Por que produção de ouro no Brasil despencou e o que isso tem a ver com crise do clima?


Dados são de estudo do Instituto Escolhas sobre o impacto das novas regras no comércio do metal; especialistas alertam que vendas podem estar sendo escoadas por outros países

Por Roberta Jansen
Atualização:

A produção de ouro no Brasil despencou 84% nos últimos dois anos após medidas para combater a extração e o comércio ilegal do metal. A conclusão é de estudo lançado neste mês pelo Instituto Escolhas. As estimativas foram calculadas com base em dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do portal Comex Stat, o site oficial para as estatísticas de comércio exterior do Brasil.

Duas medidas tiveram efeitos expressivos no mercado:

  • a obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas nas transações;
  • o fim do pressuposto da boa-fé, que presumia a legalidade do metal por parte do vendedor, mesmo que não houvesse comprovação sobre a origem da extração
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Garimpo ilegal tem sido um dos motores da destruição na Terra Indígena Yanomami, em Roraima
Garimpo ilegal tem sido um dos motores da destruição na Terra Indígena Yanomami, em Roraima Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Especialistas alertam, no entanto, que o fato de o comércio de ouro ilegal ter diminuído não significa necessariamente que o garimpo ilegal não esteja mais ocorrendo.

Estudos feitos a partir de imagens de satélite, por exemplo, mostram que a redução pode não ter sido tão significativa, apenas que o ouro deixou de ser vendido no Brasil e está sendo comercializado em países fronteiriços, onde a lei é menos rígida.

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O combate à mineração irregular é crucial na proteção da Amazônia, onde o garimpo chegou a cerca de 80 mil localidades nas últimas quatro décadas. A preservação da floresta é fundamental para frear a crise climática e o desmate é a principal fonte de emissões de gases estufa no Brasil.

Entre os efeitos da mineração irregular, estão contaminação de rios com mercúrio, destruição das roças de comunidades locais e fuga dos animais que servem de alimento. O contato com homens brancos ainda eleva a transmissão de doenças que podem ser fatais em indígenas, como gripe e covid-19.

A rua Araújo Filho, na região central de Boa Vista, capital de Roraima, funciona como um grande mercado de ouro a céu aberto; governo intensificou a fiscalização. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Em 2022, os garimpos registraram produção de 31 toneladas de ouro. No ano seguinte, quando as novas regras entraram em vigor, o total foi de 17 toneladas, queda de 45%, equivalente a R$ 4,3 bilhões.

Entre janeiro e julho deste ano, a produção de ouro já é 84% menor do que a registrada no mesmo período de 2022. Mais de 70% da queda na produção dos garimpos em 2023 foi registrada no Pará. Nos primeiros sete meses de 2024, o recuo da produção garimpeira no Estado já é de 98%.

Outro ponto crítico de exploração de ouro no bioma é a Terra Indígena Yanomami, maior reserva do tipo no País, em Roraima. Mesmo após ação do governo federal, a área viu o retorno do garimpo, que exerce domínio armado e atrapalha a ação de órgãos públicos, como Funai e agentes de saúde.

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Ação do governo na Amazônia Legal destrói instalações usadas pelo garimpo ilegal. Foto: Divulgação/Funai

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente respondeu que nota técnica da pasta apontava a redução. “A área de mineração entre janeiro e março de 2024 somou somente 7km2, o menor valor para o período desde 2017.” A é atribuída ao Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, ações emergenciais e decisões do Judiciário, segundo o texto.

O efeito das medidas adotadas também foi sentido nas exportações brasileiras de ouro. Em 2023, elas diminuíram 29% e, entre janeiro e julho, o volume exportado foi 35% menor do que o registrado no mesmo período em 2022. No ano passado, os Estados que registraram as maiores quedas nas exportações foram São Paulo (que escoa a produção dos garimpos da Amazônia) e Mato Grosso.

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A queda das exportações foi registrada, principalmente, nas vendas para Índia, Emirados Árabes Unidos e Bélgica que, juntos, deixaram de comprar 18 toneladas de ouro de São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

“Esse absurdo (presunção da boa-fé) foi um jabuti colocado pelo Congresso Nacional numa medida provisória durante o governo Dilma (Rousseff, em 2013)”, afirmou o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, que apoiou a ação para a derrubada dessa regra junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Com a adoção de medidas de controle onde, sabidamente, há indícios de ilegalidade, o mercado encolheu mesmo com o alto preço do ouro. Isso significa que portas foram fechadas para o ouro ilegal”, diz a coordenadora da pesquisa, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.

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“Se, antes, o metal era facilmente ‘esquentado’ e exportado como legal, agora a história mudou, com o aumento dos custos e dos riscos das operações ilícitas”, continua.

Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, afirma que a legislação mais rígida ajuda, mas não é o suficiente. Segundo ela, o fato de as exportações terem caído não significa necessariamente que os garimpos ilegais em terras indígenas e unidades de conservação diminuíram ou pelo menos não recuaram tanto quanto os números parecem indicar.

“Outra forma de fazer essa análise é por meio de imagens de satélite”, afirma. Segundo ela, outras avaliações já feitas, como a da ONG Greenpeace, não corroboram a redução nesse volume.

“Uma explicação possível é que o ouro deixou de ser inserido no mercado legal no Brasil, porque agora temos legislação mais rígida, mas está sendo ‘esquentado’ em países fronteiriços sem regulação tão forte, como Venezuela, Peru e Colômbia.”

Segundo a pesquisadora do Instituto Escolhas, as medidas são apenas os primeiros passos. “Combater a extração ilegal deve ser prioridade porque a prática provoca danos ambientais e sociais enormes e de difícil reversão, além de estabelecer concorrência desleal”, ressalta.

“O garimpo ilegal está ligado ao narcotráfico, à lavagem de dinheiro, à prostituição, à contaminação dos rios”, afirma Jungmann. “Garimpo ilegal é caso de polícia, não tem nada a ver conosco. Somos parte da economia do País, não parte de uma economia criminosa.”

Como combater o garimpo ilegal?

Entre as novas medidas a serem adotadas, defende Larissa, estão a obrigatoriedade de mudanças nas operações garimpeiras, ampliando obrigações sociais e ambientais.

O estudo sugere, por exemplo, que as operações garimpeiras se tornem regimes de concessão de lavra quando atingirem determinado volume. “Com uma estruturação empresarial, seria possível dimensionar e lidar melhor com os impactos da atividade”, aponta.

Em nota, a Agência Nacional de Mineração (ANM) diz que o regime de permissão de lavra garimpeira (PLG), em sua concepção técnica e jurídica, “atende à pequena mineração, com menor nível de burocracias se comparado aos demais mecanismos existentes”, mas “respeito a legislação mineral e ambiental”.

O órgão federal diz ainda que tem exigido, desde 2021, um projeto de solução técnica para os garimpos, com identificação dos métodos de lavra, relação de equipamentos, escalas de produção e outros itens.

Além disso, ANM informa que está elaborando novas regras para os garimpos, que preveem a delimitação de até 50 hectares para pessoas físicas e firmas individuais, georreferenciamento, aproveitamento de rejeitos, balanço do uso de mercúrio, entre outras exigências.

Procurado para comentar o estudo, o Banco Central não se manifestou.

A produção de ouro no Brasil despencou 84% nos últimos dois anos após medidas para combater a extração e o comércio ilegal do metal. A conclusão é de estudo lançado neste mês pelo Instituto Escolhas. As estimativas foram calculadas com base em dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do portal Comex Stat, o site oficial para as estatísticas de comércio exterior do Brasil.

Duas medidas tiveram efeitos expressivos no mercado:

  • a obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas nas transações;
  • o fim do pressuposto da boa-fé, que presumia a legalidade do metal por parte do vendedor, mesmo que não houvesse comprovação sobre a origem da extração
Garimpo ilegal tem sido um dos motores da destruição na Terra Indígena Yanomami, em Roraima Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Especialistas alertam, no entanto, que o fato de o comércio de ouro ilegal ter diminuído não significa necessariamente que o garimpo ilegal não esteja mais ocorrendo.

Estudos feitos a partir de imagens de satélite, por exemplo, mostram que a redução pode não ter sido tão significativa, apenas que o ouro deixou de ser vendido no Brasil e está sendo comercializado em países fronteiriços, onde a lei é menos rígida.

O combate à mineração irregular é crucial na proteção da Amazônia, onde o garimpo chegou a cerca de 80 mil localidades nas últimas quatro décadas. A preservação da floresta é fundamental para frear a crise climática e o desmate é a principal fonte de emissões de gases estufa no Brasil.

Entre os efeitos da mineração irregular, estão contaminação de rios com mercúrio, destruição das roças de comunidades locais e fuga dos animais que servem de alimento. O contato com homens brancos ainda eleva a transmissão de doenças que podem ser fatais em indígenas, como gripe e covid-19.

A rua Araújo Filho, na região central de Boa Vista, capital de Roraima, funciona como um grande mercado de ouro a céu aberto; governo intensificou a fiscalização. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Em 2022, os garimpos registraram produção de 31 toneladas de ouro. No ano seguinte, quando as novas regras entraram em vigor, o total foi de 17 toneladas, queda de 45%, equivalente a R$ 4,3 bilhões.

Entre janeiro e julho deste ano, a produção de ouro já é 84% menor do que a registrada no mesmo período de 2022. Mais de 70% da queda na produção dos garimpos em 2023 foi registrada no Pará. Nos primeiros sete meses de 2024, o recuo da produção garimpeira no Estado já é de 98%.

Outro ponto crítico de exploração de ouro no bioma é a Terra Indígena Yanomami, maior reserva do tipo no País, em Roraima. Mesmo após ação do governo federal, a área viu o retorno do garimpo, que exerce domínio armado e atrapalha a ação de órgãos públicos, como Funai e agentes de saúde.

Ação do governo na Amazônia Legal destrói instalações usadas pelo garimpo ilegal. Foto: Divulgação/Funai

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente respondeu que nota técnica da pasta apontava a redução. “A área de mineração entre janeiro e março de 2024 somou somente 7km2, o menor valor para o período desde 2017.” A é atribuída ao Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, ações emergenciais e decisões do Judiciário, segundo o texto.

O efeito das medidas adotadas também foi sentido nas exportações brasileiras de ouro. Em 2023, elas diminuíram 29% e, entre janeiro e julho, o volume exportado foi 35% menor do que o registrado no mesmo período em 2022. No ano passado, os Estados que registraram as maiores quedas nas exportações foram São Paulo (que escoa a produção dos garimpos da Amazônia) e Mato Grosso.

A queda das exportações foi registrada, principalmente, nas vendas para Índia, Emirados Árabes Unidos e Bélgica que, juntos, deixaram de comprar 18 toneladas de ouro de São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

“Esse absurdo (presunção da boa-fé) foi um jabuti colocado pelo Congresso Nacional numa medida provisória durante o governo Dilma (Rousseff, em 2013)”, afirmou o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, que apoiou a ação para a derrubada dessa regra junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Com a adoção de medidas de controle onde, sabidamente, há indícios de ilegalidade, o mercado encolheu mesmo com o alto preço do ouro. Isso significa que portas foram fechadas para o ouro ilegal”, diz a coordenadora da pesquisa, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.

“Se, antes, o metal era facilmente ‘esquentado’ e exportado como legal, agora a história mudou, com o aumento dos custos e dos riscos das operações ilícitas”, continua.

Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, afirma que a legislação mais rígida ajuda, mas não é o suficiente. Segundo ela, o fato de as exportações terem caído não significa necessariamente que os garimpos ilegais em terras indígenas e unidades de conservação diminuíram ou pelo menos não recuaram tanto quanto os números parecem indicar.

“Outra forma de fazer essa análise é por meio de imagens de satélite”, afirma. Segundo ela, outras avaliações já feitas, como a da ONG Greenpeace, não corroboram a redução nesse volume.

“Uma explicação possível é que o ouro deixou de ser inserido no mercado legal no Brasil, porque agora temos legislação mais rígida, mas está sendo ‘esquentado’ em países fronteiriços sem regulação tão forte, como Venezuela, Peru e Colômbia.”

Segundo a pesquisadora do Instituto Escolhas, as medidas são apenas os primeiros passos. “Combater a extração ilegal deve ser prioridade porque a prática provoca danos ambientais e sociais enormes e de difícil reversão, além de estabelecer concorrência desleal”, ressalta.

“O garimpo ilegal está ligado ao narcotráfico, à lavagem de dinheiro, à prostituição, à contaminação dos rios”, afirma Jungmann. “Garimpo ilegal é caso de polícia, não tem nada a ver conosco. Somos parte da economia do País, não parte de uma economia criminosa.”

Como combater o garimpo ilegal?

Entre as novas medidas a serem adotadas, defende Larissa, estão a obrigatoriedade de mudanças nas operações garimpeiras, ampliando obrigações sociais e ambientais.

O estudo sugere, por exemplo, que as operações garimpeiras se tornem regimes de concessão de lavra quando atingirem determinado volume. “Com uma estruturação empresarial, seria possível dimensionar e lidar melhor com os impactos da atividade”, aponta.

Em nota, a Agência Nacional de Mineração (ANM) diz que o regime de permissão de lavra garimpeira (PLG), em sua concepção técnica e jurídica, “atende à pequena mineração, com menor nível de burocracias se comparado aos demais mecanismos existentes”, mas “respeito a legislação mineral e ambiental”.

O órgão federal diz ainda que tem exigido, desde 2021, um projeto de solução técnica para os garimpos, com identificação dos métodos de lavra, relação de equipamentos, escalas de produção e outros itens.

Além disso, ANM informa que está elaborando novas regras para os garimpos, que preveem a delimitação de até 50 hectares para pessoas físicas e firmas individuais, georreferenciamento, aproveitamento de rejeitos, balanço do uso de mercúrio, entre outras exigências.

Procurado para comentar o estudo, o Banco Central não se manifestou.

A produção de ouro no Brasil despencou 84% nos últimos dois anos após medidas para combater a extração e o comércio ilegal do metal. A conclusão é de estudo lançado neste mês pelo Instituto Escolhas. As estimativas foram calculadas com base em dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) e do portal Comex Stat, o site oficial para as estatísticas de comércio exterior do Brasil.

Duas medidas tiveram efeitos expressivos no mercado:

  • a obrigatoriedade de notas fiscais eletrônicas nas transações;
  • o fim do pressuposto da boa-fé, que presumia a legalidade do metal por parte do vendedor, mesmo que não houvesse comprovação sobre a origem da extração
Garimpo ilegal tem sido um dos motores da destruição na Terra Indígena Yanomami, em Roraima Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Especialistas alertam, no entanto, que o fato de o comércio de ouro ilegal ter diminuído não significa necessariamente que o garimpo ilegal não esteja mais ocorrendo.

Estudos feitos a partir de imagens de satélite, por exemplo, mostram que a redução pode não ter sido tão significativa, apenas que o ouro deixou de ser vendido no Brasil e está sendo comercializado em países fronteiriços, onde a lei é menos rígida.

O combate à mineração irregular é crucial na proteção da Amazônia, onde o garimpo chegou a cerca de 80 mil localidades nas últimas quatro décadas. A preservação da floresta é fundamental para frear a crise climática e o desmate é a principal fonte de emissões de gases estufa no Brasil.

Entre os efeitos da mineração irregular, estão contaminação de rios com mercúrio, destruição das roças de comunidades locais e fuga dos animais que servem de alimento. O contato com homens brancos ainda eleva a transmissão de doenças que podem ser fatais em indígenas, como gripe e covid-19.

A rua Araújo Filho, na região central de Boa Vista, capital de Roraima, funciona como um grande mercado de ouro a céu aberto; governo intensificou a fiscalização. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Em 2022, os garimpos registraram produção de 31 toneladas de ouro. No ano seguinte, quando as novas regras entraram em vigor, o total foi de 17 toneladas, queda de 45%, equivalente a R$ 4,3 bilhões.

Entre janeiro e julho deste ano, a produção de ouro já é 84% menor do que a registrada no mesmo período de 2022. Mais de 70% da queda na produção dos garimpos em 2023 foi registrada no Pará. Nos primeiros sete meses de 2024, o recuo da produção garimpeira no Estado já é de 98%.

Outro ponto crítico de exploração de ouro no bioma é a Terra Indígena Yanomami, maior reserva do tipo no País, em Roraima. Mesmo após ação do governo federal, a área viu o retorno do garimpo, que exerce domínio armado e atrapalha a ação de órgãos públicos, como Funai e agentes de saúde.

Ação do governo na Amazônia Legal destrói instalações usadas pelo garimpo ilegal. Foto: Divulgação/Funai

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente respondeu que nota técnica da pasta apontava a redução. “A área de mineração entre janeiro e março de 2024 somou somente 7km2, o menor valor para o período desde 2017.” A é atribuída ao Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, ações emergenciais e decisões do Judiciário, segundo o texto.

O efeito das medidas adotadas também foi sentido nas exportações brasileiras de ouro. Em 2023, elas diminuíram 29% e, entre janeiro e julho, o volume exportado foi 35% menor do que o registrado no mesmo período em 2022. No ano passado, os Estados que registraram as maiores quedas nas exportações foram São Paulo (que escoa a produção dos garimpos da Amazônia) e Mato Grosso.

A queda das exportações foi registrada, principalmente, nas vendas para Índia, Emirados Árabes Unidos e Bélgica que, juntos, deixaram de comprar 18 toneladas de ouro de São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

“Esse absurdo (presunção da boa-fé) foi um jabuti colocado pelo Congresso Nacional numa medida provisória durante o governo Dilma (Rousseff, em 2013)”, afirmou o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, que apoiou a ação para a derrubada dessa regra junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Com a adoção de medidas de controle onde, sabidamente, há indícios de ilegalidade, o mercado encolheu mesmo com o alto preço do ouro. Isso significa que portas foram fechadas para o ouro ilegal”, diz a coordenadora da pesquisa, Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas.

“Se, antes, o metal era facilmente ‘esquentado’ e exportado como legal, agora a história mudou, com o aumento dos custos e dos riscos das operações ilícitas”, continua.

Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé, afirma que a legislação mais rígida ajuda, mas não é o suficiente. Segundo ela, o fato de as exportações terem caído não significa necessariamente que os garimpos ilegais em terras indígenas e unidades de conservação diminuíram ou pelo menos não recuaram tanto quanto os números parecem indicar.

“Outra forma de fazer essa análise é por meio de imagens de satélite”, afirma. Segundo ela, outras avaliações já feitas, como a da ONG Greenpeace, não corroboram a redução nesse volume.

“Uma explicação possível é que o ouro deixou de ser inserido no mercado legal no Brasil, porque agora temos legislação mais rígida, mas está sendo ‘esquentado’ em países fronteiriços sem regulação tão forte, como Venezuela, Peru e Colômbia.”

Segundo a pesquisadora do Instituto Escolhas, as medidas são apenas os primeiros passos. “Combater a extração ilegal deve ser prioridade porque a prática provoca danos ambientais e sociais enormes e de difícil reversão, além de estabelecer concorrência desleal”, ressalta.

“O garimpo ilegal está ligado ao narcotráfico, à lavagem de dinheiro, à prostituição, à contaminação dos rios”, afirma Jungmann. “Garimpo ilegal é caso de polícia, não tem nada a ver conosco. Somos parte da economia do País, não parte de uma economia criminosa.”

Como combater o garimpo ilegal?

Entre as novas medidas a serem adotadas, defende Larissa, estão a obrigatoriedade de mudanças nas operações garimpeiras, ampliando obrigações sociais e ambientais.

O estudo sugere, por exemplo, que as operações garimpeiras se tornem regimes de concessão de lavra quando atingirem determinado volume. “Com uma estruturação empresarial, seria possível dimensionar e lidar melhor com os impactos da atividade”, aponta.

Em nota, a Agência Nacional de Mineração (ANM) diz que o regime de permissão de lavra garimpeira (PLG), em sua concepção técnica e jurídica, “atende à pequena mineração, com menor nível de burocracias se comparado aos demais mecanismos existentes”, mas “respeito a legislação mineral e ambiental”.

O órgão federal diz ainda que tem exigido, desde 2021, um projeto de solução técnica para os garimpos, com identificação dos métodos de lavra, relação de equipamentos, escalas de produção e outros itens.

Além disso, ANM informa que está elaborando novas regras para os garimpos, que preveem a delimitação de até 50 hectares para pessoas físicas e firmas individuais, georreferenciamento, aproveitamento de rejeitos, balanço do uso de mercúrio, entre outras exigências.

Procurado para comentar o estudo, o Banco Central não se manifestou.