “É no mínimo curiosa a intenção, uma vez que já se passaram 7 anos e meio do atual governo sem a priorização do Plano Diretor e agora decide-se empurrá-lo ‘goela abaixo’ nas vésperas das eleições, evidenciando desrespeito à sociedade e à inteligência alheia”, diz o manifesto.

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições) Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú - 31/3/2023
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Conforme o colegiado, o processo não avançou por falta de apresentação do diagnóstico socioambiental da cidade para leitura técnica em audiência pública.

“O plano diretor é eminentemente técnico e não temos como avançar numa discussão tão fundamental para a cidade com esse ambiente de paixão que o período eleitoral desperta. A cidade não pode ficar dependente da construção civil. Os bairros reclamam que no último plano diretor apenas o centro foi privilegiado e esse processo de discussão ainda não está maduro”, disse o advogado Rafael Pierozan, representante da OAB no colegiado.

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Aprovação sob protestos

Durante a sessão que aprovou o projeto, manifestantes que ocupavam todo o plenário protestaram com cartazes e palavras de ordem contra a medida. A sessão chegou a ser suspensa e retomada no dia seguinte, quando a proposta do prefeito foi aprovada na quarta-feira, 12.

A cidade é conhecida como 'capital dos arranha-céus' por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú
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Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições). Uma emenda acrescentada ao projeto, porém, só permite que eventuais mudanças sejam votadas após as eleições de 7 de outubro deste ano.

Para a vereadora Juliana Pavan (PSD), que votou contra a proposta do prefeito, mudanças no Plano Diretor não deveriam ser propostas em período eleitoral numa cidade onde a construção civil é mola mestra da economia.

Para ela, a proposta deveria ser debatida em detalhes com todos os delegados, OAB, lojistas, comitê da bacia hidrográfica do Rio Camboriú, entidades que representam a sociedade, mas as reuniões do Plano Diretor estavam suspensas desde o início do ano – em 2024 foram só duas reuniões.

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“Um projeto protocolado no apagar das luzes, sem ouvir a população, sem respeitar os vereadores, não sei se por desespero ou despreparo. Mesmo com a mobilização, infelizmente mais uma vez os moradores de Balneário Camboriú ficarão à margem das decisões”, disse a vereadora, pré-candidata à prefeitura.

Em nota, o presidente da Câmara, David LaBarrica (PRD) disse que a sessão foi suspensa “devido a reiteradas manifestações” que impediam o andamento dos trabalhos legislativos. “Diante da persistência das manifestações, e em conformidade com o Regimento Interno, vi-me obrigado a suspender a sessão”, disse. Segundo ele, a tramitação do projeto também obedeceu o regimento.

O que diz a prefeitura?

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A prefeitura de Balneário Camboriú divulgou nota de esclarecimento alegando que as manifestações contrárias à revisão do plano estão na contramão da transparência de todo o processo.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas, envolvendo técnicos da prefeitura e os indicados pela sociedade civil.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Ainda segundo a nota, uma decisão judicial em ação civil pública movida pelo Ministério Público de Santa Catarina obriga o município a promover a revisão do plano diretor.

O envio do projeto de lei, a fim de revogar a lei que proíbe a tramitação de qualquer projeto que visa alterações no plano diretor em ano de pleito eleitoral vem ao encontro do cumprimento da decisão judicial. Importante destacar que a votação final do Plano Diretor pela Câmara ocorrerá apenas após as eleições, disse o município.

Ao Estadão, o prefeito disse que a tentativa de barrar o avanço das discussões do Plano Diretor é claramente eleitoreira.

“A proposta que enviei à Câmara na semana passada partiu dos delegados que discutem a proposta há meses. Se o município interrompe o processo de revisão e não permite mais as discussões, estaremos descumprindo uma determinação judicial. Balneário Camboriú precisa seguir seu ritmo de crescimento e não pode ser freada por críticas com motivações eleitoreiras. É fundamental que continuemos a trabalhar pelo desenvolvimento ordenado e sustentável de nossa cidade, respeitando a participação da sociedade civil e cumprindo as decisões judiciais que nos orientam”, disse.

O que diz o Ministério Público?

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina informou que a ação movida para obrigar o município de Balneário Camboriú a revisar o Plano Diretor, com contratação e realização de audiências públicas, como determina a Lei Federal 10.257/2001, foi proposta em junho de 2019. Até o momento, porém, devido aos sucessivos recursos promovidos pela prefeitura, a ação civil pública não teve julgamento definitivo, conforme apontou o MPSC.

A ação foi proposta em 14 de junho de 2019, dando prazo de 20 dias para que a prefeitura iniciasse a elaboração do plano. No dia 15 de junho do mesmo ano, a tutela coletiva pleiteada pelo MP foi julgada improcedente em juízo de primeiro grau. O órgão interpôs recurso de apelação e, em 9 de agosto de 2022, obteve decisão favorável do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina para reformar a decisão.

O TJ apontou “evidenciada inércia do Município de Camboriú”, dando prazo de 120 dias para a revisão, sob pena de multa diária por descumprimento.

A prefeitura entrou com embargos de declaração e, em 31 de janeiro de 2023, o recurso foi negado pela 3ª Câmara de Direito Público do TJSC. Na sequência, o município interpôs recurso especial, que não foi admitido.

A prefeitura recorreu novamente para que a ação fosse remetida ao Superior Tribunal de Justiça, o que aconteceu em 4 de setembro de 2023. Assim, segundo o MPSC, o acórdão inicial que determinou a revisão do plano diretor não transitou em julgado. “Até o presente momento não houve o retorno dos autos do STJ e, portanto, o recurso interposto pelo município, contrário à tutela coletiva ajuizada pelo Ministério Público, ainda não foi julgado”, disse o MPSC.

Acatando proposta da prefeitura, a Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina, revogou na semana passada uma lei que impedia a discussão do Plano Diretor durante o período eleitoral.

O projeto de revogação foi enviado no último dia 7 pelo prefeito Fabrício Oliveira (PL) com pedido de urgência na votação. Representantes da sociedade civil e especialistas afirmam que as alterações exigem debate amplo com participação de setores técnicos e produtivos da cidade, além do envolvimento dos moradores.

A cidade, conhecida como “capital dos arranha-céus” por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País, passa por forte pressão imobiliária.

  • A prefeitura alega que a revisão do plano foi discutida com a sociedade e que o envio do projeto à Câmara atende a uma determinação judicial, após ação do Ministério Público de Santa Catarina. Já o MP afirma que a ação civil pública ainda não teve julgamento definitivo.

Um manifesto assinado por 21 representantes da sociedade civil que integram os grupos de discussão do novo plano diretor coloca em dúvida a oportunidade da revisão. “É no mínimo curiosa a intenção, uma vez que já se passaram 7 anos e meio do atual governo sem a priorização do Plano Diretor e agora decide-se empurrá-lo ‘goela abaixo’ nas vésperas das eleições, evidenciando desrespeito à sociedade e à inteligência alheia”, diz o manifesto.

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições) Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú - 31/3/2023

Conforme o colegiado, o processo não avançou por falta de apresentação do diagnóstico socioambiental da cidade para leitura técnica em audiência pública.

“O plano diretor é eminentemente técnico e não temos como avançar numa discussão tão fundamental para a cidade com esse ambiente de paixão que o período eleitoral desperta. A cidade não pode ficar dependente da construção civil. Os bairros reclamam que no último plano diretor apenas o centro foi privilegiado e esse processo de discussão ainda não está maduro”, disse o advogado Rafael Pierozan, representante da OAB no colegiado.

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Aprovação sob protestos

Durante a sessão que aprovou o projeto, manifestantes que ocupavam todo o plenário protestaram com cartazes e palavras de ordem contra a medida. A sessão chegou a ser suspensa e retomada no dia seguinte, quando a proposta do prefeito foi aprovada na quarta-feira, 12.

A cidade é conhecida como 'capital dos arranha-céus' por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições). Uma emenda acrescentada ao projeto, porém, só permite que eventuais mudanças sejam votadas após as eleições de 7 de outubro deste ano.

Para a vereadora Juliana Pavan (PSD), que votou contra a proposta do prefeito, mudanças no Plano Diretor não deveriam ser propostas em período eleitoral numa cidade onde a construção civil é mola mestra da economia.

Para ela, a proposta deveria ser debatida em detalhes com todos os delegados, OAB, lojistas, comitê da bacia hidrográfica do Rio Camboriú, entidades que representam a sociedade, mas as reuniões do Plano Diretor estavam suspensas desde o início do ano – em 2024 foram só duas reuniões.

“Um projeto protocolado no apagar das luzes, sem ouvir a população, sem respeitar os vereadores, não sei se por desespero ou despreparo. Mesmo com a mobilização, infelizmente mais uma vez os moradores de Balneário Camboriú ficarão à margem das decisões”, disse a vereadora, pré-candidata à prefeitura.

Em nota, o presidente da Câmara, David LaBarrica (PRD) disse que a sessão foi suspensa “devido a reiteradas manifestações” que impediam o andamento dos trabalhos legislativos. “Diante da persistência das manifestações, e em conformidade com o Regimento Interno, vi-me obrigado a suspender a sessão”, disse. Segundo ele, a tramitação do projeto também obedeceu o regimento.

O que diz a prefeitura?

A prefeitura de Balneário Camboriú divulgou nota de esclarecimento alegando que as manifestações contrárias à revisão do plano estão na contramão da transparência de todo o processo.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas, envolvendo técnicos da prefeitura e os indicados pela sociedade civil.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Ainda segundo a nota, uma decisão judicial em ação civil pública movida pelo Ministério Público de Santa Catarina obriga o município a promover a revisão do plano diretor.

O envio do projeto de lei, a fim de revogar a lei que proíbe a tramitação de qualquer projeto que visa alterações no plano diretor em ano de pleito eleitoral vem ao encontro do cumprimento da decisão judicial. Importante destacar que a votação final do Plano Diretor pela Câmara ocorrerá apenas após as eleições, disse o município.

Ao Estadão, o prefeito disse que a tentativa de barrar o avanço das discussões do Plano Diretor é claramente eleitoreira.

“A proposta que enviei à Câmara na semana passada partiu dos delegados que discutem a proposta há meses. Se o município interrompe o processo de revisão e não permite mais as discussões, estaremos descumprindo uma determinação judicial. Balneário Camboriú precisa seguir seu ritmo de crescimento e não pode ser freada por críticas com motivações eleitoreiras. É fundamental que continuemos a trabalhar pelo desenvolvimento ordenado e sustentável de nossa cidade, respeitando a participação da sociedade civil e cumprindo as decisões judiciais que nos orientam”, disse.

O que diz o Ministério Público?

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina informou que a ação movida para obrigar o município de Balneário Camboriú a revisar o Plano Diretor, com contratação e realização de audiências públicas, como determina a Lei Federal 10.257/2001, foi proposta em junho de 2019. Até o momento, porém, devido aos sucessivos recursos promovidos pela prefeitura, a ação civil pública não teve julgamento definitivo, conforme apontou o MPSC.

A ação foi proposta em 14 de junho de 2019, dando prazo de 20 dias para que a prefeitura iniciasse a elaboração do plano. No dia 15 de junho do mesmo ano, a tutela coletiva pleiteada pelo MP foi julgada improcedente em juízo de primeiro grau. O órgão interpôs recurso de apelação e, em 9 de agosto de 2022, obteve decisão favorável do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina para reformar a decisão.

O TJ apontou “evidenciada inércia do Município de Camboriú”, dando prazo de 120 dias para a revisão, sob pena de multa diária por descumprimento.

A prefeitura entrou com embargos de declaração e, em 31 de janeiro de 2023, o recurso foi negado pela 3ª Câmara de Direito Público do TJSC. Na sequência, o município interpôs recurso especial, que não foi admitido.

A prefeitura recorreu novamente para que a ação fosse remetida ao Superior Tribunal de Justiça, o que aconteceu em 4 de setembro de 2023. Assim, segundo o MPSC, o acórdão inicial que determinou a revisão do plano diretor não transitou em julgado. “Até o presente momento não houve o retorno dos autos do STJ e, portanto, o recurso interposto pelo município, contrário à tutela coletiva ajuizada pelo Ministério Público, ainda não foi julgado”, disse o MPSC.

Acatando proposta da prefeitura, a Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina, revogou na semana passada uma lei que impedia a discussão do Plano Diretor durante o período eleitoral.

O projeto de revogação foi enviado no último dia 7 pelo prefeito Fabrício Oliveira (PL) com pedido de urgência na votação. Representantes da sociedade civil e especialistas afirmam que as alterações exigem debate amplo com participação de setores técnicos e produtivos da cidade, além do envolvimento dos moradores.

A cidade, conhecida como “capital dos arranha-céus” por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País, passa por forte pressão imobiliária.

  • A prefeitura alega que a revisão do plano foi discutida com a sociedade e que o envio do projeto à Câmara atende a uma determinação judicial, após ação do Ministério Público de Santa Catarina. Já o MP afirma que a ação civil pública ainda não teve julgamento definitivo.

Um manifesto assinado por 21 representantes da sociedade civil que integram os grupos de discussão do novo plano diretor coloca em dúvida a oportunidade da revisão. “É no mínimo curiosa a intenção, uma vez que já se passaram 7 anos e meio do atual governo sem a priorização do Plano Diretor e agora decide-se empurrá-lo ‘goela abaixo’ nas vésperas das eleições, evidenciando desrespeito à sociedade e à inteligência alheia”, diz o manifesto.

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições) Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú - 31/3/2023

Conforme o colegiado, o processo não avançou por falta de apresentação do diagnóstico socioambiental da cidade para leitura técnica em audiência pública.

“O plano diretor é eminentemente técnico e não temos como avançar numa discussão tão fundamental para a cidade com esse ambiente de paixão que o período eleitoral desperta. A cidade não pode ficar dependente da construção civil. Os bairros reclamam que no último plano diretor apenas o centro foi privilegiado e esse processo de discussão ainda não está maduro”, disse o advogado Rafael Pierozan, representante da OAB no colegiado.

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Aprovação sob protestos

Durante a sessão que aprovou o projeto, manifestantes que ocupavam todo o plenário protestaram com cartazes e palavras de ordem contra a medida. A sessão chegou a ser suspensa e retomada no dia seguinte, quando a proposta do prefeito foi aprovada na quarta-feira, 12.

A cidade é conhecida como 'capital dos arranha-céus' por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições). Uma emenda acrescentada ao projeto, porém, só permite que eventuais mudanças sejam votadas após as eleições de 7 de outubro deste ano.

Para a vereadora Juliana Pavan (PSD), que votou contra a proposta do prefeito, mudanças no Plano Diretor não deveriam ser propostas em período eleitoral numa cidade onde a construção civil é mola mestra da economia.

Para ela, a proposta deveria ser debatida em detalhes com todos os delegados, OAB, lojistas, comitê da bacia hidrográfica do Rio Camboriú, entidades que representam a sociedade, mas as reuniões do Plano Diretor estavam suspensas desde o início do ano – em 2024 foram só duas reuniões.

“Um projeto protocolado no apagar das luzes, sem ouvir a população, sem respeitar os vereadores, não sei se por desespero ou despreparo. Mesmo com a mobilização, infelizmente mais uma vez os moradores de Balneário Camboriú ficarão à margem das decisões”, disse a vereadora, pré-candidata à prefeitura.

Em nota, o presidente da Câmara, David LaBarrica (PRD) disse que a sessão foi suspensa “devido a reiteradas manifestações” que impediam o andamento dos trabalhos legislativos. “Diante da persistência das manifestações, e em conformidade com o Regimento Interno, vi-me obrigado a suspender a sessão”, disse. Segundo ele, a tramitação do projeto também obedeceu o regimento.

O que diz a prefeitura?

A prefeitura de Balneário Camboriú divulgou nota de esclarecimento alegando que as manifestações contrárias à revisão do plano estão na contramão da transparência de todo o processo.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas, envolvendo técnicos da prefeitura e os indicados pela sociedade civil.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Ainda segundo a nota, uma decisão judicial em ação civil pública movida pelo Ministério Público de Santa Catarina obriga o município a promover a revisão do plano diretor.

O envio do projeto de lei, a fim de revogar a lei que proíbe a tramitação de qualquer projeto que visa alterações no plano diretor em ano de pleito eleitoral vem ao encontro do cumprimento da decisão judicial. Importante destacar que a votação final do Plano Diretor pela Câmara ocorrerá apenas após as eleições, disse o município.

Ao Estadão, o prefeito disse que a tentativa de barrar o avanço das discussões do Plano Diretor é claramente eleitoreira.

“A proposta que enviei à Câmara na semana passada partiu dos delegados que discutem a proposta há meses. Se o município interrompe o processo de revisão e não permite mais as discussões, estaremos descumprindo uma determinação judicial. Balneário Camboriú precisa seguir seu ritmo de crescimento e não pode ser freada por críticas com motivações eleitoreiras. É fundamental que continuemos a trabalhar pelo desenvolvimento ordenado e sustentável de nossa cidade, respeitando a participação da sociedade civil e cumprindo as decisões judiciais que nos orientam”, disse.

O que diz o Ministério Público?

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina informou que a ação movida para obrigar o município de Balneário Camboriú a revisar o Plano Diretor, com contratação e realização de audiências públicas, como determina a Lei Federal 10.257/2001, foi proposta em junho de 2019. Até o momento, porém, devido aos sucessivos recursos promovidos pela prefeitura, a ação civil pública não teve julgamento definitivo, conforme apontou o MPSC.

A ação foi proposta em 14 de junho de 2019, dando prazo de 20 dias para que a prefeitura iniciasse a elaboração do plano. No dia 15 de junho do mesmo ano, a tutela coletiva pleiteada pelo MP foi julgada improcedente em juízo de primeiro grau. O órgão interpôs recurso de apelação e, em 9 de agosto de 2022, obteve decisão favorável do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina para reformar a decisão.

O TJ apontou “evidenciada inércia do Município de Camboriú”, dando prazo de 120 dias para a revisão, sob pena de multa diária por descumprimento.

A prefeitura entrou com embargos de declaração e, em 31 de janeiro de 2023, o recurso foi negado pela 3ª Câmara de Direito Público do TJSC. Na sequência, o município interpôs recurso especial, que não foi admitido.

A prefeitura recorreu novamente para que a ação fosse remetida ao Superior Tribunal de Justiça, o que aconteceu em 4 de setembro de 2023. Assim, segundo o MPSC, o acórdão inicial que determinou a revisão do plano diretor não transitou em julgado. “Até o presente momento não houve o retorno dos autos do STJ e, portanto, o recurso interposto pelo município, contrário à tutela coletiva ajuizada pelo Ministério Público, ainda não foi julgado”, disse o MPSC.

Acatando proposta da prefeitura, a Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina, revogou na semana passada uma lei que impedia a discussão do Plano Diretor durante o período eleitoral.

O projeto de revogação foi enviado no último dia 7 pelo prefeito Fabrício Oliveira (PL) com pedido de urgência na votação. Representantes da sociedade civil e especialistas afirmam que as alterações exigem debate amplo com participação de setores técnicos e produtivos da cidade, além do envolvimento dos moradores.

A cidade, conhecida como “capital dos arranha-céus” por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País, passa por forte pressão imobiliária.

  • A prefeitura alega que a revisão do plano foi discutida com a sociedade e que o envio do projeto à Câmara atende a uma determinação judicial, após ação do Ministério Público de Santa Catarina. Já o MP afirma que a ação civil pública ainda não teve julgamento definitivo.

Um manifesto assinado por 21 representantes da sociedade civil que integram os grupos de discussão do novo plano diretor coloca em dúvida a oportunidade da revisão. “É no mínimo curiosa a intenção, uma vez que já se passaram 7 anos e meio do atual governo sem a priorização do Plano Diretor e agora decide-se empurrá-lo ‘goela abaixo’ nas vésperas das eleições, evidenciando desrespeito à sociedade e à inteligência alheia”, diz o manifesto.

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições) Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú - 31/3/2023

Conforme o colegiado, o processo não avançou por falta de apresentação do diagnóstico socioambiental da cidade para leitura técnica em audiência pública.

“O plano diretor é eminentemente técnico e não temos como avançar numa discussão tão fundamental para a cidade com esse ambiente de paixão que o período eleitoral desperta. A cidade não pode ficar dependente da construção civil. Os bairros reclamam que no último plano diretor apenas o centro foi privilegiado e esse processo de discussão ainda não está maduro”, disse o advogado Rafael Pierozan, representante da OAB no colegiado.

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Aprovação sob protestos

Durante a sessão que aprovou o projeto, manifestantes que ocupavam todo o plenário protestaram com cartazes e palavras de ordem contra a medida. A sessão chegou a ser suspensa e retomada no dia seguinte, quando a proposta do prefeito foi aprovada na quarta-feira, 12.

A cidade é conhecida como 'capital dos arranha-céus' por ter alguns dos prédios mais altos e caros do País Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Com a mudança na lei, está liberada a tramitação e discussão do plano diretor nos períodos eleitorais (180 dias antes das eleições). Uma emenda acrescentada ao projeto, porém, só permite que eventuais mudanças sejam votadas após as eleições de 7 de outubro deste ano.

Para a vereadora Juliana Pavan (PSD), que votou contra a proposta do prefeito, mudanças no Plano Diretor não deveriam ser propostas em período eleitoral numa cidade onde a construção civil é mola mestra da economia.

Para ela, a proposta deveria ser debatida em detalhes com todos os delegados, OAB, lojistas, comitê da bacia hidrográfica do Rio Camboriú, entidades que representam a sociedade, mas as reuniões do Plano Diretor estavam suspensas desde o início do ano – em 2024 foram só duas reuniões.

“Um projeto protocolado no apagar das luzes, sem ouvir a população, sem respeitar os vereadores, não sei se por desespero ou despreparo. Mesmo com a mobilização, infelizmente mais uma vez os moradores de Balneário Camboriú ficarão à margem das decisões”, disse a vereadora, pré-candidata à prefeitura.

Em nota, o presidente da Câmara, David LaBarrica (PRD) disse que a sessão foi suspensa “devido a reiteradas manifestações” que impediam o andamento dos trabalhos legislativos. “Diante da persistência das manifestações, e em conformidade com o Regimento Interno, vi-me obrigado a suspender a sessão”, disse. Segundo ele, a tramitação do projeto também obedeceu o regimento.

O que diz a prefeitura?

A prefeitura de Balneário Camboriú divulgou nota de esclarecimento alegando que as manifestações contrárias à revisão do plano estão na contramão da transparência de todo o processo.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas, envolvendo técnicos da prefeitura e os indicados pela sociedade civil.

Segundo o município, foram realizadas quatro reuniões nos bairros, 33 reuniões públicas na Câmara de Vereadores e outras reuniões com as câmaras técnicas Foto: Rafael Mendes/Prefeitura de Balneário Camboriú

Ainda segundo a nota, uma decisão judicial em ação civil pública movida pelo Ministério Público de Santa Catarina obriga o município a promover a revisão do plano diretor.

O envio do projeto de lei, a fim de revogar a lei que proíbe a tramitação de qualquer projeto que visa alterações no plano diretor em ano de pleito eleitoral vem ao encontro do cumprimento da decisão judicial. Importante destacar que a votação final do Plano Diretor pela Câmara ocorrerá apenas após as eleições, disse o município.

Ao Estadão, o prefeito disse que a tentativa de barrar o avanço das discussões do Plano Diretor é claramente eleitoreira.

“A proposta que enviei à Câmara na semana passada partiu dos delegados que discutem a proposta há meses. Se o município interrompe o processo de revisão e não permite mais as discussões, estaremos descumprindo uma determinação judicial. Balneário Camboriú precisa seguir seu ritmo de crescimento e não pode ser freada por críticas com motivações eleitoreiras. É fundamental que continuemos a trabalhar pelo desenvolvimento ordenado e sustentável de nossa cidade, respeitando a participação da sociedade civil e cumprindo as decisões judiciais que nos orientam”, disse.

O que diz o Ministério Público?

Em nota, o Ministério Público de Santa Catarina informou que a ação movida para obrigar o município de Balneário Camboriú a revisar o Plano Diretor, com contratação e realização de audiências públicas, como determina a Lei Federal 10.257/2001, foi proposta em junho de 2019. Até o momento, porém, devido aos sucessivos recursos promovidos pela prefeitura, a ação civil pública não teve julgamento definitivo, conforme apontou o MPSC.

A ação foi proposta em 14 de junho de 2019, dando prazo de 20 dias para que a prefeitura iniciasse a elaboração do plano. No dia 15 de junho do mesmo ano, a tutela coletiva pleiteada pelo MP foi julgada improcedente em juízo de primeiro grau. O órgão interpôs recurso de apelação e, em 9 de agosto de 2022, obteve decisão favorável do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina para reformar a decisão.

O TJ apontou “evidenciada inércia do Município de Camboriú”, dando prazo de 120 dias para a revisão, sob pena de multa diária por descumprimento.

A prefeitura entrou com embargos de declaração e, em 31 de janeiro de 2023, o recurso foi negado pela 3ª Câmara de Direito Público do TJSC. Na sequência, o município interpôs recurso especial, que não foi admitido.

A prefeitura recorreu novamente para que a ação fosse remetida ao Superior Tribunal de Justiça, o que aconteceu em 4 de setembro de 2023. Assim, segundo o MPSC, o acórdão inicial que determinou a revisão do plano diretor não transitou em julgado. “Até o presente momento não houve o retorno dos autos do STJ e, portanto, o recurso interposto pelo município, contrário à tutela coletiva ajuizada pelo Ministério Público, ainda não foi julgado”, disse o MPSC.

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