Por quase um século, cientistas consideraram que o local mais quente da Terra era a cidade de El Azizia, a 50 quilômetros do Mar Mediterrâneo, na Líbia. Em 1922, os termômetros teriam marcado 58°C num dia de verão, no que era a base militar italiana no norte da África. Mas, ontem, data em que seriam comemorados os 90 anos da marca em Azizia, o recorde foi invalidado. Agora, o índice pertence a Greenland Ranch, no Vale da Morte, na Califórnia, que registrou 56,7°C em 1913.A investigação que levou ao cancelamento do recorde começou em março de 2010, com a designação de uma equipe pela Organização Mundial de Meteorologia. Mas o diretor do Centro Meteorológico Líbio e líder na investigação, Khalid El Fadii, desapareceu por oito meses, após escapar de Trípoli em meio à revolução que derrubaria meses depois seu chefe supremo, Muamar Kadafi. Após a queda do regime, o cientista completou seu levantamento ao lado de especialistas britânicos e americanos, que na quinta-feira (13) foi revelado em Genebra.As dúvidas começaram quando os registros de 1922 mostravam que estações de observação próximas ao local do recorde não repetiam os números incríveis que eram registrados em Azizia. O grupo chegou a duas conclusões. A primeira, de que a temperatura estava sendo medida perto do asfalto, o que aumentaria o calor. O segundo problema é que a pessoa responsável provavelmente não tinha experiência, interpretou mal o que os equipamentos mostravam e registrou números errados. Para completar, os instrumentos usados eram obsoletos para a época.ArqueologiaA iniciativa de investigar o dado faz parte de uma tendência entre uma parcela de cientistas que, graças a tecnologias mais modernas, está escavando e encontrando materiais usados por cientistas no passado. "Nos últimos dez anos, temos visto muito desse fenômeno da arqueologia de dados, ou seja, a descoberta de antigos manuscritos e uma tentativa de avaliá-los. Não para desmenti-los, mas para garantir que o mundo tenha hoje as melhores informações possíveis", disse o cientista David Parker."A importância de ter dados corretos não é apenas para fazer justiça à ciência, mas também por causa da mudança climática. Precisamos de dados exatos sobre eventos extremos justamente para poder nos preparar para eles." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.