O projeto de minério de ferro da Vale Simandou, na Guiné, perdeu prioridade na carteira de investimentos da mineradora para Serra Sul, outro gigantesco projeto de ferro, localizado no Pará, disse uma fonte com conhecimento do assunto nesta terça-feira. A maior produtora de minério de ferro do mundo deve redirecionar seus investimentos de maneira a priorizar o projeto de 90 milhões de toneladas anuais no Pará, localizado em região onde já explora uma das maiores reservas do produto do planeta, disse a fonte à Reuters. Segundo a fonte, que pediu para não ser identificada, Simandou era mais atrativo para a empresa antes de a Vale conseguir a licença necessária para expandir a exploração em Carajás, neste ano, após uma década do pedido de licenciamento. "Diante da conjuntura, precisa haver priorização dos projetos ... A prioridade passou a ser Serra Sul", disse. O vice-presidente de Mineração e Siderurgia para América Latina do Goldman Sachs, Marcelo Aguiar, também afirmou, mais cedo, que o problemático projeto na Guiné perdeu a urgência que tinha na carteira de ativos da Vale depois que a mineradora conseguiu a tão aguardada licença para desenvolver Serra Sul. "Acredito ser difícil para a Vale investir ao mesmo tempo nos dois projetos, pois poderia exigir um desembolso de capital muito alto da empresa", disse ele. Em 2010, a maior produtora de minério de ferro do mundo fez acordo com a BSG Resources para adquirir cerca de um quarto das reservas de uma das maiores áreas de exploração de ferro do mundo. A Vale já desembolsou 500 milhões de dólares para adquirir fatia no projeto Simandou; ainda faltam 2 bilhões de dólares para pagar ao sócio. O acordo foi realizado após a Vale tentar por quase uma década aval das autoridades brasileiras para levar adiante Serra Sul, projeto em Carajás com capacidade de 90 milhões de toneladas, o maior da história da empresa. Assim como outras mineradoras, a Vale passa por um momento de cautela, diante de volatilidade do preço do minério e de dúvidas acerca da demanda pelo produto. A Vale anunciou que deve adiar alguns de seus projetos, como Kronau, de potássio no Canadá. "O investimento da Vale em Simandou também parece ter perdido um pouco de urgência com a obtenção da licença preliminar pra Serra Sul", afirmou Aguiar. O projeto no país africano prevê o desenvolvimento da mina de Zogotá e de usina de processamento no sul de Simandou, com capacidade de 15 milhões de toneladas anuais e start-up previsto para o primeiro semestre deste ano. A Vale diz que aguarda definições políticas na Guiné para levar Simandou adiante. O governo de Guiné aprovou recentemente um novo código de mineração que eleva a participação do Estado em projetos do setor de 15 por cento para 35 por cento. O governo também disse que planeja mudar uma série de cláusulas fiscais em seu código de mineração após discussões com empresas e investidores. Em abril do ano passado, o presidente da Guiné, Alpha Conde, cancelou o projeto de uma estrada de ferro acordado inicialmente com a Vale e disse que abriria o contrato para ofertas mais competitivas. NEGOCIAÇÕES COM BTG O governo da Guiné disse que estava consultando o banco BTG Pactual e B & A, uma empresa formada pelo banco e o ex-presidente da Vale Roger Agnelli, para o financiamento da linha férrea que ligaria Simandou ao porto. A presidência do país africano disse ainda que as negociações não representam uma ameaça para os blocos de Simandou operados pela joint venture entre BSG e Vale. A Vale tinha oferecido pagar 1 bilhão de dólares para a reconstrução de uma estrada de ferro de 640 quilômetros, conectando a cidade de Kankan, no interior, à capital costeira Conacri. A aproximação entre o governo da Guiné com o BTG foi mal vista pelo sócio da Vale, que teria ameaçado de processar o banco. O governo da Guiné respondeu que a ameaça de processar o banco de investimentos BTG Pactual por supostas negociações com o governo do país africano foi considerada insultuosa, fantástica e contraditória. "As alegações são ao mesmo tempo um insulto, fantástico, e contraditórias", disse o ministro de Minas Mohamed Lamine Fofana, em um e-mail enviado à Reuters pela Presidência da Guiné. "As negociações em curso entre o Estado e os parceiros potenciais estão acontecendo de uma forma perfeitamente legal, aberta e transparente", disse ele. (Reportagem de Sabrina Lorenzi, no Rio de Janeiro, e Saliou Samb, em Conakry)