Um grande esforço de voluntários para resgatar peixes do Rio Doce em Colatina, apelidado de operação Arca de Noé, virou motivo de polêmica entre pescadores, pesquisadores e autoridades ambientais. Uma grande quantidade de peixes e crustáceos foi retirada às pressas do rio e transferida para lagos da região. O problema, segundo especialistas, é que muitos desses peixes são de espécies exóticas (não nativas) que, se introduzidos numa lagoa onde ainda não existem, poderão gerar um novo problema ambiental.
O Rio Doce tem mais de 70 espécies nativas, mas as mais abundantes e que dominam o ecossistema são um punhado de exóticas, incluindo dourado, tucunaré, piranhas e carpas. Do ponto de vista da conservação da biodiversidade, o ideal seria manter essas espécies separadas das demais. Mas, na emergência gerada pela chegada da lama da barragem, não houve esse controle.
“O único peixe que tem valor comercial aqui é o exótico. Quem mata a fome do pescador é o exótico”, rebate o pesquisador Abrahão Elesbon, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), que ajudou a organizar a Arca de Noé. A estratégia oficial definida pelo Ibama na sequência foi a de resgatar apenas as espécies nativas, com atenção às ameaçadas de extinção e às endêmicas (aquelas que só existem na bacia do Rio Doce), incluindo alguns tipos de cascudos, bagres e piabinhas.
Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
Linhares. Em Linhares, próximo da foz do rio, o Ibama organizou a coleta das espécies nativas da região. “O objetivo não é quantidade, é qualidade”, afirma Marcelo Polese, do Ifes, que coordenou o trabalho dos pesquisadores. A ideia é manter amostras geneticamente representativas dessas espécies, que possam ser usadas para repovoar o rio, se necessário.