Redação da Fuvest aborda refugiados ambientais e vulnerabilidade social; veja íntegra da prova


Organizadores usaram textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak; além de imagens de Sebastião Salgado

Por Marcela Paes e Fabiana Cambricoli
Atualização:

A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que cuida da seleção de candidatos para a Universidade de São Paulo (USP), divulgou neste domingo, 8, o tema da redação da segunda fase de seu concorrido processo seletivo. A Fuvest propôs o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

A Fuvest usou textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, além de fotos do livro Êxodos, de Sebastião Salgado. Além disso, reportagens sobre o tema foram usadas sobre o assunto. “Com a proposta, a Fuvest espera que os candidatos reflitam a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”, afirmava o comunicado oficial. Os textos usados foram tirados do livro Ideias para adiar o fim do mundo, de Krenak, e do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Para professores de redação de cursinhos pré-vestibulares, o tema proposto exigia abordagem multidisciplinar e que discutisse as causas e consequências do problema e as ações que devem ser adotadas para enfrentar o problema crescente dos deslocamentos forçados motivados por questões ambientais.

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Segundo Arthur Medeiros, coordenador de redação do Poliedro Curso, a coletânea de textos de apoio estava bem construída e fornecia base suficiente para que os candidatos pudessem tecer reflexões sobre o tema.

“De modo geral, não considero esse um tema difícil. Ele traz um problema social muito claro e sobre o qual muito se fala. O trabalho maior ao qual o candidato deveria se dedicar era o de refletir sobre essa questão e mostrar o que leva determinados lugares do mundo a enfrentar esse desafio de forma tão mais alarmante do que outros”, destaca. Ele diz que uma abordagem possível seria discutir as causas da vulnerabilidade social, “que deixa milhões de pessoas à mercê das mudanças climáticas causadas pelo nosso modo de vida contemporâneo”.

“É um tema muito pertinente e interdisciplinar. Os candidatos precisavam ter conhecimento de história, geopolítica e atualidades, com a leitura de jornais”, diz Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de linguagens do Cursinho da Poli.

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A especialista afirma que uma das abordagens possíveis para os candidatos era discutir a responsabilidade dos governos no enfrentamento de questões que poderiam evitar desastres ambientais e as migrações forçadas. “Enfatizar que não são desastres naturais, é um problema político e muitos líderes mundiais já têm sido chamados a atenção por conta da responsabilidade de organizarem políticas ambientais que não estão sendo feitas”, afirma.

Ela diz que outro ponto importante a ser abordado no texto produzido pelos candidatos são as condições em que vivem os refugiados ambientais dada sua condição de maior vulnerabilidade. “(Mostrar que esses refugiados) Não vão ter acesso à água e sofrerão com a insegurança alimentar”, comenta.

Para Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o aluno poderia ainda falar sobre formas de prevenir fenômenos ambientais de grandes proporções para reduzir a necessidade das migrações forçadas, que muitas vezes desencadeiam crises humanitárias.

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Professor de redação do Curso Anglo, Felipe Leal destaca que a Redação deste ano traz uma mudança no tipo de tema proposto. “A Fuvest tem tradição de trazer temas de caráter mais abstrato e filosófico e claramente agora opta por um tema relacionado a um problema social. Isso já tinha sido observado nas questões de primeira fase, essa tendência de trazer temas de preocupação social”, afirma.

A íntegra da prova pode ser vista aqui.

Candidatos elogiam fato de prova abordar temas atuais

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Maria Antônia Malatesta, de 21 anos, foi a primeira a sair da Faculdade de Educação da USP, às 15h. Ela diz que achou a prova bem feita por abordar questões políticas e tratar de temas atuais. A estudante, que tenta uma vaga no curso de Biblioteconomia, gostou, principalmente, do tema da redação. “Achei a prova bem contextualizada. Gostei dos temas propostos nas questões.”

Maria Antônia Malatesta, 21, presta a segunda fase da Fuvest Foto: Marcela Paes

Artur Oliveira Martins, de 23 anos, também elogiou o tema da redação. “A questão climática é muito atual”. Ele contou que também prestou Unicamp e observou a mesma tendência. “Nos dois vestibulares eu vi que existiu essa inclinação a falar de temas atuais”. Mesmo sendo o dia “mais difícil” para Artur - ele quer fazer o curso de matemática - já que hoje a prova exigia conhecimentos de humanas, o estudante acha que foi bem por ter lido “todas as obras obrigatórias”.

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Cauê Tonelli Marangoni, de 28 anos, prestou a prova para fazer licenciatura em educação física pela terceira vez. Para ele, esta foi a mais fácil. “Teve muita interpretação de texto”. Tonelli diz que os textos de apoio o ajudaram bastante na formulação da redação. “Para ser sincero, eu não estudei tanto desta vez e não esperava um tema de redação como este, mas, depois de ler os textos de apoio, acho que consegui fazer uma redação legal.”

Obras usadas

O livro de Krenak, contemporâneo, foi lançado em 2019, antes da pandemia. Em um dos trechos, o autor escreve: “Os grandes centros, as grandes metrópoles do mundo são uma reprodução uns dos outros. Se você for para Tóquio, Berlim, Nova York, Lisboa ou São Paulo, verá o mesmo entusiasmo em fazer torres incríveis, elevadores espiroquetas, veículos espaciais...” Em outro trecho, ele sentencia. “Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a Terra”.

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Vidas Secas é o maior romance de Graciliano Ramos. Ele foi publicado pela primeira vez antes da Segunda Guerra Mundial, em 1938, e retrata a miserável existência de uma família de retirantes durante sua viagem pelo sertão do Nordeste. Em um dos trechos, Ramos escreve: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

De acordo com Arthur Medeiros, do Poliedro, que fez o exame, um dos textos dava ao candidato o entendimento do conceito de refugiados ambientais. “Apesar de associarmos diretamente a questão dos refugiados a guerras e conflitos, o texto deixava claro que a maior parte dos refugiados no mundo se veem nessa situação por conta de problemas ligados às mudanças climáticas e ao esgotamento do meio ambiente”, afirma.

Além disso, diz ele, dois dos textos mostravam dados do Relatório Groundswell, “que evidencia o maior impacto que as mudanças climáticas têm nas regiões consideradas mais periféricas do mundo, como América Latina, África Subsaariana e Leste Asiático”. Por fim, ressalta o professor, um trecho de Vidas Secas foi trazido para mostrar “como esse problema também é evidente no contexto brasileiro”.

Prova de Português

Na seção de Português, a prova trouxe referências diversas, como trechos de textos de Paulo Freire, uma música de Criolo, uma peça publicitária da organização Greenpeace, de defesa do meio ambiente, e uma charge sobre desigualdade social no Brasil.

O restante da prova, diz o professor de Português do Curso e Colégio Objetivo Laudemir Fragoso, demandou maturidade e análise crítica. A “decoreba” e a leitura de resumos dos livros cobrados não era suficientes, segundo ele. “Exigiu-se análise profunda das obras literárias.”

Para Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de Linguagens do Cursinho da Poli, a prova de Português não destoa do que se vê nos outros anos, com questões de Gramática, de Literatura e interpretação de texto. “Tivemos a presença de texto verbal, não verbal, de infográfico, tivemos questões clássicas de Gramática, como operadores argumentativos, questões de interpretação de texto e também quatro questões de Literatura”, enumera.

A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que cuida da seleção de candidatos para a Universidade de São Paulo (USP), divulgou neste domingo, 8, o tema da redação da segunda fase de seu concorrido processo seletivo. A Fuvest propôs o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

A Fuvest usou textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, além de fotos do livro Êxodos, de Sebastião Salgado. Além disso, reportagens sobre o tema foram usadas sobre o assunto. “Com a proposta, a Fuvest espera que os candidatos reflitam a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”, afirmava o comunicado oficial. Os textos usados foram tirados do livro Ideias para adiar o fim do mundo, de Krenak, e do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Para professores de redação de cursinhos pré-vestibulares, o tema proposto exigia abordagem multidisciplinar e que discutisse as causas e consequências do problema e as ações que devem ser adotadas para enfrentar o problema crescente dos deslocamentos forçados motivados por questões ambientais.

Segundo Arthur Medeiros, coordenador de redação do Poliedro Curso, a coletânea de textos de apoio estava bem construída e fornecia base suficiente para que os candidatos pudessem tecer reflexões sobre o tema.

“De modo geral, não considero esse um tema difícil. Ele traz um problema social muito claro e sobre o qual muito se fala. O trabalho maior ao qual o candidato deveria se dedicar era o de refletir sobre essa questão e mostrar o que leva determinados lugares do mundo a enfrentar esse desafio de forma tão mais alarmante do que outros”, destaca. Ele diz que uma abordagem possível seria discutir as causas da vulnerabilidade social, “que deixa milhões de pessoas à mercê das mudanças climáticas causadas pelo nosso modo de vida contemporâneo”.

“É um tema muito pertinente e interdisciplinar. Os candidatos precisavam ter conhecimento de história, geopolítica e atualidades, com a leitura de jornais”, diz Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de linguagens do Cursinho da Poli.

A especialista afirma que uma das abordagens possíveis para os candidatos era discutir a responsabilidade dos governos no enfrentamento de questões que poderiam evitar desastres ambientais e as migrações forçadas. “Enfatizar que não são desastres naturais, é um problema político e muitos líderes mundiais já têm sido chamados a atenção por conta da responsabilidade de organizarem políticas ambientais que não estão sendo feitas”, afirma.

Ela diz que outro ponto importante a ser abordado no texto produzido pelos candidatos são as condições em que vivem os refugiados ambientais dada sua condição de maior vulnerabilidade. “(Mostrar que esses refugiados) Não vão ter acesso à água e sofrerão com a insegurança alimentar”, comenta.

Para Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o aluno poderia ainda falar sobre formas de prevenir fenômenos ambientais de grandes proporções para reduzir a necessidade das migrações forçadas, que muitas vezes desencadeiam crises humanitárias.

Professor de redação do Curso Anglo, Felipe Leal destaca que a Redação deste ano traz uma mudança no tipo de tema proposto. “A Fuvest tem tradição de trazer temas de caráter mais abstrato e filosófico e claramente agora opta por um tema relacionado a um problema social. Isso já tinha sido observado nas questões de primeira fase, essa tendência de trazer temas de preocupação social”, afirma.

A íntegra da prova pode ser vista aqui.

Candidatos elogiam fato de prova abordar temas atuais

Maria Antônia Malatesta, de 21 anos, foi a primeira a sair da Faculdade de Educação da USP, às 15h. Ela diz que achou a prova bem feita por abordar questões políticas e tratar de temas atuais. A estudante, que tenta uma vaga no curso de Biblioteconomia, gostou, principalmente, do tema da redação. “Achei a prova bem contextualizada. Gostei dos temas propostos nas questões.”

Maria Antônia Malatesta, 21, presta a segunda fase da Fuvest Foto: Marcela Paes

Artur Oliveira Martins, de 23 anos, também elogiou o tema da redação. “A questão climática é muito atual”. Ele contou que também prestou Unicamp e observou a mesma tendência. “Nos dois vestibulares eu vi que existiu essa inclinação a falar de temas atuais”. Mesmo sendo o dia “mais difícil” para Artur - ele quer fazer o curso de matemática - já que hoje a prova exigia conhecimentos de humanas, o estudante acha que foi bem por ter lido “todas as obras obrigatórias”.

Cauê Tonelli Marangoni, de 28 anos, prestou a prova para fazer licenciatura em educação física pela terceira vez. Para ele, esta foi a mais fácil. “Teve muita interpretação de texto”. Tonelli diz que os textos de apoio o ajudaram bastante na formulação da redação. “Para ser sincero, eu não estudei tanto desta vez e não esperava um tema de redação como este, mas, depois de ler os textos de apoio, acho que consegui fazer uma redação legal.”

Obras usadas

O livro de Krenak, contemporâneo, foi lançado em 2019, antes da pandemia. Em um dos trechos, o autor escreve: “Os grandes centros, as grandes metrópoles do mundo são uma reprodução uns dos outros. Se você for para Tóquio, Berlim, Nova York, Lisboa ou São Paulo, verá o mesmo entusiasmo em fazer torres incríveis, elevadores espiroquetas, veículos espaciais...” Em outro trecho, ele sentencia. “Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a Terra”.

Vidas Secas é o maior romance de Graciliano Ramos. Ele foi publicado pela primeira vez antes da Segunda Guerra Mundial, em 1938, e retrata a miserável existência de uma família de retirantes durante sua viagem pelo sertão do Nordeste. Em um dos trechos, Ramos escreve: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

De acordo com Arthur Medeiros, do Poliedro, que fez o exame, um dos textos dava ao candidato o entendimento do conceito de refugiados ambientais. “Apesar de associarmos diretamente a questão dos refugiados a guerras e conflitos, o texto deixava claro que a maior parte dos refugiados no mundo se veem nessa situação por conta de problemas ligados às mudanças climáticas e ao esgotamento do meio ambiente”, afirma.

Além disso, diz ele, dois dos textos mostravam dados do Relatório Groundswell, “que evidencia o maior impacto que as mudanças climáticas têm nas regiões consideradas mais periféricas do mundo, como América Latina, África Subsaariana e Leste Asiático”. Por fim, ressalta o professor, um trecho de Vidas Secas foi trazido para mostrar “como esse problema também é evidente no contexto brasileiro”.

Prova de Português

Na seção de Português, a prova trouxe referências diversas, como trechos de textos de Paulo Freire, uma música de Criolo, uma peça publicitária da organização Greenpeace, de defesa do meio ambiente, e uma charge sobre desigualdade social no Brasil.

O restante da prova, diz o professor de Português do Curso e Colégio Objetivo Laudemir Fragoso, demandou maturidade e análise crítica. A “decoreba” e a leitura de resumos dos livros cobrados não era suficientes, segundo ele. “Exigiu-se análise profunda das obras literárias.”

Para Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de Linguagens do Cursinho da Poli, a prova de Português não destoa do que se vê nos outros anos, com questões de Gramática, de Literatura e interpretação de texto. “Tivemos a presença de texto verbal, não verbal, de infográfico, tivemos questões clássicas de Gramática, como operadores argumentativos, questões de interpretação de texto e também quatro questões de Literatura”, enumera.

A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que cuida da seleção de candidatos para a Universidade de São Paulo (USP), divulgou neste domingo, 8, o tema da redação da segunda fase de seu concorrido processo seletivo. A Fuvest propôs o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

A Fuvest usou textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, além de fotos do livro Êxodos, de Sebastião Salgado. Além disso, reportagens sobre o tema foram usadas sobre o assunto. “Com a proposta, a Fuvest espera que os candidatos reflitam a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”, afirmava o comunicado oficial. Os textos usados foram tirados do livro Ideias para adiar o fim do mundo, de Krenak, e do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Para professores de redação de cursinhos pré-vestibulares, o tema proposto exigia abordagem multidisciplinar e que discutisse as causas e consequências do problema e as ações que devem ser adotadas para enfrentar o problema crescente dos deslocamentos forçados motivados por questões ambientais.

Segundo Arthur Medeiros, coordenador de redação do Poliedro Curso, a coletânea de textos de apoio estava bem construída e fornecia base suficiente para que os candidatos pudessem tecer reflexões sobre o tema.

“De modo geral, não considero esse um tema difícil. Ele traz um problema social muito claro e sobre o qual muito se fala. O trabalho maior ao qual o candidato deveria se dedicar era o de refletir sobre essa questão e mostrar o que leva determinados lugares do mundo a enfrentar esse desafio de forma tão mais alarmante do que outros”, destaca. Ele diz que uma abordagem possível seria discutir as causas da vulnerabilidade social, “que deixa milhões de pessoas à mercê das mudanças climáticas causadas pelo nosso modo de vida contemporâneo”.

“É um tema muito pertinente e interdisciplinar. Os candidatos precisavam ter conhecimento de história, geopolítica e atualidades, com a leitura de jornais”, diz Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de linguagens do Cursinho da Poli.

A especialista afirma que uma das abordagens possíveis para os candidatos era discutir a responsabilidade dos governos no enfrentamento de questões que poderiam evitar desastres ambientais e as migrações forçadas. “Enfatizar que não são desastres naturais, é um problema político e muitos líderes mundiais já têm sido chamados a atenção por conta da responsabilidade de organizarem políticas ambientais que não estão sendo feitas”, afirma.

Ela diz que outro ponto importante a ser abordado no texto produzido pelos candidatos são as condições em que vivem os refugiados ambientais dada sua condição de maior vulnerabilidade. “(Mostrar que esses refugiados) Não vão ter acesso à água e sofrerão com a insegurança alimentar”, comenta.

Para Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o aluno poderia ainda falar sobre formas de prevenir fenômenos ambientais de grandes proporções para reduzir a necessidade das migrações forçadas, que muitas vezes desencadeiam crises humanitárias.

Professor de redação do Curso Anglo, Felipe Leal destaca que a Redação deste ano traz uma mudança no tipo de tema proposto. “A Fuvest tem tradição de trazer temas de caráter mais abstrato e filosófico e claramente agora opta por um tema relacionado a um problema social. Isso já tinha sido observado nas questões de primeira fase, essa tendência de trazer temas de preocupação social”, afirma.

A íntegra da prova pode ser vista aqui.

Candidatos elogiam fato de prova abordar temas atuais

Maria Antônia Malatesta, de 21 anos, foi a primeira a sair da Faculdade de Educação da USP, às 15h. Ela diz que achou a prova bem feita por abordar questões políticas e tratar de temas atuais. A estudante, que tenta uma vaga no curso de Biblioteconomia, gostou, principalmente, do tema da redação. “Achei a prova bem contextualizada. Gostei dos temas propostos nas questões.”

Maria Antônia Malatesta, 21, presta a segunda fase da Fuvest Foto: Marcela Paes

Artur Oliveira Martins, de 23 anos, também elogiou o tema da redação. “A questão climática é muito atual”. Ele contou que também prestou Unicamp e observou a mesma tendência. “Nos dois vestibulares eu vi que existiu essa inclinação a falar de temas atuais”. Mesmo sendo o dia “mais difícil” para Artur - ele quer fazer o curso de matemática - já que hoje a prova exigia conhecimentos de humanas, o estudante acha que foi bem por ter lido “todas as obras obrigatórias”.

Cauê Tonelli Marangoni, de 28 anos, prestou a prova para fazer licenciatura em educação física pela terceira vez. Para ele, esta foi a mais fácil. “Teve muita interpretação de texto”. Tonelli diz que os textos de apoio o ajudaram bastante na formulação da redação. “Para ser sincero, eu não estudei tanto desta vez e não esperava um tema de redação como este, mas, depois de ler os textos de apoio, acho que consegui fazer uma redação legal.”

Obras usadas

O livro de Krenak, contemporâneo, foi lançado em 2019, antes da pandemia. Em um dos trechos, o autor escreve: “Os grandes centros, as grandes metrópoles do mundo são uma reprodução uns dos outros. Se você for para Tóquio, Berlim, Nova York, Lisboa ou São Paulo, verá o mesmo entusiasmo em fazer torres incríveis, elevadores espiroquetas, veículos espaciais...” Em outro trecho, ele sentencia. “Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a Terra”.

Vidas Secas é o maior romance de Graciliano Ramos. Ele foi publicado pela primeira vez antes da Segunda Guerra Mundial, em 1938, e retrata a miserável existência de uma família de retirantes durante sua viagem pelo sertão do Nordeste. Em um dos trechos, Ramos escreve: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

De acordo com Arthur Medeiros, do Poliedro, que fez o exame, um dos textos dava ao candidato o entendimento do conceito de refugiados ambientais. “Apesar de associarmos diretamente a questão dos refugiados a guerras e conflitos, o texto deixava claro que a maior parte dos refugiados no mundo se veem nessa situação por conta de problemas ligados às mudanças climáticas e ao esgotamento do meio ambiente”, afirma.

Além disso, diz ele, dois dos textos mostravam dados do Relatório Groundswell, “que evidencia o maior impacto que as mudanças climáticas têm nas regiões consideradas mais periféricas do mundo, como América Latina, África Subsaariana e Leste Asiático”. Por fim, ressalta o professor, um trecho de Vidas Secas foi trazido para mostrar “como esse problema também é evidente no contexto brasileiro”.

Prova de Português

Na seção de Português, a prova trouxe referências diversas, como trechos de textos de Paulo Freire, uma música de Criolo, uma peça publicitária da organização Greenpeace, de defesa do meio ambiente, e uma charge sobre desigualdade social no Brasil.

O restante da prova, diz o professor de Português do Curso e Colégio Objetivo Laudemir Fragoso, demandou maturidade e análise crítica. A “decoreba” e a leitura de resumos dos livros cobrados não era suficientes, segundo ele. “Exigiu-se análise profunda das obras literárias.”

Para Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de Linguagens do Cursinho da Poli, a prova de Português não destoa do que se vê nos outros anos, com questões de Gramática, de Literatura e interpretação de texto. “Tivemos a presença de texto verbal, não verbal, de infográfico, tivemos questões clássicas de Gramática, como operadores argumentativos, questões de interpretação de texto e também quatro questões de Literatura”, enumera.

A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), que cuida da seleção de candidatos para a Universidade de São Paulo (USP), divulgou neste domingo, 8, o tema da redação da segunda fase de seu concorrido processo seletivo. A Fuvest propôs o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”.

A Fuvest usou textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, além de fotos do livro Êxodos, de Sebastião Salgado. Além disso, reportagens sobre o tema foram usadas sobre o assunto. “Com a proposta, a Fuvest espera que os candidatos reflitam a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”, afirmava o comunicado oficial. Os textos usados foram tirados do livro Ideias para adiar o fim do mundo, de Krenak, e do clássico Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Para professores de redação de cursinhos pré-vestibulares, o tema proposto exigia abordagem multidisciplinar e que discutisse as causas e consequências do problema e as ações que devem ser adotadas para enfrentar o problema crescente dos deslocamentos forçados motivados por questões ambientais.

Segundo Arthur Medeiros, coordenador de redação do Poliedro Curso, a coletânea de textos de apoio estava bem construída e fornecia base suficiente para que os candidatos pudessem tecer reflexões sobre o tema.

“De modo geral, não considero esse um tema difícil. Ele traz um problema social muito claro e sobre o qual muito se fala. O trabalho maior ao qual o candidato deveria se dedicar era o de refletir sobre essa questão e mostrar o que leva determinados lugares do mundo a enfrentar esse desafio de forma tão mais alarmante do que outros”, destaca. Ele diz que uma abordagem possível seria discutir as causas da vulnerabilidade social, “que deixa milhões de pessoas à mercê das mudanças climáticas causadas pelo nosso modo de vida contemporâneo”.

“É um tema muito pertinente e interdisciplinar. Os candidatos precisavam ter conhecimento de história, geopolítica e atualidades, com a leitura de jornais”, diz Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de linguagens do Cursinho da Poli.

A especialista afirma que uma das abordagens possíveis para os candidatos era discutir a responsabilidade dos governos no enfrentamento de questões que poderiam evitar desastres ambientais e as migrações forçadas. “Enfatizar que não são desastres naturais, é um problema político e muitos líderes mundiais já têm sido chamados a atenção por conta da responsabilidade de organizarem políticas ambientais que não estão sendo feitas”, afirma.

Ela diz que outro ponto importante a ser abordado no texto produzido pelos candidatos são as condições em que vivem os refugiados ambientais dada sua condição de maior vulnerabilidade. “(Mostrar que esses refugiados) Não vão ter acesso à água e sofrerão com a insegurança alimentar”, comenta.

Para Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Objetivo, o aluno poderia ainda falar sobre formas de prevenir fenômenos ambientais de grandes proporções para reduzir a necessidade das migrações forçadas, que muitas vezes desencadeiam crises humanitárias.

Professor de redação do Curso Anglo, Felipe Leal destaca que a Redação deste ano traz uma mudança no tipo de tema proposto. “A Fuvest tem tradição de trazer temas de caráter mais abstrato e filosófico e claramente agora opta por um tema relacionado a um problema social. Isso já tinha sido observado nas questões de primeira fase, essa tendência de trazer temas de preocupação social”, afirma.

A íntegra da prova pode ser vista aqui.

Candidatos elogiam fato de prova abordar temas atuais

Maria Antônia Malatesta, de 21 anos, foi a primeira a sair da Faculdade de Educação da USP, às 15h. Ela diz que achou a prova bem feita por abordar questões políticas e tratar de temas atuais. A estudante, que tenta uma vaga no curso de Biblioteconomia, gostou, principalmente, do tema da redação. “Achei a prova bem contextualizada. Gostei dos temas propostos nas questões.”

Maria Antônia Malatesta, 21, presta a segunda fase da Fuvest Foto: Marcela Paes

Artur Oliveira Martins, de 23 anos, também elogiou o tema da redação. “A questão climática é muito atual”. Ele contou que também prestou Unicamp e observou a mesma tendência. “Nos dois vestibulares eu vi que existiu essa inclinação a falar de temas atuais”. Mesmo sendo o dia “mais difícil” para Artur - ele quer fazer o curso de matemática - já que hoje a prova exigia conhecimentos de humanas, o estudante acha que foi bem por ter lido “todas as obras obrigatórias”.

Cauê Tonelli Marangoni, de 28 anos, prestou a prova para fazer licenciatura em educação física pela terceira vez. Para ele, esta foi a mais fácil. “Teve muita interpretação de texto”. Tonelli diz que os textos de apoio o ajudaram bastante na formulação da redação. “Para ser sincero, eu não estudei tanto desta vez e não esperava um tema de redação como este, mas, depois de ler os textos de apoio, acho que consegui fazer uma redação legal.”

Obras usadas

O livro de Krenak, contemporâneo, foi lançado em 2019, antes da pandemia. Em um dos trechos, o autor escreve: “Os grandes centros, as grandes metrópoles do mundo são uma reprodução uns dos outros. Se você for para Tóquio, Berlim, Nova York, Lisboa ou São Paulo, verá o mesmo entusiasmo em fazer torres incríveis, elevadores espiroquetas, veículos espaciais...” Em outro trecho, ele sentencia. “Enquanto isso, a humanidade vai sendo descolada de uma maneira tão absoluta desse organismo que é a Terra”.

Vidas Secas é o maior romance de Graciliano Ramos. Ele foi publicado pela primeira vez antes da Segunda Guerra Mundial, em 1938, e retrata a miserável existência de uma família de retirantes durante sua viagem pelo sertão do Nordeste. Em um dos trechos, Ramos escreve: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

De acordo com Arthur Medeiros, do Poliedro, que fez o exame, um dos textos dava ao candidato o entendimento do conceito de refugiados ambientais. “Apesar de associarmos diretamente a questão dos refugiados a guerras e conflitos, o texto deixava claro que a maior parte dos refugiados no mundo se veem nessa situação por conta de problemas ligados às mudanças climáticas e ao esgotamento do meio ambiente”, afirma.

Além disso, diz ele, dois dos textos mostravam dados do Relatório Groundswell, “que evidencia o maior impacto que as mudanças climáticas têm nas regiões consideradas mais periféricas do mundo, como América Latina, África Subsaariana e Leste Asiático”. Por fim, ressalta o professor, um trecho de Vidas Secas foi trazido para mostrar “como esse problema também é evidente no contexto brasileiro”.

Prova de Português

Na seção de Português, a prova trouxe referências diversas, como trechos de textos de Paulo Freire, uma música de Criolo, uma peça publicitária da organização Greenpeace, de defesa do meio ambiente, e uma charge sobre desigualdade social no Brasil.

O restante da prova, diz o professor de Português do Curso e Colégio Objetivo Laudemir Fragoso, demandou maturidade e análise crítica. A “decoreba” e a leitura de resumos dos livros cobrados não era suficientes, segundo ele. “Exigiu-se análise profunda das obras literárias.”

Para Evaneide Albuquerque, professora e coordenadora da área de Linguagens do Cursinho da Poli, a prova de Português não destoa do que se vê nos outros anos, com questões de Gramática, de Literatura e interpretação de texto. “Tivemos a presença de texto verbal, não verbal, de infográfico, tivemos questões clássicas de Gramática, como operadores argumentativos, questões de interpretação de texto e também quatro questões de Literatura”, enumera.

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