Qual é o pó?


Colunista comenta dicas sobre o que fazer com as cinzas de entes queridos.

Por Ivan Lessa

Noel Rosa não queria choro nem vela. Noel queria uma camisa amarela. Gravada com o nome dela. Estava certo o grande compositor. Afinal de contas, pensava em ser, como foi, enterrado. Ainda não se falava em cremação em 1937, quando Noel bateu com as dez, para ficar numa expressão que o próprio aprovaria. Não tenho idéia de quando se começou a cremar gente no Brasil. Coisas do progresso, por certo, feito aquela história do "Alô, boy! Alô, Johnny!", para citar mais uma vez o esplêndido Noel, que, quanto mais lembrado, melhor. Tá me cheirando coisa da Redentora de 64? Quase boto a mão no crematório. De qualquer forma, a moda pegou. Como bossa nova e multiplex. Deve durar mais que um e outro. Afinal, reproduzimo-nos a passos gigantes e, no mesmo ritmo, vamos deixando este vale de lágrimas. Sejamos brutalmente francos: não cabem esses defuntos todos nos cemitérios de São João Batista e do Caju, para ficar só no Rio, que deste eu manjo. Há que, como nos tempos do bonde, ceder o lugar para os mais velhos. Digo, os mais mortos. Com algum choro e o calor de um zilhão de velas, os brasileiros vão saindo na horizontal para a boca do forno. Aquela fumacinha que o distinto distingue ao longe? Pois não. Trata-se do Orípedes. Ou da Rudiméia. Não, não é sinal de chuva. Uma contribuição sentida à poluição, talvez. Para ficar em território sambista: agora é cinza, tudo acabado e nada mais. Vocês aí, eu aqui. Que arderei numa, e para, uma cidade já coberta de nuvens, fog e, como é prática geral, poluição também. Faca certeira, sim; bala perdida, não. Vamos ao X do problema, como Noel foi. O que fazer das cinzas? Do marido, da mulher, do papai, da mamãe, dos meninos esfaqueados que pediram o boné, ou o hood, esta semana? Uma sociedade deste país onde proliferam as sociedades adianta alguns dados relevantes. Segundo a Sociedade de Cremação da Grã-Bretanha, 72% das pessoas que morreram no Reino Unido em 2006 foram cremadas. Em 1960, quando os até ainda pouco vivos de então revertiam ao locum tuum lá deles, o número perfazia apenas 35%. Deve ter sido o governo do Marechal de Ferro, a Sra. Margaret Thatcher, que contribuiu para a pulverização incineratória das camadas ineficientes da população. A distinta privatizou, desregulamentou, desindicalizou, pintou seu sete com quem não podia se defender. Foi fogo. Literalmente. Muito fogo. Alto, intenso. Nem tudo na vida, no entanto, é solução e resolução. As pendências fazem parte do regime diário dos vivos. Ficou, meio esquecidão, o problema assaz mundano (para os que no mundo quedaram) e, ao mesmo tempo, algo emotivo, de que fazer com os restos mortais dos entes queridos? Jogar ao vento, na esquina, lançar ao mar conturbado que nos cerca ou do alto de uma pequena colina bucólica, um ou dois quilos de cinzas não chega a parecer uma ameaça ao meio-ambiente. Se considerarmos, no entanto, que a Grã-Bretanha, no momento está cremando 420 mil bonecos e bonecas por ano, aí a coisa muda de figura. Outra sociedade, outra organização - ah, este meu Reino Unido! -, a Agência para o Meio-Ambiente, tem algumas propostas e sugestões. A referida agência salienta o fato de que, ao contrário de um corpo humano (entenda-se: um cadáver), não há nada que proíba legalmente a forma como se dispõe das cinzas de fulano ou sicrana. A agência, muita britanicamente, recomenda o uso do bom senso. Bom senso lá para eles, que eu não estou nessa. Nem eu nem meus cada vez mais numerosos companheiros de corrente migratória. A agência é prática. Cinzas nos rios que correm para cima, nunquinhas. Cinzas nos rios que correm para baixo, jóia. A agência também desaconselha as cerimônias de espalhação das cinzas de entes queridos, ou apenas suportáveis, em meio a ventanias. Vai ser duro, dona Agência, vai ser duro. O que se venta por aqui não é brincadeira, confere? . Outra sociedade para alegrar os trabalhos. O Conselho de Alpinismo (ou Montanhismo) Escocês. Em 2006, porta-vozes escoceses de cabelos vermelhos, Rs guturais e kilts pediram encarecidamente aos parentes pranteando que se abstivessem do lançamento de cinzas dos pontos mais altos destas terras, uma vez que o enriquecimento via fosfato de falecidos estimula de forma pouco natural e saudável o crescimento da flora. Não acabam aí os senões para o que fazer com as cinzas de quem se mandou. Diamante sintético dá e é uma boa. Agora, loucos por futebol que só eles, embora não o saibam praticar, os ingleses são chegados a distribuir, devido a pedido feito em testamento, o montinho ou montão dos que partiram nos campos de futebol. O Manchester United é vitima contumaz das sentidas comemorações pós-crematórias. Tão contumaz que teve de fazer o pedido para parar com isso, gente, parar com isso! Acrescentou a diretoria que batizado no estádio, no problem. Agora, cinza não. Eu acho melhor tacar numa urna e botar ao lado do pinguim em cima da geladeira. Ou então encher dezenas de penduricalhos e distribuir entre os que pranteiam o falecido cremado e que continuarão na fila da lida e da vida aguardando sua vez. Next! BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Noel Rosa não queria choro nem vela. Noel queria uma camisa amarela. Gravada com o nome dela. Estava certo o grande compositor. Afinal de contas, pensava em ser, como foi, enterrado. Ainda não se falava em cremação em 1937, quando Noel bateu com as dez, para ficar numa expressão que o próprio aprovaria. Não tenho idéia de quando se começou a cremar gente no Brasil. Coisas do progresso, por certo, feito aquela história do "Alô, boy! Alô, Johnny!", para citar mais uma vez o esplêndido Noel, que, quanto mais lembrado, melhor. Tá me cheirando coisa da Redentora de 64? Quase boto a mão no crematório. De qualquer forma, a moda pegou. Como bossa nova e multiplex. Deve durar mais que um e outro. Afinal, reproduzimo-nos a passos gigantes e, no mesmo ritmo, vamos deixando este vale de lágrimas. Sejamos brutalmente francos: não cabem esses defuntos todos nos cemitérios de São João Batista e do Caju, para ficar só no Rio, que deste eu manjo. Há que, como nos tempos do bonde, ceder o lugar para os mais velhos. Digo, os mais mortos. Com algum choro e o calor de um zilhão de velas, os brasileiros vão saindo na horizontal para a boca do forno. Aquela fumacinha que o distinto distingue ao longe? Pois não. Trata-se do Orípedes. Ou da Rudiméia. Não, não é sinal de chuva. Uma contribuição sentida à poluição, talvez. Para ficar em território sambista: agora é cinza, tudo acabado e nada mais. Vocês aí, eu aqui. Que arderei numa, e para, uma cidade já coberta de nuvens, fog e, como é prática geral, poluição também. Faca certeira, sim; bala perdida, não. Vamos ao X do problema, como Noel foi. O que fazer das cinzas? Do marido, da mulher, do papai, da mamãe, dos meninos esfaqueados que pediram o boné, ou o hood, esta semana? Uma sociedade deste país onde proliferam as sociedades adianta alguns dados relevantes. Segundo a Sociedade de Cremação da Grã-Bretanha, 72% das pessoas que morreram no Reino Unido em 2006 foram cremadas. Em 1960, quando os até ainda pouco vivos de então revertiam ao locum tuum lá deles, o número perfazia apenas 35%. Deve ter sido o governo do Marechal de Ferro, a Sra. Margaret Thatcher, que contribuiu para a pulverização incineratória das camadas ineficientes da população. A distinta privatizou, desregulamentou, desindicalizou, pintou seu sete com quem não podia se defender. Foi fogo. Literalmente. Muito fogo. Alto, intenso. Nem tudo na vida, no entanto, é solução e resolução. As pendências fazem parte do regime diário dos vivos. Ficou, meio esquecidão, o problema assaz mundano (para os que no mundo quedaram) e, ao mesmo tempo, algo emotivo, de que fazer com os restos mortais dos entes queridos? Jogar ao vento, na esquina, lançar ao mar conturbado que nos cerca ou do alto de uma pequena colina bucólica, um ou dois quilos de cinzas não chega a parecer uma ameaça ao meio-ambiente. Se considerarmos, no entanto, que a Grã-Bretanha, no momento está cremando 420 mil bonecos e bonecas por ano, aí a coisa muda de figura. Outra sociedade, outra organização - ah, este meu Reino Unido! -, a Agência para o Meio-Ambiente, tem algumas propostas e sugestões. A referida agência salienta o fato de que, ao contrário de um corpo humano (entenda-se: um cadáver), não há nada que proíba legalmente a forma como se dispõe das cinzas de fulano ou sicrana. A agência, muita britanicamente, recomenda o uso do bom senso. Bom senso lá para eles, que eu não estou nessa. Nem eu nem meus cada vez mais numerosos companheiros de corrente migratória. A agência é prática. Cinzas nos rios que correm para cima, nunquinhas. Cinzas nos rios que correm para baixo, jóia. A agência também desaconselha as cerimônias de espalhação das cinzas de entes queridos, ou apenas suportáveis, em meio a ventanias. Vai ser duro, dona Agência, vai ser duro. O que se venta por aqui não é brincadeira, confere? . Outra sociedade para alegrar os trabalhos. O Conselho de Alpinismo (ou Montanhismo) Escocês. Em 2006, porta-vozes escoceses de cabelos vermelhos, Rs guturais e kilts pediram encarecidamente aos parentes pranteando que se abstivessem do lançamento de cinzas dos pontos mais altos destas terras, uma vez que o enriquecimento via fosfato de falecidos estimula de forma pouco natural e saudável o crescimento da flora. Não acabam aí os senões para o que fazer com as cinzas de quem se mandou. Diamante sintético dá e é uma boa. Agora, loucos por futebol que só eles, embora não o saibam praticar, os ingleses são chegados a distribuir, devido a pedido feito em testamento, o montinho ou montão dos que partiram nos campos de futebol. O Manchester United é vitima contumaz das sentidas comemorações pós-crematórias. Tão contumaz que teve de fazer o pedido para parar com isso, gente, parar com isso! Acrescentou a diretoria que batizado no estádio, no problem. Agora, cinza não. Eu acho melhor tacar numa urna e botar ao lado do pinguim em cima da geladeira. Ou então encher dezenas de penduricalhos e distribuir entre os que pranteiam o falecido cremado e que continuarão na fila da lida e da vida aguardando sua vez. Next! BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Noel Rosa não queria choro nem vela. Noel queria uma camisa amarela. Gravada com o nome dela. Estava certo o grande compositor. Afinal de contas, pensava em ser, como foi, enterrado. Ainda não se falava em cremação em 1937, quando Noel bateu com as dez, para ficar numa expressão que o próprio aprovaria. Não tenho idéia de quando se começou a cremar gente no Brasil. Coisas do progresso, por certo, feito aquela história do "Alô, boy! Alô, Johnny!", para citar mais uma vez o esplêndido Noel, que, quanto mais lembrado, melhor. Tá me cheirando coisa da Redentora de 64? Quase boto a mão no crematório. De qualquer forma, a moda pegou. Como bossa nova e multiplex. Deve durar mais que um e outro. Afinal, reproduzimo-nos a passos gigantes e, no mesmo ritmo, vamos deixando este vale de lágrimas. Sejamos brutalmente francos: não cabem esses defuntos todos nos cemitérios de São João Batista e do Caju, para ficar só no Rio, que deste eu manjo. Há que, como nos tempos do bonde, ceder o lugar para os mais velhos. Digo, os mais mortos. Com algum choro e o calor de um zilhão de velas, os brasileiros vão saindo na horizontal para a boca do forno. Aquela fumacinha que o distinto distingue ao longe? Pois não. Trata-se do Orípedes. Ou da Rudiméia. Não, não é sinal de chuva. Uma contribuição sentida à poluição, talvez. Para ficar em território sambista: agora é cinza, tudo acabado e nada mais. Vocês aí, eu aqui. Que arderei numa, e para, uma cidade já coberta de nuvens, fog e, como é prática geral, poluição também. Faca certeira, sim; bala perdida, não. Vamos ao X do problema, como Noel foi. O que fazer das cinzas? Do marido, da mulher, do papai, da mamãe, dos meninos esfaqueados que pediram o boné, ou o hood, esta semana? Uma sociedade deste país onde proliferam as sociedades adianta alguns dados relevantes. Segundo a Sociedade de Cremação da Grã-Bretanha, 72% das pessoas que morreram no Reino Unido em 2006 foram cremadas. Em 1960, quando os até ainda pouco vivos de então revertiam ao locum tuum lá deles, o número perfazia apenas 35%. Deve ter sido o governo do Marechal de Ferro, a Sra. Margaret Thatcher, que contribuiu para a pulverização incineratória das camadas ineficientes da população. A distinta privatizou, desregulamentou, desindicalizou, pintou seu sete com quem não podia se defender. Foi fogo. Literalmente. Muito fogo. Alto, intenso. Nem tudo na vida, no entanto, é solução e resolução. As pendências fazem parte do regime diário dos vivos. Ficou, meio esquecidão, o problema assaz mundano (para os que no mundo quedaram) e, ao mesmo tempo, algo emotivo, de que fazer com os restos mortais dos entes queridos? Jogar ao vento, na esquina, lançar ao mar conturbado que nos cerca ou do alto de uma pequena colina bucólica, um ou dois quilos de cinzas não chega a parecer uma ameaça ao meio-ambiente. Se considerarmos, no entanto, que a Grã-Bretanha, no momento está cremando 420 mil bonecos e bonecas por ano, aí a coisa muda de figura. Outra sociedade, outra organização - ah, este meu Reino Unido! -, a Agência para o Meio-Ambiente, tem algumas propostas e sugestões. A referida agência salienta o fato de que, ao contrário de um corpo humano (entenda-se: um cadáver), não há nada que proíba legalmente a forma como se dispõe das cinzas de fulano ou sicrana. A agência, muita britanicamente, recomenda o uso do bom senso. Bom senso lá para eles, que eu não estou nessa. Nem eu nem meus cada vez mais numerosos companheiros de corrente migratória. A agência é prática. Cinzas nos rios que correm para cima, nunquinhas. Cinzas nos rios que correm para baixo, jóia. A agência também desaconselha as cerimônias de espalhação das cinzas de entes queridos, ou apenas suportáveis, em meio a ventanias. Vai ser duro, dona Agência, vai ser duro. O que se venta por aqui não é brincadeira, confere? . Outra sociedade para alegrar os trabalhos. O Conselho de Alpinismo (ou Montanhismo) Escocês. Em 2006, porta-vozes escoceses de cabelos vermelhos, Rs guturais e kilts pediram encarecidamente aos parentes pranteando que se abstivessem do lançamento de cinzas dos pontos mais altos destas terras, uma vez que o enriquecimento via fosfato de falecidos estimula de forma pouco natural e saudável o crescimento da flora. Não acabam aí os senões para o que fazer com as cinzas de quem se mandou. Diamante sintético dá e é uma boa. Agora, loucos por futebol que só eles, embora não o saibam praticar, os ingleses são chegados a distribuir, devido a pedido feito em testamento, o montinho ou montão dos que partiram nos campos de futebol. O Manchester United é vitima contumaz das sentidas comemorações pós-crematórias. Tão contumaz que teve de fazer o pedido para parar com isso, gente, parar com isso! Acrescentou a diretoria que batizado no estádio, no problem. Agora, cinza não. Eu acho melhor tacar numa urna e botar ao lado do pinguim em cima da geladeira. Ou então encher dezenas de penduricalhos e distribuir entre os que pranteiam o falecido cremado e que continuarão na fila da lida e da vida aguardando sua vez. Next! BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Noel Rosa não queria choro nem vela. Noel queria uma camisa amarela. Gravada com o nome dela. Estava certo o grande compositor. Afinal de contas, pensava em ser, como foi, enterrado. Ainda não se falava em cremação em 1937, quando Noel bateu com as dez, para ficar numa expressão que o próprio aprovaria. Não tenho idéia de quando se começou a cremar gente no Brasil. Coisas do progresso, por certo, feito aquela história do "Alô, boy! Alô, Johnny!", para citar mais uma vez o esplêndido Noel, que, quanto mais lembrado, melhor. Tá me cheirando coisa da Redentora de 64? Quase boto a mão no crematório. De qualquer forma, a moda pegou. Como bossa nova e multiplex. Deve durar mais que um e outro. Afinal, reproduzimo-nos a passos gigantes e, no mesmo ritmo, vamos deixando este vale de lágrimas. Sejamos brutalmente francos: não cabem esses defuntos todos nos cemitérios de São João Batista e do Caju, para ficar só no Rio, que deste eu manjo. Há que, como nos tempos do bonde, ceder o lugar para os mais velhos. Digo, os mais mortos. Com algum choro e o calor de um zilhão de velas, os brasileiros vão saindo na horizontal para a boca do forno. Aquela fumacinha que o distinto distingue ao longe? Pois não. Trata-se do Orípedes. Ou da Rudiméia. Não, não é sinal de chuva. Uma contribuição sentida à poluição, talvez. Para ficar em território sambista: agora é cinza, tudo acabado e nada mais. Vocês aí, eu aqui. Que arderei numa, e para, uma cidade já coberta de nuvens, fog e, como é prática geral, poluição também. Faca certeira, sim; bala perdida, não. Vamos ao X do problema, como Noel foi. O que fazer das cinzas? Do marido, da mulher, do papai, da mamãe, dos meninos esfaqueados que pediram o boné, ou o hood, esta semana? Uma sociedade deste país onde proliferam as sociedades adianta alguns dados relevantes. Segundo a Sociedade de Cremação da Grã-Bretanha, 72% das pessoas que morreram no Reino Unido em 2006 foram cremadas. Em 1960, quando os até ainda pouco vivos de então revertiam ao locum tuum lá deles, o número perfazia apenas 35%. Deve ter sido o governo do Marechal de Ferro, a Sra. Margaret Thatcher, que contribuiu para a pulverização incineratória das camadas ineficientes da população. A distinta privatizou, desregulamentou, desindicalizou, pintou seu sete com quem não podia se defender. Foi fogo. Literalmente. Muito fogo. Alto, intenso. Nem tudo na vida, no entanto, é solução e resolução. As pendências fazem parte do regime diário dos vivos. Ficou, meio esquecidão, o problema assaz mundano (para os que no mundo quedaram) e, ao mesmo tempo, algo emotivo, de que fazer com os restos mortais dos entes queridos? Jogar ao vento, na esquina, lançar ao mar conturbado que nos cerca ou do alto de uma pequena colina bucólica, um ou dois quilos de cinzas não chega a parecer uma ameaça ao meio-ambiente. Se considerarmos, no entanto, que a Grã-Bretanha, no momento está cremando 420 mil bonecos e bonecas por ano, aí a coisa muda de figura. Outra sociedade, outra organização - ah, este meu Reino Unido! -, a Agência para o Meio-Ambiente, tem algumas propostas e sugestões. A referida agência salienta o fato de que, ao contrário de um corpo humano (entenda-se: um cadáver), não há nada que proíba legalmente a forma como se dispõe das cinzas de fulano ou sicrana. A agência, muita britanicamente, recomenda o uso do bom senso. Bom senso lá para eles, que eu não estou nessa. Nem eu nem meus cada vez mais numerosos companheiros de corrente migratória. A agência é prática. Cinzas nos rios que correm para cima, nunquinhas. Cinzas nos rios que correm para baixo, jóia. A agência também desaconselha as cerimônias de espalhação das cinzas de entes queridos, ou apenas suportáveis, em meio a ventanias. Vai ser duro, dona Agência, vai ser duro. O que se venta por aqui não é brincadeira, confere? . Outra sociedade para alegrar os trabalhos. O Conselho de Alpinismo (ou Montanhismo) Escocês. Em 2006, porta-vozes escoceses de cabelos vermelhos, Rs guturais e kilts pediram encarecidamente aos parentes pranteando que se abstivessem do lançamento de cinzas dos pontos mais altos destas terras, uma vez que o enriquecimento via fosfato de falecidos estimula de forma pouco natural e saudável o crescimento da flora. Não acabam aí os senões para o que fazer com as cinzas de quem se mandou. Diamante sintético dá e é uma boa. Agora, loucos por futebol que só eles, embora não o saibam praticar, os ingleses são chegados a distribuir, devido a pedido feito em testamento, o montinho ou montão dos que partiram nos campos de futebol. O Manchester United é vitima contumaz das sentidas comemorações pós-crematórias. Tão contumaz que teve de fazer o pedido para parar com isso, gente, parar com isso! Acrescentou a diretoria que batizado no estádio, no problem. Agora, cinza não. Eu acho melhor tacar numa urna e botar ao lado do pinguim em cima da geladeira. Ou então encher dezenas de penduricalhos e distribuir entre os que pranteiam o falecido cremado e que continuarão na fila da lida e da vida aguardando sua vez. Next! BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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