Após causarem a morte de 10 pessoas na região Sul do País, os ventos do ciclone bomba chegaram também à região Sudeste e no território paranaense entre a noite de terça-feira, 30, e a madrugada desta quarta-feira, 1º.
Rajadas de até 90 km/h são esperadas nos Estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Paraná, velocidade que pode atingir 110 km/h no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No litoral sul paulista, os ventos destruíram lanchas e embarcações.
Chamado de “bomba” pela forte ventania, o ciclone extratropical avança na direção do Oceano Atlântico, segundo o meteorologista João Basso, da Climatempo. Em São Paulo, as rajadas devem se intensificar pela tarde e dissipar ainda antes da noite. Às 10 horas, os ventos chegaram a 45km/h no Aeroporto do Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, e a 45 km/h no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na região metropolitana.
Na quinta-feira, 2, os principais reflexos serão percebidos principalmente por uma ressaca na costa, entre Florianópolis e Arraial do Cabo (RJ), conforme aponta o meteorologista. No Espírito Santo, também está esperada a formação de ondas de até 4 metros de altura em alto mar.
O meteorologista explica que ciclones costumam ocorrer nesta época do ano, com uma média de 13 apenas no mês de julho. O registrado nesta semana se destacou e passou a ser chamado de “bomba” pelos fortes ventos, que ganharam potência com a chegada de uma frente fria.
Após a madrugada com fortes ventos, o amanhecer na cidade de São Paulo foi com nebulosidade e termômetros na casa dos 18º C, em média, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), da Prefeitura de São Paulo. "Não há condição para chuvas, porém os ventos com potencial para queda de árvore continuam atuando na capital paulista", diz comunicado do CGE. A Defesa Civil municipal decretou alerta de baixas temperaturas com a iminente chegada de uma massa de ar frio nos próximos dias.
Da meia-noite até as 8h47, o Corpo de Bombeiros recebeu oito chamados de quedas de árvores na cidade de São Paulo, segundo a corporação. O interior paulista também enfrentou ventos, chuva e incidência de raios.
Na terça-feira, o ciclone bomba atingiu os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deixando ao menos quatro vítimas fatais, além de desabrigados. Os ventos chegaram a 120 km/h.
Ciclone deixa dez mortes em SC e no RS
Em Santa Catarina, foram registradas mortes em Chapecó (1), Santo Amaro da Imperatriz (1), Tijucas (3), Ilhota (1), Itaiópolis (1), Governador Celso Ramos (1) e Rio dos Cedros (1). Um morador segue desaparecido em Brusque. No Rio Grande do Sul, Vanderlei Oliveira, de 53 anos, morreu após ser soterrado por um deslizamento de terra em Nova Prata, na Serra Gaúcha. Ele trabalhava em uma construção no momento do desmoramento.
A tempestade causou quedas de árvores e postes e destelhamento de residências. Mais de 1,5 milhão de pessoas ficaram sem energia elétrica apenas em Santa Catarina, número próximo de 900 mil no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, a falta de energia afetou ao menos seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) no período da manhã, especialmente em bairros periféricos, como Lami e Restinga, mas o atendimento foi mantido, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.
No Rio Grande do Sul, mais de 1,1 mil moradores foram atingidos e mais de 920 residências foram danificadas pelas chuvas e granizo registrados nas últimas 48 horas. Os municípios mais atingidos são Vacaria, com 520 pessoas desalojados, e Capão Bonito do Sul, com 400 moradores atingidos. Em Iraí, no norte do estado, o vendaval destelhou ao menos 300 casas, afetando 250 famílias. A prefeitura de Porto Alegre registrou a queda de 23 árvores, além de como de postes e fios.
Já a Defesa Civil catarinense apontou que foram registrados estragos em 83 municípios até as 6h30. As coordenadorias de Blumenau e Florianópolis atenderam ocorrências em nove municípios cada. Em Palhoça, na região metropolitana, 10 unidades de educação foram afetadas e um ginásio teve o telhado arrancado pela força do vento.
O Corpo de Bombeiros de Santa Catarina somou mais de 1,6 mil ocorrências atendidas entre terça e as 7h30 desta quarta. Mais de mil soldados ficaram empenhados nos trabalhos, com o auxílio de 380 viaturas. Já a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) está com 300 equipes trabalhando para retomar a energia.
Em pronunciamento no começo da tarde, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) lamentou os danos no Estado. "Os estragos foram muitos, o que torna tudo mais complexo, como a remoção de obstáculos e árvores caídas além dos problemas em rodovias com os deslizamentos. Estamos atuando e monitorando a situação, mas esta quarta-feira será de transtornos para os gaúchos que foram atingidos de alguma forma por este ciclone bomba", declarou.
Entre os gaúchos, a situação é considerada mais grave em 19 municípios. "Em São Sebastião do Caí, o rio subiu e 73 pessoas tiveram que ir para um ginásio, onde o cuidado é ainda maior, em função da pandemia. Este é o único município com problemas de enchente”, frisouo coordenador da Defesa Civil, coronel Júlio César Rocha.
Em Vacaria, o vendaval deixou 520 pessoas desalojadas e 130 casas danificadas, contabilizou o prefeito Amadeu Boeira (PSDB). "Caíram muitas árvores na rede de luz do nosso município. Muitos danos foram causados, mas ninguém ficou ferido. Já compramos materiais para auxiliar a reconstrução das casas. Estamos com desemprego muito grande devido a pandemia, e agora para piorar ainda veio este ciclone”, frisou.
Ao se deslocar para o oceano, o ciclone-bomba deixou em alerta a região litorânea do Rio Grande do Sul. Em Tramandaí, a praia mais populosa, o hospital da cidade foi destelhado por volta das 4h30. Nenhum dos 10 pacientes se feriu, mas seis precisaram ser transferidos. Na orla, a ressaca aumentou a força das ondas, que já se aproximam do muro que divide a areia do calçadão.
Ciclone destrói embarcações no litoral de São Paulo
Cerca de 20 embarcações afundaram ou foram danificadas após serem atingidas por grandes ondes causadas pelo ciclone bomba, no final da noite de terça-feira, 30, em Peruíbe, litoral sul do Estado de São Paulo. Barcos de pesca e lanchas que estavam amarradas a um píer de atracação foram arrancados pelo vendaval. Conforme a prefeitura, duas lanchas e sete embarcações maiores afundaram. Outros barcos menores foram atirados contra as rochas e a estrutura de uma ponte, ficando destruídos ou avariados.
Conforme a Defesa Civil estadual, havia previsão de ventos fortes, com velocidade de até 88 km por hora, em todo o litoral, entre as 21 horas de terça e o mesmo horário desta quarta. O órgão expediu comunicado de alerta meteorológico a toda a rede de prevenção, incluindo as prefeituras do litoral de São Paulo.