A polícia abriu ontem mais dois inquéritos para apurar a venda de remédios roubados e desviados de hospitais públicos de São Paulo. Trata-se de um desdobramento da Operação Medula, que levou nove pessoas para a cadeia na sexta-feira, acusadas de formação de quadrilha, receptação e de venda de medicamentos de origem desconhecida.O alvo agora do Departamento de Polícia de Proteção da Cidadania (DPPC) são as operações de venda dos remédios para hospitais e clínicas particulares do estado - 21 deles foram vistoriados em São Paulo pela Vigilância Sanitária na última sexta-feira. Naquele dia, os fiscais de vigilância haviam encontrado dez caixas de MabThera - remédio oncológico vendido por até R$ 6 mil a caixa - no Fleury Hospital Dia.Outra caixa foi achada na Clínica Oncológica Serviços Médicos, em Higienópolis, no centro. Na manhã de ontem, os policiais voltaram à clínica e apreenderam mais cinco caixas de MabThera e três de outros remédios. "Ambos apresentaram notas ficais da compra por preços semelhantes aos de mercado", afirmou o delegado Sérgio Norcia, do DPPC.No caso do Fleury, o hospital apresentou duas notas fiscais, cada uma delas informando a compra de cinco caixas de MabThera por R$ 5,1 mil cada caixa. As notas foram emitidas pela distribuidora de remédios Oncofarma, que foi alvo de operação do DPPC há um mês - tratou-se de ação preparatória para a Operação Medula.A clínica de Higienópolis comprou os medicamentos da Capital Farma Comércio e Produtos Hospitalares, uma das empresas investigadas na Operação Medula. A Capital seria uma das empresas da família do empresário Dahir Fernandes Filho, de 52 anos. Ele foi preso durante a Operação Medula.A polícia agora vai enviar as notas fiscais apreendidas à Receita Federal e estadual para verificar a autenticidade dos documentos e se todos os impostos foram de fato recolhidos. Também será investigada a autenticidade dos documentos. "Abrimos um inquérito para cada caso", afirmou o delegado Norcia.Na tarde de ontem, a direção do Fleury Hospital Dia informou por meio de nota oficial que desconhecia qualquer "prática de distribuição ilegal de medicamentos". A empresa informou ainda que tem cadastro comercial do fornecedor, "bem como toda a documentação que indicava que a operação de compra do lote do medicamento MabThera era rigorosamente legal, dentro do preço praticado no mercado". O texto conclui informando que , "assim que soube do fato ocorrido, o Fleury Hospital Dia colocou-se à inteira disposição das autoridades para que o caso seja devidamente apurado e esclarecido".A polícia enviou os remédios apreendidos à Vigilância Sanitária, que deve guardá-los e analisá-los. No caso do MabThera, parte do material supostamente vendido por Dahir e pela Oncofarma teria como origem o roubo em 25 de março de um lote avaliado em R$ 6,7 milhões levado da Farmácia Estadual da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.