BRASÍLIA E LIMA - O Estado de Roraima entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta sexta-feira, 13, para exigir que a União feche temporariamente a fronteira entre Brasil e Venezuela e repasse recursos adicionais para suprir os custos causados pela imigração de venezuelanos no Estado. A relatoria da ação é da ministra Rosa Weber. Assinada pela governadora de Roraima, Suely Campos (PP), a ação aponta que a "crise econômica, política e social da República Bolivariana da Venezuela ensejou uma verdadeira explosão no fluxo migratório", e que o Estado está suportando os custos e prejuízos sem ajuda efetiva da União. A proposta foi considerada "incogitável" pelo presidente Michel Temer (MDB) e também foi rejeitada pelo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira.
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Entre as consequências da crise, o documento aponta aumento de criminalidade, elevação quantitativa de atendimento nas unidades de saúde do Estado e aumento de matrículas para o ensino público. Além de pedir mais recursos e fechamento provisório da fronteira, Roraima também solicita que a União atue de "maneira imediata na área da fronteira", com medidas administrativas na área de controle policial, saúde e vigilância sanitária.
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Apesar de citar a medida provisória editada pelo presidente Michel Temer (MDB) após a ida a Roraima, que dispõe sobre medidas de assistência emergencial para acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade, o Estado aponta que a União não efetivou "absolutamente" nada de transferência de recursos para reposição dos gastos "já suportados e futuros". Diz ainda que Roraima está "suportando incalculável impacto econômico decorrente da entrada desordenada de imigrantes venezuelanos em território roraimense".
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A ação ainda reclama da demora na efetivação da ajuda, já que Roraima decretou em dezembro de 2017 estado de emergência, e a MP só foi publicada em fevereiro de 2016.
"Aliás, nada de efetivo foi implementado até o momento, mesmo após a MP, a não ser a transferência de apenas e tão somente 266 venezuelanos para os Estados de São Paulo e Mato Grosso, o que representa um fato ínfimo, considerando os mais de 50 mil que, muitos deles, perambulam pelas praças da capital Boa Vista", afirma trecho do documento.
Criminalidade
O aumento da criminalidade e da aparição de doenças também são associadas com a falta de fiscalização e medidas para tratar do fluxo migratório. Segundo o documento, o descontrole nas fronteiras tem "oportunizado a prática de inúmeros crimes internacionais, de tráfico de drogas e armas, inclusive com a participação de membros de facções criminosas conhecidas pelo Estado Brasileiro".
O documento afirma que, com base em dados da Polícia Civil do Estado, o número de homicídios no saltou de 24 para 44, quando comparado o período de fevereiro e março de 2017 com o mesmo período de 2018. Segundo relatório da Defesa Civil de Roraima citado na ação, em apenas quatro meses do ano em curso, 82 crimes foram praticadas por venezuelanos, "o que é estarrecedor se comparado ao ano de 2012, em que restou apurado apenas sete crimes praticados por venezuelanos"..
Ainda segundo a ação, nas unidades de atendimento de saúde estaduais, o número de atendimentos aumentou aproximadamente 3000% no ano de 2017, "com destaque para os partos de mulheres venezuelanas realizados na única maternidade pública da unidade federativa".
"Não há dúvida que a entrada descontrolada de venezuelanas pela fronteira Brasil/Venezuela tem causado enormes prejuízos à população deste que é o menor Estado da federação, cuja sobrevivência financeira depende, quase que exclusivamente, de repasses constitucionais", manifestou a governadora, que assina o documento junto de procuradores de Roraima.
Ação
Caso o STF não permita o fechamento da fronteira, o Estado pede que, alternativamente, seja efetivado pela União um controle para limitar o ingresso de venezuelanos "a uma quantidade compatível com a capacidade do Estado Brasileiro de acolher e prover as necessidades básicas de tais estrangeiros". Até o momento, a Advocacia-Geral da União (AGU) não se manifestou sobre a ação.
'Incogitável'
Em Lima, no Peru, onde participa da 8ª Cúpula das Américas, o presidente Michel Temer disse que o fechamento da fronteira com a Venezuela é uma possibilidade "incogitável". O presidente afirmou aos jornalistas que avaliou a petição do governo de Roraima e notou que muitos dos pedidos feitos pelo Estado do Norte do País já estão sendo executados. "Fechar fronteira é incogitável", afirmou.
O presidente disse que "não é hábito do Brasil" fechar fronteiras e que a hipótese solicitada pelo governo de Roraima não encontra respaldo no Palácio do Planalto. "Isso não é habito do Brasil. O Brasil não fecharia fronteiras e nem espero que o Supremo venha decidir dessa maneira", disse.
"Creio que esse pleito não sei se tem, com a devida vênia, muita significação. Percebi que muitas das medidas pleiteadas já estão sendo tomadas", disse Temer, ao mencionar a assistência do governo federal com recursos financeiros e profissionais para o atendimento dos venezuelanos que fogem das condições do país vizinho. O presidente deu como exemplo a adoção de um documento de identidade provisório emitido aos venezuelanos - proposta da Procuradoria-Geral da República.
Sobre a hipótese de o Brasil adotar punições ao governo da Venezuela, Temer disse que Brasília já tem feito isso pela via diplomática. O presidente deu como exemplo a não permanência da Venezuela no Mercosul. "Tempos atrás até tentamos mandar alimentos e remédios para lá e foi negado pelo governo da Venezuela. Queremos ajudar humanitariamente", disse.
'Tenha santa paciência'
Já o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Pereira, rechaçou enfaticamente a proposta de fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela solicitada pelo governo de Roraima. "Essa é uma ideia... Tenha santa paciência", disse o chanceler no lobby do hotel que hospeda a delegação brasileira em Lima.
"O governo federal está fazendo muito, ajudando tanto o governo do Estado, como as prefeituras", disse o ministro, ao ser questionado sobre a ação do governo de Roraima no Supremo. "Temos recursos materiais, gente ajudando, colaboração com a sociedade civil. Estamos fazendo muito e vamos fazer tudo o que for necessário."