Quem é o balonista que recriou hoje dirigível em forma de charuto inspirado em Santos Dumont


Peça de entusiasta do interior de São Paulo virou um ícone das comemorações dos 150 anos do nascimento do ‘Pai da Aviação’

Por José Maria Tomazela

SOROCABA – Em 1988, um cliente de sua agência de turismo de aventura, na capital paulista, convidou Feodor Nenov Junior para voar com ele de balão. Nenov já tinha feito escaladas em rochas, mergulho livre, exploração de cavernas, mas nunca tinha embarcado em um aparelho daqueles. “Na hora eu não sabia, mas o convite incluía participar do 1º Campeonato Brasileiro de Balonismo como navegador dele. Aceitei e vencemos. Me apaixonei por balões e não parei mais”, conta.

Os moradores de São Pedro, de 34 mil habitantes, no interior de São Paulo, já não se surpreendem quando avistam um balão dirigível de 35 m de comprimento por 15 metros de diâmetro voando pelas encostas da Serra do Itaqueri. Poucos sabem que o balão em forma de charuto é inspirado no dirigível número 6, construído pelo brasileiro Alberto Santos Dumont e que entrou para a história da navegação aérea ao contornar a Torre Eiffel, em Paris, em 1901.

Feodor Nevov mostra estrutura que fica acoplada ao dirigível restaurado Foto: Diego Soares/Estadão
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Quem põe no ar o dirigível é Feodor, que se tornou também admirador de Santos Dumont. Restaurado por ele, o balão se transformou em peça icônica durante as comemorações dos 150 anos do ‘Pai da Aviação’, data comemorada neste 20 de julho. Nenov ganhou o dirigível de um amigo que o havia trazido da Inglaterra e passou os últimos seis anos restaurando o equipamento, fabricado no início dos anos 1990.

Como o célebre aviador, ele pôs a mão na massa e encarou o desafio do restauro, já que não havia mão de obra especializada. “O balão ficou abandonado durante muitos anos e foi preciso fazer um trabalho minucioso de restauração para que ficasse em condições de voo. Para recuperar o motor de quatro cilindros, a gasolina, de 28 HP, tivemos de fazer algumas peças que não encontramos por aqui. Mas ficou tudo conforme o original”, disse.

Como não tinha manual para regular o motor, o piloto pediu ajuda para mecânicos aeronáuticos e engenheiros que se envolveram com o projeto. O trabalho mais difícil foi estender e dar forma à lona do balão, no aeroporto municipal de São Pedro. “Precisamos de muitos braços para esticar a lona, fechar e checar as válvulas”, disse.

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Diferente do dirigível estreado por Santos Dumont há 123 anos, que era cheio de hidrogênio, produto inflamável, o de Nenov é inflado com ar quente. Nos dois casos, o conjunto aerodinâmico é empurrado por um motor.

Feodor Nevov fez preparações com o dirigível em junho, na cidade de São Pedro Foto: Feodor Nenov/ acervo pessoal

Após realizar vários voos no interior paulista, Nenov foi convidado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para reproduzir, nos céus de Brasília, o voo histórico de Dumont em 1901. Ele conta que não imaginava se tornar piloto de dirigível, o que aconteceu só depois de ganhar o balão, quando passou a ir mais a fundo também na história do ‘Pai da Aviação’. “Já o admirava, mas agora o vejo com outros olhos, um cara fora de série, que fez coisas incríveis, por isso achei que devia tentar fazer essa homenagem.”

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Em 19 de outubro de 1901, em Paris, a bordo de seu dirigível, o inventor contornou a Torre Eiffel em 29 minutos e 30 segundos. Ele foi o mais rápido a completar o trajeto de 11 quilômetros entre os 25 concorrentes e ganhou o prêmio Deutsch de La Meurthe, equivalente a R$ 700 mil em valores atuais.

Dirigível número 6 de Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em Paris Foto: Museu Virtual Santos Dumont

No último dia 2, em Brasília, durante evento em comemoração aos 150 anos do nascimento de Santos Dumont, que é também patrono da Aeronáutica brasileira, o balão de Venov fez um sobrevoo pela Esplanada dos Ministérios. O dirigível, com a imagem tradicional de Dumont de chapéu impressa na lona, iniciou o percurso na Praça dos Três Poderes, contornou a Torre TV e pousou no mesmo local da partida, em um voo de 38 minutos, que percorreu 9,5 km.

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‘Ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis’

A trajetória de Feodor, que nasceu na capital paulista, mas sempre gostou da natureza, também parece ter sido inspirada na do Pai da Aviação. Já no fim da década de 1970, ele se dedicava a caminhadas, escaladas em rocha, exploração de cavernas e mergulho livre. Nos anos 1980, Nenov criou uma agência de turismo de aventura, desenvolvendo roteiros por todo o Brasil. Ele também dava cursos de montanhismo e espeleologia.

Depois que passou a se dedicar aos balões, poucos lugares do Brasil ainda não foram vistos do alto pelo balonista. “Sendo paulistano, eu me perguntava porque ninguém voava de balão em São Paulo. Em 1993, conseguimos autorização”, contou. Em 1995, ele construiu seu primeiro de uma série de balões. No ano seguinte, atingiu a marca de 16 mil pés (5 mil metros) de altitude, decolando próximo à Academia da Força Aérea de Pirassununga (SP).

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Em novembro de 1996, foi além, sobrevoando o Monte Fuji, no Japão, a 6 mil metros. Também sobrevoou o Monte Serrat, próximo a Barcelona. “Na época, eu me dedicava ao projeto de exploração vertical da atmosfera”, disse. Foi assim que atingiu 9.040 m em 2001, voando mais alto que o Everest para estabelecer o recorde sul-americano. No mesmo ano, realizou travessia entre dois balões em pleno voo, manobra que exige muita técnica. Em 2010, representou o Brasil no campeonato mundial de balonismo na Hungria.

Em 2016, Feodor saiu de balão do litoral do Rio Grande do Sul e foi até o litoral do Chile, indo do Atlântico ao Pacífico em 7 meses, para produzir a série ‘Mais Leve que o Ar’, do Canal Off. Feodor também voa de asa delta e já se lançou a 4,2 metros de altitude. Atualmente, o balonista mantém uma empresa especializada em atividades com balões de ar quente, em São Pedro.

“Sou construtor de balões, mas dirigível para mim ainda é uma coisa nova, mas acho que é algo que vai pegar. Voar de balão e ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis.”

SOROCABA – Em 1988, um cliente de sua agência de turismo de aventura, na capital paulista, convidou Feodor Nenov Junior para voar com ele de balão. Nenov já tinha feito escaladas em rochas, mergulho livre, exploração de cavernas, mas nunca tinha embarcado em um aparelho daqueles. “Na hora eu não sabia, mas o convite incluía participar do 1º Campeonato Brasileiro de Balonismo como navegador dele. Aceitei e vencemos. Me apaixonei por balões e não parei mais”, conta.

Os moradores de São Pedro, de 34 mil habitantes, no interior de São Paulo, já não se surpreendem quando avistam um balão dirigível de 35 m de comprimento por 15 metros de diâmetro voando pelas encostas da Serra do Itaqueri. Poucos sabem que o balão em forma de charuto é inspirado no dirigível número 6, construído pelo brasileiro Alberto Santos Dumont e que entrou para a história da navegação aérea ao contornar a Torre Eiffel, em Paris, em 1901.

Feodor Nevov mostra estrutura que fica acoplada ao dirigível restaurado Foto: Diego Soares/Estadão

Quem põe no ar o dirigível é Feodor, que se tornou também admirador de Santos Dumont. Restaurado por ele, o balão se transformou em peça icônica durante as comemorações dos 150 anos do ‘Pai da Aviação’, data comemorada neste 20 de julho. Nenov ganhou o dirigível de um amigo que o havia trazido da Inglaterra e passou os últimos seis anos restaurando o equipamento, fabricado no início dos anos 1990.

Como o célebre aviador, ele pôs a mão na massa e encarou o desafio do restauro, já que não havia mão de obra especializada. “O balão ficou abandonado durante muitos anos e foi preciso fazer um trabalho minucioso de restauração para que ficasse em condições de voo. Para recuperar o motor de quatro cilindros, a gasolina, de 28 HP, tivemos de fazer algumas peças que não encontramos por aqui. Mas ficou tudo conforme o original”, disse.

Como não tinha manual para regular o motor, o piloto pediu ajuda para mecânicos aeronáuticos e engenheiros que se envolveram com o projeto. O trabalho mais difícil foi estender e dar forma à lona do balão, no aeroporto municipal de São Pedro. “Precisamos de muitos braços para esticar a lona, fechar e checar as válvulas”, disse.

Diferente do dirigível estreado por Santos Dumont há 123 anos, que era cheio de hidrogênio, produto inflamável, o de Nenov é inflado com ar quente. Nos dois casos, o conjunto aerodinâmico é empurrado por um motor.

Feodor Nevov fez preparações com o dirigível em junho, na cidade de São Pedro Foto: Feodor Nenov/ acervo pessoal

Após realizar vários voos no interior paulista, Nenov foi convidado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para reproduzir, nos céus de Brasília, o voo histórico de Dumont em 1901. Ele conta que não imaginava se tornar piloto de dirigível, o que aconteceu só depois de ganhar o balão, quando passou a ir mais a fundo também na história do ‘Pai da Aviação’. “Já o admirava, mas agora o vejo com outros olhos, um cara fora de série, que fez coisas incríveis, por isso achei que devia tentar fazer essa homenagem.”

Em 19 de outubro de 1901, em Paris, a bordo de seu dirigível, o inventor contornou a Torre Eiffel em 29 minutos e 30 segundos. Ele foi o mais rápido a completar o trajeto de 11 quilômetros entre os 25 concorrentes e ganhou o prêmio Deutsch de La Meurthe, equivalente a R$ 700 mil em valores atuais.

Dirigível número 6 de Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em Paris Foto: Museu Virtual Santos Dumont

No último dia 2, em Brasília, durante evento em comemoração aos 150 anos do nascimento de Santos Dumont, que é também patrono da Aeronáutica brasileira, o balão de Venov fez um sobrevoo pela Esplanada dos Ministérios. O dirigível, com a imagem tradicional de Dumont de chapéu impressa na lona, iniciou o percurso na Praça dos Três Poderes, contornou a Torre TV e pousou no mesmo local da partida, em um voo de 38 minutos, que percorreu 9,5 km.

‘Ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis’

A trajetória de Feodor, que nasceu na capital paulista, mas sempre gostou da natureza, também parece ter sido inspirada na do Pai da Aviação. Já no fim da década de 1970, ele se dedicava a caminhadas, escaladas em rocha, exploração de cavernas e mergulho livre. Nos anos 1980, Nenov criou uma agência de turismo de aventura, desenvolvendo roteiros por todo o Brasil. Ele também dava cursos de montanhismo e espeleologia.

Depois que passou a se dedicar aos balões, poucos lugares do Brasil ainda não foram vistos do alto pelo balonista. “Sendo paulistano, eu me perguntava porque ninguém voava de balão em São Paulo. Em 1993, conseguimos autorização”, contou. Em 1995, ele construiu seu primeiro de uma série de balões. No ano seguinte, atingiu a marca de 16 mil pés (5 mil metros) de altitude, decolando próximo à Academia da Força Aérea de Pirassununga (SP).

Em novembro de 1996, foi além, sobrevoando o Monte Fuji, no Japão, a 6 mil metros. Também sobrevoou o Monte Serrat, próximo a Barcelona. “Na época, eu me dedicava ao projeto de exploração vertical da atmosfera”, disse. Foi assim que atingiu 9.040 m em 2001, voando mais alto que o Everest para estabelecer o recorde sul-americano. No mesmo ano, realizou travessia entre dois balões em pleno voo, manobra que exige muita técnica. Em 2010, representou o Brasil no campeonato mundial de balonismo na Hungria.

Em 2016, Feodor saiu de balão do litoral do Rio Grande do Sul e foi até o litoral do Chile, indo do Atlântico ao Pacífico em 7 meses, para produzir a série ‘Mais Leve que o Ar’, do Canal Off. Feodor também voa de asa delta e já se lançou a 4,2 metros de altitude. Atualmente, o balonista mantém uma empresa especializada em atividades com balões de ar quente, em São Pedro.

“Sou construtor de balões, mas dirigível para mim ainda é uma coisa nova, mas acho que é algo que vai pegar. Voar de balão e ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis.”

SOROCABA – Em 1988, um cliente de sua agência de turismo de aventura, na capital paulista, convidou Feodor Nenov Junior para voar com ele de balão. Nenov já tinha feito escaladas em rochas, mergulho livre, exploração de cavernas, mas nunca tinha embarcado em um aparelho daqueles. “Na hora eu não sabia, mas o convite incluía participar do 1º Campeonato Brasileiro de Balonismo como navegador dele. Aceitei e vencemos. Me apaixonei por balões e não parei mais”, conta.

Os moradores de São Pedro, de 34 mil habitantes, no interior de São Paulo, já não se surpreendem quando avistam um balão dirigível de 35 m de comprimento por 15 metros de diâmetro voando pelas encostas da Serra do Itaqueri. Poucos sabem que o balão em forma de charuto é inspirado no dirigível número 6, construído pelo brasileiro Alberto Santos Dumont e que entrou para a história da navegação aérea ao contornar a Torre Eiffel, em Paris, em 1901.

Feodor Nevov mostra estrutura que fica acoplada ao dirigível restaurado Foto: Diego Soares/Estadão

Quem põe no ar o dirigível é Feodor, que se tornou também admirador de Santos Dumont. Restaurado por ele, o balão se transformou em peça icônica durante as comemorações dos 150 anos do ‘Pai da Aviação’, data comemorada neste 20 de julho. Nenov ganhou o dirigível de um amigo que o havia trazido da Inglaterra e passou os últimos seis anos restaurando o equipamento, fabricado no início dos anos 1990.

Como o célebre aviador, ele pôs a mão na massa e encarou o desafio do restauro, já que não havia mão de obra especializada. “O balão ficou abandonado durante muitos anos e foi preciso fazer um trabalho minucioso de restauração para que ficasse em condições de voo. Para recuperar o motor de quatro cilindros, a gasolina, de 28 HP, tivemos de fazer algumas peças que não encontramos por aqui. Mas ficou tudo conforme o original”, disse.

Como não tinha manual para regular o motor, o piloto pediu ajuda para mecânicos aeronáuticos e engenheiros que se envolveram com o projeto. O trabalho mais difícil foi estender e dar forma à lona do balão, no aeroporto municipal de São Pedro. “Precisamos de muitos braços para esticar a lona, fechar e checar as válvulas”, disse.

Diferente do dirigível estreado por Santos Dumont há 123 anos, que era cheio de hidrogênio, produto inflamável, o de Nenov é inflado com ar quente. Nos dois casos, o conjunto aerodinâmico é empurrado por um motor.

Feodor Nevov fez preparações com o dirigível em junho, na cidade de São Pedro Foto: Feodor Nenov/ acervo pessoal

Após realizar vários voos no interior paulista, Nenov foi convidado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para reproduzir, nos céus de Brasília, o voo histórico de Dumont em 1901. Ele conta que não imaginava se tornar piloto de dirigível, o que aconteceu só depois de ganhar o balão, quando passou a ir mais a fundo também na história do ‘Pai da Aviação’. “Já o admirava, mas agora o vejo com outros olhos, um cara fora de série, que fez coisas incríveis, por isso achei que devia tentar fazer essa homenagem.”

Em 19 de outubro de 1901, em Paris, a bordo de seu dirigível, o inventor contornou a Torre Eiffel em 29 minutos e 30 segundos. Ele foi o mais rápido a completar o trajeto de 11 quilômetros entre os 25 concorrentes e ganhou o prêmio Deutsch de La Meurthe, equivalente a R$ 700 mil em valores atuais.

Dirigível número 6 de Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em Paris Foto: Museu Virtual Santos Dumont

No último dia 2, em Brasília, durante evento em comemoração aos 150 anos do nascimento de Santos Dumont, que é também patrono da Aeronáutica brasileira, o balão de Venov fez um sobrevoo pela Esplanada dos Ministérios. O dirigível, com a imagem tradicional de Dumont de chapéu impressa na lona, iniciou o percurso na Praça dos Três Poderes, contornou a Torre TV e pousou no mesmo local da partida, em um voo de 38 minutos, que percorreu 9,5 km.

‘Ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis’

A trajetória de Feodor, que nasceu na capital paulista, mas sempre gostou da natureza, também parece ter sido inspirada na do Pai da Aviação. Já no fim da década de 1970, ele se dedicava a caminhadas, escaladas em rocha, exploração de cavernas e mergulho livre. Nos anos 1980, Nenov criou uma agência de turismo de aventura, desenvolvendo roteiros por todo o Brasil. Ele também dava cursos de montanhismo e espeleologia.

Depois que passou a se dedicar aos balões, poucos lugares do Brasil ainda não foram vistos do alto pelo balonista. “Sendo paulistano, eu me perguntava porque ninguém voava de balão em São Paulo. Em 1993, conseguimos autorização”, contou. Em 1995, ele construiu seu primeiro de uma série de balões. No ano seguinte, atingiu a marca de 16 mil pés (5 mil metros) de altitude, decolando próximo à Academia da Força Aérea de Pirassununga (SP).

Em novembro de 1996, foi além, sobrevoando o Monte Fuji, no Japão, a 6 mil metros. Também sobrevoou o Monte Serrat, próximo a Barcelona. “Na época, eu me dedicava ao projeto de exploração vertical da atmosfera”, disse. Foi assim que atingiu 9.040 m em 2001, voando mais alto que o Everest para estabelecer o recorde sul-americano. No mesmo ano, realizou travessia entre dois balões em pleno voo, manobra que exige muita técnica. Em 2010, representou o Brasil no campeonato mundial de balonismo na Hungria.

Em 2016, Feodor saiu de balão do litoral do Rio Grande do Sul e foi até o litoral do Chile, indo do Atlântico ao Pacífico em 7 meses, para produzir a série ‘Mais Leve que o Ar’, do Canal Off. Feodor também voa de asa delta e já se lançou a 4,2 metros de altitude. Atualmente, o balonista mantém uma empresa especializada em atividades com balões de ar quente, em São Pedro.

“Sou construtor de balões, mas dirigível para mim ainda é uma coisa nova, mas acho que é algo que vai pegar. Voar de balão e ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis.”

SOROCABA – Em 1988, um cliente de sua agência de turismo de aventura, na capital paulista, convidou Feodor Nenov Junior para voar com ele de balão. Nenov já tinha feito escaladas em rochas, mergulho livre, exploração de cavernas, mas nunca tinha embarcado em um aparelho daqueles. “Na hora eu não sabia, mas o convite incluía participar do 1º Campeonato Brasileiro de Balonismo como navegador dele. Aceitei e vencemos. Me apaixonei por balões e não parei mais”, conta.

Os moradores de São Pedro, de 34 mil habitantes, no interior de São Paulo, já não se surpreendem quando avistam um balão dirigível de 35 m de comprimento por 15 metros de diâmetro voando pelas encostas da Serra do Itaqueri. Poucos sabem que o balão em forma de charuto é inspirado no dirigível número 6, construído pelo brasileiro Alberto Santos Dumont e que entrou para a história da navegação aérea ao contornar a Torre Eiffel, em Paris, em 1901.

Feodor Nevov mostra estrutura que fica acoplada ao dirigível restaurado Foto: Diego Soares/Estadão

Quem põe no ar o dirigível é Feodor, que se tornou também admirador de Santos Dumont. Restaurado por ele, o balão se transformou em peça icônica durante as comemorações dos 150 anos do ‘Pai da Aviação’, data comemorada neste 20 de julho. Nenov ganhou o dirigível de um amigo que o havia trazido da Inglaterra e passou os últimos seis anos restaurando o equipamento, fabricado no início dos anos 1990.

Como o célebre aviador, ele pôs a mão na massa e encarou o desafio do restauro, já que não havia mão de obra especializada. “O balão ficou abandonado durante muitos anos e foi preciso fazer um trabalho minucioso de restauração para que ficasse em condições de voo. Para recuperar o motor de quatro cilindros, a gasolina, de 28 HP, tivemos de fazer algumas peças que não encontramos por aqui. Mas ficou tudo conforme o original”, disse.

Como não tinha manual para regular o motor, o piloto pediu ajuda para mecânicos aeronáuticos e engenheiros que se envolveram com o projeto. O trabalho mais difícil foi estender e dar forma à lona do balão, no aeroporto municipal de São Pedro. “Precisamos de muitos braços para esticar a lona, fechar e checar as válvulas”, disse.

Diferente do dirigível estreado por Santos Dumont há 123 anos, que era cheio de hidrogênio, produto inflamável, o de Nenov é inflado com ar quente. Nos dois casos, o conjunto aerodinâmico é empurrado por um motor.

Feodor Nevov fez preparações com o dirigível em junho, na cidade de São Pedro Foto: Feodor Nenov/ acervo pessoal

Após realizar vários voos no interior paulista, Nenov foi convidado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para reproduzir, nos céus de Brasília, o voo histórico de Dumont em 1901. Ele conta que não imaginava se tornar piloto de dirigível, o que aconteceu só depois de ganhar o balão, quando passou a ir mais a fundo também na história do ‘Pai da Aviação’. “Já o admirava, mas agora o vejo com outros olhos, um cara fora de série, que fez coisas incríveis, por isso achei que devia tentar fazer essa homenagem.”

Em 19 de outubro de 1901, em Paris, a bordo de seu dirigível, o inventor contornou a Torre Eiffel em 29 minutos e 30 segundos. Ele foi o mais rápido a completar o trajeto de 11 quilômetros entre os 25 concorrentes e ganhou o prêmio Deutsch de La Meurthe, equivalente a R$ 700 mil em valores atuais.

Dirigível número 6 de Santos Dumont contornou a Torre Eiffel, em Paris Foto: Museu Virtual Santos Dumont

No último dia 2, em Brasília, durante evento em comemoração aos 150 anos do nascimento de Santos Dumont, que é também patrono da Aeronáutica brasileira, o balão de Venov fez um sobrevoo pela Esplanada dos Ministérios. O dirigível, com a imagem tradicional de Dumont de chapéu impressa na lona, iniciou o percurso na Praça dos Três Poderes, contornou a Torre TV e pousou no mesmo local da partida, em um voo de 38 minutos, que percorreu 9,5 km.

‘Ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis’

A trajetória de Feodor, que nasceu na capital paulista, mas sempre gostou da natureza, também parece ter sido inspirada na do Pai da Aviação. Já no fim da década de 1970, ele se dedicava a caminhadas, escaladas em rocha, exploração de cavernas e mergulho livre. Nos anos 1980, Nenov criou uma agência de turismo de aventura, desenvolvendo roteiros por todo o Brasil. Ele também dava cursos de montanhismo e espeleologia.

Depois que passou a se dedicar aos balões, poucos lugares do Brasil ainda não foram vistos do alto pelo balonista. “Sendo paulistano, eu me perguntava porque ninguém voava de balão em São Paulo. Em 1993, conseguimos autorização”, contou. Em 1995, ele construiu seu primeiro de uma série de balões. No ano seguinte, atingiu a marca de 16 mil pés (5 mil metros) de altitude, decolando próximo à Academia da Força Aérea de Pirassununga (SP).

Em novembro de 1996, foi além, sobrevoando o Monte Fuji, no Japão, a 6 mil metros. Também sobrevoou o Monte Serrat, próximo a Barcelona. “Na época, eu me dedicava ao projeto de exploração vertical da atmosfera”, disse. Foi assim que atingiu 9.040 m em 2001, voando mais alto que o Everest para estabelecer o recorde sul-americano. No mesmo ano, realizou travessia entre dois balões em pleno voo, manobra que exige muita técnica. Em 2010, representou o Brasil no campeonato mundial de balonismo na Hungria.

Em 2016, Feodor saiu de balão do litoral do Rio Grande do Sul e foi até o litoral do Chile, indo do Atlântico ao Pacífico em 7 meses, para produzir a série ‘Mais Leve que o Ar’, do Canal Off. Feodor também voa de asa delta e já se lançou a 4,2 metros de altitude. Atualmente, o balonista mantém uma empresa especializada em atividades com balões de ar quente, em São Pedro.

“Sou construtor de balões, mas dirigível para mim ainda é uma coisa nova, mas acho que é algo que vai pegar. Voar de balão e ver o mundo de cima deixa lembranças inesquecíveis.”

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