Lariza Ludgero da Silva Santos, de 8 anos, voltou a sonhar com um lugar nas fileiras do Colégio Militar, na Tijuca (zona norte do Rio). Há três meses a menina contraiu uma bactéria que lhe tirou a visão do olho esquerdo. Ela estava sem ir às aulas e já perdendo as esperanças de ingressar na escola que a prepararia para a sua desejada carreira de militar. Na noite de terça-feira, um telefonema recompôs as esperanças da menina. Veja também: PMs que mataram garoto têm prisão temporária decretada Córneas do menino morto são últimas do banco de olhos do Rio A família foi avisada que Lariza deveria permanecer em jejum. Ela receberia uma das córneas do menino João Roberto Amorim Soares, na manhã desta quarta-feira, 9. "Tudo o que eu quero é agradecer aos pais do João Roberto. Não tenho palavras. Não se agradece uma coisa dessas. Mas quero que eles saibam que o gesto deles devolveu à minha filha a uma vida normal. Agora eles fazem parte da minha família", disse o pai de Lariza, o motoboy e segurança Ricardo Ludgero dos Santos, de 36 anos. A menina é a única filha dele e da mulher, a dona-de-casa Maria Lúcia Pereira da Silva, de 35 anos. Segundo o pai, Lariza contraiu a doença conhecida como celulite ocular, provocada por uma bactéria. A infecção progrediu rapidamente e a pupila da menina ganhou uma tonalidade esbranquiçada, que ela tentava esconder dos pais. "Um dia fui fazer uma brincadeira com ela e comecei a aproximar o dedo do olho esquerdo até tocar os cílios. E ela não percebeu. Eu que descobri que minha filha estava cega", contou Ricardo, que fez questão de dar entrevista para incentivar outros pais a doar os órgãos dos filhos em casos de tragédias como a que levou a vida de João Roberto e comoveu o País. "É preciso mostrar para todo mundo que um gesto simples salva vidas. Já ouvi muita gente dizer: vou morrer, vai tudo comigo. Minha filha não enxergava, gente! E de repente agora ela já está dentro daquele hospital vendo", disse o pai emocionado na porta do Hospital Municipal da Piedade, na zona norte, onde Lariza fica internada até quinta-feira. Atualmente 1.500 crianças aguardam um órgão na fila de transplantes do Rio de Janeiro. Delas, 350 precisam de uma córnea para recuperar a visão. Ricardo disse que tudo o que espera agora é ver Lariza desfrutar de uma vida normal. "Nem lavar o rosto com água minha filha lavava por causa da doença. Só podia lavar com soro", conta. "Quero que ela vá para a escola, que volte a brincar com os amigos e seja muito feliz".