Ratzinger dialogou com a razão e a ciência


Teólogo refinado, muitos consideram que Bento XVI foi um papa incompreendido

Por Marcelo Godoy

Nunca um pontífice escreveu tanto, foi tantas vezes entrevistado ou dialogou com tantos filósofos e teólogos. Sua obra é conhecida e criticada, mas, ainda assim, são muitos os que consideram Bento XVI um papa incompreendido.Joseph Ratzinger dialogou com a ciência e com o racionalismo. O teólogo sabia que a fé abandonada pela razão conduziria ao fanatismo, ao fundamentalismo. Homem nascido na Baviera, naquela Mitteleurope marcada pelo Barroco e pela Contrarreforma, cresceu em uma terra dominada pelo Zentrum, o partido católico da República de Weimar. Deixou esse mundo rural ao entrar no seminário e, desde cedo, apaixonou-se pelos estudos. Queria a carreira acadêmica.O mestrado foi sobre Santo Agostinho (Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho), um dos autores que lhe marcaram o percurso intelectual. Outro foi São Boaventura. Quase teve o doutorado barrado por seu orientador, o que lhe teria fechado o caminho da cátedra de teologia, única ambição desse intelectual em sua vida.O teólogo Ratzinger elogiava o Iluminismo, pois este afirmara a inviolabilidade dos direitos humanos e criara, assim, as condições políticas para a liberdade de culto. Acreditava, no entanto, que sem a fé o esclarecimento seria estéril, pois a razão e a ciência não podem dar todas as respostas procuradas pelo homem. Em suma, sem Deus, não haveria como defender uma ética que garantisse ao homem proteção contra os extremos de um pensamento que constrói a bomba atômica porque útil e necessária e, assim, conduz à barbárie.Transformado em cardeal e braço direito de João Paulo II, deu entrevistas aos jornalistas transformadas em três livros. Quando se tornou papa, sua obra contava com 16 volumes de teologia - desde então, publicou outros três, além de três encíclicas e dezenas de outros documentos oficiais. Auxiliou o amigo Wojtyla na elaboração da encíclica Fides et Ratio, de 1998 - mais uma demonstração de que a fé e a razão e a necessidade de adequar uma à outra ocuparam um papel central em sua obra."Ele pensa que a fé não pode se reduzir à razão, mas deve ser consentânea a ela. O racionalismo que reduz a realidade à razão nunca dará uma resposta total sobre a nossa realidade, pois o homem é criado e aberto à transcendência", diz padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Para Bento XVI, a fé revela o que somos. "A última realidade do homem só é revelada pela fé."Para ele, uma das maiores heranças de Ratzinger será o diálogo com a ciência e a razão. Essa é também a opinião do padre José Arnaldo Juliano dos Santos, professor de teologia. "Ele é um papa pouco compreendido." No diálogo com Ratzinger, o filósofo Jürgen Habermas, que defendeu a razão comunicativa como base de uma ética moderna, admitiu que essa razão não podia passar sem a herança de valores afirmados pela religião.Crítica. A obra de Ratzinger não é isenta de críticas. "Ele é um autor importante. Não como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac", diz Libânio. Todos os teólogos citados por Libânio estiveram no Concílio Vaticano 2.º ao lado de Ratzinger. Dois deles - Lubac e Balthasar - foram companheiros do futuro papa na revista Communio, para a qual também colaborava o cardeal de Milão e papável Angelo Scola."O que Karl Rahner foi para o diálogo ecumênico, Ratzinger foi para o diálogo com a cultura e a ciência", disse padre José Arnaldo. Em vez de renegar a lógica científica, o papa procurou penetrar em seus argumentos. Não para fazer proselitismo, mas para a busca de um entendimento sobre a verdade. "Em sua obra Jesus de Nazaré, por exemplo, Ratzinger 'conversa' com a antropologia, a história, a sociologia e com as demais ciências humanas que podem contribuir para melhorar o entendimento do Evangelho", completou o padre.Ratzinger não seria, pois, um conservador fechado, intransigente. Pessimista em relação ao mundo? Talvez por causa da formação marcada por Santo Agostinho, que não via salvação na cidade dos homens, mas degradação. Um papa difícil de ser amado, mas também incompreendido, principalmente, por quem espera da Igreja o que ela não oferece: aceitação de escolhas contrárias ao que é fundamental à fé vivida em uma instituição com 2 mil anos de história, cuja lei suprema é a salvação das almas.

Nunca um pontífice escreveu tanto, foi tantas vezes entrevistado ou dialogou com tantos filósofos e teólogos. Sua obra é conhecida e criticada, mas, ainda assim, são muitos os que consideram Bento XVI um papa incompreendido.Joseph Ratzinger dialogou com a ciência e com o racionalismo. O teólogo sabia que a fé abandonada pela razão conduziria ao fanatismo, ao fundamentalismo. Homem nascido na Baviera, naquela Mitteleurope marcada pelo Barroco e pela Contrarreforma, cresceu em uma terra dominada pelo Zentrum, o partido católico da República de Weimar. Deixou esse mundo rural ao entrar no seminário e, desde cedo, apaixonou-se pelos estudos. Queria a carreira acadêmica.O mestrado foi sobre Santo Agostinho (Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho), um dos autores que lhe marcaram o percurso intelectual. Outro foi São Boaventura. Quase teve o doutorado barrado por seu orientador, o que lhe teria fechado o caminho da cátedra de teologia, única ambição desse intelectual em sua vida.O teólogo Ratzinger elogiava o Iluminismo, pois este afirmara a inviolabilidade dos direitos humanos e criara, assim, as condições políticas para a liberdade de culto. Acreditava, no entanto, que sem a fé o esclarecimento seria estéril, pois a razão e a ciência não podem dar todas as respostas procuradas pelo homem. Em suma, sem Deus, não haveria como defender uma ética que garantisse ao homem proteção contra os extremos de um pensamento que constrói a bomba atômica porque útil e necessária e, assim, conduz à barbárie.Transformado em cardeal e braço direito de João Paulo II, deu entrevistas aos jornalistas transformadas em três livros. Quando se tornou papa, sua obra contava com 16 volumes de teologia - desde então, publicou outros três, além de três encíclicas e dezenas de outros documentos oficiais. Auxiliou o amigo Wojtyla na elaboração da encíclica Fides et Ratio, de 1998 - mais uma demonstração de que a fé e a razão e a necessidade de adequar uma à outra ocuparam um papel central em sua obra."Ele pensa que a fé não pode se reduzir à razão, mas deve ser consentânea a ela. O racionalismo que reduz a realidade à razão nunca dará uma resposta total sobre a nossa realidade, pois o homem é criado e aberto à transcendência", diz padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Para Bento XVI, a fé revela o que somos. "A última realidade do homem só é revelada pela fé."Para ele, uma das maiores heranças de Ratzinger será o diálogo com a ciência e a razão. Essa é também a opinião do padre José Arnaldo Juliano dos Santos, professor de teologia. "Ele é um papa pouco compreendido." No diálogo com Ratzinger, o filósofo Jürgen Habermas, que defendeu a razão comunicativa como base de uma ética moderna, admitiu que essa razão não podia passar sem a herança de valores afirmados pela religião.Crítica. A obra de Ratzinger não é isenta de críticas. "Ele é um autor importante. Não como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac", diz Libânio. Todos os teólogos citados por Libânio estiveram no Concílio Vaticano 2.º ao lado de Ratzinger. Dois deles - Lubac e Balthasar - foram companheiros do futuro papa na revista Communio, para a qual também colaborava o cardeal de Milão e papável Angelo Scola."O que Karl Rahner foi para o diálogo ecumênico, Ratzinger foi para o diálogo com a cultura e a ciência", disse padre José Arnaldo. Em vez de renegar a lógica científica, o papa procurou penetrar em seus argumentos. Não para fazer proselitismo, mas para a busca de um entendimento sobre a verdade. "Em sua obra Jesus de Nazaré, por exemplo, Ratzinger 'conversa' com a antropologia, a história, a sociologia e com as demais ciências humanas que podem contribuir para melhorar o entendimento do Evangelho", completou o padre.Ratzinger não seria, pois, um conservador fechado, intransigente. Pessimista em relação ao mundo? Talvez por causa da formação marcada por Santo Agostinho, que não via salvação na cidade dos homens, mas degradação. Um papa difícil de ser amado, mas também incompreendido, principalmente, por quem espera da Igreja o que ela não oferece: aceitação de escolhas contrárias ao que é fundamental à fé vivida em uma instituição com 2 mil anos de história, cuja lei suprema é a salvação das almas.

Nunca um pontífice escreveu tanto, foi tantas vezes entrevistado ou dialogou com tantos filósofos e teólogos. Sua obra é conhecida e criticada, mas, ainda assim, são muitos os que consideram Bento XVI um papa incompreendido.Joseph Ratzinger dialogou com a ciência e com o racionalismo. O teólogo sabia que a fé abandonada pela razão conduziria ao fanatismo, ao fundamentalismo. Homem nascido na Baviera, naquela Mitteleurope marcada pelo Barroco e pela Contrarreforma, cresceu em uma terra dominada pelo Zentrum, o partido católico da República de Weimar. Deixou esse mundo rural ao entrar no seminário e, desde cedo, apaixonou-se pelos estudos. Queria a carreira acadêmica.O mestrado foi sobre Santo Agostinho (Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho), um dos autores que lhe marcaram o percurso intelectual. Outro foi São Boaventura. Quase teve o doutorado barrado por seu orientador, o que lhe teria fechado o caminho da cátedra de teologia, única ambição desse intelectual em sua vida.O teólogo Ratzinger elogiava o Iluminismo, pois este afirmara a inviolabilidade dos direitos humanos e criara, assim, as condições políticas para a liberdade de culto. Acreditava, no entanto, que sem a fé o esclarecimento seria estéril, pois a razão e a ciência não podem dar todas as respostas procuradas pelo homem. Em suma, sem Deus, não haveria como defender uma ética que garantisse ao homem proteção contra os extremos de um pensamento que constrói a bomba atômica porque útil e necessária e, assim, conduz à barbárie.Transformado em cardeal e braço direito de João Paulo II, deu entrevistas aos jornalistas transformadas em três livros. Quando se tornou papa, sua obra contava com 16 volumes de teologia - desde então, publicou outros três, além de três encíclicas e dezenas de outros documentos oficiais. Auxiliou o amigo Wojtyla na elaboração da encíclica Fides et Ratio, de 1998 - mais uma demonstração de que a fé e a razão e a necessidade de adequar uma à outra ocuparam um papel central em sua obra."Ele pensa que a fé não pode se reduzir à razão, mas deve ser consentânea a ela. O racionalismo que reduz a realidade à razão nunca dará uma resposta total sobre a nossa realidade, pois o homem é criado e aberto à transcendência", diz padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Para Bento XVI, a fé revela o que somos. "A última realidade do homem só é revelada pela fé."Para ele, uma das maiores heranças de Ratzinger será o diálogo com a ciência e a razão. Essa é também a opinião do padre José Arnaldo Juliano dos Santos, professor de teologia. "Ele é um papa pouco compreendido." No diálogo com Ratzinger, o filósofo Jürgen Habermas, que defendeu a razão comunicativa como base de uma ética moderna, admitiu que essa razão não podia passar sem a herança de valores afirmados pela religião.Crítica. A obra de Ratzinger não é isenta de críticas. "Ele é um autor importante. Não como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac", diz Libânio. Todos os teólogos citados por Libânio estiveram no Concílio Vaticano 2.º ao lado de Ratzinger. Dois deles - Lubac e Balthasar - foram companheiros do futuro papa na revista Communio, para a qual também colaborava o cardeal de Milão e papável Angelo Scola."O que Karl Rahner foi para o diálogo ecumênico, Ratzinger foi para o diálogo com a cultura e a ciência", disse padre José Arnaldo. Em vez de renegar a lógica científica, o papa procurou penetrar em seus argumentos. Não para fazer proselitismo, mas para a busca de um entendimento sobre a verdade. "Em sua obra Jesus de Nazaré, por exemplo, Ratzinger 'conversa' com a antropologia, a história, a sociologia e com as demais ciências humanas que podem contribuir para melhorar o entendimento do Evangelho", completou o padre.Ratzinger não seria, pois, um conservador fechado, intransigente. Pessimista em relação ao mundo? Talvez por causa da formação marcada por Santo Agostinho, que não via salvação na cidade dos homens, mas degradação. Um papa difícil de ser amado, mas também incompreendido, principalmente, por quem espera da Igreja o que ela não oferece: aceitação de escolhas contrárias ao que é fundamental à fé vivida em uma instituição com 2 mil anos de história, cuja lei suprema é a salvação das almas.

Nunca um pontífice escreveu tanto, foi tantas vezes entrevistado ou dialogou com tantos filósofos e teólogos. Sua obra é conhecida e criticada, mas, ainda assim, são muitos os que consideram Bento XVI um papa incompreendido.Joseph Ratzinger dialogou com a ciência e com o racionalismo. O teólogo sabia que a fé abandonada pela razão conduziria ao fanatismo, ao fundamentalismo. Homem nascido na Baviera, naquela Mitteleurope marcada pelo Barroco e pela Contrarreforma, cresceu em uma terra dominada pelo Zentrum, o partido católico da República de Weimar. Deixou esse mundo rural ao entrar no seminário e, desde cedo, apaixonou-se pelos estudos. Queria a carreira acadêmica.O mestrado foi sobre Santo Agostinho (Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho), um dos autores que lhe marcaram o percurso intelectual. Outro foi São Boaventura. Quase teve o doutorado barrado por seu orientador, o que lhe teria fechado o caminho da cátedra de teologia, única ambição desse intelectual em sua vida.O teólogo Ratzinger elogiava o Iluminismo, pois este afirmara a inviolabilidade dos direitos humanos e criara, assim, as condições políticas para a liberdade de culto. Acreditava, no entanto, que sem a fé o esclarecimento seria estéril, pois a razão e a ciência não podem dar todas as respostas procuradas pelo homem. Em suma, sem Deus, não haveria como defender uma ética que garantisse ao homem proteção contra os extremos de um pensamento que constrói a bomba atômica porque útil e necessária e, assim, conduz à barbárie.Transformado em cardeal e braço direito de João Paulo II, deu entrevistas aos jornalistas transformadas em três livros. Quando se tornou papa, sua obra contava com 16 volumes de teologia - desde então, publicou outros três, além de três encíclicas e dezenas de outros documentos oficiais. Auxiliou o amigo Wojtyla na elaboração da encíclica Fides et Ratio, de 1998 - mais uma demonstração de que a fé e a razão e a necessidade de adequar uma à outra ocuparam um papel central em sua obra."Ele pensa que a fé não pode se reduzir à razão, mas deve ser consentânea a ela. O racionalismo que reduz a realidade à razão nunca dará uma resposta total sobre a nossa realidade, pois o homem é criado e aberto à transcendência", diz padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Para Bento XVI, a fé revela o que somos. "A última realidade do homem só é revelada pela fé."Para ele, uma das maiores heranças de Ratzinger será o diálogo com a ciência e a razão. Essa é também a opinião do padre José Arnaldo Juliano dos Santos, professor de teologia. "Ele é um papa pouco compreendido." No diálogo com Ratzinger, o filósofo Jürgen Habermas, que defendeu a razão comunicativa como base de uma ética moderna, admitiu que essa razão não podia passar sem a herança de valores afirmados pela religião.Crítica. A obra de Ratzinger não é isenta de críticas. "Ele é um autor importante. Não como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac", diz Libânio. Todos os teólogos citados por Libânio estiveram no Concílio Vaticano 2.º ao lado de Ratzinger. Dois deles - Lubac e Balthasar - foram companheiros do futuro papa na revista Communio, para a qual também colaborava o cardeal de Milão e papável Angelo Scola."O que Karl Rahner foi para o diálogo ecumênico, Ratzinger foi para o diálogo com a cultura e a ciência", disse padre José Arnaldo. Em vez de renegar a lógica científica, o papa procurou penetrar em seus argumentos. Não para fazer proselitismo, mas para a busca de um entendimento sobre a verdade. "Em sua obra Jesus de Nazaré, por exemplo, Ratzinger 'conversa' com a antropologia, a história, a sociologia e com as demais ciências humanas que podem contribuir para melhorar o entendimento do Evangelho", completou o padre.Ratzinger não seria, pois, um conservador fechado, intransigente. Pessimista em relação ao mundo? Talvez por causa da formação marcada por Santo Agostinho, que não via salvação na cidade dos homens, mas degradação. Um papa difícil de ser amado, mas também incompreendido, principalmente, por quem espera da Igreja o que ela não oferece: aceitação de escolhas contrárias ao que é fundamental à fé vivida em uma instituição com 2 mil anos de história, cuja lei suprema é a salvação das almas.

Nunca um pontífice escreveu tanto, foi tantas vezes entrevistado ou dialogou com tantos filósofos e teólogos. Sua obra é conhecida e criticada, mas, ainda assim, são muitos os que consideram Bento XVI um papa incompreendido.Joseph Ratzinger dialogou com a ciência e com o racionalismo. O teólogo sabia que a fé abandonada pela razão conduziria ao fanatismo, ao fundamentalismo. Homem nascido na Baviera, naquela Mitteleurope marcada pelo Barroco e pela Contrarreforma, cresceu em uma terra dominada pelo Zentrum, o partido católico da República de Weimar. Deixou esse mundo rural ao entrar no seminário e, desde cedo, apaixonou-se pelos estudos. Queria a carreira acadêmica.O mestrado foi sobre Santo Agostinho (Povo e casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho), um dos autores que lhe marcaram o percurso intelectual. Outro foi São Boaventura. Quase teve o doutorado barrado por seu orientador, o que lhe teria fechado o caminho da cátedra de teologia, única ambição desse intelectual em sua vida.O teólogo Ratzinger elogiava o Iluminismo, pois este afirmara a inviolabilidade dos direitos humanos e criara, assim, as condições políticas para a liberdade de culto. Acreditava, no entanto, que sem a fé o esclarecimento seria estéril, pois a razão e a ciência não podem dar todas as respostas procuradas pelo homem. Em suma, sem Deus, não haveria como defender uma ética que garantisse ao homem proteção contra os extremos de um pensamento que constrói a bomba atômica porque útil e necessária e, assim, conduz à barbárie.Transformado em cardeal e braço direito de João Paulo II, deu entrevistas aos jornalistas transformadas em três livros. Quando se tornou papa, sua obra contava com 16 volumes de teologia - desde então, publicou outros três, além de três encíclicas e dezenas de outros documentos oficiais. Auxiliou o amigo Wojtyla na elaboração da encíclica Fides et Ratio, de 1998 - mais uma demonstração de que a fé e a razão e a necessidade de adequar uma à outra ocuparam um papel central em sua obra."Ele pensa que a fé não pode se reduzir à razão, mas deve ser consentânea a ela. O racionalismo que reduz a realidade à razão nunca dará uma resposta total sobre a nossa realidade, pois o homem é criado e aberto à transcendência", diz padre João Batista Libânio, professor de teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. Para Bento XVI, a fé revela o que somos. "A última realidade do homem só é revelada pela fé."Para ele, uma das maiores heranças de Ratzinger será o diálogo com a ciência e a razão. Essa é também a opinião do padre José Arnaldo Juliano dos Santos, professor de teologia. "Ele é um papa pouco compreendido." No diálogo com Ratzinger, o filósofo Jürgen Habermas, que defendeu a razão comunicativa como base de uma ética moderna, admitiu que essa razão não podia passar sem a herança de valores afirmados pela religião.Crítica. A obra de Ratzinger não é isenta de críticas. "Ele é um autor importante. Não como Karl Rahner, Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac", diz Libânio. Todos os teólogos citados por Libânio estiveram no Concílio Vaticano 2.º ao lado de Ratzinger. Dois deles - Lubac e Balthasar - foram companheiros do futuro papa na revista Communio, para a qual também colaborava o cardeal de Milão e papável Angelo Scola."O que Karl Rahner foi para o diálogo ecumênico, Ratzinger foi para o diálogo com a cultura e a ciência", disse padre José Arnaldo. Em vez de renegar a lógica científica, o papa procurou penetrar em seus argumentos. Não para fazer proselitismo, mas para a busca de um entendimento sobre a verdade. "Em sua obra Jesus de Nazaré, por exemplo, Ratzinger 'conversa' com a antropologia, a história, a sociologia e com as demais ciências humanas que podem contribuir para melhorar o entendimento do Evangelho", completou o padre.Ratzinger não seria, pois, um conservador fechado, intransigente. Pessimista em relação ao mundo? Talvez por causa da formação marcada por Santo Agostinho, que não via salvação na cidade dos homens, mas degradação. Um papa difícil de ser amado, mas também incompreendido, principalmente, por quem espera da Igreja o que ela não oferece: aceitação de escolhas contrárias ao que é fundamental à fé vivida em uma instituição com 2 mil anos de história, cuja lei suprema é a salvação das almas.

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