Atualizado às 21h01
RIO - O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, de 47 anos, foi condenado nesta quinta-feira, 14, a mais 120 anos de prisão, por quatro homicídios em rebelião ocorrida há quase 13 anos no presídio de segurança máxima Bangu 1, na zona oeste do Rio. Já condenado a 253 anos e seis meses, ele ainda responde a pelo menos três processos por homicídio na Justiça do Rio e poderá ter as penas aumentadas nos próximos anos.
Beira-Mar também é réu em ação por tráfico de drogas que tramita no Tribunal de Justiça do Rio e em duas ações da Justiça Federal por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.
Após 10 horas e 20 minutos de julgamento, o júri popular de sete membros considerou Beira-Mar culpado pelos assassinatos do traficante Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, líder da Amigos dos Amigos (ADA), e mais três criminosos da facção. A Justiça considerou os homicídios duplamente qualificados, por motivo torpe e sem chance de defesa para a vítima. A defesa vai recorrer. O placar do júri não foi divulgado. A sentença saiu às 2 horas.
Sob forte escolta, Beira-Mar chegou ao tribunal em helicóptero blindado, que pousou no teto do edifício, no centro. Cumprindo pena em Porto Velho (RO), chegou ao Rio em avião da Polícia Federal (PF).
No depoimento, Beira-Mar negou a autoria dos crimes e disse que não liderava a facção Comando Vermelho (CV). Afirmou que fornecia drogas para traficantes de todas as facções e que nunca teve “nenhum problema com Uê” na prisão.
Ele disse que só foi acusado de liderar a rebelião porque negociou com os presos para apaziguar Bangu 1. “Só entrei para negociar a entrega do presídio e evitar uma chacina maior”, disse o traficante, que acenou e jogou beijos para parentes presentes no julgamento.
Com a ausência de nove das dez testemunhas arroladas, Beira-Mar foi ouvido logo após a primeira testemunha, o traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém.
Durante o julgamento, o promotor Bráulio Gregório disse que Beira-Mar não pegou em armas, mas foi o mandante da chacina e tinha ingerência sobre o CV na cadeia. A manifestação de Gregório convenceu os jurados da culpa do réu.
Provas. A defesa de Beira-Mar questionou a Promotoria sobre o que considerou ausência de provas contra o cliente. O advogado Maurício Neville reclamou do não comparecimento das nove testemunhas e lamentou “a omissão do Estado” em relação à segurança no presídio, já que, segundo a Promotoria, um agente penitenciário foi subornado por R$ 400 mil para entregar uma arma aos presos envolvidos na matança, ocorrida em 11 de setembro de 2002.
Única testemunha ouvida, Celsinho da Vila Vintém, preso há 12 anos e um dos líderes da ADA, admitiu que seu depoimento, favorável a Beira-Mar, servia para “pagar uma dívida”, por ter sido poupado pelo CV. Em sua fala, ele relatou a facilidade com que armas entravam na penitenciária. “Virou, mexeu, (a guarda penitenciária) apreendia uma arma”, disse.
Porto Velho. Beira-Mar está preso desde abril de 2001. Foi capturado na Colômbia e trazido para Brasília. Há três anos, é ocupante único de cela no presídio federal de Porto Velho (RO), após passar por seis penitenciárias. Por causa da progressão de penas, ele deverá ser solto depois de cumprir 30 anos.