A enfermeira Carmen Segovia participou da fundação, há 20 anos, da Organização Nacional de Transplantes (ONT), instituição responsável pela revolução espanhola nessa área. Hoje, o país tem a mais alta taxa de transplantes do mundo: cerca de 35 doações anuais por milhão de habitantes. Atualmente, Carmen trabalha na coordenação nacional da entidade. Na semana passada, ela esteve em São Paulo, a convite da Secretaria de Estado da Saúde, para um curso sobre comunicação de más notícias no contexto hospitalar.Como funciona o modelo de transplantes na Espanha?É descentralizado. Está baseado em três níveis. Há uma coordenação nacional, outra regional e, por fim, um coordenador - ou uma equipe de coordenação - em cada hospital. Esse último nível é um dos pilares do modelo espanhol. O coordenador é alguém escolhido pela direção do hospital, entre os médicos e enfermeiros da unidade. Seu objetivo prioritário é detectar doadores. Outro pilar é a formação dos profissionais: para que saibam identificar potenciais doadores e para conversar com a família enlutada, com os formadores de opinião. Há vários fatores que contribuem para o sucesso.Outros países implementam o mesmo modelo?Não. Alguns lugares estão em processo: Argentina, Uruguai, Portugal, Cuba, Toscana (na Itália) e também o Brasil. É muito difícil implementar o modelo da mesma forma. São necessárias adaptações.Qual é a ideia mestra?Profissionalização. A doação de órgãos deve ser um processo como qualquer outro no hospital, com dinheiro previsto no orçamento para os gastos do procedimento. Os profissionais devem ser qualificados e convém criar mecanismos de análise de desempenho.Quais os projetos para o futuro?Queremos chegar a uma taxa de 40 doadores anuais por milhão de habitantes.